O cultivo de ostras em cativeiro e a criação de camarões em viveiros são atividades de grande importância social e econômica no Nordeste do Brasil, contribuindo para a geração de empregos e para a economia local. No entanto, se desenvolvidas de modo não sustentável, podem causar graves impactos ambientais e não alcançar toda a sua potencialidade e produtividade. É isso que mostra estudo conduzido pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) publicado na segunda (20) na revista “Arquivos de Ciências do Mar”.
Para investigar os aspectos ambientais e socioeconômicos da ostreicultura e carcinicultura marinha nos estados da região Nordeste, as pesquisadoras realizaram um levantamento bibliográfico e uma pesquisa documental com recorte entre 2013 e 2017. A maior parte dos dados foi obtida na base disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também foram usadas outras fontes, como a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) e o Boletim Estatístico da Pesca e Aquicultura do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
No período analisado, o Nordeste ocupou a terceira posição na produção de ostras, mexilhões e vieiras no país. Apesar de ainda pouco expressiva, a ostreicultura apresenta um considerável crescimento na região, com destaque para os estados da Bahia e Alagoas. Em relação à criação de camarões, a região lidera o setor, respondendo por 98,8% da produção nacional, em 2017. Ceará e Rio Grande Norte são os principais produtores.
Segundo o estudo, além de constituir fonte de alimento para as comunidades costeiras, a ostreicultura possibilita a geração de renda, inclusive para as mulheres, contribuindo para a inclusão social e igualdade de gênero. Mas algumas práticas não sustentáveis podem resultar em impactos ecológicos de longo prazo sobre o estoque natural e afetar gravemente a disponibilidade de fito plâncton para outras espécies que compõem a fauna aquática, comprometendo o equilíbrio ecológico e o retorno econômico. Outro problema relacionado à ostreicultura é a dificuldade dos ostreicultores na etapa da venda – sem clientela fixa, muitos dependem dos chamados atravessadores para a comercialização do produto.
Situação semelhante ocorre com o cultivo de camarão. Quando realizado seguindo os protocolos de sustentabilidade, pode contribuir para reduzir a pressão nos estoques naturais. Mas, se feito de forma irregular, pode causar impactos irreversíveis ao meio ambiente, levando à destruição da vegetação costeira e dos manguezais e à salinização dos solos, além de prejudicar a qualidade da água. Outro impacto negativo de práticas inadequadas é o surgimento de doenças virais e bacterianas que atacam os camarões, reduzindo o ritmo de crescimento da produção.
“O estudo trata de duas atividades relevantes para a região Nordeste; porém, são práticas que precisam ser realizadas seguindo os protocolos de sustentabilidade e adotando medidas que possibilitem o aprimoramento na produção de ostras e camarões com a finalidade de torná-las sustentáveis e mais rentáveis”, afirma Josevânia de Oliveira, principal autora do artigo. Entre essas ações estão planejamento sustentável, capacitação dos produtores, desenvolvimento tecnológico, procedimentos que agreguem valor aos produtos (como selos de certificação da qualidade e inspeção sanitária) e fiscalização da produção.
Josevânia, que é doutora pelo programa de pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFS e contou com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para realizar a pesquisa, diz que pretende continuar o estudo para fazer uma comparação entre os dados apresentados neste artigo e novas informações. “A ideia é verificar se ocorreu um aumento ou redução no desenvolvimento e na produção da ostreicultura e da carcinicultura na região”, finaliza.
(Fonte: Agência Bori)