A Aldeia São João, localizada na Terra Indígena Kanamari do Rio Juruá, Amazonas, sediou um encontro marcante e histórico para o povo Kanamari do Xeruã. Em junho deste ano, durante a XIV Assembleia Ordinária da Associação do Povo Tâkuna do rio Xeruã (Aspotax), foram alcançados importantes avanços na gestão coletiva da organização e na inclusão de mulheres em cargos de liderança pela primeira vez.
O evento reuniu 50 pessoas, entre moradores das três aldeias Kanamari, representantes do povo Deni, vizinhos do território Kanamari e indigenistas da Operação Amazônia Nativa (OPAN). Durante três dias, foram debatidos temas como saúde, educação e vigilância territorial. Além disso, a assembleia realizou a primeira eleição de lideranças mulheres, a prestação de contas e a apresentação do plano de trabalho da diretoria da associação.
“Em 2023, nós assumimos a diretoria da Aspotax e a primeira assembleia [da nova diretoria] não foi fácil, porque a maioria das pessoas não estavam confiantes em nós, porque estávamos começando. Mas agora estamos tendo algumas respostas para as demandas da comunidade, estamos trabalhando em equipe e o pessoal está mais confiante”, relatou José Welga Kanamari, vice-presidente da Aspotax.
Mulheres Kanamari na liderança pela primeira vez
Até recentemente, a representação política nas três aldeias da Terra Indígena Kanamari do Rio Juruá era composta exclusivamente por homens. No entanto, a XIV assembleia da Aspotax trouxe uma mudança histórica: seis mulheres foram eleitas para representar politicamente os Kanamari, marcando um novo capítulo na trajetória da associação e do povo. A partir de agora, homens e mulheres compartilham a liderança, articulando demandas e representando suas comunidades nas assembleias anuais.
“A intenção é que elas participem mais do dia a dia da associação. Não pode ser só os homens liderando, as mulheres também têm que participar”, afirmou o vice-presidente. Além das novas lideranças comunitárias, Waomah Érica Kanamari, de apenas 16 anos, foi eleita para liderar a juventude. A jovem compartilhou os desafios e as expectativas de assumir essa responsabilidade. “Foi difícil ocupar esse lugar. No início eu não entendia bem, mas fui aprendendo e agora me sinto feliz pelo que sou e pelo que represento. Fui escolhida para esse papel e vou ajudar os jovens fazendo reuniões nas aldeias, dando força e incentivando-os a ocupar outros espaços.”
Este marco histórico aconteceu pouco tempo após a primeira participação de uma delegação de mulheres do Médio Juruá, que incluiu representantes dos povos Kanamari, Deni e Madija, na Marcha das Mulheres Indígenas realizada em 2023, em Brasília. O evento reuniu mais de 8 mil mulheres de 247 povos indígenas do Brasil, e as três mulheres Kanamari que estiveram na marcha compartilharam a experiência e os temas discutidos com as demais mulheres que não puderam participar.
Capacitação fortalece gestão da Aspotax
Em 2023, por meio do projeto Raízes do Purus, realizado pela OPAN com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, foi realizada uma formação em associativismo para aprimorar a capacidade de gestão da Aspotax. Atendendo a uma demanda do povo Kanamari, a capacitação abordou as funções dos membros da associação, além da elaboração de projetos e demais documentos. Na época, 40 pessoas participaram da formação, incluindo os membros da atual diretoria da Aspotax, professores, lideranças e moradores das três aldeias.
José Welga, vice-presidente da associação, destacou que a oficina foi crucial para o entendimento das funções de cada membro da diretoria, fortalecendo o trabalho em equipe. “A formação em associativismo teve teoria, prática e nos deu uma visão de como trabalhar juntos em equipe. Estamos nos esforçando para ser transparentes e a comunidade está sempre informada sobre tudo que acontece na associação”, explicou.
(Fonte: Com Jéssica Amaral/DePropósito Comunicação de Causas)