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Brasil
A Fundação Bienal de São Paulo anuncia o título, o conceito curatorial, os parceiros e a identidade visual da 36ª Bienal de São Paulo, que acontecerá a partir de setembro de 2025 no Pavilhão Ciccillo Matarazzo. Intitulada Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, a edição será conduzida pelo curador geral Prof. Dr. Bonaventure Soh Bejeng Ndikung com sua equipe de cocuradores composta por Alya Sebti, Anna Roberta Goetz e Thiago de Paula Souza, além da cocuradora at large Keyna Eleison e da consultora de comunicação e estratégia Henriette Gallus. A mostra se inspira no poema enigmático da poeta afro-brasileira Conceição Evaristo ‘Da calma e do silêncio’.
A exposição vem acompanhada, ainda, de uma mudança histórica na organização do evento, que tradicionalmente é realizado de setembro a dezembro. A Fundação Bienal tem o prazer de anunciar que a 36ª edição da mostra se estenderá por quatro semanas adicionais, sendo apresentada gratuitamente ao público entre 6 de setembro de 2025 e 11 de janeiro de 2026. A decisão foi tomada pela presidente Andrea Pinheiro e sua Diretoria com o intuito de ampliar ainda mais o alcance da mostra, que poderá ser apreciada por uma quantidade maior de visitantes durante o período de férias escolares.
A proposta central dessa Bienal é repensar a humanidade como verbo, uma prática viva em um mundo que exige reimaginar as relações, as assimetrias e a escuta como bases de convivência a partir de três fragmentos/eixos curatoriais. A metáfora do estuário – local onde diferentes correntes de água se encontram e criam um espaço de coexistência – guia o projeto curatorial, inspirado nas filosofias, paisagens e mitologias brasileiras. Tal conceito reflete a multiplicidade de encontros que marcaram a história do Brasil e propõe que a humanidade se una e se transforme por meio de uma escuta atenta e da negociação entre seres e mundos distintos.
De acordo com o curador geral Prof. Dr. Bonaventure Soh Bejeng Ndikung: “Em uma época em que os seres humanos parecem ter, mais uma vez, perdido contato com o que significa ser humano, em uma época em que a humanidade parece estar perdendo o chão sob seus pés, em uma época de agravamento de crises sociopolíticas, econômicas e ambientais em todo o mundo, parece-nos urgente convidar artistas, acadêmicos, ativistas e outros profissionais da cultura ancorados em uma ampla gama de disciplinas para se juntarem a nós na reformulação do que a humanidade poderia significar e na conjugação da humanidade. Apesar ou por causa de todas essas crises e urgências do passado-presente-futuro, devemos nos dar o privilégio de imaginar outro mundo por meio de outro conceito e prática de humanidade. Portanto, Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática é um convite para pensar e manifestar a humanidade como um verbo e uma prática, para pensar sobre a humanidade como encontro(s) e negociações sobre a convergência de mundos variados. É um convite para deliberar sobre o desmantelamento de assimetrias como um pré-requisito para a humanidade como prática, assim como essa Bienal nos oferece um convite para colocar a alegria, a beleza e suas poéticas no centro das forças gravitacionais que mantêm nossos mundos em seus eixos… pois a alegria e a beleza são políticas. Este é um convite para imaginar um mundo no qual damos ênfase às nossas humanidades em um momento em que a humanidade está literalmente falhando conosco”.
Sobre a 36ª edição, Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, comenta: “A Bienal de São Paulo é um patrimônio artístico do Brasil e essa edição é resultado de um processo coletivo que começou com nosso conselho consultivo, responsável por deliberar e selecionar o projeto curatorial mais alinhado com os desafios contemporâneos. Este ano tivemos a alegria de receber a proposta Nem todo viandante anda estradas – A humanidade como prática proposto por Bonaventure Soh Bejeng Ndikung. Esse projeto não apenas reafirma o papel da Bienal como espaço de reflexão e diálogo sobre as questões mais urgentes de nosso tempo, mas também demonstra o compromisso institucional da Fundação de promover a produção artística de forma que seja acessível e relevante para os mais diversos públicos. E é justamente com o intuito de atingir o maior número possível de pessoas que ampliamos a duração da mostra em quatro semanas, até janeiro de 2026, para que mais visitantes tenham oportunidade de entrar em contato com a incrível produção artística que a equipe curatorial está reunindo”.
A proposta curatorial
Esta edição da Bienal de São Paulo está estruturada como um projeto de pesquisa que irá se manifestar em três fragmentos/eixos. O primeiro fragmento/eixo curatorial defende reivindicar o espaço e o tempo, busca desacelerar e prestar atenção aos detalhes e outros seres que constituem nosso ambiente. Situando-se dentro do poema Da calma e do silêncio, de Conceição Evaristo, esse eixo evoca a importância de explorar os mundos submersos que apenas o silêncio da poesia e a escuta poética podem acessar, acolhendo as diferenças e sugerindo uma reconexão com a natureza e suas sutilezas.
No segundo fragmento/eixo, a Bienal convida o público a se ver no reflexo do outro. A proposta é questionar o que vemos quando olhamos para nós mesmos e para os outros, confrontando as barreiras e fronteiras de nossas sociedades. Esse fragmento se baseia no poema Une conscience en fleur pour autrui, do poeta haitiano René Depestre, e explora a interconectividade das experiências, propondo uma coexistência mais atenta às necessidades coletivas.
Por fim, o terceiro fragmento/eixo se debruça sobre os espaços de encontros – como os estuários são espaços de múltiplas convergências, não apenas da água doce com a salgada, mas também o encontro do chamado Novo Mundo com as pessoas escravizadas sequestradas da África. Esse fragmento reflete sobre a colonialidade, suas estruturas de poder e suas ramificações em nossas sociedades atuais. Essa reflexão é baseada no movimento manguebeat e em seu manifesto Caranguejos com cérebro, entendido como uma representação do cérebro social coletivo. A história do Brasil, marcada pela fusão de povos indígenas, europeus e africanos escravizados, é um microcosmo das assimetrias de poder que ainda persistem. Nesse sentido, a exposição explora como as culturas e as sociedades lidam com essas diferenças e criam novos caminhos de coexistência e beleza, como manifestado em A beleza intratável do mundo, de Patrick Chamoiseau e Edouard Glissant.
Convergências globais
Como parte essencial de sua proposta curatorial, a 36ª Bienal de São Paulo contará com as Invocações: encontros com poesia, música, performance e debates que ecoam as ideias centrais da exposição, investigando e compreendendo noções de humanidade em diferentes geografias. A série de encontros é fruto de relacionamento com instituições culturais e precede a realização da mostra paulistana.
O ciclo incluirá conversas, palestras, oficinas e performances em quatro localidades. Os dois primeiros eventos, apresentados ainda em 2024, acontecerão em Marrakech, Marrocos, e Les Abymes, Grande-Terre, Guadalupe. O primeiro encontro se dará no Le18 e na Fondation Dar Bellarj, liderados por Laila Hida e Maha El Madi, enquanto o segundo será realizado em Lafabri’K, liderado por Léna Blou. Em 2025, acontecerão as últimas duas Invocações, em Zanzibar, Tanzânia, e no Japão, em instituições que serão oportunamente anunciadas.
A primeira Invocação, intitulada Souffles: On Deep Listening and Active Reception [Souffles: Sobre escuta profunda e recepção ativa], a ser realizada em 14 e 15 de novembro em Marrakech, será uma deliberação sobre três tópicos: a precariedade da respiração, as culturas Gnawa e Sufi, e a escuta como uma prática de coexistência.
A segunda Invocação, intitulada Bigidi mè pa tonbé! [Balança mas não cai!], acontecerá entre 5 e 7 de dezembro em Les Abymes, Guadalupe, e refletirá sobre a inteligência do movimento dos corpos entre a ruptura e a adaptação para manter o equilíbrio em movimento em tempos de crise.
A terceira Invocação, que será realizada em fevereiro de 2025, em Zanzibar, recebeu o título Mawali-Taqsim: Improvisation as a Space and Technology of Humanity [Mawali-Taqsim: A improvisação como espaço e tecnologia da humanidade]. O encontro se baseia na percepção do taarab não apenas como um ritmo, mas como uma construção de encontros e múltiplas trocas que o território da Tanzânia e o Oceano Índico têm promovido.
A quarta e última Invocação, programada para março de 2025, no Japão, intitulada The Uncanny Valley or I’ll Be your Mirror [O vale da estranheza ou eu serei seu espelho], traz reflexões e encontros sobre as dinâmicas do afeto entre humanos e não humanos, pessoas e máquinas em um exercício de construção de coexistências, interações, distâncias e proximidades.
Esses encontros funcionarão como afluentes, convergindo para o corpo principal da 36ª Bienal em São Paulo, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo.
Outro importante afluente da 36ª Bienal de São Paulo será a Casa do Povo, em São Paulo, um centro cultural que revisita e reinventa as noções de cultura, comunidade e memória. Ela abrigará um programa de performances desenvolvido por Benjamin Seroussi (diretor artístico da Casa do Povo) e Daniel Blanga Gubbay (diretor artístico do Kunstenfestivaldesarts). Novos afluentes serão anunciados em breve.
Identidade visual
O estúdio berlinense Yukiko, fundado por Michelle Phillips e Johannes Conrad, é o responsável pela identidade visual da 36ª Bienal. Reconhecido por seu estilo experimental, o estúdio traz uma abordagem que dialoga diretamente com o conceito curatorial dessa edição, criando uma experiência visual e gráfica que reforça o papel da escuta e a ideia de confluências a partir da imagem do estuário. “O conceito visual da 36ª Bienal de São Paulo é inspirado na ideia de humanidade como prática, enfatizando a interconexão, a empatia e a coexistência criativa. Com base no eixo curatorial do som e do movimento manguebit, a identidade visual é fundamentada em ondas sonoras polifônicas e na série harmônica, simbolizando as frequências sobrepostas das experiências humanas. Essas ondas sonoras representam a ideia de que a humanidade está constantemente evoluindo e se remodelando por meio de encontros, assim como o estuário, onde vários mundos se encontram e se misturam. Essa manifestação visual reforça a mensagem central da Bienal: que por meio da escuta intencional e da reflexão profunda, podemos imaginar a humanidade como uma prática viva e pulsante”, explicam os designers.
Sobre a Fundação Bienal de São Paulo
Fundada em 1962, a Fundação Bienal de São Paulo é uma instituição privada sem fins lucrativos e vinculações político-partidárias ou religiosas cujas ações visam democratizar o acesso à cultura e estimular o interesse pela criação artística. A Fundação realiza a cada dois anos a Bienal de São Paulo, a maior exposição do hemisfério Sul e suas mostras itinerantes por diversas cidades do Brasil e do exterior. A instituição é também guardiã de dois patrimônios artísticos e culturais da América Latina: um arquivo histórico de arte moderna e contemporânea referência na América Latina (Arquivo Histórico Wanda Svevo), e o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, sede da Fundação, projetado por Oscar Niemeyer e tombado pelo Patrimônio Histórico. Também é responsabilidade da Fundação Bienal de São Paulo a tarefa de idealizar e produzir as representações brasileiras nas Bienais de Veneza de arte e arquitetura, prerrogativa que lhe foi conferida há décadas pelo Governo Federal em reconhecimento à excelência de suas contribuições à cultura do Brasil.
36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas / Da humanidade como prática [Not All Travellers Walk Roads / Of Humanity as Practice]
Curador geral: Bonaventure Soh Bejeng Ndikung / Cocuradores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza / Cocuradora at large: Keyna Eleison / Consultora de comunicação e estratégia: Henriette Gallus
6 set 2025 – 11 jan 2026
Pavilhão Ciccillo Matarazzo
Parque Ibirapuera · Portão 3 · São Paulo, SP
O título da 36ª Bienal de São Paulo, Nem todo viandante anda estradas, é formado por versos da escritora Conceição Evaristo.
(Fonte: Fundação Bienal de São Paulo)
O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand realiza, com o apoio da Chanel, no dia 5 de novembro de 2024, uma edição especial da MASP Festa, celebrando os 10 anos do principal evento beneficente do museu. Ao longo de uma década, a MASP Festa se consolidou como um evento essencial no calendário cultural paulistano, unindo filantropia e entretenimento em uma noite dedicada à celebração da arte. Com início às 22h, a noite será marcada por um show exclusivo da cantora maranhense Pabllo Vittar, além de uma apresentação da DJ Valentina Luz.
A MASP Festa tem como principal objetivo arrecadar fundos para apoiar a programação cultural e educativa do museu, guiada pela missão de ser diversa, inclusiva e plural. A comemoração também inclui um coquetel elaborado pela chef Manuelle Ferraz, um dos principais nomes da gastronomia brasileira atual, responsável pelo premiado restaurante A Bananeira, cuja unidade no segundo subsolo do MASP recebe visitantes desde 2019.
“Os 10 anos da MASP Festa reforça nosso compromisso com a arte e celebra uma trajetória da gestão, iniciada em 2014, que revitalizou a sustentabilidade financeira e a excelência curatorial da instituição”, expressa Heitor Martins, diretor presidente do MASP. “Agradecemos profundamente aos artistas que participarão da festa e à Chanel, que renova sua parceria como apoiadora pelo terceiro ano consecutivo, compartilhando nossa visão sobre a importância da arte para a sociedade”, adiciona.
A edição 2024 da celebração conta também com o apoio de Heineken e Blue Moon, que brindam os dez anos de sucesso da MASP Festa.
Os convites para a pista podem ser adquiridos de forma avulsa neste link.
Serviço:
MASP Festa 2024
Terça-feira, 5/11 | Horário: 22h
MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Entrada: Rua Carlos Comenale
Valor: R$850 | Ingressos neste link.
(Fonte: Assessoria de Imprensa MASP)
Por Arilson Favareto — Seis pontos para prestar atenção no relatório internacional independente de especialistas produzido para o G20
Em 2025 se completam dez anos do Acordo de Paris e o balanço é preocupante. Vivemos um momento crítico para o futuro do planeta, cuja face mais visível é a inegável intensificação de eventos extremos. Aumenta a pressão por medidas concretas que precisarão ir além de compromissos vagos e promessas de longo prazo. Com a COP30 se aproximando e a agenda climática global ganhando força, é essencial refletir sobre os avanços e os obstáculos que ainda enfrentamos.
Por isso é tão importante a publicação do relatório independente de um Grupo de Especialistas convidado pela Task Force do Clima do G20. Elaborado por um time de pesquisadores mundialmente reconhecidos, o estudo oferece uma análise precisa sobre desafios centrais que definirão o futuro da ação climática. O documento destaca que os esforços precisam ser intensificados e melhor coordenados, uma vez que o problema não é apenas técnico ou ambiental; é também político, social e econômico. Como um dos coordenadores da Secretaria Executiva deste Grupo de Especialistas, destaco, dentre os vários tópicos abordados, seis temas sensíveis e que merecem atenção. São eles:
1 – Metas mais ambiciosas e o papel do G20
Os relatórios da Nações Unidas têm apontado que os compromissos já estabelecidos serão insuficientes para reduzir as emissões de forma a alcançar o objetivo de restringir o aquecimento a 1,5°C. Países em geral, e especialmente os do G20 (responsáveis por 80% das emissões globais e também por 80% do PIB mundial), precisam adotar metas muito mais ambiciosas para conter a crise climática. Embora o G20 não assine acordos mandatórios como a Convenção do Clima, seu peso político e econômico é imenso nas negociações climáticas globais. Sem o compromisso firme desses países, dificilmente conseguiremos frear o avanço do aquecimento global.
2 – Meios de implementação: além das promessas
Não basta anunciar aonde queremos chegar. Mesmo as metas já estabelecidas precisam de melhores meios de implementação. É preciso colocar em prática instrumentos concretos de política pública e articulação entre os setores público e privado que garantam o alcance dos objetivos climáticos pactuados. Uma peça central aqui são as ‘políticas industriais verdes’, que precisam ser entendidas em um sentido amplo, englobando políticas produtivas que transformem a forma como produzimos e consumimos em todos os setores.
3 – Coordenação interna: alinhamento de políticas e setores
Inovações setoriais são importantes, mas terão um efeito limitado se isso for visto como apenas mais um componente de uma agenda governamental. O relatório alerta para o risco de tratarmos as políticas industriais verdes como um programa ou política isolada, enquanto o restante da ação estatal continuar promovendo modelos tradicionais de produção e consumo. Precisamos de uma abordagem integrada para que as ambições climáticas orientem de maneira coesa e transversal a atuação do Estado e das políticas públicas em todas as áreas. Sem isso pode haver um ‘jogo de soma zero’ para a agenda climática, com os efeitos de alguns investimentos e incentivos em atividades convencionais anulando os resultados positivos obtidos com políticas alinhadas com ambições climáticas mais ousadas.
4 – Coordenação global: governança e comércio internacional
Sem um esforço coordenado entre as nações, a adoção de incentivos e investimentos em políticas de transição a uma economia de baixo carbono podem criar novas desigualdades. Incentivos adotados por países ricos, por exemplo, podem atrair capitais que poderiam estar indo para países mais pobres e que restariam excluídos dessa nova economia. O relatório sublinha a importância de uma governança global que favoreça uma transição justa entre os países. Reformar as regras do comércio internacional para incorporar critérios ambientais, garantindo que essas novas regras não se tornem barreiras econômicas para países em desenvolvimento ou para que haja estratégias de adaptação entre os mais pobres para esse novo regramento, que já começa a existir, são peças fundamentais desse quebra-cabeças.
5 – Desigualdades e justiça na transição climática
Enfrentar a crise climática não pode agravar as desigualdades existentes tanto entre países quanto dentro deles. O relatório defende que a transição para uma economia verde deve incluir as populações mais vulneráveis, garantindo que elas participem dos processos de tomada de decisão e se beneficiem de novas oportunidades econômicas. Essa inclusão é essencial especialmente em um momento em que muitas das tecnologias emergentes têm caráter poupador de trabalho ou dependem de recursos naturais disponíveis em áreas onde vivem populações vulneráveis. Isso pode aumentar a exclusão social.
6 – Finanças climáticas: o papel do setor público e privado
Em relação ao financiamento da agenda climática, o relatório ressalta a importância de combinar recursos públicos — essenciais para acelerar mudanças cujo retorno econômico pode demorar a chegar e seriam, por isso, menos atrativas ao investimento empresarial — com a mobilização de recursos privados – que são cada vez mais volumosos e precisam ser bem direcionados. Não há dicotomia entre esses dois caminhos. Outros temas são igualmente importantes em finanças climáticas. É o caso dos bancos internacionais e de desenvolvimento, como o Banco Mundial e o BNDES, que podem ter um papel ainda mais destacado, ou dos Bancos Centrais, que precisam definir em seus mandatos formas de regular e incentivar a agenda climática nos sistemas financeiros. Outra questão abordada é a dívida dos países mais pobres, que precisa ser tratada de forma a garantir que eles tenham espaço fiscal para investir na modernização de suas economias sem serem excluídos do processo global de transformação verde.
O relatório deixa claro que estamos em uma encruzilhada. Se continuarmos com a abordagem fragmentada que tem caracterizado grande parte da ação climática global, corremos o risco de aprofundar desigualdades e falhar na construção de um futuro sustentável. O momento agora é de decisão: ou aceleramos juntos nessa jornada ou estaremos aprofundando um ciclo de retrocessos e desigualdades que afetará dolorosamente gerações futuras.
Sobre o autor | Arilson Favareto é diretor científico do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e Professor Titular da Cátedra Josué de Castro da USP (Universidade de São Paulo).
Os artigos de opinião publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Agência Bori ou do site Kleber Patricio Online.
(Fonte: Com Arilson Favareto/Agência Bori)
A Quinta do Olivardo, em São Roque, realiza no dia 9 de novembro, das 11h às 16h, a 12ª edição da Festa de São Martinho. O evento, que já se consolidou como um dos principais na preservação das tradições portuguesas no Brasil, traz uma rica programação que envolve a degustação do vinho produzido a partir da colheita de uvas realizada no início do ano, unindo gastronomia e cultura.
“É um reencontro simbólico e muito esperado, quando nossos visitantes retornam para experimentar o vinho que ajudaram a produzir. Isso cria uma conexão especial com o processo e com a nossa história. A festa é uma oportunidade de fortalecer as raízes culturais e relembrar os momentos vividos durante a pisa das uvas”, explica Olivardo Saqui, idealizador da Quinta do Olivardo.
Na data também é possível participar de uma oficina prática que permite engarrafar e personalizar o rótulo do vinho, tornando a experiência ainda mais interativa.
A programação gastronômica, por sua vez, inclui um rodízio com muita variedade de pratos, com um cardápio que inclui Pão Português, Bolo do Caco, Patê de Bacalhau e Antepastos, Salada de Batata com Bacalhau, Caldo Verde, Bolinho de Bacalhau, Alheira, Bacalhau Espiritual, Bacalhau à Lagareiro, Espetada Madeirense, Parmegiana à Moda da Quinta, Sardinha Portuguesa na Brasa e, para adoçar o dia, deliciosas sobremesas como Pastel de Belém, Rabanada e Pastel de Coimbra.
Além disso, os ingressos, vendidos a R$249 por pessoa, incluem uma série de atrativos: almoço completo, show ao vivo, caneca personalizada, castanhas assadas, sardinha na brasa e consumo liberado de vinho e suco de uva durante todo o evento. Crianças de 6 a 10 anos pagam meia entrada, no valor de R$125,00.
A Quinta do Olivardo, localizada no interior de São Paulo, é reconhecida por manter vivas as tradições da cultura portuguesa, com destaque para a produção artesanal de vinhos e a valorização da culinária lusitana. O evento reforça essa proposta, oferecendo uma imersão nas raízes de Portugal e proporcionando momentos únicos aos visitantes. Para mais informações, o contato pode ser feito pelo telefone (11) 98856-3222.
Serviço:
Festa de São Martinho
Data: 9 de novembro | Horário: das 11h às 16h
Local: Quinta do Olivardo – Estrada do Vinho Km 4 – São Roque, SP
Valor: R$249 por pessoa – crianças de 6 a 10 anos pagam meia
Instagram: @quintadoolivardo | Informações: (11) 98856-3222.
(Fonte: Com Luciana Vitale/Máxima Assessoria de Imprensa)
Neste sábado, dia 26 de outubro, às 17h, a artista Fernanda Leme, o curador Alexandre Sá e a crítica de arte Marisa Flórido farão uma visita mediada na exposição ‘Monstros’, que pode ser vista até o dia 31 de outubro, na Z42 Arte, no Cosme Velho. Na mostra, que traz um panorama dos onze anos de trajetória da artista carioca Fernanda Leme, são apresentadas cerca de 80 pinturas, a maioria delas inéditas, produzidas desde 2013 até hoje, que discutem a pintura e a fotografia na contemporaneidade. Partindo de sua própria vida, a artista debate, por meio de suas obras, questões que são comuns a todos, como a sociedade líquida em que vivemos, a fugacidade das imagens, o luto, as perdas e a saudade. “A exposição é uma crônica da nossa época, um trabalho de memória e de imagem”, conta a artista.
As pinturas partem de figuras humanas presentes em fotografias antigas ou feitas pelo celular ou extraídas de mídias, mas que são acrescidas de imagens de sua imaginação e memória, além de elementos do dia a dia. “As obras potencializam e atualizam o debate entre pintura e fotografia na contemporaneidade a partir da perspectiva da explosão das imagens, das selfies, da fugacidade da captura do instante e da eventual fragilidade da vivência do momento. Considerando o legado da impermanência, os trabalhos problematizam a duração das imagens e de sua inevitável obsolescência, atravessados pela experiência da artista, que também surge como uma cronista afiada”, afirma o curador Alexandre Sá no texto de apresentação da exposição.
Filha da jornalista Lúcia Leme (1938–2021), Fernanda cresceu em uma família de mulheres fortes e empoderadas e seu trabalho reflete isso. “Discuto o feminino, o retrato da mulher, muitas vezes expondo a minha própria imagem, enfatizando o protagonismo feminino”, afirma a artista, que faz diversos autorretratos em um contraponto com as selfies da atualidade.
O nome da exposição, Monstros, foi retirado da pintura homônima de 2013 que integra a exposição. Nela, uma pessoa aparece capturada por dois homens encapuzados e cercada por anjos e diabos. “Eu pesquiso os monstros do nosso tempo, como o peso e a grandeza da História da Arte, por exemplo, além do peso do luto e das perdas”, conta a artista. “O título da exposição, consideravelmente irônico, nos pergunta em que medida a monstruosidade angustiada de captura do presente nos sufoca e enjaula em uma fantasia de liberdade, nos questionando inclusive sobre a monstruosidade do próprio legado da pintura na História da Arte”, ressalta o curador.
Percurso da exposição
Logo na entrada da exposição há um grande painel com 56 pinturas em formato 30cmX40cm, que faz uma analogia com as fotos 3X4 em que a artista retrata rostos de mulheres de sua convivência e também anônimas, produzidas desde 2014 até hoje. “É um working in progress, que não termina nunca, vou sempre acrescentando mais rostos”, conta. Os trabalhos remontam o período anterior ao surgimento da fotografia em que os artistas pintavam retratos das pessoas para que aquela imagem fosse eternizada, como uma foto, e fazem um contraponto com a atualidade. “Discuto a sociedade líquida, a rapidez com que tudo acontece. As milhares de selfies que são feitas, na maioria das vezes, são jogadas fora, não chegam nem a serem impressas. A pintura é o contrário, tem um tempo para ser feita”, ressalta a artista.
Na sala seguinte, há obras da série Fim da Infância, composta por cinco trabalhos em grandes dimensões, incluindo um políptico de 2013 medindo 149cmX211cm. Nesta série, os personagens são retratados ao lado de seus super-heróis favoritos. “Esses trabalhos discutem a perda da ingenuidade, criando desconforto entre o retrato e o super-herói, que é uma coisa imaginária, uma fantasia”, conta.
Seguindo o percurso da exposição, estão pinturas da série Retratos, produzidas desde 2013, em que a artista pinta pessoas em diversas situações, incluindo ela mesma. As obras são feitas a partir de retratos, mas com a introdução de novos elementos criados pela artista, além da modificação das cores originais “É como se esses retratos não permanecessem como as pinturas antigas permaneciam, pois faço uma pintura planar e misturo com outros elementos que não estavam na fotografia original”. Um exemplo é a obra No trem (2018), feita a partir de uma fotografia da própria artista dentro de um trem em 1981. “A construção de baixíssima volumetria e o acontecimento de um certo exotismo da cor evidenciam um processo de tensionamento da imagem que, talvez, conscientemente, conheça sua perecibilidade. Se a tela historicamente é um suporte da duração e da presença, as personagens aqui parecem escorrer em suas memórias, como se assumissem seu tempo curto e seu inevitável esquecimento nada trágico”, diz o curador.
Na sala seguinte, estão trabalhos da série Luto, de 2023, feitos quando a artista descobriu um câncer de mama após ter perdido o irmão, a mãe e o pai também de câncer. Diante da situação, Fernanda Leme resolveu olhar de forma positiva para a vida, retratando a si mesma durante o tratamento. Ao contrário do que se pode pensar, as obras possuem cores fortes e brilhantes, passando um ar de positividade diante da situação. “É um trabalho muito movido pela minha história de vida, mas que também é a história de milhares de pessoas, mas isso ainda é pouco falado. Resolvi encarar como algo que acontece na vida, com leveza. Nunca parei de produzir”, diz. “As obras aqui reunidas bordam a experiência do indizível a partir da experiência pessoal e das memórias da artista. Por certo não se trata de um trabalho que faz mau uso da psicanálise ou de um tipo de trabalho que semanticamente retroalimenta os traumas pessoais, mas de um conjunto vigoroso de obras que evidencia a qualidade do enfrentamento árduo diante do abismo individual cotidiano”, afirma o curador.
No final de 2023, a artista fez a pintura Pente, que mostra o objeto em um fundo rosa-choque com fios de cabelo presos a ele. “Esse foi o ponto de virada, de mutação na minha vida e na minha obra. É a conclusão de todo esse ciclo de perdas e transformações, com esta nova fase que está se iniciando”, conta. A partir daí, Fernanda Leme começou a trabalhar na mais recente série Morfemas, com trabalhos mais geométricos em que os fios de cabelo aparecem como elementos da obra, criando desenhos como se fossem pequenos signos.
Serviço:
Visita mediada na exposição Monstros
Dia 26 de outubro de 2024, às 17h
Exposição: até 31 de outubro de 2024 – de segunda a sexta, das 11h às 16h;sábado, mediante agendamento
Z42 Arte
Rua Filinto de Almeida, 42, Cosme Velho – Rio de Janeiro RJ
Telefone: (21) 98148-8146
Entrada franca.
(Fonte: Com Beatriz Caillaux/Midiarte Comunicação)