De importância estratégica para a cadeia ecológica e de grande sensibilidade às mudanças ambientais, as aves podem ser eficazes em estudos para entender a qualidade ambiental de uma região. Uma pesquisa publicada na revista “Acta Amazonica” na sexta (15) alerta para uma possível relação entre a ampliação na distribuição da espécie Zenaida auriculata na Amazônia e o avanço do desmatamento. Dos 804 registros de presença da ave no bioma entre 1982 e 2020, 32,2% ocorreram em pontos onde a espécie não era encontrada anteriormente. A análise revelou a ocorrência dessa ave em áreas desmatadas, principalmente nos últimos seis anos do levantamento (2014–2020).
Conhecida como avoante, pomba-campestre ou pomba-orelhuda, essa ave tem uma baixa sensibilidade às mudanças ambientais e costuma viver em áreas abertas, sendo encontrada em todos os biomas brasileiros, apesar de não ser típica da Amazônia. Com fácil adaptabilidade a locais que foram modificados por ação humana, a Zenaida auriculata alimenta-se basicamente de grãos. Estudos anteriores revelam que sua presença tem sido fortemente associada a locais onde existem lavouras, mas a espécie também é recorrente em áreas urbanas.
No artigo, os pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e da empresa CMData basearam-se em dados de ciência cidadã para verificar a ocorrência dessa ave na região da Amazônia brasileira. Para isso, buscaram em plataformas digitais, como WikiAves, registros da espécie entre os anos de 1982 e 2020, além dos registros dessa expansão territorial de Zenaida auriculata. Os cientistas também coletaram informações de áreas que vêm sendo desmatadas na região Norte, a fim de confrontar com os pontos de registro da espécie.
“A avoante pode se beneficiar de culturas agrícolas, como soja, milho e trigo, uma vez que sua dieta inclui esses tipos de grãos. Esta pode ser uma das razões pela qual as populações dessa ave estão se dispersando para áreas desmatadas, em grande parte sendo ocupadas por tais culturas. O desmatamento no bioma Amazônico modifica áreas florestais, transformando-as em campos abertos, semelhantes ao hábitat preferencial de Zenaida auriculata, o que contribui para o sucesso da espécie em colonizar essas novas áreas”, explica Alexandre Gabriel Franchin, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.
“A Zenaida auriculata é uma espécie bem-sucedida no ambiente urbano e em paisagens agrícolas, dois cenários relacionados com o desmatamento. Isso pode explicar como ela vem expandindo sua distribuição e colonizando diferentes áreas da Amazônia, dadas as drásticas mudanças que ocorreram neste bioma. Chamamos a atenção para o fato que esses registros continuem sendo monitorados para saber se essa ave vai se estabelecer definitivamente ou não nessas áreas que têm sido desmatadas na região Norte do nosso país”, destaca Gabriel Magalhães Tavares, pesquisador que também assina o estudo.
(Fonte: Agência Bori)