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Estudo mostra que afloramentos rochosos da Mata Atlântica Capixaba servem de refúgio para orquídeas e bromélias

Espírito Santo, por Kleber Patricio

Foto: Terence Nascentes/IEMA.

Estudo inédito publicado na terça-feira (2) na revista científica “Biodiversity and Conservation” mostra que os afloramentos rochosos da Mata Atlântica Capixaba atuam como área de refúgio para plantas epífitas – plantas que vivem sobre outras plantas sem parasitá-las, como orquídeas, bromélias e samambaias. Os afloramentos rochosos, constituídos de granito e gnaisse, são conhecidos entre os cientistas como inselbergs – a palavra tem origem alemã: insel, de ilha; berg, de montanha. Naturalmente, rodeados pela floresta, são como “ilhas de habitat terrestres” que escaparam da intervenção humana em grandes proporções, o que permitiu essa característica de refúgio para espécies botânicas, muitas delas ameaçadas de extinção.

Para entender o papel dos inselbergs como refúgio para a flora de epífita no estado do Espírito Santo, os pesquisadores do Instituto da Mata Atlântica (INMA) e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro combinaram dois bancos de dados nacionais de flora online (Reflora e Jabot), dados de espécies coletadas pelos autores e estudos publicados anteriormente.

Nas paisagens do Espírito Santo, os inselbergs representam grandes maciços rochosos que se destacam em meio a plantações agrícolas, pastagens e áreas de vegetação nativa da Mata Atlântica. Sua flora é adaptada a viver em condições ambientais extremas (solos incipientes ou ausentes, altas temperaturas e escassez de água), distintas daquelas que ocorrem nas paisagens naturais do seu entorno. Entretanto, durante o trabalho, os pesquisadores foram surpreendidos: os inselbergs capixabas abrigam um número elevado de espécies epifíticas (266 espécies), sendo que mais de 75% das espécies registradas neste estudo são típicas da Mata Atlântica do entorno.

“Possivelmente, as árvores presentes nos inselbergs constituem as únicas chances de sobrevivência das epífitas nativas. Muitas delas são endêmicas e ameaçadas de extinção”, destaca Talitha Mayumi Francisco, pesquisadora do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA). Portanto, os inselbergs capixabas desempenham um papel importante na conservação da biodiversidade de epífitas e podem ser considerados um refúgio, pois abrigam elementos dessa flora abundante na matriz e que por vezes concebem as únicas chances de sobrevivência para epífitas nativas.

No estudo, os pesquisadores propuseram pela primeira vez o termo “epífita especialista em rocha” para aquelas espécies endêmicas de inselberg – ou seja, epífitas que ocorrem exclusivamente em ecossistemas rochosos, geralmetne sobre espécies de Vellozia – que somaram aproximadamente dois por cento das espécies listadas. Apesar de poucas espécies serem classificadas nessa categoria, esse grupo merece atenção especial do ponto de vista evolutivo, em que o processo de especiação levou a uma relação muito “estreita” com arbustos endêmicos desses ecossistemas.

Epífitas vasculares representam um grupo muito diversificado nas florestas tropicais úmidas do mundo, principalmente na América Tropical. “Além disso, as epífitas têm números alarmantes de espécies ameaçadas de extinção porque dependem diretamente do apoio estrutural oferecido pelas árvores para sua sobrevivência. Ao passo que grandes extensões de florestas primitivas foram derrubadas para diversos fins, junto com essas árvores perdeu-se um número imensurável de espécies epífitas, que morreram junto a suas árvores-mães”, explica Dayvid Rodrigues Couto, pesquisador do INMA e um dos pioneiros no estudo das epífitas de inselbergs no Brasil.

Os inselbergs escaparam da devastação direta por não atraírem interesse agrícola. “Com isso, esses ecossistemas foram preservados do impacto humano e mantiveram seu caráter de refúgio. Entretanto, inúmeros impactos ameaçam a diversidade da flora nos inselbergs capixabas, sendo o mais grave a mineração de rochas ornamentais, resultando na perda de habitats e na consequente ameaça a várias espécies botânicas”, alerta Talitha.

“Os inselbergs raramente foram considerados no contexto da degradação dos ecossistemas naturais terrestres. Infelizmente, não há estimativas confiáveis sobre as taxas globais de destruição desse ecossitema, o que é necessário, com urgência, para a definição de estratégias de conservação eficazes”, destaca Cláudio Fraga, pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e um dos autores deste estudo.

“Conhecer as espécies que ocorrem nos ecossistemas naturais tropicais é um grande desafio de biólogos conservacionistas. Com os resultados das pesquisas, é possível planejar ações para preservação de espécies, manejo e restauração ecológica e criação de reservas. Esperamos que nosso estudo contribua para o direcionamento de políticas de conservação e sirva de base para que os órgãos ambientais atuem com mais rigor na fiscalização e proteção desse ecossistema”, finaliza Talitha.

(Fonte: Agência Bori)