Um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) publicado na sexta (19) na revista científica “Anais da Academia Brasileira de Ciências” mapeou a distribuição de três espécies de sapos do gênero Adelphobates na floresta amazônica. Elas foram encontradas principalmente na região do arco do desmatamento da floresta, o que as coloca em risco, preocupando cientistas. A. quinquevittatus, A. castaneoticus e A. galactonotus são sapos de coloração forte, de até quatro centímetros de tamanho, e venenosos. Eles são conhecidos na região amazônica como sapos-ponta-de-flecha – comunidades indígenas antigas passavam seu veneno em suas flechas. Segundo registros do grupo de pesquisadores, as três espécies vivem ao sul do rio Amazonas. A primeira tem distribuição mais restrita à bacia do rio Madeira, na Amazônia Ocidental, enquanto as outras duas se concentram na margem direita do rio Tapajós, na Amazônia Oriental.
Para mapear a distribuição dos sapos-ponta-de-flecha, a equipe coletou 113 indivíduos das três espécies em diferentes pontos das bacias do rio Madeira, dos rios Tapajós-Xingu e do rio Tocantins, entre 2008 e 2018, e registrou as coordenadas de onde eles foram encontrados. No laboratório, foi feito um sequenciamento genético dos animais para identificar possíveis linhagens genéticas dentro das espécies e montar as árvores filogenéticas que contam a história de sua evolução. Além do registro de ocorrências em campo, um levantamento bibliográfico das ocorrências dos sapos na região amazônica e de variáveis bioclimáticas de vegetação ajudou os pesquisadores a montarem os mapas de distribuição e de provável ocorrência das espécies.
Na procura pelos sapos, a equipe buscou castanheiras ao longo do território amazônico, pois havia registros na literatura científica de que estes animais utilizam as poças d’água temporárias formadas pelas cascas das castanhas para o desenvolvimento dos girinos. “Eles dependem de um ambiente bem preservado, com bastante umidade e com precipitação elevada na época de chuva, para se desenvolverem”, conta Larissa Medeiros, pesquisadora do Inpa e primeira autora do artigo.
Os sapos-ponta-de-flecha do gênero Adelphobates constam como espécie “pouco preocupante” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), que mapeia globalmente as espécies da fauna e flora com risco de extinção. Apesar disso, o desmatamento da floresta amazônica pode representar um risco para esses animais. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 90% do desmatamento da Amazônia Legal está nos estados do Pará, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, onde essas espécies são comumente encontradas.
Para Medeiros, a distribuição das espécies de sapos-ponta-de-flecha apontada pelo estudo é ainda mais restrita do que a apresentada no levantamento da IUCN, atualizado em 2023. “O mapa da IUCN considera, por exemplo, a ocorrência de A. quinquevittatus em todo o estado do Acre, mas provavelmente essas ocorrências são de outras espécies, como as do gênero Ranitomeya, que têm coloração semelhante aos sapos-ponta-de-flecha”, explica a pesquisadora.
Os registros de ocorrência e distribuição das espécies, relatados no artigo de Medeiros e seus colegas, podem ajudar tomadores de decisão a traçar políticas de conservação ambiental. “Quando investimos em conservação, não preservamos apenas uma espécie, mas todo o local onde ela habita, com todos os recursos que ela e outras espécies precisam para viver e se reproduzir”, comenta Medeiros. Ela exemplifica: “A preservação dos sapos protege o ambiente e as castanheiras, que são fonte de renda para várias comunidades locais”.
Segundo a autora, existiam poucas informações sobre os sapos-pontas-de-flecha registradas na literatura científica. O estudo atual permite que pesquisadores e pessoas interessadas no assunto conheçam mais sobre as espécies e seus habitats. Para o futuro, o grupo do Inpa pretende focar em descrever melhor a história evolutiva das espécies de sapos-ponta-de-flecha que habitam a Amazônia Oriental.
(Fonte: Agência Bori)