Notícias sobre arte, cultura, turismo, gastronomia, lazer e sustentabilidade

Pinacoteca de São Paulo imagina novos mundos possíveis em exposição coletiva

São Paulo, por Kleber Patricio

Steve Mcqueen, Era uma vez (2022).

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, apresenta Era uma vez: visões do céu e da terra, mostra coletiva que chega à Grande Galeria do edifício Pina Contemporânea no dia 25 de outubro. Organizada por Ana Maria Maia, Lorraine Mendes e Pollyana Quintella, a mostra reúne trabalhos de 34 pessoas artistas, brasileiras e estrangeiras, de diferentes gerações, que fazem uma viagem no tempo e no espaço para refletir sobre o fim do mundo e imaginar novos inícios. Obras como Era uma vez (2002), de Steve Mcqueen, e uma grande pintura realizada especialmente para a exposição, de Sueli e Isael Maxacali com Aldeia Escola Floresta Maxacali, podem ser vistas pelo público.

A mostra investiga o pensamento cosmológico das pessoas artistas, desde o período de 1969 – ano que marca os eventos históricos da chegada do homem à Lua e da divulgação do primeiro relatório da ONU sobre ‘Problemas do meio ambiente urbano’ – até os dias de hoje, em que a relação predatória da humanidade com o planeta colocou as questões ambientais como tema central no debate ao redor do globo. Em Era uma vez, as pessoas artistas fazem diagnósticos e imaginam outras realidades possíveis – misturando abordagens documentais, especulativas e ficcionais.

Do céu para a Terra

A exposição se divide em três momentos. Ao entrar na Grande Galeria e seguir pelo corredor, o visitante percorre uma série de obras que olham para o espaço sideral, em uma tentativa de conhecer e imaginar para além da Terra. Podem ser vistas obras como Yauti in Heavens (Saturno, Lua aterrissagem e Lua Chegada, 1988-9), de Regina Vater, Olho da noite (2023), de Mayana Redin, e My three inches comet (1973), de Iole de Freitas, entre outras. O corredor termina no trabalho de Steve McQueen, Era uma vez (2002), que dá título à exposição. Em 1977, a NASA envia uma série de fotos para o espaço com o objetivo de mandar registros da vida no planeta para extraterrestres. McQueen apresenta 116 dessas imagens, explicitando uma narrativa nostálgica construída por cientistas norte-americanos, que reuniram uma finita seleção de imagens que simulam a vida na Terra sem considerar questões como a miséria, guerras e conflitos religiosos.

Yhuri Cruz, Pretusi (2023).

No espaço central da galeria, artistas olham do céu para um planeta em disputa, ao mesmo tempo em que pensam sobre formas de se conectarem com a Terra. Em Bovinocultura XXI (1969), de Humberto Espínola, o artista traz um chifre de gado agigantado para tratar das ambivalências do agronegócio, que destrói o meio-ambiente para gerar riqueza de maneira inconsequente. Transamazônica (2014), de Luciana Magno, faz uma crítica as obras da construção da rodovia federal BR-230, mais conhecida como Transamazônica, que resultaram em uma grande frente de desmatamento no norte do país.

Ainda na mesma sala, a relação das pessoas artistas com o planeta é definida por meio de conexões ancestrais e espirituais. Jota Mombaça, no filme O nascimento de Urana Remix (2020), vive a experiência de se enterrar na terra se tornando parte do todo. As pinturas e peças de cerâmica de Isael e Sueli Maxacali partem da mitologia de que o povo Maxacali surge do barro, fazendo da arte um processo de criação de tradição. Outra artista que usa o barro como material de produção é Celeida Tostes, que traz à entrada da Grande Galeria um de seus Guardiões (anos 1980), sugerindo vínculos de espelhamento e proteção com as forças divinas. Obras como a Série Tudo que se vê no caminho (2023) de Carla Santana, que compõe o acervo do museu desde 2023, também pode ser vista pelo público.

A especulação imaginativa

Com a ascensão do Antropoceno – termo utilizado para designar o impacto global das atividades humanas no planeta – as pessoas artistas nos convidam a conceber novos mundos, a partir de movimentos de resistência e de imaginação radical. Nesta parte da exposição, artistas como Yhuri Cruz se ancoram na especulação imaginativa e nos levam a novos universos, como o de Revenguê (2023). A instalação-cena recebe seis artistas ao longo da mostra para ativação da obra, encenando uma ficção inspirada na estética da ópera espacial e no afrofuturismo para contar a história de Plenér e Revenguê, dois planetas vizinhos que habitam Escura, um sistema planetário inventado por Cruz, que também é dramaturgo.

A artista colombiana Astrid González apresenta uma sociedade livre em Drexciya (2023), obra que integra vídeos, imagens, esculturas e desenhos para criar uma comunidade subaquática descendente de mulheres grávidas que foram jogadas ao mar em travessias de navios que transportavam pessoas escravizadas entre 1525 e 1866. Ainda, no formato documentário, a mostra exibe o trabalho da Feral Atlas, uma plataforma de divulgação científica coordenada pelas antropólogas Anna L. Tsing, Jennifer Deger e Alder Keleman Saxena e pela artista Feifei Zhou. O arquivo cataloga uma série de “universos” criados por fungos, vírus e seres mutantes que surgem no Antropoceno, a partir dos impactos de grandes infraestruturas construídas pelos humanos. A consulta online à plataforma também é possível na galeria expositiva.

A exposição Era uma vez: visões do céu e da terra conta com catálogo que reúne uma coletânea de 19 textos selecionados, alguns escritos por integrantes da mostra, como Yhuri Cruz e Jota Mombaça. O catálogo abrange ensaio, poesia, manifesto, relato oral transcrito, entre outros, articulando um mosaico de vozes, práticas e epistemologias. A exposição tem o patrocínio de Itaú Unibanco e Rede, na cota Platinum.

Sobre a Pinacoteca de São Paulo | A Pinacoteca de São Paulo é um museu de artes visuais com ênfase na produção brasileira do século XIX até́ a contemporaneidade e em diálogo com as culturas do mundo. Museu de arte mais antigo da cidade, fundado em 1905 pelo Governo do Estado de São Paulo, vem realizando mostras de sua renomada coleção de arte brasileira e exposições temporárias de artistas nacionais e internacionais em seus três edifícios, a Pina Luz, a Pina Estação e a Pina Contemporânea. A Pinacoteca também elabora e apresenta projetos públicos multidisciplinares, além de abrigar um programa educativo abrangente e inclusivo.  

Artistas participantes 

Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Arthur Luiz Piza, Astrid González, Bu’ú Kennedy, Carla Santana, Carlos Zilio, Carolina Caycedo, Castiel Vitorino Brasileiro, Celeida Tostes, Cipriano, Edival Ramosa, Erika Verzutti, Feral Atlas, Humberto Espíndola, Iole de Freitas, Jaider Esbell, Janaina Wagner, Jota Mombaça, Juraci Dórea, Luciana Magno, Luiz Alphonsus, Mariana Rocha, Mayana Redin, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Mira Schendel, Patricia Domínguez, Regina Vater, Steve McQueen, Sueli Maxakali, Tabita Rezaire, Uýra Sodoma, Xadalu Tupã Jekupé e Yhuri Cruz.

Serviço:  

Era uma vez: visões do céu e da terra 

Período: 25/10/2024 a 21/4/2025

Curadoria: Ana Maria Maia, Lorraine Mendes e Pollyana Quintella

Pinacoteca Contemporânea (Grande Galeria)

De quarta a segunda, das 10h às 18h (entrada até 17h)

Gratuitos aos sábados – R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia-entrada), ingresso único com acesso aos três edifícios – válido somente para o dia marcado no ingresso

Quintas-feiras com horário estendido B3 na Pina Luz, das 10h às 20h (gratuito a partir das 18h).

(Fonte: Com Mariana Martins/Pinacoteca de São Paulo)