Sucen, que monitorava o comportamento do inseto no Estado, foi extinta em 2020 e seus laboratórios, até hoje, não foram incluídos na organização administrativa do Estado, comprometendo pesquisas e controle de doenças
São Paulo
A Páscoa está aí e um dos seus símbolos é o coelhinho. Muitos têm a ideia de presentear as crianças com o animalzinho, além dos ovos de chocolate, mas o coelho é um bichinho de estimação que requer cuidados detalhados e a família que receberá o novo membro precisa, antes de tudo, conhecer a responsabilidade envolvida e concordar com a nova rotina de ter um pet em casa.
A recomendação é da veterinária Morgana Prado, especialista em Animais Silvestres no Hospital Veterinário Taquaral, em Campinas. “Muitos escolhem o coelho porque é um animal silencioso, carinhoso, se dá bem com crianças e há grande variedade de raças e tamanhos, inclusive bem pequenos. Mas o coelho não é um objeto que se dê de presente sem todo um planejamento anterior. Há grande índice de abandono. Por essas e outras, é fundamental conversar com um veterinário antes de adquirir”, frisa.
No entanto, salienta Morgana, a mentalidade das pessoas vem mudando e o conhecimento de que o coelho não é uma espécie para ser “esquecida” no quintal se expande cada vez mais. Entre os animais silvestres atendidos no Hospital Veterinário Taquaral, é uma das espécies mais populares, atrás somente da calopsita.
Entre as peculiaridades da espécie está a necessidade de um manejo nutricional adequado para não só manter sua saúde e energia, como também para estimular o desgaste dos dentes. Segundo Morgana, os dentes crescem continuamente e, se não forem aparados naturalmente com o uso, estão fadados à má oclusão dentária, que gera muitos problemas. “Eles param de comer, apresentam alteração gastrointestinal, os dentes criam pontas, causam feridas na boca e podem resultar em óbito se as devidas providências não forem tomadas”.
Ao contrário do que muitos imaginam, a alimentação do coelho não deve ser à base de cenoura, alface e ração. Morgana explica que a cenoura é muito calórica e deve ser ministrada com parcimônia. A alface não é indicada porque tem pouca fibra e muita água, podendo provocar diarreia. A veterinária afirma que uma ração de qualidade pode fazer parte da dieta, mas ela destaca que 70% da sua alimentação deve ser o feno. Os outros 30% podem variar entre verdura verde escura, folhas de árvores frutíferas, capim fresco, legumes e frutas. “Casca de melancia e de melão são ótimas para exercitarem os dentes”, sugere Morgana.
As refeições fartas e variadas deixam as gaiolas sujas e este é outro zelo essencial que se deve ter com coelhos: não deixar acumular restos de comida, fezes e urina no recinto, que precisa ser limpo diariamente.
Morgana avisa que os coelhinhos se adaptam em viver em apartamento – só não devem ficar em gaiolas muito pequenas. “E cuidado com os momentos de soltura para brincar, pois, se não ficar de olho, eles roem fios e móveis. Na maior parte do tempo, ele pode ser mantido em cercadinho”, orienta.
Ter um quintal para os coelhos é o ideal, mas é preciso manter o espaço adequado para o animal. A especialista lembra que eles adoram terra, apreciam cavar e fazer túneis. Uma ótima iniciativa é disponibilizar brinquedos de madeira para que ele possa desgastar os dentes.
Outro cuidado de quem tem coelho, principalmente os de pelo longo, é a escovação periódica. De acordo com a veterinária, eles são limpos, não exalam mau cheiro e não precisam de banho, a não ser que estejam com uma enfermidade que demande essa limpeza. Por se se lamberem o tempo todo, ingerem pelos, o que leva à formação de bolas de pelo. Isso pode levar o animal a um quadro de estase gástrica, que é a diminuição da motilidade intestinal; por isso, a escovação é importante. Uma dica da especialista para evitar as bolas de pelo é oferecer mamão e suco de abacaxi, que ajudam a inibir essa formação.
As visitas ao veterinário devem ser de semestrais a anuais, exceto quando o animal apresenta algum mal-estar entre esses períodos. Na consulta, o especialista verifica o animal como um todo – peso, pelagem e a pele –, pois não são raros problemas como sarna, dermatite e fungo, entre outras patologias dermatológicas. O acompanhamento do crescimento dos dentes é feito visualmente e também através do raio x.
Curiosidades dos coelhos
– Existem cerca de 30 raças; entre elas, 170 variações, obtidas devido ao fácil e rápido cruzamento;
– São mamíferos lagomorfos herbívoros. Não são roedores. A dentição – dois dentes incisivos inferiores e dois superiores – é o que diferencia coelho de roedor;
– Entre os animais de estimação, há a preferência por pequenos, como o lion (coelho leão), o fusilop, Nova Zelândia pelo vermelho e Nova Zelândia branco;
– Podem pesar entre 1 kg e 3 kg
– Existem muitas cores. As mais comuns são branco, preto, cinza, caramelo e amarelo;
– Vivem entre 8 e 10 anos;
– Uma única gestação pode gerar até 8 filhotes;
– A gestação dura de 28 a 35 dias;
– Cio silencioso;
– A castração é recomendada para evitar surgimento de tumores em ovário, útero e hiperplasia uterina em fêmeas idosas, além de cistos ovarianos nas fêmeas e tumores nos testículos dos machos;
– Castração em fêmeas a partir de 6 meses e, em machos, a partir dos 4 meses;
– Dependendo da criação, podem se tornar territorialistas, com hábito de preferir ficar no seu canto e, quando incomodados, mordem. Não dá para prever.
Dicas da veterinária
– Se tem outro tipo de bicho na mesma casa, é melhor ter espaço para separar;
– O adestramento de filhotes é bem-sucedido;
– Quando filhote, é impossível saber o sexo. A partir dos 4 meses dá para ter mais certeza porque os testículos ficam aparentes;
– São espertos e ajudam a desenvolver respeito, cuidado, amor, responsabilidade;
– Indicados para crianças com mais de 3 anos;
– São dóceis e, na maioria dos casos, gostam de ficar no colo.
Estamos todos conectados – e, não, não estamos fazendo menção à internet ou às redes sociais, mas, sim, pensando nos ciclos naturais da água e do solo, dos ecossistemas e biomas, de tudo aquilo que todos aprendem na escola, mas esquecem quando adultos. “Tudo o que fazemos e consumimos tem reflexo no mundo. Um simples ovo pode significar exploração de mão de obra, mau trato animal, desperdício de água e recursos naturais, desmatamento e extinção de espécies animais e vegetais”, afirma Marina Campos, da diretoria do Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus).
Segundo a organização, os dados mostram que a sociedade, mesmo em meio a uma pandemia, consegue, cada vez mais, entender isso. De acordo com a Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), a venda de produtos orgânicos cresceu mais de 50% no Brasil no primeiro semestre de 2020 – isso num ano marcado pela Covid-19 e pela retração de vários setores. E os produtores ainda preveem um crescimento de mais 10% em 2021.
No exterior, a cidade de Barcelona, na Espanha, foi escolhida como a capital mundial da alimentação sustentável para o ano de 2021. Estão previstos projetos para educação e conscientização – como a preferência por frutas e legumes de temporada, por exemplo –, melhoria da saúde alimentar e construção de um sistema sustentável de produção. A meta é repensar o atual modelo de alimentação, responsável por um terço das emissões de gases de efeito estufa e de doenças como a obesidade infantil, além do desmatamento de florestas como a Amazônia para grandes plantações – e muitos dos alimentos que consumimos vêm dessa agricultura predatória.
“O alimento orgânico não é bom só para quem consome: seu modo de produção protege o solo e a água, favorece o equilíbrio biológico e gera renda para pequenos agricultores familiares em todo o Brasil”, afirma Marina. A relação entre alimentação saudável e produção responsável é evidente. Segundo estudo do Sebrae, das mais de 15 mil propriedades certificadas como produção orgânica ou em processo de transição no Brasil, 75% pertencem a agricultores familiares. É nesse ecossistema de negócios comunitários de impacto socioambiental que atua a Conexsus, organização da sociedade civil que contribui para a geração de renda no campo e conservação de florestas e biomas. “Nós entendemos que um modelo econômico justo e sustentável é o caminho para resolver essas questões. E o primeiro passo para viabilizar esse modelo econômico é compreender que tudo está conectado”, explica a porta-voz do Instituto.
O comércio justo é uma relação comercial baseada no diálogo, na transparência e no respeito às pessoas e ao planeta, priorizando a sustentabilidade social, econômica e ambiental das sociedades. Ao comprar itens produzidos de forma justa, ajudamos a desenvolver um ecossistema de negócios que é bom para todos:
– Quem consome tem acesso a produtos mais saudáveis e/ou de melhor qualidade;
– Quem produz recebe um pagamento justo, pois tem acesso direto ao mercado em condições equitativas;
– Com uma gestão responsável e sustentável dos recursos naturais, o planeta preserva suas reservas.
Para Marina, ao apoiarmos cadeias produtivas mais justas e sabermos de onde vem nossa comida, percebemos que cada atitude faz diferença em nossa saúde e na do planeta. Em 2014, o Ministério da Saúde lançou o Guia Alimentar para a População Brasileira com o objetivo de orientar as políticas públicas de alimentação e ajudar a população a se informar, de maneira fácil e clara, sobre como adotar uma alimentação saudável. Nele, os alimentos são classificados pelo grau de processamento, alertando principalmente para o malefício de consumo de ultraprocessados.
Por sua clareza, simplicidade, respeito às tradições culturais da alimentação brasileira e embasamento científico, o Guia Alimentar é reconhecido internacionalmente como um dos melhores guias do mundo e é possível baixá-lo de graça no site do Ministério da Saúde. “Nosso papel ao apoiar iniciativas como essa e os negócios de produtores sustentáveis possibilita que mais pessoas tenham acesso a produtos saudáveis e que contribuem para a preservação do meio ambiente. Produtores, associações, mercados, consumidores, financiadores, pesquisadores, investidores, cidadãos – todos estão envolvidos na cadeia de produção e consumo dos nossos alimentos. E, por isso mesmo, é papel de todos contribuir para uma economia mais justa e sustentável”, finaliza a diretora da Conexsus.
(Fonte: Agência Press Voice)
Uma história do pensamento da arte, que visa abrir caminho para novos raciocínios e instigar o público à reflexão – esse é o fio que conduz 50 Duetos – 50 anos da Fundação Edson Queiroz, exposição que celebra os 50 anos da Fundação Edson Queiroz, instituição sediada na Universidade de Fortaleza (Unifor). Com curadoria de Denise Mattar, a mostra reúne mais de 100 obras de diferentes artistas, períodos e técnicas, trabalhos emblemáticos que perpassam o século 17 à Arte Contemporânea, organizados em pares e dispostos lado a lado a partir de conexões diversas, desde paralelismo visuais, afinidades temáticas e eletivas, até mesmo suas oposições.
A mostra terá abertura no dia 23 de março, de forma virtual, por meio de transmissão ao vivo, às 19h, nos canais da Unifor no Instagram (@UniforComunica ) e no Facebook (/UniforOficial), e fica em cartaz no espaço físico da Fundação até 23 de dezembro. “Vale comemorar com esta exposição, que aporta no Espaço Cultural Unifor em um ano desafiador, quando a arte se torna ainda mais essencial diante do ímpeto de afirmação da vida, apesar de tudo. Vem dela o poder terapêutico e o olhar sensível que devem se derramar sobre o mundo. E é esse espírito de união, entrelaçamentos e diálogo proposto em 50 Duetos com que irão se deparar os espectadores que se colocarem diante dos pares de obras expostos”, reflete Lenise Queiroz Rocha, presidente da Fundação Edson Queiroz.
“Em celebração a seus 50 anos, a Fundação Edson Queiroz apresenta a exposição 50 Duetos, que reforça sua filosofia de aliar as iniciativas culturais à missão de educar com excelência. A mostra apresenta conexões nunca antes feitas com obras da Coleção Fundação Edson Queiroz, suscitando debates que permeiam diversas áreas do conhecimento. Imperdível tanto para a comunidade acadêmica quanto para o público apreciador de arte”, destaca o vice-reitor de Extensão da Universidade de Fortaleza, professor Randal Pompeu.
A exposição | 50 Duetos traz ao público uma disposição inédita de obras de importantes artistas da história da arte que integram o acervo da Fundação, dentre os quais: Antonio Bandeira, Anita Malfatti, Almeida Júnior, Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Bonaventura Peeters, Candido Portinari, Cícero Dias, Cristiano Mascaro, De Fiori, Djanira da Motta e Silva, Di Cavalcanti, Fernando Botero, Félix-Émile Taunay, Iberê Camargo, Ismael Nery, Irmãos Campana, Frans Krajcberg, Geraldo de Barros, Leda Catunda, León Ferrari, Luiz Hermano, Mariana Palma, Maria Martins, Maciej Babinski, Mira Schendel, Pedro Alexandrino, Raoul Dufy ,Sebastião Salgado, Sérgio Helle, Tarsila do Amaral, Tomie Ohtake e Victor Brecheret, entre outros. “Minha proposta curatorial tem muito a ver com os tempos de hoje, com o mundo atual, onde as coisas vão se conectando de formas diferentes, onde as pessoas têm necessidade de uma visualização mais rápida. Vamos contar uma história da arte, só que, em vez de contar de forma cronológica, mostraremos uma história do pensamento da arte”, explica Denise Mattar .
Abrindo a exposição, um conjunto de litografias do icônico artista espanhol Salvador Dalí dialoga com escultura do austríaco-brasileiro Xico Stockinger, considerado um dos principais escultores modernos, a partir do tema Dom Quixote. A série de litografias de Dalí, intitulada Dom Quichotte, foi realizada na década de 1950 inspirada em trechos selecionados do emblemático livro homônimo de Miguel Cervantes, enquanto a obra de Stockinger, que integra sua série de Guerreiros, foi criada em 1970 como um protesto velado à ditadura que pairava sob o Brasil. Nestes trabalhos, o artista recorria com frequência a arquétipos, sendo Dom Quixote o mais famoso entre eles.
No duo formado por obras de Belmiro de Almeida e João Câmara, a curadora chama a atenção do visitante para a semelhança visual e da composição das telas. Trata-se de Figuras femininas (c. 1900), tela construída de forma quase impressionista por Belmiro, e Langueur do Outono (1989), do contemporâneo João Câmara. O dueto traz um QR Code que leva o visitante até um depoimento em vídeo de João Câmara, no qual o artista fala sobre a obra exposta, trabalho da série O Tango em Maracorday (1989), na qual ele recria, à sua maneira, a saga do assassinato do revolucionário francês Jean Paul Marat por Charlotte Corday.
Também de irrefutável semelhança, está o dueto composto por autorretratos de Ismael Nery e Iberê Camargo, que dialogam tanto pela aparência física das figuras retratadas, quanto na densidade dos personagens.
A melancolia, tema que tem sido, ao longo dos séculos, uma grande inspiração para as artes, conduz o dueto formado por Lasar Segall e Vik Muniz. Com o tema A Melancolia Expressionista, a exposição traz a emblemática tela Duas Amigas (1914), do pintor lituano Segall, artista que ajudou a mudar a cena de arte paulistana – e nacional –, ao lado da obra Melancholy (2008), de Vik, expoente da Geração 80, com reconhecimento internacional.
Sob a ótica da poética do cotidiano, a mostra traz lado a lado obra da série Ambiente Virtual I (2001), da artista carioca Adriana Varejão, com a infogravura ACQUA XLVII (2013) de Sérgio Helle, artista cearense há mais de três décadas em plena atividade, que mescla ferramentas digitais às tradicionais técnicas da pintura.
Alfredo Volpi e José Guedes são conectados na exposição pelo domínio singular das cores, da textura e do espaço pictórico. Os pigmentos e a Explosão das Cores permeiam, ainda, o duo composto por trabalhos de Eliseu Visconti e Luiz Sacilotto.
Cada dueto é acompanhado de textos especialmente concebidos para mostra, acompanhados de referências e links sugeridos por meio do uso de QRCodes, áudios, vídeos e músicas que explicitam a conexão elencada pela curadora. São desde vídeos de artistas vivos que compõem a exposição comentando seus trabalhos e também o que acharam da conexão estabelecida no dueto, até textos que a curadora já escreveu sobre os artistas e links para catálogos que a Fundação Edson Queiroz editou, mas que estão, fisicamente, esgotados.
Fundação Edson Queiroz | Instituição genuinamente cearense, a Fundação Edson Queiroz se orgulha por promover a décadas o desenvolvimento social, educacional e cultural do Estado e da região Nordeste. Criada em 26 de março de 1971, a Fundação foi uma das formas encontradas pelo industrial Edson Queiroz de retribuir, em forma de responsabilidade social, tudo o que a sua terra já lhe concedera. O maior entre os projetos sociais encampados pela Fundação se materializou na Universidade de Fortaleza, a Unifor.
Inaugurado em 1988, o Espaço Cultural Unifor é um dos mais importantes instrumentos de disseminação da arte no Brasil. Por meio do acesso gratuito às exposições, promove renovação e democratização do conhecimento das identidades artísticas, históricas e culturais do país. O espaço já abrigou mostras exclusivas, nacionais e internacionais, como Rembrandt, Candido Portinari, Miró, Beatriz Milhazes, Antonio Bandeira, Vik Muniz e Burle Marx.
Serviço:
50 Duetos – 50 anos da Fundação Edson Queiroz
Local: Fundação Edson Queiroz | Unifor
Curadoria: Denise Mattar
Período expositivo: até 23 de dezembro.
Com quase 100 anos de existência, o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira foi contemplado pelo edital do ProAC (Programa de Ação Cultural) para a estruturação dos acervos museológicos do Museu Vivo Cândido Ferreira, que será aberto à população como um tesouro carregado de preciosidades.
Ao longo deste ano, dois profissionais de museologia irão trabalhar na organização do material, que conta com aproximadamente 22 mil itens, e retrata as inúmeras atividades culturais desenvolvidas como processos terapêuticos e de inclusão social.
Do extenso acervo, 500 itens serão disponibilizados em plataforma virtual para o acesso do público em geral. Ao final do projeto, a comunidade terá uma diversidade de ações interativas, com rodas de conversa e workshops sobre o envolvimento entre arte, saúde mental e Museologia Social, além de uma exposição presencial no Museu Vivo com parte do acervo.
Cuidado em saúde mental e cultura: as bases do processo terapêutico | O Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira é uma instituição filantrópica de saúde mental inaugurada como hospital psiquiátrico em 1924, no distrito de Sousas, em Campinas/SP. “Desde a Constituição Federal de 1988 e dos valores encampados pelo Movimento Antimanicomial, a instituição buscou reformular-se no cuidado digno e no respeito pela diversidade das pessoas com sofrimento mental”, explica Bianca Vitullo Bedin, coordenadora geral do projeto. “As inúmeras atividades no campo da saúde, da convivência da diversidade humana e da cultura desenvolvidas como processos terapêuticos e de inclusão social resultaram na produção continuada de um variado e rico acervo, que constitui um patrimônio de valor histórico e artístico representativo dos movimentos pelos direitos humanos e da luta antimanicomial”, destaca.
Desde 1991, quando a instituição passou por transformações fundamentadas nessas novas concepções de cuidado em saúde mental, fechando alas de internação e abrindo unidades de tratamento e convivência baseadas nos direitos humanos e na arte, suas ações iniciaram um caminho sem volta, que agrega amplo espectro de terapeutas, coletivos culturais, artistas, educadores e agenciadores da própria comunidade, entre outros colaboradores comprometidos com esses mesmos princípios.
A rede congrega artistas periféricos e acadêmicos, da cultura popular e das galerias de arte, passando por movimentos como a arte postal e o grafitti e manifestações como o carnaval e a capoeira. Essa comunidade produtora de uma cultura crítica, inclusiva e afetiva estende-se para além da cidade de Campinas, alcançando laços regionais e nacionais. “Ainda podemos ressaltar o valor artístico das obras produzidas por usuários do Serviço de Saúde, que hoje integram o acervo do Museu Vivo. Dezenas de artistas já participaram de exposições, salões e concursos de arte fora do contexto terapêutico, tendo recebido prêmios, além de reconhecimento e visibilidade nacional e internacional. A organização do acervo e sua disponibilização para pesquisas no campo da arte propiciará a ampliação da circulação dessas obras, bem como do reconhecimento de seu valor artístico e de seus autores”, pontua Gal Soares De Sordi, responsável pela gestão do projeto.
Nos últimos anos, a partir de uma série de conversações e cooperações estabelecidas com profissionais da Museologia Social, o Serviço de Saúde se reconheceu como um Museu Vivo e, em 2018, constituiu oficialmente um dispositivo institucional dedicado à preservação de seu patrimônio integral – material e imaterial, cultural e natural – nomeado como Ponto de Cultura pelo edital 49/2018. Sua sede, localizada em área de proteção ambiental do município, conta, ainda, com dois edifícios tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas – Condepacc.
Referência | Também nos campos da psiquiatria e da saúde mental, a instituição tem uma incidência relevante, tanto na assistência quanto na pesquisa e na formação de novos profissionais.
Quase uma centena de trabalhos acadêmicos já foi produzido nas universidades da região, como Unicamp, PUC-Campinas e Unesp, tendo a instituição e seus procedimentos como objeto de estudo. Além disso, o Serviço de Saúde também oferece formação por meio do Programa de Residência Médica em Psiquiatria, que funciona desde 2006. “Com a estruturação dos acervos a ser propiciada por este projeto, novas parcerias com as universidades poderão ser estabelecidas, permitindo explorar mais sistemática e profundamente os registros da instituição e fazendo avançar o conhecimento sobre a história da psiquiatria, da reforma psiquiátrica brasileira e do movimento da luta antimanicomial”, salienta Gal.
No campo da cidadania, o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira se destaca pela existência de 40 unidades de atendimento, cuidado e convivência, localizadas em todas as regiões do município de Campinas. Por elas, passam mensalmente 6.500 usuários, além de seus familiares e de uma comunidade constituída de clientes e compradores dos produtos artesanais produzidos nas oficinas de trabalho e renda, geridas de maneira cooperada pelos usuários. “A organização e disponibilização dos acervos artísticos e históricos da instituição tem, junto a esse público, o potencial de valorizar as pessoas em tratamento de saúde mental, reafirmando sua dignidade e seus direitos e promovendo uma sociedade mais consciente, inclusiva e disposta à convivência na diversidade, alimentando uma cultura de paz e respeito”, compartilha Bianca Bedin.
Museu Vivo em números | A memória institucional do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, que integra a história da saúde mental no país, pode ser recontada a partir dos acervos documentais e museológicos, que abrangem 4228 objetos de arte, 90 objetos de valor histórico e 17.993 documentos audiovisuais, entre fotografias e vídeos.
Por sua importância, os acervos que materializam o trabalho desta instituição quase centenária têm sido objeto de estudo de centenas de pesquisadores, sobretudo das áreas de saúde, direitos humanos, arte e história.
Com a realização do projeto de estruturação, todo esse rico patrimônio museológico será preservado e valorizado para que o museu permaneça dinâmico, pulsante. Vivo.
Na quinta-feira, 25 de março, às 15h, nas redes sociais da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) da Prefeitura de São Paulo e do Instituto Vladimir Herzog (IVH), será lançado o livro paradidático Vala de Perus: um crime não encerrado da ditadura militar. Resultado da parceria entre a SMDHC e o IVH, o evento contará com a participação de Claudia Carletto, secretária da pasta; de Rogério Sottili, diretor executivo do IVH; da vereadora Juliana Cardoso, responsável pela emenda parlamentar que viabilizou o projeto e de Camilo Vannuchi e Lucas Paolo Vilalta, organizadores da publicação, que apresentarão a história da Vala de Perus e uma breve aula sobre Educação em Direitos Humanos sob a perspectiva da promoção da Memória, Verdade e Justiça. A live poderá ser acompanhada neste link.
O livro paradidático Vala de Perus: um crime não encerrado da ditadura militar resgata, registra e difunde os bastidores de um episódio emblemático das violações de direitos humanos praticadas durante a ditadura civil-militar no Brasil: a criação, entre 1975 e 1976, e a deflagração, em 1990, de uma vala comum, construída ilegalmente pela Prefeitura de São Paulo no Cemitério Municipal Dom Bosco, no distrito de Perus, na qual foram encontradas ossadas sem identificação de mais de mil pessoas, em parte constituídas por vítimas dos esquadrões da morte e por ativistas políticos executados pelo sistema de repressão da ditadura militar (1964-1985).
Trata-se da edição paradidática do projeto Vala de Perus: uma biografia, lançado em setembro de 2020 para marcar a efeméride de 30 anos da abertura da vala clandestina. A obra inclui, além da íntegra dos capítulos já publicados no portal Memórias da Ditadura e no livro Vala de Perus: uma biografia (Alameda, 2020), oito capítulos adicionais que aprofundam o conhecimento sobre a vala de Perus, sua descoberta, sua construção e, também, sobre o impacto dessa revelação no território, a retomada dos trabalhos de identificação de ossadas nos anos 2010, a urgência de políticas de memória, verdade e justiça nos âmbitos federal, estadual e municipal e um panorama de como se dá o desaparecimento na atualidade.
Os textos são de autoria de Camilo Vannuchi, Carla Borges, Clara Castellano, Fábio Franco, Jéssica Moreira, Lucas Paolo Vilalta e Rogério Sottili. Esta edição traz, além de uma entrevista inédita com Caco Barcellos e um perfil de Toninho Eustáquio, também a íntegra do relatório final da CPI Perus, de 1991, e parte do relatório final da Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo, de 2016.
“A publicação desse livro cumpre um papel importantíssimo de resgate dessa parte obscura da história do país, uma história que foi sistematicamente silenciada e que ainda hoje é lamentavelmente renegada por uma parcela da nossa sociedade. Lembrar dessa triste história nos dá a chance de aprender com os erros e não permitir que eles sejam repetidos. É um ato de respeito à memória e à dor das famílias que tiveram suas histórias apagadas pela ditadura”, afirma a secretária municipal de Direitos Humanos e Cidadania Claudia Carletto.
“Este livro que agora chega a toda a rede de ensino da cidade de São Paulo é fundamental para enfrentarmos o negacionismo dos fatos do passado e do presente que têm assolado nossa democracia e nossas vidas. Iremos levá-lo para todo o Brasil e divulgá-lo amplamente para que esse crime horrendo da ditadura esteja na memória das futuras gerações e para que com elas possamos lutar para que as violências que o livro narra não sigam se repetindo”, complementa Lucas Paolo Vilalta, organizador do livro e coordenador da área de Memória, Verdade e Justiça do IVH.
A partir da divulgação da obra, da distribuição de exemplares às bibliotecas e escolas da rede municipal de São Paulo e de sua disponibilização em formato e-book gratuito nas redes sociais, o projeto tem como objetivo mobilizar a sociedade para que essa grave violação de Direitos Humanos não seja esquecida e comunicar para público amplo e variado os fatos autoritários que marcaram a história da cidade de São Paulo durante a ditadura militar – e seus impactos até o presente. A obra poderá ser utilizada como material didático para aulas, rodas de conversa, círculos de leituras e outras atividades de formação.
Para o download gratuito do e-book, acesse o link.
Vala de Perus: um crime não encerrado da ditadura militar é uma realização do Instituto Vladimir Herzog com co-realização da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo. Foi viabilizado por meio de uma emenda parlamentar do mandato da vereadora Juliana Cardoso.