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Perda de 25% dos corais nos recifes brasileiros pode prejudicar até metade das espécies de peixes

Brasil, por Kleber Patricio

Equipe analisou perdas nos recifes por meio de simulação com oito espécies de corais e 63 espécies de peixes. Foto: Guilherme Longo/acervo pesquisadores.

A perda de 25% dos corais nos recifes brasileiros pode gerar um efeito cascata, o que poderia resultar na extinção de metade dos peixes da região – incluindo não somente espécies que se relacionam diretamente aos corais. É o que aponta artigo publicado na revista científica “Global Change Biology” neste sábado (28). Desenvolvida por cientistas de universidades brasileiras, como as federais de Santa Maria (UFSM) e do Rio Grande do Norte (UFRN), e estrangeiras, como a Universidade de Évora, em Portugal, a pesquisa ainda indica que as atividades humanas e mudanças climáticas são os principais fatores responsáveis por essa perda.

A pesquisa alerta para a conservação desses organismos, uma vez que, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, uma em cada quatro espécies marinhas vive nesses recifes, incluindo 65% das espécies de peixes.

A partir da construção de uma base de dados de ocorrência de peixes e corais no Brasil, a equipe analisou os efeitos cascata por meio de simulações de redes ecológicas com oito espécies de corais e 63 espécies de peixes, avaliando três cenários de remoção dos corais. O primeiro focou na perda dos corais com os quais os peixes mais se associam, revelando o impacto mais severo. Já o segundo se desdobrou nos corais que são mais vulneráveis ao branqueamento, um fenômeno fatal para esses organismos influenciado pelo aquecimento global. Por fim, o terceiro funcionou como controle, avaliando a perda aleatória dos corais.

O cientista da UFSM André Luís Luza, autor correspondente do artigo, compara o efeito cascata às redes sociais, onde pessoas populares – no caso do estudo, os corais – influenciam diretamente seus seguidores – equivalentes aos peixes associados aos corais –, que, por sua vez, impactam indiretamente outros indivíduos – peixes que concorrem com os associados aos corais. O efeito da extinção de corais, portanto, pode se estender para além de efeitos diretos e, também, afetar tanto a diversidade de espécies quanto às funções que diferentes espécies desempenham em um ecossistema.

Atualmente, a poluição e turismo desregulado causam a eliminação de corais, somando-se aos impactos em escala global relacionados às mudanças climáticas, avalia Luza. Para o cientista, evitar essa perda demanda ações coordenadas em várias esferas de tomada de decisão. “Existem iniciativas a níveis hierárquicos mais amplos, mas iniciativas locais são geralmente inexistentes e devem ser formuladas com urgência”, comenta.

O cientista ainda conta que a perda de corais, e consequentemente de peixes, acarreta ambientes menos saudáveis, o que prejudica a pesca e até mesmo o turismo sustentável. “Estima-se que globalmente, a abundância de corais foi reduzida pela metade desde 1950. No Brasil isso também tem ocorrido, embora nossos recifes tenham menos corais, quando comparados aos do Caribe e do Pacífico”, complementa.

A identificação desse efeito cascata é notável para o sistema de estudo, já que os recifes do Brasil possuem baixa cobertura de corais e uma fauna de peixes recifais generalistas – ou seja, com alimentação e hábitos bastante amplos. “O estudo também inova ao apresentar um algoritmo para avaliação da robustez de redes ecológicas considerando diversidade funcional, que é uma dimensão da diversidade biológica que ajuda a explicar funções e serviços ecossistêmicos”, ressalta Luza.

Futuramente, os pesquisadores pretendem formular experimentos de campo para tentar detectar mais diretamente alguns dos efeitos que surgiram no estudo. Há ainda a intenção de aprofundar as pesquisas sobre como processos ecossistêmicos são influenciados por impactos locais e regionais nos recifes.

(Fonte: Agência Bori)