Em 2024, a MITsp tem apresentação da Redecard, Sabesp e Prefeitura Municipal de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura. A mostra tem correalização do Sesi, Consulado Francês, Instituto Francês e o Centro Cultural Coreano no Brasil e copatrocínio do IBT – Instituto Brasileiro de Teatro. A realização do evento é da Olhares Cultural, ECUM Central de Produção, Itaú Cultural, Sesc SP e Ministério da Cultura – Governo Federal.
Antonio Araujo, diretor artístico, e Guilherme Marques, diretor geral, idealizadores da Mostra, mantêm a ideia inicial de apresentar em todos os eixos (Mostra de Espetáculos, Ações Pedagógicas, Olhares Críticos e MITbr – Plataforma Brasil) uma seleção de trabalhos e atividades cujas pesquisas cênicas e/ou temas abordados trazem provocações sobre nosso tempo. A direção institucional é realizada pelo ator e gestor cultural Rafael Steinhauser.
Nesta edição, a MITsp privilegia artistas, grupos e pesquisadores/as da África, Ásia, Oriente Médio e América Latina. “A Mostra sempre contou com artistas desses locais, que trazem novas teatralidades e formas de imaginar a cena, como o uso da música e a representação de rituais no palco. Porém, em 2024, quisemos expandir tais presenças. Neste sentido, a curadoria intensificou a perspectiva decolonial já presente nas edições anteriores”, afirma Araujo.
Para os diretores, as discussões que atravessam os trabalhos apresentam novos olhares para questões como memória, racismo, transfobia, identidade, conhecimento e colonialismo, entre outros. Pela primeira vez, a dança e a performance ocupam lugar de destaque nos trabalhos selecionados, combinadas ao teatro e à música.
Desde a primeira edição, em 2014, a MITsp já apresentou 158 espetáculos entre nacionais e internacionais de 46 países, em mais de 400 sessões, para um público aproximado de 170 mil pessoas. As Ações Pedagógicas e os Olhares Críticos reuniram ao longo dos anos mais de 200 convidados em oficinas, seminários e debates, entre outras atividades.
Programação
O Artista em Foco deste ano será o diretor e compositor sul-coreano Jaha Koo, jovem artista e um expoente das artes cênicas, com apresentação de sua “Trilogia Hamartia: Lolling and Rolling”, “Cuckoo” e “A História do Teatro Ocidental Coreano”. “Hamartia”, palavra de origem grega, pode ser traduzida por “falha ou defeito trágico”, conceito que costura de forma distinta os trabalhos, com temas que discutem o choque entre as culturas oriental e a ocidental e seu impacto na vida das pessoas.
“Contado pela Minha Mãe”, de Ali Chahrour, do Líbano, mistura dança, teatro e música para contar a história de uma mãe que se nega a acreditar na morte do filho e cria uma série de poemas e canções para ele ouvir quando retornar.
Da África do Sul, “Broken Chord” [Acorde Rompido], de Gregory Maqoma e Thuthuka Sibisi, faz a abertura da Mostra e a coreografia une dança e música tradicionais africanas à dança contemporânea e música clássica europeia. Lado a lado, essas diferentes formas de linguagem tratam de forma poética sobre colonialismo, apartheid e conhecimento. Do mesmo país, o solo “O Circo Preto da República Bantu”, de Albert Ibokwe Khoza, aborda o racismo e a violência contra os corpos negros ao contar a história dos zoológicos humanos, que ocorreram na Europa entre 1870 e 1960.
Em tom ácido e alegre, “Profético (nós já nascemos)”, de Nadia Beugré, artista da Costa do Marfim, fala das relações dos corpos negros, da transsexualidade e o preconceito em diferentes formas.
Dois espetáculos da Argentina estreiam na MITsp: “PERROS – Diálogos Caninos”, de Monina Monelli em parceria com os brasileiros Celso Curi e Renata Melo, cuja proposta apresenta os conflitos e os afetos da relação humana com os cachorros; e “Wayqeycuna” [Meus Irmãos], de Tiziano Cruz, promove um reencontro com suas origens, tendo como ponto de partida os quipus (colar feito de algodão ou lã de lhama e alpaca e nós) tecidos pelas mulheres andinas como memoriais.
Assim como em anos anteriores, em que fez estreias nacionais de artistas brasileiros como Janaina Leite, Renata Carvalho, Wagner Schwartz, Gabriela Carneiro da Cunha, Eduardo Okamoto e Alexandre Dal Farra, a MITsp faz, em 2024, a estreia de um novo trabalho do Ultralíricos, “Agora tudo era tão velho – Fantasmagoria IV”, com direção de Felipe Hirsch.
Programação completa no site www.mitsp.org.
MITbr – Plataforma Brasil
A MITbr – Plataforma Brasil foi criada em 2018 como um dos eixos da MITsp, um programa de internacionalização das artes cênicas brasileiras. Desde então, a cada edição, diferentes curadores independentes selecionam projetos com um recorte do teatro, dança e performance, em um esforço para abarcar diferentes regiões do Brasil e temas urgentes de nosso tempo.
Anualmente, são convidados curadores para selecionar entre 10 e 12 trabalhos a partir de um corpo de inscritos que, desde a primeira edição, ultrapassou a marca de 400 obras de teatro, dança e performance. Almeja-se assim mostrar um recorte da diversidade e excelência da cena brasileira.
Este ano, a curadoria de Marise Maués, Cecilia Kuska e Marcelo Evelin analisou 446 inscrições, de 19 estados brasileiros, Distrito Federal e países da América Latina. Foram escolhidos dez trabalhos que terão a oportunidade de se apresentar para curadores nacionais e internacionais, um passo importante para a expansão do reconhecimento das artes cênicas brasileiras, fomentando sua circulação e visibilidade. Este ano, estão confirmados cerca de 80 programadores internacionais e nacionais.
A MITbr – Plataforma Brasil selecionou para esta nona edição da MITsp os seguintes trabalhos: “Ané das Pedras”, da Coletiva Flecha Lançada Arte (CE/AL), “EU NÃO SOU SÓ EU EM MIM – Estado de Natureza – Procedimento 01”, Grupo Cena 11 (SC), “Gente de Lá”, de Wellington Gadelha (CE); “O que mancha”, de Beatriz Sano e Eduardo Fukushima (SP), “Meu Corpo Está Aqui”, de Fábrica de Eventos (RJ); “Preta Rainha”, de Cia. Dita (CE); “Dança Monstro”, de Companhia dos Pés (AL); “Lança Cabocla”, Plataforma Lança Cabocla (MA/CE/BA/SP); “7 Samurais”, de Laura Samy (RJ) e “Eunucos”, de Irmãs Brasil (SP/RJ).
A bailarina e professora Wilemara Barros, também integrante da Cia. Dita, de Fortaleza, é a Artista em Foco desta edição. Aos 60 anos, ela revisita em seu solo “Preta Rainha” memórias afetivas, sua trajetória, sua formação no balé clássico e experiência como artista contemporânea e toma para si o legado cultural e ancestral vindo de sua família.
Internacionalização das artes cênicas brasileiras
Desde a criação da MITbr – Plataforma Brasil, em 2018, os diretores Antonio Araujo e Guilherme Marques também reuniram em torno do projeto de internacionalização uma série de ações pedagógicas e reflexivas, como o Seminário de Internacionalização das Artes Cênicas Brasileiras e workshop de capacitação e produção com artistas e produtores locais, para garantir uma estrutura capaz de levar adiante os artistas brasileiros.
“Desde o princípio, sabíamos que apenas produzir um showcase com artistas brasileiros não seria o suficiente para manter a circulação. O mercado internacional é muito bem estruturado e demanda do profissional, para além de ter um bom trabalho a oferecer, um domínio das formas de negociação e interlocução para que os trabalhos certos possam chegar aos programadores certos. A figura do agente-difusor é uma função central no mercado internacional, mas praticamente inexistente no Brasil”, afirma Guilherme Marques.Olhares Críticos e Ações Pedagógicas
O eixo Olhares Críticos terá entre seus destaques a presença de Achille Mbembe, filósofo, teórico político, historiador, intelectual e professor universitário camaronês em uma Aula Magna. Considerado um dos mais importantes teóricos sobre estudos pós-coloniais, sua visão afrocêntrica reflete sobre os efeitos do colonialismo na África e no mundo. Mbembe cunhou o termo necropolítica.
Em 2024, o eixo conta com curadoria da ensaísta, dramaturga e professora Leda Maria Martins e propõe discussões sobre as artes cênicas e a contemporaneidade a partir da realização de conversas com pensadores e pesquisadores de diferentes áreas, além da publicação de críticas, artigos e entrevistas. A programação conta com as Reflexões Estético-Políticas, Pensamento-em-Processo, Diálogos Transversais e Prática da Crítica, entre outros.
Nas Ações Pedagógicas, a curadoria de Dodi Leal, performer, professora e pesquisadora, aproxima o público do fazer artístico de convidados/as/es da MITsp, com conversas, workshop, shows e performances. Entre os destaques, a Encontra de Pedagogias da Teatra, com uma série de atividades para revitalizar as metodologias de criação teatral a partir das experiências das pedagogias baseadas nos saberes trans; e o Laboratório de Pedagogias da Performance, que reúne artistas e pesquisadores do Brasil e outros países em diferentes ações para abordar o estudo e a experimentação da arte da performance.
Cartografias | Para além dos dois eixos, a MITsp traz mais uma edição de “Cartografias”, catálogo-livro que reúne ensaios, entrevistas e artigos de pesquisadores/as e artistas brasileiros. Essa publicação é realizada em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da ECA-USP e conta com a edição do professor e pesquisador de artes cênicas Ferdinando Martins.
Programação completa no site www.mitsp.org.
(Fonte: Canal Aberto Comunicação)