Além de transportar humanos e objetos, navios também podem levar de carona espécies de animais marinhos. Um estudo publicado na sexta (29) na revista ‘Ocean and Coastal Research’ identificou, em nível de espécie, 25 animais sésseis – que vivem fixos em substratos – em boias de navegação no litoral do Paraná. Dessas espécies, 13 são consideradas introduzidas – ou seja, não são nativas da costa brasileira, mas mantêm populações que sobrevivem e se reproduzem no local. Quase todas podem ser ainda consideradas invasoras – com dispersão e reprodução frequente na região. A pesquisa foi conduzida por cientistas da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Em 2011, os pesquisadores obtiveram autorização para coletar amostras de boias do porto de Paranaguá, no Paraná, quando seria feita a substituição dos itens de sinalização da região portuária. Foram coletadas 73 amostras em 23 boias. “É muito difícil conseguir esse tipo de material, porque é proibido mexer nessas boias, elas são importantes para a segurança do tráfego portuário e da navegação”, explica o biólogo Rafael Metri, pesquisador da Unespar e primeiro autor do artigo. As boias às quais Metri e seus colegas tiveram acesso estavam posicionadas na região portuária paranaense havia mais de dez anos.
Os cientistas conseguiram identificar, ao todo, 88 táxons (grupos de animais) nas amostras, sendo 44 sésseis (organismos que vivem presos a um substrato) e 44 vágeis (organismos que se movem livremente). Foi possível determinar 25 espécies no primeiro conjunto. Além das 13 introduzidas, esse grupo conta com 11 espécies que têm larga distribuição e origem desconhecida, enquanto apenas uma é nativa. Já o segundo conjunto é composto por 23 espécies, sendo 12 de origem desconhecida e 11 nativas.
A maioria dos animais introduzidos mapeados no estudo são do grupo bivalve, caracterizado por conchas, que inclui ostras e mexilhões. O mexilhão marrom Perna perna, já comum na costa brasileira há alguns séculos, foi a espécie mais constante, aparecendo em 80% das boias estudadas. O artigo também destaca a presença de outro bivalve invasor, Isognomon bicolor, registrado pela primeira vez no Brasil nos anos 2000, em 40% das boias.
Segundo Metri, as espécies introduzidas promovem a homogeneização da biota, diminuindo a ocorrência de espécies nativas. “A colonização de espécies invasoras é a segunda principal causa da perda de biodiversidade no mundo, perdendo apenas para a destruição de habitats naturais”, alerta o biólogo.
Além dos impactos ambientais, Metri aponta consequências econômicas do desequilíbrio causado pelas espécies invasoras na região portuária. “Os pescadores estão bastante preocupados com algumas espécies invasoras que podem atrapalhar a atividade porque afetam as espécies pescadas por eles”, comenta o biólogo. A bioincrustação por espécies invasoras também pode danificar a infraestrutura costeira, o que gera custos de manutenção e reparo.
Para evitar problemas, os autores recomendam aos gestores portuários que façam a limpeza periódica das boias de navegação e a utilização de tintas anti-incrustantes não tóxicas, que impedem a fixação de organismos. Eles também destacam a importância do monitoramento ambiental. “A detecção precoce de novas espécies introduzidas é crucial para a implementação de estratégias para minimizar o problema”, diz Metri. O biólogo e seus colegas têm trabalhado em projetos de mapeamento das espécies introduzidas por toda a região da baía de Paranaguá, o que pode ajudar na prevenção de desequilíbrios ecológicos.
(Fonte: Agências Bori)