Adolescentes com a menor altura média do país são da região Norte. Aos 17 anos, a altura média das meninas é de 160,9 ± 0,1cm e dos meninos é de 173,7 ± 0,3cm, sendo que, majoritariamente, são alunos de escolas públicas e fazem parte da parcela mais pobre da população. A conclusão faz parte de uma das publicações do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA), que envolveu pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS) e foi publicada na sexta (12) na Revista Cadernos de Saúde Pública.
Os autores fizeram uma análise de dados obtidos do ERICA, uma extensa descrição da prevalência de fatores de riscos cardiovasculares e síndrome metabólica em adolescentes de 12 a 17 anos realizada por pesquisadores de todas as regiões do Brasil. A pesquisa possibilitou associações entre a altura dos indivíduos com fatores regionais, socioeconômicos, nutricionais, educacionais e étnicos.
O trabalho, que descreveu a altura de parcela representativa de adolescentes das cinco regiões do Brasil, mostrou que os adolescentes da região Norte figuram a menor altura média do país, apresentando diferença em relação aos de regiões mais desenvolvidas, como Sul e Sudeste. Entre as cinco regiões, as alturas médias – dos 12 e 17 anos – variaram respectivamente de 158,6cm (Norte) a 161,6cm (Centro-Oeste) para as meninas e de 171cm (Norte) a 174,3cm (Sudeste) para os meninos.
Avaliando fatores socioeconômicos, os pesquisadores detectaram que adolescentes com a menor estatura média são provenientes de escolas públicas, fazem parte da parcela mais pobre da população e suas mães têm escolaridade inferior. No quesito nutricional, foi identificada heterogeneidade entre os gêneros: meninos com baixo peso apresentaram a menor média de altura até os 15 anos, enquanto os com sobrepeso e obesidade eram mais altos até os 16 anos. Já as meninas com obesidade tinham altura maior até os 14 anos e, as que estavam abaixo do peso apresentavam maior estatura aos 16 e 17 anos. Um maior consumo de proteínas foi associado positivamente com uma maior altura em meninos de 16-17 anos, assim como a prática de atividade física.
Embora não tenham identificado associação direta da qualidade da dieta com a altura dos adolescentes avaliados, os autores salientam a importância do impacto desse fator específico. Segundo eles, é possível que a análise transversal dos dados e a falta de detalhamento do consumo de micronutrientes tenham impedido a identificação de uma possível relação com a estatura dos indivíduos.
Sabendo que um rápido aumento do índice de massa corporal está associado à antecipação da puberdade em meninas, a partir dos resultados desse estudo, o grupo volta suas atenções à relação e influência da obesidade com o término precoce da puberdade em adolescentes. “O nosso planejamento é avaliar isso porque na literatura ainda existe dúvida. O que queremos ver na nossa população é se a obesidade estaria associada à uma aceleração do término da puberdade em meninos e meninas”, comenta Amanda Cheuiche, autora principal do artigo.
Os dados apresentados por uma ampla pesquisa antropométrica como essa podem gerar impactos em ações federais e políticas públicas porque denunciam novas desigualdades que existem entre as regiões do Brasil. “O nosso estudo chamou atenção para a questão dos dados ambientais que temos que ficar atentos. Uma criança deve viver num ambiente que proporcione o maior crescimento, ou seja, com maior acesso à educação, a saneamento […] Setores, segmentos e regiões não estão recebendo esse cuidado e isso está resultando na discrepância significativa na altura, que também é um marcador de saúde”, ressalta Amanda.
(Fonte: Agência Bori)