Por Leonardo Capeleto de Andrade — A Amazônia envolve nove países e nove estados brasileiros, cobrindo mais da metade do país – ou duas vezes a soma das regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Apesar de esta região ter a menor densidade populacional do Brasil, milhões vivem ali.
As Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) surgiram com a proposta de manter os povos tradicionais, como os ribeirinhos amazônicos, nessas Unidades de Conservação. Com a preservação das áreas e um modo de vida tradicional e sustentável, estas reservas proporcionam uma melhor qualidade de vida para as suas populações. Além disso, as RDS também ampliam o alcance de metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
As RDS Mamirauá e Amanã (AM) foram as duas primeiras deste tipo, sendo criadas respectivamente em 1996 e 1998. Os projetos desenvolvidos nestes mais de vinte anos nestas áreas atingiram diversas metas dos ODS. Mas para cada conquista, há outros desafios.
O manejo do pirarucu aumentou a renda e a disponibilidade de alimento para os ribeirinhos, mas a pesca ilegal ainda precisa ser controlada e o acesso a serviços básicos, ampliado. Com relação à saúde da população, a mortalidade infantil da região caiu e o acesso à educação aumentou, mas as longas distâncias dos centros urbanos são um desafio logístico.
As tecnologias sociais passaram a possibilitar o acesso a água e saneamento e energia em muitas comunidades, mas estas políticas públicas precisam chegar a todos locais. Além disso, o controle da caça ilegal e a conservação das espécies permitiram a recuperação de animais em risco de extinção nas reservas, mas a fiscalização e a ampliação dos mercados legais ainda são necessárias para amplificar os benefícios.
Os 17 ODS têm uma conexão clara com as Reservas de Desenvolvimento Sustentável na Amazônia Central. E, apesar das muitas conquistas ao longo dos anos, ainda há muitos desafios a serem alcançados – e após estes, novos surgirão. Os principais desafios atuais são ligados à realidade do meio rural e amplificados pelas longas distâncias amazônicas.
Sobre o autor | Leonardo Capeleto de Andrade é engenheiro ambiental, doutor em Ciência do Solo e pesquisador no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá na área de Tratamento de Água para comunidades ribeirinhas amazônicas.
Glossário:
Povos e Comunidades Tradicionais: “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição” (Decreto nº 6.040/2007);
Ribeirinhos: povo tradicional que vive ao longo dos rios, geralmente em residências palafitas ou flutuantes, com atividades de pesca e agricultura;
Tecnologias Sociais: tecnologias que visam reaplicar soluções para resolver problemas sociais de forma participativa com as populações atendidas.
(Fonte: Agência Bori)