Os ciclos eleitorais podem afetar as decisões políticas ambientais, como o controle do desmatamento. Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Universidade de Duke, nos Estados Unidos, mostra que, entre 1991 e 2014, em torno de 4 mil hectares a mais de Mata Atlântica foram desmatados em anos de eleições nas cidades do sudeste e sul, em comparação a anos não eleitorais. Esses resultados estão descritos em artigo publicado na segunda (28) na revista “Conservation Letters”.
O estudo avaliou o impacto dos períodos eleitorais no aumento de desmatamento em 2.253 municípios do sul e sudeste do Brasil, comparando os níveis de desmatamento de anos de eleições municipais, estaduais e federais com anos não eleitorais. Para isso, os pesquisadores cruzaram dados de eleições do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com dados do projeto MapBiomas, que monitora os níveis de desmatamento desde 1985 por meio de imagens de satélite.
O aumento nas áreas desmatadas na Mata Atlântica foi observado tanto em anos de eleições municipais, com 4.409 hectares, quanto de eleições federais e estaduais, com 3.200 hectares a mais. Isso representa um aumento em torno de 3% da média anual de desmatamento na região, que é em torno de 136 mil hectares. “Apesar de ser pequeno, esse efeito traz prejuízos reais em termos de floresta e pode cancelar avanços conquistados por políticas de conservação ambiental”, enfatiza Patrícia Ruggiero, coautora do estudo, que faz parte do Programa Biota Fapesp.
Segundo os pesquisadores, essa relação entre ciclos eleitorais e desmatamento, que já foi identificada na Indonésia e Amazônia, é mostrada pela primeira vez na Mata Atlântica. “É interessante observar que esse efeito ocorre numa região que tem as legislações mais abrangentes do mundo em relação ao controle do desmatamento”, ressalta Ruggiero.
O estudo mostra também que municípios com grande pressão de desmatamento sofreram aumento de área desmatada maior quando os candidatos a governo federal e estadual são aliados.
Os ciclos eleitorais de desmatamento mais intensos foram os de anos iniciais do período de 1991 a 2014 e foram diminuindo gradativamente, com aumento de programas de controle do desmatamento da Mata Atlântica. Patrícia observa que essa tendência não se manteve nos anos seguintes. Conforme mostra o Atlas da Mata Atlântica, lançado em maio, de 2018 em diante houve um aumento do desmatamento na região.
(Fonte: Agência Bori)