“Campinas é uma cidade privilegiada por contar com mais de duas centenas de Organizações da Sociedade Civil que prestam relevantes serviços à comunidade, sendo que algumas delas extrapolam as fronteiras da cidade, atendendo pessoas de todo o País. Esse trabalho conta com um número expressivo de voluntários, que dedicam seu tempo e experiência às diversas causas enfrentadas por essas organizações. Contudo, todas elas contam também com um corpo dedicado de colaboradores remunerados, que possuem qualificação adequada aos desafios de cada causa enfrentada.
Apesar desse contingente de organizações e causas que são abordadas, ainda há muitas necessidades no campo social de nossa cidade que pedem um maior envolvimento da sociedade como um todo para que sejam minimizadas as desigualdades existentes e fortalecidos os programas que tratam das anomalias da saúde e do envelhecimento.
Em momentos de crise como esse pelo qual passa o País, as demandas por esses serviços aumentam ainda mais e a captação de recursos junto às empresas, fundações e pessoas se retrai, gerando um grande aperto financeiro nessas organizações, resultando até no fechamento de unidades.
Muitos dos problemas que existem nos dias de hoje, de falta de mão de obra qualificada, segurança, violação de direitos, abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes e outros, poderiam ser sensivelmente abrandados com a ampliação do número dessas organizações e um maior envolvimento das pessoas no trabalho voluntário e/ou por meio do apoio financeiro.
A Constituição brasileira e o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelecem prioridade absoluta para as crianças, mas, na dura realidade das famílias em situação de vulnerabilidade social, esse preceito não é cumprido como deveria, deixando-se de desenvolver um potencial humano imenso, que representaria a geração de riqueza econômica e social e um futuro mais alvissareiro ao País.
No Brasil, cerca de 63% das vagas da rede socioassistencial são disponibilizadas pelas organizações da sociedade civil, enquanto em nossa cidade esse percentual se aproxima de 90%, demonstrando a importância dessas organizações para a sociedade e, também, a necessidade de elevação do orçamento público para a área da assistência social para que se alivie a pressão financeira sobre essas organizações.
Recentemente, com o advento das olimpíadas, ficou muito claro que mesmo nas comunidades mais vulneráveis, quando ocorre uma atenção diferenciada a essas populações os resultados aparecem com retornos expressivos. A propósito, alguns autores e consultorias têm demonstrado que aplicar recursos no social não é gasto e nem custo, mas sim investimento com um retorno significativo, variando de R$4,00 a R$15,00 para cada R$1,00 investido, além do seu caráter altamente humanitário. Dessa forma, até por uma questão econômica, de inteligência e de honrar a nossa Constituição cidadã, deveríamos todos direcionar maior atenção e recursos para as questões socioassistenciais.
Embora na área social esse tipo de avaliação não seja tão simples e, também, pouco explorada, fica claro que, ao se mudar o paradigma de gasto social para investimento social, com a demonstração dos retornos obtidos, muda-se a visão do desenvolvimento das políticas públicas nesse setor, com ganhos para o País e a sociedade como um todo.”.
Por Rodrigo Otávio Teixeira Neto, presidente e voluntário do Centro Promocional Tia Ileide (CPTI) há onze anos.