Sucen, que monitorava o comportamento do inseto no Estado, foi extinta em 2020 e seus laboratórios, até hoje, não foram incluídos na organização administrativa do Estado, comprometendo pesquisas e controle de doenças
São Paulo
Brincando com a Luz é o nome da oficina gratuita que o fotógrafo Miguel Chikaoka vai ministrar dia 4 de maio, a partir das 15 horas (horário de Brasília), durante o Encontro Regional Norte da Rede Arte na Escola (artenaescola.org.br/rede), articulada pelo Instituto Arte na Escola. A oficina será transmitida pelo canal do Instituto no YouTube (www.youtube.com/institutoartenaescola) e é um dos eventos que marcam a programação do Encontro, entre 3 e 5 de maio.
O Encontro da região Norte de 2021 terá como tema central Tramas do contemporâneo na arte da região Norte: pandemia, fraturas e subjetividades, dando enfoque para o aspecto vertiginoso do Contemporâneo na Arte Nortista, e será sediada pela Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Miguel Chikaoka é um fotógrafo renomado da região Norte do país. Fundou a Associação Fotoativa e a Agência Kamara Kó. Seu processo de trabalho é pautado em abordagens que buscam tensionar experiências com a luz para além das fronteiras da fotografia. Em 2012, recebeu o Prêmio Brasil de Fotografia e, em 2015, o Prêmio Marcantonio Vilaça/MinC/Funarte.
A Rede Arte na Escola ativa o circuito da arte-educação no Brasil há mais de 30 anos, conectando arte-educadores, artistas e interessados no ensino da arte e da cultura brasileira. Hoje são 33 polos conveniados, localizados em instituições parceiras de 33 cidades e 17 Estados do país. Cada polo desenvolve uma série de ações de formação para educadores levando em consideração as características regionais do local em que está situado. A cada dois anos, os polos se reúnem nos Encontros Regionais da Rede Arte na Escola, para socialização de práticas e reflexões acerca das demandas e urgências no ensino de Arte no país. Os Encontros Regionais valorizam a diversidade cultural das diferentes regiões do Brasil e a forma como esta repercute em contextos educativos.
O Encontro da região Norte marca o início de uma série de outros encontros regionais da Rede Arte na Escola. Entre 26 e 28 de maio é a vez da região Sul. Depois, acontecem os encontros da região Nordeste (de 2 a 4 de junho) e das regiões Sudeste e Centro-Oeste (de 23 a 25 de junho). Todos serão realizados a distância e terão alguns eventos abertos ao público em geral.
Serviço:
Oficina online e gratuita Brincando com a Luz, com Miguel Chikaoka
Quando: 4 de maio, a partir das 15 horas (horário de Brasília)
Onde: canal do YouTube do Instituto Arte na Escola (www.youtube.com/institutoartenaescola)
Inscrições: www.bit.ly/EncontroNorte.
A cada dia mais perto de sua reabertura, o Museu do Ipiranga traz um prenúncio do que o público irá encontrar em 2022 com a série audiovisual Encontro com Acervos. Realizados durante a pandemia, os vídeos trazem alguns objetos que estarão em destaque nas novas exposições. Por meio de entrevistas com historiadores, além de recursos gráficos, fotos e documentos de arquivo, a obra apresenta de forma lúdica e didática peças que falam de diferentes contextos históricos do Brasil. Complementando o conteúdo, os vídeos trazem informações sobre as obras de reforma e ampliação do prédio histórico.
No primeiro episódio, o historiador José Rogério Beier apresenta “o computador compacto mais antigo do mundo”: o astrolábio. Este exemplar de bronze, pertencente ao século 19, reunia funções como precisar a localização geográfica a partir das estrelas, definir a hora e intervalos de tempo, bem como medidas, tanto para alturas quanto profundidades. Em 2022, o astrolábio será exibido na exposição Territórios em Disputa, com uma cópia em resina disponível para manuseio do público, contribuindo para a acessibilidade da mostra. Assista aqui.
A série é composta por mais três episódios, que foram lançados semanalmente. Na sequência, a historiadora Maria Eugênia Ferreira Gomes fala sobre uma chocadeira movida a querosene, de 1923, e o que ela traz de informação sobre os interiores domésticos deste período. No terceiro episódio, diferentes peças de louça da primeira metade do século 20 e um pouco da história desta indústria no Brasil são apresentados pelo historiador José Hermes Martins Pereira. E, por fim, o público conhece uma moldura em madeira de 1904, usada no retrato fotográfico em tamanho natural de Santos Dumont para a Exposição Universal em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos. No episódio que encerra a série, o historiador Rogério Ricciluca Matiello Félix revela o que o objeto nos diz tanto sobre a história de vida do inventor quanto sobre a política externa do país na época.
Criada em 2017, a série de palestras Encontro com Acervos acontecia mensalmente no auditório do Museu e apresentava as diferentes linhas de pesquisas realizadas no acervo do Museu do Ipiranga. Com um público assíduo e transmissão via USP TV, os encontros presenciais ampliavam o conhecimento sobre os acervos, contribuindo para a disseminação da produção acadêmica da instituição. Agora, em sua primeira versão digital, a série tem produção da AWA Criativa e pós-produção da Criollo Filmes.
Série Encontro com Acervos
Episódio 1: Astrolábio – com José Rogério Beier
Episódio 2: Chocadeira – com Maria Eugênia Ferreira Gomes
Episódio 3: Louças – com José Hermes Martins Pereira
Episódio 4: Moldura – com Rogério Ricciluca Matiello Félix.
Museu do Ipiranga – USP | Fechado desde 2013, o Museu do Ipiranga é sede do Museu Paulista da Universidade de São Paulo e seguiu em atividade com eventos, cursos, palestras e oficinas em diversos espaços da cidade. As obras de restauro, ampliação e modernização do Museu são financiadas via Lei de Incentivo à Cultura. A gestão do Projeto Novo Museu do Ipiranga é feita de forma compartilhada pelo Comitê Gestor Museu do Ipiranga 2022, pela direção do Museu Paulista e pela Fundação de Apoio à USP (FUSP). As obras se iniciaram em outubro de 2019 e a expectativa é de que o museu seja reaberto em setembro de 2022 para a celebração do bicentenário da Independência do Brasil. Para mais informações sobre o restauro, acesse o site museudoipiranga2022.org.br.
O edifício, tombado pelo patrimônio histórico municipal, estadual e federal, foi construído entre 1885 e 1890 e está situado dentro do complexo do Parque Independência. Concebido originalmente como um monumento à Independência, tornou-se em 1895 a sede do Museu do Estado, criado dois anos antes, sendo o museu público mais antigo de São Paulo e um dos mais antigos do país. Está, desde 1963, sob a administração da USP, atendendo às funções de ensino, pesquisa e extensão, pilares de atuação da Universidade.
As obras do Novo Museu do Ipiranga são financiadas via Lei de Incentivo à Cultura. Patrocinadores e parceiros: BNDES, Fundação Banco do Brasil, Vale, Bradesco, Caterpillar, Comgás, CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, EDP, EMS, Itaú, Sabesp, Banco Safra, Honda, Postos Ipiranga, Pinheiro Neto Advogados, Atlas Schindler e Novalis.
O Theatro Municipal de São Paulo oferece nas próximas semanas de abril e maio intensa agenda de espetáculos na internet. De concertos da Orquestra Sinfônica Municipal e do Quarteto de Cordas da Cidade a recitais do Coral Paulistano e do Coro Lírico e até mesmo documentários. Tudo de graça no YouTube do Theatro Municipal. Todos os espetáculos contam com recursos de acessibilidade.
A maratona Beethoven com a OSM apresenta nesta segunda-feira (26/4), às 20h, o Concerto para piano nº 5 “Imperador” e na terça-feira (27/4), no mesmo horário, é a vez do Quarteto de Cordas da Cidade interpretar o Quarteto opus 135.
Na quarta-feira (28/4), tem mais Orquestra Sinfônica Municipal e, desta vez, em homenagem ao centenário de nascimento do compositor argentino Astor Piazzolla (1921-1992), tido como um dos grandes nomes do tango da segunda metade do século 20. Neste dia, são dois programas: às 20h, a OSM toca o clássico Libertango, obra conhecida por aproximar o tango à música erudita e, às 20h30, tem o concerto para bandoneón Aconcágua. Os concertos contam com a participação da argentina Milagros Caliva no bandoneón.
Todos os concertos possuem recursos de acessibilidade e serão exibidos no canal do Theatro Municipal no YouTube. E o conteúdo fica disponível para acesso posterior, a qualquer hora, sem necessidade de agendamento ou cadastro prévio.
Confira a programação completa:
Maratona Beethoven
26/4, segunda-feira
20h: OSM apresenta Ludwig van Beethoven – Concerto para piano nº 5 “Imperador”
21h: OSM apresenta Ludwig van Beethoven – Sinfonia nº 5
27/4, terça-feira
20h: Quarteto da Cidade apresenta Ludwig van Beethoven – Quarteto opus 135
100 anos de Piazzolla
28/4, quarta-feira
20h: OSM apresenta Astor Piazzolla – Libertango
20h30: OSM apresenta Astor Piazzolla – Aconcágua – concerto para bandoneón 1º movimento
Sobre o Teatro Municipal de São Paulo | O edifício do Theatro Municipal de São Paulo é um equipamento cultural localizado na Praça Ramos de Azevedo, no centro de São Paulo. Trata-se de um edifício histórico, patrimônio tombado, intrinsecamente ligado ao aperfeiçoamento da música, da dança e da ópera no Brasil. O Theatro Municipal de São Paulo abrange um importante patrimônio arquitetônico, corpos artísticos permanentes e é vocacionado à ópera, à música sinfônica orquestral e coral, à dança contemporânea e aberto a múltiplas linguagens conectadas com o mundo atual (teatro, cinema, literatura, música contemporânea, moda, música popular e outras linguagens do corpo, dentre outras). Oferece diversidade de programação e busca atrair um público variado.
O Patrimônio Theatro Municipal de São Paulo tem implantação retangular, sendo as medidas aproximadas de 92 metros (fachadas leste e oeste), e 42 metros (fachadas norte e sul). Divide-se basicamente em três corpos com funções distintas: o corpo da fachada – vestíbulo, a escada nobre, salão, portaria, restaurante e dependências da administração; a parte central – sala de espetáculo com seus corredores e galerias e o corpo posterior – palco e suas galerias laterais, camarins e salas de artistas. Composto de nove pavimentos, sendo um subterrâneo, sete correspondendo aos planos e ordens da ala de espetáculo e/ou administração, e o pavimento referente a cúpula central. Tem área total construída de aproximadamente 17.000 m².
A cada quinze dias, o Ciclo de Cinema e Psicanálise (programa realizado pelo MIS, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, em parceria com a Folha de S. Paulo e a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo – Sbpsp) traz debate virtual sobre um filme mediado por Luciana Saddi, coordenadora de Cinema e Psicanálise da Diretoria de Cultura da Sbpsp. Em seguida, o público pode participar com perguntas no chat da transmissão ao vivo, integrando novas perspectivas sobre a obra discutida.
No dia 27 de abril, o programa discute o filme Pieces of a Woman (dir. Kornél Mundruczó, EUA, 2020, 128 min, 16 anos, disponível na Netflix), que acompanha a jornada emocional de uma mãe que acaba de perder seu bebê. Produzido por Martin Scorsese, o longa estreou em 2020 no 77º Festival Internacional de Cinema de Veneza, que deu a Vanessa Kirby o prêmio de Melhor Atriz – e cuja atuação também rendeu a Kirby a indicação no Oscar 2021 de Melhor Atriz. Para o debate, a mediadora Luciana Saddi recebe as convidadas Elza Magnoler, psicanalista da Sbpsp, e as editoras do blog Morte sem Tabu, a roteirista e redatora Camila Appel e a escritora e jornalista Jéssica Moreira. A conversa acontece às 20h, ao vivo, no canal do MIS no YouTube.
O MIS agradece aos patrocinadores, apoiadores institucionais e operacionais e patronos: Youse, Kapitalo Investimentos, Cielo, TozziniFreire Advogados, Bain & Company e Telhanorte.
Sobre o filme – Pieces of Woman (disponível na Netflix) | Pieces of a Woman, de Kornél Mundruczó, narra a “saga” do casal Marta e Sean, interpretados por Vanessa Kirby e Shia LaBeouf , prestes a ter sua primeira filha – e os desdobramentos dolorosos subsequentes ao momento inicial tão investido e sonhado. O diretor nos mostra como o casal idealizou e se preparou para a chegada da pequena Ivett. Em clima de idílio amoroso, Marta e Sean parecem gloriosos e seguros. As primeiras contrações revelam a escolha pelo parto domiciliar “humanizado”. Aos poucos, à medida que surgem dificuldades como a ausência da parteira de eleição, substituída por uma enfermeira obstétrica desconhecida, e o prolongamento do trabalho de parto, a sensação inicial de plenitude vai se desfazendo. A tensão cresce de forma desesperadora e proporcional à diminuição dos intervalos entre as contrações. O que era para ser “o” momento mágico se torna um pesadelo repleto de dor física e emocional, claustrofobia, impossibilidade e angústia – sem alívio nenhum para o espectador. Sem alívio nenhum também para os personagens apavorados, exaustos de dor e impotentes.
Os 30 primeiros minutos de Pieces of a Woman podem constar de seleta lista de filmes que apresentam os 30 primeiros minutos mais terríveis e exasperantes do cinema. E, como se não bastasse tal sofrimento, ainda há pela frente inúmeras consequências dramáticas e trágicas posteriores à morte da recém-nascida.
Em pedaços, cada personagem reage à perda de forma singular. Sean procura desesperadamente anestesiar a dor, o sentimento de insuficiência e a culpa. Marta se retrai e se distancia do mundo. A perda de sentido da vida, o desinvestimento libidinal típico do luto e a raiva (voltada contra si ou contra o outro) – tão característica da melancolia – são explorados de maneira contundente e profunda pelo diretor e pela roteirista Kata Wéber. O filme também apresenta outras formas de elaboração do luto por meio, principalmente, da mãe de Marta, representada por Ellen Burstyn. E ainda trata das dificuldades dos familiares em lidar com perdas.
O trabalho dos atores é excepcional, o roteiro de Kata Wéber é bastante original e Kornél Mundruczó domina com precisão de tirar o folego a arte de narrar história épica e intima. Os personagens, heróis caídos, revelam que perdas são parte do jogo da vida, mas nem por isso estão minimamente preparados para enfrentá-las.
Em Luto e melancolia (1917), Freud explora as diferentes reações diante das perdas. Curiosa e paradoxalmente, considerou que tais diferenças de enfrentamento se dão pelas formas de ligação com os objetos de amor. As várias maneiras de ligação configuram as diversas maneiras de enfrentar perdas. Ligações narcísicas, idealizadas, em que não há distinção entre o objeto de amor e o Eu tendem à melancolia. Nesses quadros aparecem acusações incessantes de culpa e fracasso repletas de ódio a si mesmo e de dor. Já ligações em que prevalecem diferenças entre o Eu e o objeto de amor tendem ao trabalho de luto. Trabalho árduo e enlouquecedor. A tristeza pela perda e o vazio da ausência são duramente vividos. Os silêncios de Marta são indicativos do vazio e da ausência e, também, da forma como ela procura reunir seus pedaços. Não é possível voltar a ser a Marta de antes, mas é possível o resgate da hecatombe e prosseguir com remendos”, comenta Luciana Saddi.
Debatedoras:
Elza Magnoler é psicóloga formada pela PUC-SP, psicanalista membro efetivo da Sbpsp, docente do Núcleo de Psicanálise de Marília e Região da Sbpsp e do Núcleo de Psicanálise de Araçatuba (NEPA). Foi diretora regional da Sbpsp (2019/2010) e é fundadora, diretora e docente do Instituto de Estudos Psicanalíticos de Bauru. É ex-docente da Universidade do Sagrado Coração (USC Bauru), da Universidade Estadual Paulista (Unesp Bauru), da Universidade de São Paulo (USP Bauru).
Camila Appel é formada em administração de Empresas pela Eaesp-FGV e mestre em Antropologia e Desenvolvimento pela London School of Economics (LSE). É redatora do programa Conversa com Bial, da TV Globo e roteirista da série documental Em nome de Deus, do GloboPlay.
Jéssica Moreira é escritora, jornalista e cofundadora do Nós, mulheres da periferia. Moradora de Perus (SP), é uma das autoras dos livros Heroínas dessa história e Queixadas – por trás dos 7 anos de greve.
Mediação: Luciana Saddi – Coordenadora de Cinema e Psicanálise da Diretoria de Cultura e Comunidade da Sbpsp.
Serviço:
Ciclo de cinema e Psicanálise ao vivo – Pieces of a woman | #MISEMCASA
27 de abril, às 20h, no canal do Youtube do MIS e na plataforma #culturaemcasa: www.culturaemcasa.com.br
Site www.mis-sp.org.br
Redes:
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Museu da Imagem e do Som – MIS | Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo/SP| (11) 2117 4777 | www.mis-sp.org.br
Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
No dia 31 de março de 1964, tropas militares marcharam de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro com o objetivo depor o governo de João Goulart, presidente brasileiro à época. Esse foi o começo de um período de ficaria marcado na memória dos brasileiros. No dia 2 de abril de 1964, o presidente do Senado declarava vagas a presidência e a vice-presidência da República, empossando o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, na presidência da República. O ato teria implicações na vida dos brasileiros nos próximos 21 anos.
O que aconteceu durante o período de 1964 a 1985 é alvo de debate político até os dias atuais. Há quem defenda que o que ocorreu foi uma revolução e não uma ditadura militar, como historiadores conceituam. “A Historiografia em si considera como ‘revolução’ todo e qualquer movimento que resulte em transformações políticas, econômicas e/ou sociais num curto período de tempo. Sendo assim, o golpe civil-militar de 1964 não se configura como uma revolução. Afinal, trata-se de um processo de caráter conservador, que objetivava justamente evitar transformações que supostamente ocorreriam no Brasil, arquitetadas por um governo que, na visão dos militares, estaria alinhado ao comunismo soviético”, explica o historiador e especialista em ENEM Cássio Luige.
Fernanda Ribeiro Haag, mestre em Linguagens e Sociedade e doutoranda em História Social, destaca que chamar esses eventos de revolução, justificando que visavam pacificar o país e protegê-lo da “subversão” ou do “comunismo”, não encontra sustentação conceitual. “Se nos ativermos às discussões conceituais, vemos que revolução é uma mudança radical nas estruturas de determinada sociedade, vide exemplos da Revolução Haitiana ou Francesa. Ora, a estrutura social brasileira não foi modificada pela chegada ilegal dos militares ao poder em 1964. O conceito de golpe se aplica muito mais ao Brasil de 1964. O cientista político Álvaro Bianchi fala sucintamente que o golpe de Estado ‘é uma mudança institucional promovida sob a direção de uma fração do aparelho de Estado que utiliza para tal de medidas e recursos excepcionais que não fazem parte das regras usuais do jogo político’“, destaca.
Para o historiador Ricardo Carvalho, chamar de revolução o Golpe de 1964 é fazer um eufemismo político. “É uma tentativa de disfarçar o caráter autoritário, inconstitucional. E como a gente diz, um estado de exceção que se estabelece no Brasil, desrespeitando toda a ordem democrática. Isso é comum. Os ditadores nunca vão se autointitular de ditadores”, disse.
Atos Institucionais | É importante compreender que os Atos Institucionais (AI’s) foram decretos autoritários que ‘legalizavam’ as ações de Estado consideradas ilegais antes do início do governo militar, é como explica Cássio Luige. “Por meio deles, os golpistas solidificaram as bases da ditadura. Gradualmente, os AI’s foram retirando poderes do judiciário e do legislativo, e transferindo-os ao executivo que estava sob controle militar, tal qual ocorre em outros governos ditatoriais. O desequilíbrio entre os três poderes em detrimento da concentração de poder na mão dos militares deixava a sociedade, de maneira geral, a mercê de abusos de poder”, pontua o professor.
Durante o período foram promulgados 17 atos institucionais, regulamentados por 104 atos complementares, e que garantiram uma forte centralização administrativa e política do Brasil. “Os impactos dos atos foram em vários setores, desde alterar a forma de escolha de presidentes, o sistema partidário, a abertura ou não do Congresso até mesmo afetando os direitos básicos dos cidadãos: liberdade de expressão, direito de ir e vir, direito a Habeas Corpus, exigência de mandado para prisão”, relata Luciana Haider, professora e socióloga do Centro Universitário UniAcademia, de Juiz de Fora/MG.
Ainda segundo Luciana Haider, os impactos dos atos foram em vários setores, desde alterar a forma de escolha de presidentes, assim como “o sistema partidário, a abertura ou não do Congresso até mesmo afetando os direitos básicos dos cidadãos, como a liberdade de expressão, o direito de ir e vir, o direito a Habeas Corpus e a exigência de mandado para prisão”, pontua a professora, que ainda completa: “Entre suas consequências podemos ressaltar o ato institucional mais famoso assinado em 13/12/1968, o AI-5, que literalmente fez o governo militar – que se fingia de democrático – assumir seu lado autoritário. As torturas, a prisão de opositores, a censura prévia aos meios de comunicação, o fim do direito de responder em liberdade por acusações – tudo isso se estabeleceu a partir do AI-5. Um período sombrio, que trouxe reflexos históricos ainda hoje em nossa realidade política, econômica e social”.
Outro fato também destacado pelo historiador Cássio Luige é que algumas pessoas foram violentadas antes mesmo que sua culpa fosse comprovada. “É comum que pessoas que tem simpatia com o governo militar afirmarem que a ditadura ‘só perseguia aqueles que mereciam’. Mas, além de considerar que nenhum ser humano ‘merece ser torturado’, é importante lembrar que algumas pessoas foram violentadas antes que sua culpa fosse sequer comprovada. Além disso, por meio de obras como Cativeiro sem Fim, encontramos histórias de crianças que foram vítimas destes abusos de poder dos militares”, conclui.
Censura | Com o AI-5, a censura passou a atuar com mais intensidade, censurando a imprensa nacional de divulgar fatos que desagradavam o governo vigente. “Não era difícil encontrar nas primeiras páginas dos jornais da época receitas de bolo, trechos de Os Lusíadas ou simplesmente espaços vazios. Ali estavam publicações consideradas subversivas e retiradas do jornal antes da publicação”, comenta Cássio.
O Jornal da Tarde, de São Paulo, foi um dos afetados durantes o período. Já na edição, em que noticia o AI-5, o jornal publicou uma previsão de tempo que ficou famosa descrevendo que haveria tempestades e nuvens negras, uma referência à ditadura. No livro Jornal da Tarde – Uma ousadia que reinventou a imprensa brasileira, Ferdinando Casagrande conta que o editor Ruy Mesquita teve a ideia de colocar receitas que não funcionavam no lugar de matérias censuradas, para alertar o leitor de que algo estava estranho. Em algumas receitas, haviam críticas veladas ao regime e a apoiadores, como a receita de frango ao passarinho, uma clara referência ao senador Jarbas Passarinho, a famosa receita “Lauto Pastel”, em referência ao governador Laudo Natel e uma página inteira intitulada “Receitas do Alfredo’s”, em referência ao ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, considerado um dos mentores intelectuais da censura.
Esses atos durante a ditadura foram realizados porque o jornal não podia publicar notícias que não eram agradáveis ao governo. “Para quem acredita que a criminalidade era menor na época da ditadura, é importante lembrar que problemas sociais, políticos e econômicos eram prejudiciais à imagem do governo. Sendo assim, estas notícias eram censuradas”, disse o historiador Cássio.
Economia: Crescimento sem desenvolvimento | Obras faraônicas, investimento em infraestrutura e uma grande industrialização são usualmente justificativas usadas para defender o período militar. No entanto, o alto gasto público fez com que o Brasil tivesse o conhecido “Milagre Econômico”, um período de muito crescimento econômico, com aumento do Produto Interno Bruto (PIB), mas um baixo desenvolvimento, com baixa na qualidade de vida da população. O período deixou como consequência uma década de 1980 de muita dificuldade, especialmente com a inflação.
A economista Pollyanna Rodrigues Gondin explica que no período do “Milagre Econômico”, o PIB brasileiro chegou a taxas acima de 10%. “Os resultados consideráveis em relação ao PIB brasileiro foram decorrentes dos incentivos à industrialização (subsídios e incentivos fiscais), dos investimentos em infraestrutura que já vinham ocorrendo, políticas de incentivo à exportação, abertura ao capital externo e algumas reformas políticas. Um dos resultados foi o expressivo crescimento da indústria de transformação. Como dito anteriormente, o PIB expressa o crescimento econômico, de modo que um país pode crescer, mas ao mesmo tempo não se desenvolver. E foi exatamente o que aconteceu com o nosso país”, conta.
Mas do outro lado, a vida do brasileiro continuava a ser difícil. “Na verdade, houve uma piora significativa de indicadores sociais (desenvolvimento econômico), o que faz, de modo geral, se questionar a veracidade do período conhecido como ‘Milagre Econômico’. Uma das consequências mais gritantes da ditadura militar foi o aumento da desigualdade social. Para além disso, a falta de acesso da população a dados públicos, aumento da concentração de renda, inflação e aumento do endividamento externo. Durante a ditadura muito se falava em ‘deixar o bolo crescer para depois distribuir seus pedaços de forma igualitária’. Em outras palavras, o que se afirmava era ‘primeiro, promoveremos o crescimento da nossa economia, e depois, distribuiremos essa renda com a população’. Isso de fato não ocorreu”, relata Pollyanna.
Fim da ditadura | Mas mais do que a situação econômica, as consequências da ditadura militar no Brasil são discutidas até os dias de hoje. Uma das razões é a forma como a ditadura terminou. O Brasil passou por um processo de reabertura que iniciou no fim da década de 70 e se arrastou até a década de 80, culminando na promulgação da Constituição de 88, vigente até hoje.
O historiador Ricardo Carvalho destaca que ainda há uma discussão entre os pesquisadores sobre como o período militar terminou. “Há quem diga que foi o próprio desgaste do modelo econômico, o famoso Milagre Econômico do regime militar. Outros dizem que existia um desejo de determinados setores liberais de assumir o comando da nação pelo fracasso do modelo econômico do próprio estado autoritário. Mas há uma teoria que me parece de interesse, que é a dialética da repressão. Os próprios colaboradores do golpe, como o governo dos Estados Unidos da América, teriam ajudado nessa pressão. O que é a dialética da repressão? É que quanto mais você reprime, mais ela faz se desenvolver também, dentro da estrutura, os movimentos de oposição. É como um pai autoritário que quanto mais ele oprime, censura a liberdade do filho, mais o filho busca caminhos não tradicionais para manifestar a sua liberdade. Há quem defenda que o excesso de repressão da ditadura acabou favorecendo o surgimento de muitos grupos de oposição e alguns que, inclusive, atuavam na clandestinidade. Havia a defesa da necessidade do processo de abertura, até para diminuir a força desses setores da oposição”, conclui.