Uma população de baleias francas (Eubalaena australis) frequenta o sul do Brasil fugindo da Antártica durante os meses de julho e outubro, demonstrando preferência pelas enseadas de Laguna, Garopaba, Imbituba e Florianópolis para realizar atividades de acasalamento, nascimento, amamentação de seus filhotes e cuidado parental. Estes mamíferos permanecem a maior parte do tempo visíveis na superfície e bem próximos à costa de Santa Catarina, sendo extremamente vulneráveis às atividades decorrentes da ação do homem, como a navegação.
A perda de habitats representa ameaça a esses animais e há necessidade de análises ambientais para reconhecimento da problemática local por meio de diagnósticos ambientais e monitoramento. Os dados de temperatura superficial, salinidade, pH, turbidez, tamanho dos grãos, morfometria e suscetibilidade magnética foram analisados pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP) e indicam que a Baía de Ibiraquera, ao Norte, é mais salina e está associada com água de temperatura de 21°C, sendo assim uma área preferencial para mãe e filhote. A Praia do Porto possui temperatura mais elevada, valor de pH mais baixo, maior suscetibilidade magnética e turbidez, e maior profundidade dentro da baía devido à dragagem para operações portuárias. Essas características parecem não favorecer a presença de baleias no Porto.
A unidade de conservação de uso sustentável da APA da Baleia Franca, tendo interações com esportes náuticos, atividades portuárias, pesca e turismo, necessita monitoramento, pois a qualidade do habitat e os serviços prestados pelas baleias dependem disso. São sumidouros de carbono. Nosso objetivo é justamente impedir que a população de baleias continue a declinar. Enquanto o animal está vivo, o carbono está aprisionado e não exportado para atmosfera após ciclos naturais de decomposição. Preservar as baleias contribui para impedir o aquecimento global.
A observação de baleias por água, em barco a motor, está proibida por ser danosa, interferindo nos cuidados parentais e na tranquilidade da mãe e filhote. As baleias se aproximam bastante da costa, onde tocam o sedimento com suas barrigas em menos de 10 metros de profundidade, sendo desnecessária a prática de turismo embarcado. O turismo por terra, como o Rede Turismo de Observação por terra (TOB Terra), que já foi aceito como candidato ao Patrimônio das baleias pelo World Cetacean Alliance (WCA), luta pela observação das baleias apenas por terra e por medidas drásticas para frear o turismo embarcado. Ainda não sabemos a causa da morte de algumas baleias, mas acreditamos que pesquisas irão informar a razão dessas fatalidades.
Cada baleia vale dois milhões de dólares para a humanidade. Nesse segundo turno das eleições para o Executivo, precisamos questionar: quem respeita a constituição? Quem apoia a vida, os povos originários, a floresta e o oceano? Precisamos reafirmar as políticas públicas de proteção ambiental para reverter o quadro de ameaça às baleias.
Sobre a autora | Patrícia Beck Eichler-Barker é bióloga e oceanógrafa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), do International Ocean Discovery Program (IODP) e EcoLogic Project.
(Fonte: Agência Bori)