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Amazônia Azul: uma década para proteger nosso oceano e agir por um futuro sustentável

Amazônia, por Kleber Patricio

Foto: Thiago Japyassu/Unsplash.

Artigo de opinião por Ronaldo Christofoletti — A ciência tem se debruçado sobre a complexidade dos sistemas naturais para indicar caminhos de enfrentamento da crise climática. Seja pela vertente de estudos da biodiversidade, do ciclo das águas, da economia circular sustentável ou mesmo da valorização das comunidades originárias e povos tradicionais, tudo passa por entender como o ser humano interage com sistemas naturais complexos, impactando-os. Esse entendimento pode levar a soluções práticas e orientar tomadores de decisões a agir, ainda que num cenário em que até as respostas para a crise são complexas.

O oceano tem um papel fundamental quando falamos da crise climática e das soluções para o futuro que queremos. Ele ocupa 70% da superfície do planeta e possui uma ampla diversidade de recursos renováveis e não renováveis, atuando na regulação do clima. Estudos recentes demonstram, por exemplo, que os manguezais da foz do rio Amazonas estocam por hectare, aproximadamente, o dobro de carbono que a Floresta Amazônica, o quadruplo que o Cerrado e dez vezes mais que a Caatinga. Eles são, portanto, chave no estoque de carbono.

Além disso, o oceano é uma fonte de recursos inexplorados que podem servir de fonte para designs inovadores e sustentáveis, desde produtos biotecnológicos com potencial uso na indústria farmacêutica, de cosméticos, em produtos sustentáveis até recursos pesqueiros (algas, peixes e outros animais) alternativos às espécies sobre-exploradas. Estima-se, por exemplo, que 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil venha do oceano e da zona costeira devido a atividades relacionadas ao mar como pesca, turismo, transporte náutico, exploração de petróleo – mais um motivo para protegermos nossa Amazônia Azul.

Ainda comunicamos pouco a importância do oceano para a população brasileira. Mais de 25% dela vive na zona costeira e não sabe como é influenciada pelo oceano – e mais de 40% não sabe como suas ações impactam esse ecossistema. Aliado a isso está um total descaso com relação à saúde oceânica. Estudos recentes mostram que todos os corpos d’água próximos aos principais centros urbanos brasileiros da Baía do Guajará, no Pará, à Laguna dos Patos, no Rio Grande do Sul, se encontram contaminados em algum grau por metais, nutrientes e hidrocarbonetos. Pouco falamos, no entanto, no impacto da urbanização na zona costeira e do desmatamento crescente das vegetações costeiras, ameaçadas por propostas de legislações recentes como a PL 4444/2021, em tramitação na Câmara dos Deputados, que propõe a privatização de parte da zona costeira brasileira.

Com uma visão de futuro a partir de ciência, tecnologia e inovação, a ‘Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável’ é uma oportunidade para abordarmos a pauta global do Oceano olhando para questões locais, regionais e nacionais. Como outros objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que vão desde a erradicação da pobreza à transformação das cidades em lugares mais resilientes às mudanças do clima, a restauração dos ecossistemas como o do oceano envolve pensar globalmente e agir localmente. Assim, A Década do Oceano é uma oportunidade de olharmos para as questões locais e regionais, como o desmatamento das zonas costeiras e poluição de nossos mares.

Na sabedoria popular, diz-se que “tudo o que vai, volta”. Logo, cabe a nós a decisão de definir o futuro que queremos: se queremos imprimir impactos negativos ou positivos no ambiente que nos resta. Criar uma cultura oceânica que garanta que os diferentes setores da sociedade civil, do poder público e privado estejam envolvidos e tomem decisões a favor da sustentabilidade, baseadas em ciência, também é uma decisão. Se tomada com sabedoria, podemos dar passos mais consistentes para proteger e restaurar nossa Amazônia Azul.

Sobre o autor | Ronaldo Christofoletti é pesquisador do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), coordenador do Programa Maré de Ciência e membro do Programa “Cultura Oceânica com todos” (Ocean Literacy with All) – IOC da Unesco.

(Fonte: Agência Bori)