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“Nós Que Habitamos o Mundo Alheio” reúne 14 artistas mulheres em exposição inédita em Campinas

Campinas, por Kleber Patricio

Com organização e produção de Ligia Testa, uma das mais renomadas curadoras de arte de Campinas, a exposição “NQHOMA – Nós Que Habitamos o Mundo Alheio!” coloca a mulher no centro e traz reflexões multilaterais sobre sua presença (ocultada) no mundo da arte.

“As mulheres precisam estar nuas para entrar no Metropolitan Museum, em Nova York? Na seção de arte moderna, 5% dos artistas são mulheres, mas 85% da nudez nas obras é feminina”.  O contexto é um alerta da Guerrilla Girls, grupo nova-iorquino de artistas feministas anônimas que combate o sexismo e o machismo no mundo da arte.

A reforma do Museum of Modern Art – MOMA, em Nova York, que custou 450 milhões de dólares, começa a soprar sinais de mudança. A reforma foi além da estrutura arquitetônica e da ampliação dos espaços, com a proposta de aumentar a diversidade, contemplando mais obras de artistas femininas e de trabalhos de outras regiões do mundo. Dentro dos novos acervos, especula-se a obra “A Lua”, de Tarsila do Amaral, adquirida por 20 milhões de dólares – fato ainda não confirmado, mas que, se for verdade, traz esperança e dá o devido valor à obra da artista brasileira e seu lugar no mundo.

E mais perto de nós, no Museu de Arte de São Paulo – MASP, o que dizem os números? Apenas 6% dos artistas do acervo em exposição são mulheres e 60% dos nus são femininos. Enfim, os números gritam algo silenciado.

Estamos em pleno século XXI, é verdade, mas a igualdade de gênero no universo das artes está longe da superação. Linda Nochlin, historiadora da arte, no artigo “Why have there been no great women artists?” (“Por que não houve grandes mulheres artistas?”), reivindica um novo paradigma à história da arte mostrando que as barreiras da sociedade impediam (no passado) e ainda impedem (no presente) as mulheres de desenvolver seu lado artístico e de obter reconhecimento como artistas. É o que revelam as histórias das artistas que fazem parte da exposição coletiva inédita “NQHOMA – Nós Que Habitamos o Mundo Alheio!”, que será inaugurada em Campinas no dia 20 de junho com a proposta de percorrer outras galerias e quiçá países.

“A proposta desta exposição é mais uma de muitas iniciativas para provocar conversas, reações, discussões, para adensar a busca pela igualdade de gênero nos acervos mundo afora, e para propiciar que as pessoas contemplem a arte produzida do ponto de vista feminino”, explica a curadora Lígia Testa.

Foram convidadas 14 artistas mulheres e muita diversidade – de histórias, cidades, técnicas, idades, classes sociais e formações acadêmicas – para mostrar a este mundo a que vieram: Cristiane Maschietto, Cristina Sagarra, Di Miranda, Doris Homann, Duda Clementino, Fernanda Carvalho, Flavia Jackson, Gisele Faganello, Josie Mengai, Mariana Gadelha, Nadir Santilli, Nenesurreal, Olívia Niemeyer e Tania Martins.

São elas: brancas, negras, periféricas, mães, donas de casa, arquitetas, engenheiras, jornalistas, fonoaudiólogas, economistas, linguistas, psicólogas, instrumentadoras cirúrgicas – não importa; antes de tudo, são mulheres e minoria nas galerias do mundo. Não importa se jovens ou maduras. Uma delas in memoriam, nascida em 1898, migrante da 2ª guerra mundial, representada por suas obras, Doris Homann foi uma mulher muito à frente de seu tempo.

Vindas de diversas cidades, próximas e distantes, como Hong Kong, Escócia, EUA e Berlim. Solteiras, casadas, divorciadas, viúvas. A exposição reúne uma coletânea de histórias diferentes, mas em comum pesa a consciência de que não é fácil morar no mundo alheio, onde não são convidadas naturalmente a participar.

Entre elas, a descoberta da necessidade de produzir arte veio de maneiras diferentes e em tempos próprios a cada uma, mas hoje é o que fazem para viver, em suas distintas propostas – de pagar as contas do mês a amenizar o caos do mundo atual, mas com um único sentido para todas: superar a luta diária de ainda não ter o próprio mundo para viver. A diferença é que elas, com seus talentos e criatividade, estão construindo este mundo para as futuras gerações habitarem: filhas, netas, bisnetas, para que tantas novas gerações de mulheres ocupem os espaços das artes.

De acordo com a reflexão de Linda Nochlin, ao responder a pergunta título de seu artigo: “não existiram grandes mulheres artistas porque não existiram as condições sociais, políticas, culturais e intelectuais para que elas existissem”, “Criemo-las, pois: mais, sempre e sem descanso”, enfatiza Ligia Testa.

Historicamente o tema tem suas injustiças conhecidas no mundo das artes, com mulheres que tiveram suas obras apropriadas por seus pares, como Camille Claudel, Margaret Keane e outras. Acreditamos que já não falamos mais desse tempo; mesmo assim, não é incomum o relado de artistas mulheres que deixaram para dedicar ao mundo da arte depois que os filhos cresceram, deixadas em segundo plano pela imposição do sistema ou por si mesmas.

Estas histórias entrelaçadas falam de ressignificar, de ocupar espaços e mundos habitados a partir de uma ótica legitimamente feminina, acolhedora, protagonista.

Serviço:

NQHOMA: Nós Que Habitamos O Mundo Alheio

Abertura: 20 de junho, das 17 às 21h (vernissage)

Visitação: até 20 de agosto [com agendamento por WhatsApp (19) 99792-7221]

Local: Galeria Arqtus – Ligia Testa

Endereço: Av. Dr. Heitor Penteado, 1611 – Taquaral, Campinas (SP).

(Fonte: Confraria da Informação)