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Cápsulas de papelão com sementes de árvores nativas podem auxiliar na restauração ecológica do Cerrado

Cerrado, por Kleber Patricio

Taxa de germinação do baru com a cápsula se aproximou de 100%, enquanto na semeadura direta foi de apenas 15%. Foto: Mauricio Mercadante/Flickr.

O uso de cápsulas biodegradáveis feitas a partir de papelão aumenta as chances de germinação das sementes de três espécies de árvores típicas do Cerrado: baru, angico-branco e tamboril. Esse resultado, publicado em artigo da revista Ciência Rural nesta sexta (18) por pesquisadores das universidades federais de Jataí (UFJ), em Goiás, e de Rondonópolis (UFR), no Mato Grosso, pode trazer avanços para programas de restauração de áreas degradadas.

As espécies têm importância cultural, alimentar e ecológica no Cerrado. O baru produz a oleaginosa conhecida como castanha de baru, rica em nutrientes, e o angico-branco e o tamboril têm partes utilizadas em preparos terapêuticos, como infusões.

Os experimentos foram conduzidos ao longo de quatro meses em uma estufa do Centro Universitário de Mineiros, em Goiânia, com o objetivo de verificar as diferenças entre o uso de cápsulas e a semeadura direta. Em cada amostra, a equipe depositou duas sementes de cada espécie. No caso do baru, por exemplo, a taxa de germinação com a cápsula se aproximou de 100%, enquanto na semeadura direta foi de apenas 15%. O mesmo ocorreu com o angico-branco, cuja taxa com a proteção foi de 42% em comparação aos 21% da semeadura direta, e com o tamboril, que registrou taxa de 12% versus 8%.

O artigo explica que a cápsula, desenvolvida a partir de papelão utilizado como embalagem de ovos, garante proteção das sementes no solo contra animais herbívoros. A cápsula também aumenta a retenção de umidade, garantindo conforto térmico às sementes. A semeadura direta só pode ser bem-sucedida quando diferentes fatores, como o uso de tecnologias e práticas agrícolas adequadas, melhoram a germinação das sementes, explica Karine Lopes, doutora em Geografia pela UFJ e uma das autoras do artigo. Segundo a autora, a tecnologia descrita pelo artigo é de baixo custo e sustentável, com potencial impactar significativamente os esforços para a restauração de áreas degradadas. “Essa inovação pode influenciar políticas públicas de conservação e contribuir para a produção de conhecimento científico”, conta Lopes.

A pesquisa também traz novidade ao integrar o uso de cápsulas biodegradáveis com a tecnologia de drones para monitoramento da recuperação ambiental, de acordo com Lopes. “Atualmente, não existe nenhum material equivalente disponível, o que coloca essa pesquisa na vanguarda das soluções sustentáveis para restauração ecológica”, aponta a pesquisadora.

Como próximos passos, os pesquisadores pretendem avaliar o crescimento e a sobrevivência das plantas recém-germinadas em campo, além de realizar uma análise detalhada dos custos financeiros envolvidos. Eles também pretendem implementar a metodologia em áreas de difícil acesso para monitorar o crescimento das plantas e avaliar a eficácia do processo em outras condições ambientais. De acordo com Lopes, isso será essencial para ajustar e aprimorar a aplicação da tecnologia em diferentes cenários.

(Fonte: Agência Bori)

Unicamp: estudo comprova eficácia de teste de DNA do HPV

Indaiatuba, por Kleber Patricio

Médico e pesquisador Julio Teixeira ao lado de equipamento usado no teste: processo automatizado elimina etapas e variáveis. Fotos: Unicamp/Divulgação.

Um estudo pioneiro no Brasil está revolucionando a detecção precoce do câncer de colo do útero no sistema público de saúde de Indaiatuba, interior do Estado de São Paulo. Liderada por médicos do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti (Caism) da Unicamp, a pesquisa usa um teste de DNA para a detecção do HPV aliado ao monitoramento ativo do público-alvo a fim de antecipar o diagnóstico da doença em dez anos. Os resultados dessa pesquisa foram publicados na revista científica Scientific Reports, do grupo Nature, e estão sendo utilizados como base para uma mudança nas políticas públicas do Ministério da Saúde voltadas à prevenção de câncer de colo do útero.

O projeto demonstrou que a substituição do tradicional exame de Papanicolaou pelo teste de DNA para detectar a presença do HPV não apenas é mais eficiente na identificação de lesões pré-cancerosas como também pode ser mais econômica para o sistema de saúde se implementada junto com um plano de monitoramento eficaz. No caso do teste de DNA, as mulheres fazem acompanhamento em ciclos de cinco anos e não mais de três. Outro ponto vantajoso do teste se deve, em grande parte, à sua precisão e reprodutibilidade. Enquanto o exame de Papanicolaou depende da interpretação humana em diferentes etapas, o teste de DNA do HPV é um processo automatizado, eliminando muitas das variáveis que podem levar a falsos negativos ou positivos.

Segundo um dos responsáveis pelo estudo, o pesquisador e médico do Caism Júlio Teixeira, com a mudança houve um aumento expressivo na detecção de lesões pré-cancerosas e um incremento de 60% na identificação de casos de câncer em estágios iniciais, quando comparado ao método de detecção tradicional. “Nós aumentamos em quatro vezes a detecção de lesões pré-câncer em relação aos cinco anos anteriores”, explica Teixeira. “Quando analisamos os casos de câncer detectados, dois terços eram microscópicos, em vez de avançados, como ocorria anteriormente.”

O pesquisador estima que, se o projeto desenvolvido em Indaiatuba for implementado em escala nacional, o novo método poderia evitar cerca de 350 mortes por mês no Brasil, das mais de 468 que ocorrem mensalmente devido ao câncer de colo do útero. O impacto potencial é significativo, de acordo com o médico. Além de evitar mortes, a detecção em estágio inicial das lesões precursoras e do câncer abre caminho para um tratamento mais simples, dispensando equipamentos ou infraestrutura sofisticados. Quando um câncer passa do estágio 1, deixa de ser operável e, na maioria das vezes, será tratado com radioterapia ou quimioterapia, procedimentos que exigem estrutura e equipamentos nem sempre disponíveis em todos os lugares do país. Ainda que os testes de DNA sejam mais custosos em comparação com o Papanicolau, a médio e longo prazo os governos gastariam menos. “Custa menos por ano de vida ganho”, afirma o pesquisador.

Política pública

O êxito do projeto em Indaiatuba não passou despercebido pelo Ministério da Saúde, que, desde 2022, vinha acompanhando os resultados preliminares do estudo. Em março de 2024, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) aprovou o uso do teste de HPV no SUS. A previsão é que, dentro de poucos meses, o teste estará disponibilizado no sistema de atendimento médico.

Teixeira argumenta, no entanto, que não há necessidade de esperar por mais estudos ou implementações-piloto. “Por que você vai esperar mais alguns anos?”, questiona. “Pesa na consciência continuar fazendo o que estamos fazendo, em frente a todas essas evidências”. O pesquisador defende uma implementação gradual do novo método, começando pelos Estados e municípios já preparados para isso. São Paulo seria um exemplo de Estado com condições adequadas para essa transição. “Quando você coloca esses números para um governador, um prefeito, um secretário, ele vai ver isso, ele sabe como é o problema na cidade dele ou na região dele. Ele vai querer fazer isso”, argumenta o médico.

Um aspecto crucial para o êxito do projeto de Indaiatuba foi a implementação de um sistema informatizado a fim de gerenciar o programa de rastreamento. Esse sistema permite um controle eficiente da população-alvo, convocando e desconvocando pacientes conforme necessário. Teixeira ressalta que o aplicativo do SUS, criado durante a pandemia de Covid-19, poderia ser aproveitado em nível nacional. Há cerca de um ano, o Ministério da Saúde implementou um projeto em Recife (Pernambuco) com base no estudo realizado em Indaiatuba, buscando replicar e expandir o modelo para uma cidade mais populosa e com alto índice de mulheres com esse tipo de câncer.

Estudo-sentinela

Amostras no Caism: aumento da detecção de lesões pré-cancerosas.

O estudo em Indaiatuba não terminou com a publicação dos resultados de cinco anos. Na verdade, a pesquisa, que já completou sete anos e meio, continua. Teixeira explica que os resultados positivos transformaram o projeto em um ‘estudo-sentinela’, fornecendo informações valiosas sobre o que acontece nas rodadas subsequentes de testes. “Nesta segunda rodada, vamos repetir os testes nas mesmas mulheres que já os realizaram há cinco anos e, dessas que fizeram, retiramos aquelas que tinham a doença e que geraram exames e tratamentos”, explica o pesquisador.

As informações coletadas daqui por diante revelam-se importantes para o planejamento de longo prazo do programa, pois permitirá que os gestores de saúde responsáveis por implementar o método possam antecipar as mudanças nas demandas por diferentes tipos de serviços ao longo do tempo, otimizando a alocação de recursos. Embora não se consiga prever exatamente quando o câncer de colo do útero será erradicado do Brasil, Teixeira explica que podemos olhar para exemplos internacionais. A Austrália, que começou seu programa de vacinação contra o HPV em 2006 e que já utiliza o teste de DNA para o rastreamento do HPV, projeta que o câncer de colo do útero se transformará em uma doença rara antes de 2038.

Com a aprovação do uso do teste de DNA do HPV no SUS, o próximo passo é a publicação das novas diretrizes nacionais para o programa de rastreamento. Teixeira e outros pesquisadores da Unicamp continuam trabalhando e atuam como consultores nesse processo, garantindo que as lições aprendidas em Indaiatuba façam parte do programa nacional.

(Fonte: Unicamp/Secretaria Executiva de Comunicação)

[Turismo] As sagradas e místicas cavernas de Belize

Belize, por Kleber Patricio

Foto: Divulgação/Belize Tourism Board.

Belize, na América Central, tem entre seus atrativos turísticos milhares de cavernas, que variam de caminhadas fáceis a desafiadoras – mas, em ambos os casos, será uma aventura e tanto que não pode ficar de fora do roteiro. Para além do astral misterioso e às vezes até um pouco assustador que as cavernas transmitem, ao aproveitar a experiência é importante lembrar que elas são solo sagrado.

Entrar nessas passagens do submundo maia é intrigante, emocionante e uma misteriosa volta no tempo à medida em que você absorve centenas de anos de história. Também é uma ótima experiência para contar sobre suas férias em Belize. Desde tubing, caminhadas, canoagem ou até mesmo natação no reino subterrâneo, há uma experiência de espeleologia adequada para cada tipo de viajante.

Na maioria das cavernas, você encontrará extensas formações de estalactites e estalagmites, bem como fragmentos de cerâmica. Outros têm cerâmica antiga intacta (Che Chem Ha) e restos humanos (às vezes esqueletos incólumes, como em Actun Tunichil Muknal) e outras formações naturais, como cachoeiras subterrâneas (Blue Creek, Caves Branch). A única coisa que não encontrará por lá é tédio.

Herança maia e conexão com o submundo

Uma caverna é mais do que uma mera aventura – é uma conexão com o passado, em um local onde os maias se purificavam e entravam em contato com o plano espiritual. Eles bebiam substâncias alucinógenas para induzir-se a um estado alterado de consciência ao realizar rituais ou cerimônias sagradas. As bebidas eram preparadas com cacau fermentado, plantas, cogumelos e até pele de sapo. O ato era uma forma de preparação antes de se envolverem com seus deuses e ancestrais dentro do submundo.

Uma vez dentro da caverna, carregando apenas uma tocha, as estalagmites e estalactites brilhantes lançam sombras representando imagens de deuses. Quer se tratasse de um ritual para ritos de fertilidade, chuva, água ou outra questão, os maias pediam ajuda as divindades com base em uma necessidade ou propósito. E, embora algumas cavernas sejam bem amplas, elas nunca foram espaços habitáveis para os maias. Em vez disso, eram usadas como cemitério, local sagrado ou para proteção. Os enterros encontrados em cavernas nem sempre envolvem sacrifícios. As cavernas também serviam para deixar oferendas como símbolo de agradecimento. Por isso há ainda artefatos, fragmentos e cerâmicas intactas ao visitar cavernas como Che Chem Ha ou Actun Chapat.

Explorando uma caverna

Sempre que você entrar em qualquer espaço sagrado, peça permissão ou faça uma oração de agradecimento aos deuses ou aos ancestrais pela proteção e orientação enquanto você viaja pela caverna. Não toque e nem remova nada. A retirada de itens ou artefatos impede que um arqueólogo possa conduzir pesquisas e estudar adequadamente o local. A remoção desses itens impacta a história do local e cria uma lacuna entre as pessoas e sua herança.

Entre os grandes destaques em matéria de caverna, quando em Belize, está a Actun Tunichil Muknal (ATM), no oeste do país. Que inclusive ganhou notoriedade nos anos 1990 graças à National Geographic. Contendo 14 esqueletos maias, ATM é apenas uma das muitas possibilidades. Confira dicas para ajudar no planejamento do roteiro:

Actun Tunichil Muknal – A ATM fica em Cayo, na Reserva Natural Tapir Mountain. A visita guiada ao local e depois através de um riacho até a gruta é bastante intensa, mas é recompensada com a visão de um grande número de artefatos, incluindo potes completos e esqueletos – evidência da sua antiga utilização ritualística.

Barton Creek – Um riacho atravessa esta caverna em Mountain Pine Ridge, também em Cayo, e deve ser visitado de canoa. Embora muitos dos restos humanos e artefatos tenham sido removidos, ainda há muitos visíveis enquanto você flutua silenciosamente entre as estalactites.

Nohoch Che’en Caves Branch – Acessado a partir de Jaguar Paw, o transporte através de parte deste sistema é feito por um tubo interno que às vezes tem que ser transportado à medida que o rio entra e sai das cavernas. Evidências da ocupação maia, como cacos de cerâmica e pegadas humanas incrustadas, podem ser contempladas ao longo do caminho.

Rio Frio Cave – Outra caverna localizada na reserva florestal Mountain Pine Ridge. De frente para o arco de cerca de 20 metros de altura em sua entrada, os visitantes podem ver toda a extensão de 800 metros da caverna e o riacho que passa por ela.

St. Herman’s Cave – Situada dentro do Parque Nacional Blue Hole, a St. Herman foi usada pelos antigos maias por volta de 300-800 d.C. Esta é talvez a caverna mais fácil de chegar, com aproximadamente 10 minutos de caminhada.

Che Chem Há – Descoberta por um fazendeiro local, é notável por sua coleção única de obras de arte e artefatos maias. Os visitantes apreciarão a decorada entrada e a extensa variedade de grandes potes de armazenamento que revestem as paredes das câmaras. A caverna está localizada a 11 km da cidade de Benque Viejo.

Actun Chapat & Actun Halal – Estas duas cavernas perto de Benque Viejo abrigam características humanas, como plataformas elevadas e em socalcos. Podem ser vistos restos humanos, artefatos de cerâmica e madeira.

Hokeb Ha – Artefatos encontrados nessa caverna perto da vila de Blue Creek, em Toledo, mostram evidências de como ela era usada pelos maias até cerca de 800 d.C.

Tiger Cave – É uma caminhada de 1h30 desde a vila de San Miguel, também em Toledo, para chegar a esta caverna. A trilha passa por áreas de floresta tropical e por fazendas e maias e milpas.

Deixe o seu lado Indiana Jones ou Lara Croft aflorar. Visitar uma caverna certamente irá despertar o arqueólogo dentro de você. Faça com que sua experiência valha a pena sabendo o que esses locais significaram para aqueles que vieram antes de nós. Mergulhe em sua rica cultura e paisagens ao visitar qualquer uma dessas cavernas. À medida em que se deixar levar pela atmosfera mística, será o local perfeito para refletir e sair com uma sensação de iluminação.

Sobre o Conselho de Turismo de Belize

Órgão estatutário do Ministério do Turismo e Relações da Diáspora de Belize, o Belize Tourism Board trabalha em conjunto com membros do setor privado – incluindo a Associação de Hotéis de Belize, a Associação da Indústria de Turismo de Belize e a Associação Nacional de Operadores Turísticos de Belize. Dedica-se a construir o turismo da forma mais económica e ambientalmente sustentável. Como parte das suas responsabilidades, o BTB promove Belize como um destino turístico de primeira linha para consumidores nacionais e internacionais. Entre o seu alcance ao mercado de viagens internacional comercializa as atrações únicas do país para viajantes, membros da indústria de viagens e meios de comunicação nos principais mercados. Também se dedica a desenvolver e implementar programas de turismo que ajudarão a fortalecer e fazer crescer a indústria turística de Belize, promover uma boa administração do destino e incutir padrões de alta qualidade para acomodações e experiências de viagem. Para obter mais informações sobre o BTB e seus serviços, visite o site.

Sobre a TM Americas | Empresa líder em marketing de turismo internacional especializada em destinos e atrações de classe mundial. Conta com uma equipe de profissionais trilíngues especializados em diferentes áreas: marketing, vendas, comunicação, marketing digital e posicionamento de marca. Sediada na Flórida, está presente no Brasil, Colômbia, México, Argentina e Canadá, abrangendo 18 países.

(Fonte: Visit Belize)

Livro revela passado de touradas no Rio de Janeiro

São Paulo, por Kleber Patricio

Capa.

A prática das touradas no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, é um capítulo pouco explorado da história do país. Sol e sombra: as touradas no Rio de Janeiro, obra que acaba de ser lançada pela Editora Unesp, revela essa tradição inusitada e seus desdobramentos no contexto social e cultural da cidade que foi a capital do Brasil por quase dois séculos.

Os pesquisadores Victor Andrade de Melo e Paulo Donadio conduzem uma análise minuciosa das touradas cariocas, preenchendo uma lacuna historiográfica e desmistificando a ideia de que a prática não despertou interesse na sociedade fluminense. O livro aponta ainda os gostos, sensibilidades e inclinações culturais da população da época, destacando um aspecto pouco conhecido de sua vida cotidiana. “A notícia de que no passado se promoveram touradas em terras brasileiras ainda provoca espanto. Mesmo que não tenhamos recorrido aos institutos de pesquisa de opinião, não receamos afirmar, com base na reação de pessoas próximas, que boa parte de nossos contemporâneos ignora a ocorrência de corridas de touros em várias cidades do país. Muitos de nossos colegas historiadores, inclusive, demonstraram surpresa ao tomar conhecimento deste projeto”, anotam os autores.

O livro se concentra na prática das touradas no Rio de Janeiro, destacando como esse espetáculo, que atingiu seu auge no final do século XIX e início do XX, foi objeto de diversas disputas e tensões. Desde o século XVIII, a cidade assistiu à realização de mais de 450 espetáculos tauromáquicos e a popularidade da prática alcançou seu auge na República, antes de ser proibida em 1908. “As corridas de touros, como outros divertimentos, longe de representarem um aspecto marginal na história das sociedades, se transformaram em objeto de disputa, de tensão social e de afirmação de diferenças em torno das noções de civilização, progresso e identidade nacional, entre governantes e governados, entre brasileiros e portugueses, entre tauromáquicos e defensores dos animais, entre sol e sombra”, destacam os autores. Esse trecho mostra como as touradas se converteram em tema central de debates sociais e políticos no Rio de Janeiro.

Entre os principais debates apresentados no livro, está a polêmica sobre a natureza da prática: entretenimento ou barbárie? As discussões sobre o futuro das touradas no Rio de Janeiro também são destacadas, especialmente no contexto da extinção da prática, que enfrentou forte resistência, mas acabou sendo efetivada no início do século XX. Dessa forma, além de fornecer uma visão sobre as inclinações culturais do Rio de Janeiro, a obra traz uma análise rica das interações entre brasileiros e portugueses, destacando como a prática tauromáquica foi utilizada como símbolo de identidades em disputa.

Sobre os autores:

Victor Andrade de Melo é doutor em Educação Física e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, atuando na Faculdade de Educação e no Programa de Pós-Graduação em História Comparada. É também docente do Programa de Pós-Graduação em Estudos do Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais.

Paulo Donadio é doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente, se dedica a pesquisas em história social, tendo como focos principais a cidade do Rio de Janeiro e seus costumes.
Título: Sol e sombra: as touradas no Rio de Janeiro
Autores: Victor Andrade de Melo, Paulo Donadio
Número de páginas: 288
Formato: 13,7 x 21 cm
Preço: R$62
ISBN: 978-65-5711-246-5
Mais informações sobre a Editora Unesp estão disponíveis no site oficial.

(Fonte: Com Diego Moura/Pluricom Comunicação Integrada®)

Paço das Artes inaugura segunda parte da Temporada de Projetos 2024

São Paulo, por Kleber Patricio

Série Maafa – Vitoria Macedo.

O Paço das Artes inaugura, em 25 de outubro, a segunda parte da 28ª edição da Temporada de Projetos – iniciativa de mais de duas décadas reconhecida por abrir espaço no circuito cultural para jovens artistas brasileiros. Com entrada gratuita, o público poderá conferir um projeto de curadoria e dois projetos artísticos.

Para a edição deste ano, as exposições foram organizadas em duas etapas, proporcionando, assim, uma melhor adequação do espaço arquitetônico para os artistas e projetos contemplados. Nesta segunda parte, que ficará em cartaz até o dia 12 de janeiro de 2025, o Paço das Artes recebe o projeto curatorial de Henrique Menezes e os trabalhos individuais dos artistas Luciano Maia e Raquel Gandra, selecionados pelo júri formado por Renata Felinto, artista, pesquisadora, curadora e professora na URCA/CE; Renato Araújo da Silva, pesquisador, curador e professor na FAU-USP/SP, e Mariano Klautau Filho, artista, pesquisador, curador e professor na Unama/PA.

Casa, (2023), de Luciano Maia.

Mais de quinze obras compõem o projeto Desejos guardados sob o rio, de Luciano Maia. Natural de Santarém (PA), o artista atua em várias frentes de criação. Nos trabalhos selecionados, as memórias e a mitologia de sua região criam narrativas queer entre a realidade e a ficção, em suportes variados, como a tela, o papel, o azulejo e a madeira. Sua entrevista e seu acompanhamento crítico foram realizados por Marcelo Amorim.

Objeto não identificado (2022), de Raquel Gandra.

A artista carioca Raquel Gandra apresenta a série Entre tramas e labirintos, com acompanhamento crítico e entrevista de Renata Felinto. Suas obras fotográficas retratam imagens oníricas de Canoa Quebrada, no Ceará, onde os processos ditos civilizatórios vão se sobrepondo aos costumes regionais. Em camadas intercaladas de verdade e imaginação, temos uma cosmovisão própria que reforça os saberes e lendas da região.

Sem título (2022), de Érica Magalhães.

Já projeto curatorial de Henrique Menezes, natural de Porto Alegre (RS), põe em diálogo três jovens artistas: Dora Smék (Campinas, SP), Érica Magalhães (Muriaé, MG) e Vitória Macedo (Porto Alegre, RS). Da flor da pele ao pó do osso apresenta fotografias e esculturas que têm como cerne o conceito de cicatriz. Ideias de fissuras e entranhas simbolicamente evocando imaginários do trauma e da regeneração, dos estigmas às superações.

Trois (2023), de Dora Smék.

“Se vivemos em um tempo de urgências sociais, atropelamentos culturais e intoxicações midiáticas generalizadas, os projetos selecionados são convenientemente propícios para pensarmos o fim de uma era”, afirma Renato De Cara, curador do Paço das Artes. “Estórias para provocar e conectar nossos anseios nos reposicionamentos históricos que estão acontecendo.”

Sobre os artistas:

Luciano Maia (Santarém, PA, 1987) é um artista visual, designer de moda e artesão que atualmente reside e trabalha na região central de São Paulo. Formado em design de moda pela Universidade Candido Mendes (RJ), destaca-se na produção de estampas voltadas à indústria têxtil nacional. Nos últimos cinco anos, explorou suas habilidades artísticas criando pinturas, colagens e desenhos, por meio dos quais investiga suas raízes nortistas explorando memórias, mitologias e folclore, entrelaçando realidade e ficção em narrativas queer regionais. Em 2024, participou da exposição Se o futuro trouxer o passado de volta (SP) e do Salão de Artes Visuais de Vinhedo (SP), além de ter sido finalista no 14º Prêmio Garimpo Dasartes.

Marcelo Amorim (Goiânia, GO, 1977) é artista e curador independente radicado em São Paulo. Entre 2009 e 2016, dirigiu o Ateliê397 e, desde 2013, é diretor do Fonte, onde organiza residências artísticas, exposições e debates sobre arte contemporânea. Atua também como orientador no grupo Hermes Artes Visuais. Entre suas curadorias, destacam-se Ambidestria: Sergio Romagnolo e Luah Souza (Fonte, 2024), Cama de gato (Edifício Vera, 2024), Hospital de bonecas (Fonte, 2023), Mar, rio, fonte (Galeria Karlla Osório, 2023), Últimos dias (Fonte, 2020), 29ª Mostra de Arte da Juventude (Sesc Ribeirão Preto, SP, 2019), Pintar a China agora – Brody & Paetau (Ateliê 397, 2015) e Contraprova (Paço das Artes, 2015).

Raquel Gandra (Rio de Janeiro, RJ, 1986) é artista visual, fotógrafa e andarilha. Formada em comunicação e mestre em belas-artes pela UFRJ, cursou o máster em fotografia artística e documental no Instituto de Produção Cultural e Imagem (IPCI), em Portugal. Participou de exposições coletivas no Brasil e na Europa, com destaque para a Limburg Biennale (Holanda, 2024), Galeria Mundo (Rio de Janeiro, RJ, 2023), Semana da Fotografia (Caxias do Sul, RS, 2022), Foto Em Pauta 2022 (Tiradentes, MG) e Suburbs, Galeria Millepiani (Roma, Itália, 2019). Em 2021, recebeu o XIV Prêmio de Fotografia Marc Ferrez e, em 2023, foi uma das 36 finalistas da bolsa internacional PH Museum Photography Grant. Em sua trajetória, que perpassa diferentes linguagens, compreende o dispositivo de criação de imagens como meio fortuito para dar a ver/imaginar o outro e nós mesmos e questionar a maneira como enxergamos a própria realidade. Ao explorar várias técnicas analógicas, busca criar imagens porosas que acontecem entre a materialidade e a imaginação e que, de outra forma, não seriam vistas.

Renata Felinto (São Paulo, SP, 1978) é artista visual, pesquisadora e professora. Doutora em artes visuais pelo Instituto de Artes da Unesp (IA-Unesp), especialista em curadoria e educação em museus de arte pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP) e fellowship post-doctoral pelo Center for Africana Studies da University of Pennsylvania. É professora adjunta em licenciatura em artes visuais no Centro de Artes da Universidade Regional do Cariri (Urca), no Ceará, colaboradora na Especialização em Gestão Cultural Contemporânea Escola Itaú Cultural e associada da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). Já participou de exposições no Brasil e no exterior e recebeu o 3º Prêmio Select de Arte e Educação e o Prêmio PIPA 2020. Vive no Crato, Ceará.

Henrique Menezes (Porto Alegre, RS, 1987) é pesquisador e curador, membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). Atuou na Fundação Iberê Camargo no cargo de curador assistente (2018 e 2019), integrou o Comitê de Curadoria e Acervo do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS, 2020-2022) e compôs o Conselho Curatorial da Fundação Ecarta (2019). Graduado pela UFRGS, tem pós-graduação em estudos curatoriais e arte contemporânea pela Universidade de Lisboa. Na Fundação Iberê, curou a mostra Continuum (2018), além de assinar projetos curatoriais e textos para instituições como AC Institute (Nova York), Espacio de Arte Contemporáneo (Uruguai), MACRS, SP-Arte, Museu do Trabalho, FGV Cultural, Instituto Estadual de Artes Visuais, entre outras. Foi coordenador editorial e assinou a publicação do livro 40 anos Galeria Bolsa de Arte, resgatando a história da galeria por meio de pesquisas históricas e depoimentos. Vive e trabalha entre o Rio Grande do Sul e São Paulo.

Dora Smék (Campinas, SP, 1987) desenvolve pesquisa que trata de um corpo em crise, estímulos inconscientes e sexualidade. Sua produção se desenvolve em esculturas, instalações, performances, fotografias e vídeos. É mestre em artes visuais pela Unicamp e graduada em artes do corpo pela PUC-SP. Em 2021, apresentou a exposição individual A dança do corpo sem cabeça na Central Galeria, em São Paulo e, em 2022, Opositores (com Paul Setúbal), na mesma galeria. Participou de diversas exposições no Brasil e no exterior, como a 13ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, em 2022 e La Iberoamericana, em Alcalá de Henares, na Espanha, em 2023. Suas obras integram os acervos públicos do Museu Nacional de Belas Artes e do Museu de Arte do Rio (MAR), ambos no Rio de Janeiro; Casa do Olhar Luiz Sacilotto, em São Paulo e Casa da Cultura da América Latina, em Brasília. Vive e trabalha entre São Paulo, Brasil, e Málaga, Espanha.

Vitória Macedo (Porto Alegre, RS, 1994) é artista visual, graduada em fotografia pela Unisinos. Sua trajetória vem recebendo atenção por obras que exploram a construção identitária da mulher negra e os traumas históricos das jovens afro-brasileiras. Foi finalista do Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea (Porto Alegre, RS, 2020) e do Salão Anapolino (Anápolis, GO, 2020). As obras da série Maafa foram expostas na Fundação Iberê Camargo, compondo a mostra coletiva Da diáspora, 2019. A artista expôs ainda na Pinacoteca Ruben Berta, da Prefeitura de Porto Alegre (Paço Municipal, 2019) e na Bienal Black Brazil (Casa de Cultura Mario Quintana, Porto Alegre, 2019).

Érica Magalhães (Muriaé, MG, 1984) é mestre e graduada em artes visuais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Em sua obra escultórica, a artista parte de ideias e materiais antagônicos para estruturar modelos de desorganização formal e semiológica da realidade explorando jogos de tensão e equilíbrio. Participou de exposições como Oposto complementar (Aura Galeria) e Vozes agudas (Galeria Jaqueline Martins), ambas em São Paulo; Casa carioca (Museu de Arte do Rio), Minúsculas (Centro de Artes Calouste Gulbenkian), À construção (Solar dos Abacaxis), Esqueleto (Paço Imperial) e Formação (Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica), todas no Rio de Janeiro, entre outras. Vive e trabalha em Ribeirão Preto, SP.

Serviço:

Temporada de Projetos 2024 #2

Abertura: 25/10, das 17h às 21h

Visitação: 25/10/2024 a 12/1/2025 | terça a sábado, das 11h às 19h; domingos e feriados, das 12h às 18h

Local: Paço das Artes

Rua Albuquerque Lins, 1345 – Higienópolis – São Paulo/SP

Ingresso: gratuito

O Paço das Artes tem patrocínio institucional da Livelo, B3, John Deere, NTT Data, Vivo, TozziniFreire Advogados, Grupo Comolatti e Sabesp e apoio institucional das empresas Grupo Travelex Confidence, PWC, Colégio Albert Sabin, Unipar e Telium. O apoio operacional é da Kaspersky, Pestana Hotel Group, Quality Faria Lima, Hilton Garden Inn São Paulo Rebouças, Renaissance São Paulo Hotel, illycaffè, Sorvetes Los Los, Água Mineral São Lourenço e Busca Vida.

(Fonte: Com Diego Andrade/Assessoria de Comunicação MIS | MIS Experience | Paço das Artes)