A dispersão de doenças como malária e Covid-19 na Amazônia está diretamente relacionada à trajetória de desenvolvimento agrícola dos municípios e à perda de biodiversidade. É o que aponta estudo publicado na terça (13) na revista “Frontiers in Public Health” de autoria de pesquisadores do Centro de Síntese em Biodiversidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) de diversas instituições, como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e outras universidades.
A pesquisa investigou a distribuição de onze doenças tropicais negligenciadas, como malária, leishmaniose, dengue e chikungunya em territórios da Amazônia com trajetórias chamadas de tecnoprodutivas e agroextrativistas a partir de uma abordagem sistêmica da epidemiologia, economia e pesquisa ambiental. As trajetórias tecnoprodutivas têm um modelo agropecuário e intensa mudança de paisagem, com promoção de grande perda da cobertura florestal. As trajetórias agroextrativistas, por outro lado, se adaptam ao bioma a partir de conhecimento local em áreas cobertas por floresta contínua.
O estudo mostra que as elevadas taxas de desmatamento e a perda de biodiversidade têm relação com a alta carga de doenças tropicais negligenciadas, como leishmaniose, doença de Chagas, dengue e malária, nas cidades da Amazônia. “A criação de gado e plantio de grãos, por outro lado, tem associação com altas taxas de desmatamento e tem se tornado trajetórias dominantes nos últimos anos”, comenta a pesquisadora Cláudia Codeço, uma das autoras do estudo.
A malária prevalece em municípios com perfil agroextrativista e com cobertura florestal; ou seja, metade do território amazônico. A dengue e chikungunya ocorrem com mais frequência em municípios de expansão urbana recente, como no limite sul da Amazônia em transição para o Cerrado. A leishmaniose cutânea prevalece em municípios com grandes rebanhos de animais onde há maiores taxas de desmatamento e perda de biodiversidade.
Já a Covid-19 se espalhou com facilidade em todos os municípios da Amazônia, pois se relaciona com o tráfego de pessoas, atingindo, depois, as comunidades rurais, ribeirinhas e que vivem nas florestas. “Esse fluxo se deu pela cadeia de contatos que envolveu os profissionais de saúde e assistentes sociais que transitam entre as regiões, assim como pelos moradores que saíram das grandes cidades rumo às áreas mais remotas”, analisa Codeço. A doença foi agravada pela desigualdade de acesso a serviços básicos de saúde e de bens e serviços que assola a região. A pesquisa abre horizontes para monitorar o potencial avanço de doenças nos municípios amazônicos.
(Fonte: Agência Bori)