Notícias sobre arte, cultura, turismo, gastronomia, lazer e sustentabilidade

Relatório aponta que é preciso ouvir mulheres pobres e negras para superar insegurança alimentar no Brasil

Rio Grande do Sul, por Kleber Patricio

Foto: FreePik.

Em novo relatório publicado no último dia 15 de maio, pesquisador reforça a importância de considerar a experiência de mulheres negras na formulação de políticas públicas alimentares, já que elas são as que mais enfrentam obstáculos no acesso a alimentos de qualidade.

Assinado por Arthur Saldanha, pesquisador de pós-doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a publicação, que faz parte de uma série de estudos do grupo de pesquisa em Sociologia das Práticas Alimentares (SOPAS) da mesma instituição, demonstra que isso acontece porque raça, gênero e cor são os fatores que mais influenciam na insegurança alimentar e nutricional no Brasil: baixa renda, menor grau de escolaridade e diferença salarial entre homens e mulheres levam ao aumento do trabalho informal e à redução do poder de compra. Com isso, fica dificultado ou impossibilitado o acesso a alimentos de qualidade, bem como diminui o número de refeições diárias.

“Muito tem se falado sobre a fome e o alto consumo de alimentos pouco nutritivos no Brasil, mas estes são problemas que persistem de maneira desigual”, afirma Saldanha. Segundo ele, “a insegurança alimentar e nutricional está relacionada a outros problemas sociais crônicos no Brasil, como a qualidade e quantidade dos alimentos acessados, igualdade social na produção, comercialização e acesso a esses alimentos, ao racismo e o sexismo sofridos diariamente por essas mulheres”.

Ainda de acordo com o relatório, o índice crescente de pobreza e extrema pobreza na América Latina com as consequências da pandemia de Covid-19 e da elevação de preços por causa da inflação fazem com que o quadro de insegurança alimentar no país piore e persista. Em uma conjuntura em que a maioria das pessoas sofre com a redução do poder de compra, suas escolhas são direcionadas para produtos menos saudáveis, que são mais acessíveis. Por conseguirem comprar menos coisas, elas também deixam de consumir produtos mais variados. É o caso do aumento no consumo de alimentos ultra processados, por exemplo, geralmente ricos em gorduras e açúcares.

O autor destaca que o ativismo de mulheres negras pode ajudar a construir políticas públicas alimentares para enfrentar essas questões, levando em consideração essas desigualdades. “A aproximação do poder público às iniciativas alimentares locais, como movimentos sociais, organizações e articulações de mulheres negras, permitirá um mapeamento mais preciso sobre as demandas dessas mulheres e, consequentemente, uma formulação de política pública alimentar mais assertiva para esse grupo”, afirma o pesquisador da UFRGS.

Outro aspecto que chama a atenção do autor é o fato das mobilizações de mulheres negras frequentemente lançarem atenção para demandas de outros grupos sociais, como indígenas, populações tradicionais e comunidade LGBTQIA+. Saldanha segue com investigações nessas temáticas no Rio Grande do Sul como parte do seu trabalho de pesquisa na UFRGS, se interessando pela relação entre práticas alimentares e gênero, classe e raça.

(Fonte: Agência Bori)