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Sesc Consolação recebe espetáculo de teatro-dança “O Poço da Mulher Falcão”, inspirado na obra de W.B. Yeats

São Paulo, por Kleber Patricio

Toshi Tanaka (Velho) e Emilie Sugai (Mulher-Falcão). Foto: Danilo Cava.

Desde 1º de novembro, o Centro de Pesquisa Teatral do Sesc São Paulo (CPT_SESC) foi transformado em um cenário místico e poético com o espetáculo de teatro-dança “O Poço da Mulher-Falcão”. A temporada se estende até 14 de dezembro, às quartas e quintas-feiras, às 20h, e feriados, às 18h, no Sesc Consolação.

A montagem é inspirada na obra “At the Hawk’s Well”, do poeta e dramaturgo irlandês William Butler Yeats. Com direção e dramaturgia de Emilie Sugai e Fabio Mazzoni, participação do performer Toshi Tanaka e figurinos de Telumi Hellen, a peça aborda a eterna busca da natureza humana pela transcendência e a procura pelo inacessível.

Três personagens principais compõem a ação dramática original: a guardiã do poço, que ora se transmuta em Mulher-Falcão, ora se manifesta como a feiticeira da floresta; o velho homem que há cinquenta anos vive ao lado do poço com o desejo de encontrar a sabedoria interior divina e alcançar a imortalidade e o jovem Cuchullain, herói da mitologia celta que subitamente surge em cena ávido por beber da mesma fonte milagrosa. No entanto, esse local é protegido pela enigmática guardiã que se transmuta em um falcão e dança de forma mágica, movendo-se como uma ave de rapina bela e ousada.

A dança é o “instinto de vida”, que aspira em reencontrar a unidade entre o corpo e a alma numa busca pela libertação alcançada no êxtase. De acordo com os xamãs, é pela dança que se consuma a ascensão para o mundo dos espíritos. Com seus movimentos mágicos, a Mulher-Falcão revela seus poderes sobrenaturais trazendo o velho e o jovem para a realidade da vida terrena. Yeats exprime, pelo poder de sedução da dança, a necessidade do homem de livrar-se do perecível. O falcão é a perseguição do abstrato, o jovem é a natureza contraditória do sacrifício e o velho, a amargura, solidão e egoísmo.

Além dos personagens da peça, a encenação dá vida a ‘seres imaginários’, numa referência à obra “O Livro dos Seres Imaginários”, de Jorge Luis Borges, desempenhando um papel central na representação da conexão entre corpo e alma, e que emergem da escuridão ligando-se às histórias pessoais dos artistas e evocando mestres e ancestrais. A narrativa é conduzida por uma coreografia que busca conectar o corpo individual ao coletivo com influências do Suriashi japonês (deslizar com os pés) para trazer o mundo poético do corpo performativo e uma aproximação com o butô pelo aspecto da leveza e do luminoso.

Com poucos elementos cênicos, a produção concentra-se na força do corpo, na sonoridade das vozes e em uma trilha sonora envolvente. O espaço é vazio, em um ambiente de pouca luz onde sons de pássaros ecoam e uma atmosfera de obscuridade e magia se desvela. Esta ausência de cenário inspirada pelo minimalismo do Teatro Nô japonês reflete a busca de Yeats por uma simplicidade que pudesse expressar a harmoniosa síntese de ideias, sentimentos e imagens. Por outro lado, o figurino, apesar de parecer disforme à luz, ganha sentido quando explorado o conceito de sombra e luz, tornando-se um elemento estético, inspirado por artistas como Bosch e Caravaggio. ‘O Poço da Mulher-Falcão’ é o resultado desse experimento, uma obra que transcende fronteiras culturais, unindo de maneira única a tradição oriental com a interpretação ocidental.

O espetáculo é uma celebração da dança conduzida por Emilie Sugai, expoente da dança butô no Brasil e enaltecida pela participação do performer Toshi Tanaka. Além disso, é marcada pelo trabalho de encenação concebido pelo diretor Fabio Mazzoni, inspirado pela forma de dirigir do encenador Antunes Filho, que o influenciou em sua formação durante a trajetória no CPT. Mazzoni cria imagens poéticas a partir dos elementos cênicos e objetos do próprio cenário, como o uso dos “panelões” de luz, que se integram perfeitamente à performance dos atores e atrizes, conferindo dinamismo à narrativa dramatúrgica e convidando o público a mergulhar no universo lúdico proposto pela interpretação e encenação.

O fundamento do CPT_SESC  

O CPT_Sesc tem sua base na formação, experimentação e ato criativo, proporcionando um espaço de acolhimento profundo para artistas se dedicarem a processos de imersão e estudo. Desta forma, o Sesc, comprometido com a pesquisa da linguagem teatral, apoia artistas em busca de aprimoramento técnico e estético nas artes cênicas. Em alguns momentos, estas iniciativas se diferenciam do legado de Antunes Filho, que esteve à frente do CPT por quase 40 anos, e, em outros momentos, aproximam-se do caminho estético e de pesquisa que ele havia vislumbrado. Neste último exemplo, “O Poço da Mulher-Falcão” está em comunhão com o propósito de formação e pesquisa do espaço, uma vez que Fabio Mazzoni, Emilie Sugai e Telumi Hellen trazem elementos desse método desenvolvido nas pesquisas do CPT. Sandra-X, por sua vez, contribui para o projeto com experimentos vocais, de uma maneira diferente da abordagem de Antunes, que costumava trabalhar com a ressonância da voz.

Em sua maioria, eles têm uma história de experiências, formação e trocas artísticas e estéticas dentro do CPT_Sesc. Fabio começou como ator no espetáculo “Drácula e Outros Vampiros”, e chegou a cuidar da DVDteca do espaço. Emilie foi convidada a participar do espetáculo “Foi Carmen” como performance em homenagem a Kazuo Ono, com a dança butoh. Telumi, por sua vez, trabalhou com figurinos no CPT_SESC, em colaboração com Serroni.

Residência Artística e sua contribuição para o espetáculo

A montagem é o resultado de uma série de experimentações e vivências envolvendo técnicas corporais, vocais, direção cênica, iluminação, performance e a elaboração de figurinos e adereços. Todas essas atividades foram conduzidas durante a Residência Artística, no CPT_Sesc, sob a orientação de Emilie Sugai, Fabio Mazzoni, Sandra-X e Telumi Hellen, culminando na criação deste espetáculo de teatro-dança, “O Poço da Mulher-Falcão”, inspirado na atmosfera do Nô.

Ao longo de dois meses, 30 residentes participaram, divididos em quatro núcleos (interpretação e performance, direção coreográfica e cênica, iluminação, figurinos e objetos cênicos). Do grupo, dez foram selecionados para integrar o elenco, que conta com mais um assistente de figurino, um assistente de iluminação e operadora de luz, e um assistente de direção, totalizando treze pessoas.

Sinopse | “O Poço da Mulher-Falcão”, do poeta, dramaturgo e místico irlandês William Butler Yeats, com montagem de Emilie Sugai e Fabio Mazzoni, participação do performer Toshi Tanaka e figurinos de Telumi Hellen. Aborda a eterna busca da natureza humana pela imortalidade e a procura pelo inacessível. No enredo da peça, um velho homem e um jovem herói da mitologia celta querem beber a água que brota de um poço encantado, com intuito de encontrar a sabedoria interior divina e alcançar a imortalidade. Mas o local é protegido por uma guardiã, que, possuída por um falcão, dança de forma mágica, movendo-se como uma ave de rapina bela e ousada, frustrando o desejo dos homens.

Ficha Técnica

O Poço da Mulher-Falcão

Inspirado na obra “At the Hawk’s Well”, de William Butler Yeats

Idealização, Concepção Geral, Direção e Dramaturgia: Emilie Sugai e Fabio Mazzoni

Coreografia: Emilie Sugai

Desenho de Luz e Sonoplastia: Fabio Mazzoni

Figurinos: Telumi Hellen

Preparação Vocal: Sandra-X

Assistente de Direção:  Guilherme Marin

Assistente de Iluminação/Operação de Luz: Mafe Wagapoff

Assistente de Figurinos: Luciana Colucci

Elenco: Diego Brito | Driélly Moyanno | Duda Esteves | Emilie Sugai (Mulher-Falcão) | Emily Kimura | Jon Marquez | Lenise Oliveira | Lucas Sabatini | Natália Ueda | Suellen Leal | Thiago Sgambato

Participação especial: Toshi Tanaka (Velho)

Produção: ABX Produções

Realização: Sesc São Paulo.

Serviço:  

Espetáculo de teatro-dança “O Poço da Mulher-Falcão”

Inspirado na obra “At the Hawk’s Well”, de William Butler Yeats

Idealização, Concepção Geral, Direção e Dramaturgia, de Emilie Sugai e Fabio Mazzoni

Temporada: 1º de novembro a 14 de dezembro de 2023.

Horários: quartas e quintas, 20h; feriados (2 e 15 de novembro), 18h

Local: Sesc Consolação – Espaço CPT_SESC (7º andar)

Rua Dr. Vila Nova, 245, São Paulo – SP

Informações: (11) 3234-3000

Lotação do espaço: 60 lugares

Duração: 50 min.

Classificação indicativa: 12 anos

Valor dos ingressos: R$40 (inteira), R$20 (meia entrada) e R$12 (credencial plena)

Vendas online no site e no Aplicativo Credencial Sesc SP, e presencialmente, mas bilheterias das Unidades do Sesc.

Sesc Consolação

Rua Doutor Vila Nova, 245, São Paulo – SP

Metrô Higienópolis-Mackenzie

Telefone: (11) 3234-3000

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Site  Sesc Consolação

Horário de funcionamento: terça a sexta, das 10h às 21h30; sábados, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 10h às 18h.

(Fonte: Assessoria de Imprensa Sesc Consolação)