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Memorial da Resistência: Museu que funciona no mesmo prédio que operou o Deops/SP, durante a ditadura brasileira completa 16 anos no dia 24 de janeiro

São Paulo, por Kleber Patricio

Simulação completa da obra ‘Este capítulo não foi concluído’ (2024), de Rafael Pagatini, a ser instalada no mural externo do Memorial da Resistência de São Paulo. A obra faz parte da exposição ‘Uma Vertigem Visionária — Brasil Nunca Mais’.

São Paulo abriga o primeiro museu de história dedicado à memória política das resistências e da luta pela democracia no Brasil. Com entrada gratuita, o Memorial da Resistência tem como missão a valorização da cidadania, da pesquisa e da educação a partir de uma perspectiva plural e diversa sobre o passado, o presente e o futuro por meio de exposições, ações educativas, programação cultural e do seu amplo acervo de história oral.

O Memorial da Resistência de São Paulo é um museu da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo. Aberto em 24 de janeiro de 2009, ele fica exatamente no mesmo prédio onde operou entre 1940 e 1983 o Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops/SP), uma das polícias políticas mais truculentas da história do país.

Sobre a instalação da obra Este capítulo não foi concluído (2024)

Parte da exposição temporária Uma Vertigem Visionária — Brasil: Nunca Mais, com curadoria de Diego Matos, a obra Este capítulo não foi concluído (2024), de Rafael Pagatini, será exibida no mural externo do Memorial da Resistência de São Paulo. A colagem de foto gigantismo, feita pelo artista Julio Dojcsar, será apresentada no dia 24 de janeiro de 2025, data em que o museu completa 16 anos da sua inauguração.

A obra é composta a partir de páginas do projeto Brasil: Nunca Mais, iniciativa empreendida pela sociedade civil ainda durante a ditadura civil-militar, responsável por sistematizar e produzir cópias de mais de 1 milhão de páginas contidas em 707 processos do Superior Tribunal Militar (STM), revelando a extensão da repressão política do Brasil no período.

O painel de 14,2m x 4,5m dispõe 72 páginas dos processos sobrepostas por itens relacionados ao corpo humano, como roupas, calçados, adereços e objetos pessoais, materializando a presença das pessoas impactadas pelo período de repressão.

A obra comissionada para a exposição estabelece uma ligação direta entre o projeto e o romance O Processo, de Franz Kafka. No final do capítulo oito, o autor acrescenta uma nota indicando que “este capítulo não está concluído”. Essa sensação de inacabamento permeia todo o livro que, por si só, é uma obra inacabada, refletindo o processo legal labiríntico e trágico que Kafka narra, em que a conclusão e a justiça permanecem inalcançáveis.

A escolha do título não apenas evoca a ideia de inacabamento presente na obra literária, mas também reflete às histórias das pessoas perseguidas durante o governo civil-militar brasileiro. Muitas dessas trajetórias nunca tiveram o reconhecimento ou a justiça que mereciam, permanecendo como capítulos inacabados na narrativa do país. Ao escolher esse título, Pagatini buscou ressaltar a continuidade dessas lutas e a importância de manter vivas as memórias, as quais ainda aguardam por justiça e resolução.

Sobre Rafael Pagatini | Nascido em Caxias do Sul, RS, em 1985, Pagatini é artista visual, pesquisador e professor do Departamento de Artes Visuais da Universidade Federal do Espírito Santo. Trabalha principalmente com procedimentos associados a gravura, fotografia e instalação. Sua produção recente se caracteriza pela crítica da sociedade contemporânea, através da investigação das relações entre arte, memória e política.

Sobre a exposição Uma Vertigem Visionária — Brasil: Nunca Mais

Em 400m², a mostra com curadoria do professor e pesquisador Diego Matos resgata a memória do projeto Brasil: Nunca Mais, empreendida entre 1979 e 1985. A iniciativa foi responsável por sistematizar e produzir cópias, clandestinamente, de mais de 1 milhão de páginas contidas em 707 processos do Superior Tribunal Militar (STM), revelando a extensão da repressão política do Brasil no período.

A exposição também lança luz sobre o tempo presente, oferecendo indícios da importância desse debate hoje na perpetuação das permanentes violências do Estado contra suas minorias e populações vulneráveis. A história do projeto e seus desdobramentos é apresentada junto a testemunhos de advogados, jornalistas e defensores de direitos humanos envolvidos no projeto, que, por anos, tiveram seus nomes mantidos no anonimato: Paulo Vannuchi, Anivaldo Padilha, Ricardo Kotscho, Frei Betto, Carlos Lichtsztejn, Leda Corazza, Petrônio Pereira de Souza e Luiz Eduardo Greenhalgh.

Além da obra de Rafael Pagatini e dos arquivos do projeto Brasil: Nunca Mais, a exposição apresenta obras feitas por ex-presos políticos durante a permanência em presídios de São Paulo na Ditadura, parte da Coleção Alípio Freire, sob salvaguarda do Memorial da Resistência, e de outros artistas relacionadas à repressão e à resistência durante o período. A exposição fica em cartaz até 27 de julho de 2025. Aberto todos os dias (exceto terça), das 10h às 18h. Entrada gratuita.

Sobre o Memorial da Resistência

Fachada do Memorial da Resistência de São Paulo. Foto: Levi Fanan.

O Memorial da Resistência de São Paulo é o primeiro museu de história dedicado à memória política das resistências e da luta pela democracia no Brasil e tem como missão a valorização da cidadania, da pesquisa e da educação a partir de uma perspectiva plural e diversa sobre o passado, o presente e o futuro. Aberto ao público em 2009, o museu é um lugar de memória dedicado a preservar a história do prédio, onde operou entre 1940 e 1983 o Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops/SP), uma das polícias políticas mais truculentas da história do país.

Por meio de exposições temáticas de grande impacto social, ações educativas, atividades para pessoas com deficiência e programações culturais gratuitas, o museu se consolidou como referência em Educação em Direitos Humanos, promovendo o pensamento crítico e desenvolvendo atividades sobre Direitos Humanos, Repressão, Resistência e Patrimônio.

Serviço:  

Largo General Osório, 66 – Santa Ifigênia, São Paulo, SP

Telefone: 55 11 3335-5910

Aberto de quarta a segunda (fechado às terças), das 10h às 18h

Estacionamento no local: pago – Aberto e Coberto

Entrada gratuita

Acesso Seguro: Há uma conexão direta e segura da Estação da Luz através da saída Sala São Paulo. O Boulevard João Carlos Martins é uma passagem coberta que conecta a estação da Luz aos prédios do Memorial da Resistência, Estação Pinacoteca e Sala São Paulo.

(Com Juliana Victorino/Agência Jacarandá)