Em novembro, o Geoparque Aspirante Caminhos dos Cânions do Sul buscará ser o segundo geoparque chancelado pela Unesco no Brasil. Curiosamente, essa busca pela aprovação acontece 15 anos depois do reconhecimento internacional do primeiro geoparque brasileiro, o Geopark Araripe. Para isso, o Consórcio Caminhos dos Cânions do Sul receberá, entre os dias 12 e 16 de novembro, uma missão de avaliação da Unesco que decidirá os rumos do projeto. Nela, estarão presentes um avaliador português e um mexicano, que serão acompanhados por pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM).
O consórcio de sete municípios, que dá vida ao projeto e cuida do mesmo com o apoio de diversas outras instituições desde 2017, se mostra bastante otimista sobre a avaliação e para a elevação do Geoparque de aspirante para a entrada na Rede Global de Geoparques (GGN). A idealização do projeto começou em 2007 e teve seu lançamento em 2012.
O projeto do geoparque aspirante engloba dois estados e sete municípios do Sul do Brasil. O território de 2.830 km² ocupa cidades de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Fazem parte do Geoparque Cânions do Sul os municípios de Praia Grande, Jacinto Machado, Timbé do Sul, Morro Grande (Santa Catarina) e Torres, Mampituba e Cambará do Sul (Rio Grande do Sul). Dessa maneira, o parque engloba uma totalidade de 73.518 habitantes.
O Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) faz parte do projeto desde a sua proposta em 2012. Os pesquisadores em geociências Michel Marques Godoy, Raquel Binotto e Wilson Wildner executaram os estudos e elaboração da proposta de criação do geoparque, que pode ser acessada na página do Rigeo. Além disso, o SGB-CPRM se fará presente na visita da comitiva, sendo representados pelos pesquisadores Andrea Sander e Carlos Peixoto.
“O SGB é parte deste projeto ao elaborar a proposta, dando início a um processo de longo prazo, e que foi muito bem gerenciada pelo formato de organização e gestão que o Consórcio Intermunicipal Caminhos dos Cânions do Sul vem realizando tanto na área política, contando com o apoio dos sete municípios formadores do território do geoparque, como na área técnica com o apoio das universidades regionais e do comitê científico, onde o SGB tem a sua maior participação com duas vagas preenchidas por geólogos da SUREG Porto Alegre. Outro importante item a ser observado pelo avaliadores é o engajamento das comunidades locais no projeto de criação do geoparque com bases conceituais baseadas no desenvolvimento sustentável, além é claro da história geológica de formação do conjunto de cânions.”, explicou Carlos Peixoto.
A proposta tem por base o potencial geoturístico dos cânions, também conhecidos como “Aparados da Serra”. A região é considerada patrimônio geológico nacional e conta com duas unidades de conservação federais, os parques nacionais Aparados da Serra e Serra Geral. Trata-se da região com maior concentração de cânions do Brasil, apresentando grandes escarpas que atingem até 1157 metros de altura e possuindo uma extensão total de aproximadamente 250 km. A combinação da fantástica geologia local com a biodiversidade da Mata Atlântica e os geomonumentos da Planície Costeira mostram o verdadeiro tamanho e valor deste parque para a geoconservação, turismo e geologia do país e do Mundo.
Conforme explica o geólogo Michel Godoy, a evolução geológica dos Cânions do Sul começou com a fragmentação do supercontinente Gondwana que, após sua separação, originou três continentes, a América do Sul, a África e a Antártida. Há cerca de 130 milhões de anos, as movimentações das placas tectônicas causaram a separação dessa grande massa continental e despertaram um dos maiores eventos geológicos de todos os tempos, o vulcanismo Serra Geral. A grande região recoberta por esse vulcanismo ficou conhecida como Província Basáltica Continental Paraná-Etendeka que possui registros contínuos de rochas vulcânicas preservadas no Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai na América do Sul e Namíbia na África.
Este evento vulcânico ocorreu de forma incessante por aproximadamente 10 milhões de anos, sendo que, neste período, as lavas extravasaram por monumentais e incontáveis fissuras na crosta. A formação e a preservação das formas de relevo dos cânions do sul ou “Aparados da Serra” estão ligadas a questões geoquímicas dessas rochas, que são resistentes a alteração e a forças de movimentação rúpteis da crosta, características que ajudaram a “talhar” as escarpas profundamente verticalizadas dos cânions.
A beleza reconhecida da região é motivo de visitação de muitos turistas; para isso, o projeto construiu um georoteiro para os seus visitantes. Atravessando dias de Parques Estaduais, trilhas, cachoeiras, cânions, pontos religiosos e turísticos, o viajante poderá ter uma experiência fantástica, podendo apreciar a natureza e a cultura local. Um exemplo de local para se conhecer são as inúmeras paleotocas preservadas, cavadas pela megafauna, como tatus e preguiças gigantes.
O projeto é candidato a geoparque aspirante desde 2019, quando o consórcio enviou o dossiê de candidatura. Posteriormente, o mesmo foi avaliado e aprovado, dessa maneira, a missão de avaliação é o último passo antes da adição do Caminhos dos Cânions do Sul à Rede Global de Geoparques.
A missão será realizada por dois avaliadores, profissionais com reconhecida experiência na gestão de Geoparques. Eles irão visitar os principais geossítios, atividades culturais, mostras de arte, artesanato e produção local, reuniões técnicas com prefeitos, comitê científico, pesquisadores parceiros e equipe do Consórcio Intermunicipal Caminhos dos Cânions do Sul, responsável pela gestão do Geoparque. “Estes avaliadores estarão percorrendo todos os sete municípios para observar in loco o nosso trabalho. O objetivo é verificar se estamos de fato atuando de acordo com as diretrizes do Programa de Geoparques da Unesco, que envolve principalmente temas como a conservação e valorização do nosso patrimônio geológico e cultural, a educação e o turismo sustentável”, destaca o prefeito de Torres, Carlos Souza, presidente do Consórcio Intermunicipal Caminhos dos Cânions do Sul. “A expectativa é bastante positiva. Esta missão de avaliação é um marco em nossa história; ela brinda todos os anos de esforços e luta para a composição deste aspirante a Geoparque Mundial da Unesco”, acrescentou.
Depois da visita, os avaliadores terão até o ano de 2022 para produzir um relatório completo sobre o geoparque aspirante e enviar para os diretores. O documento será decisivo para que a Unesco possa decidir sobre a entrada do Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul na GGN.
A Rede Mundial de Geoparques foi estabelecida em 2004 por meio de uma parceria entre a Unesco e a União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS). Visa distinguir áreas naturais com elevado valor geológico, nas quais esteja em prática uma estratégia de desenvolvimento sustentado baseado na geologia e em outros valores naturais ou humanos.
(Fonte: Assessoria de Comunicação | Serviço Geológico do Brasil)