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Mães da Sé lança app com inteligência artificial para ajudar a encontrar pessoas desaparecidas

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: divulgação/Facebook da instituição.

A organização sem fins lucrativos Mães da Sé lançou um aplicativo para auxiliar na busca por pessoas desaparecidas no Brasil, desenvolvido em parceria com as empresas de tecnologia Microsoft e Mult-Connect. Utilizando reconhecimento facial, um dos recursos de inteligência artificial, o Family Faces surge como um aliado ao trabalho de Ivanise Esperidião, fundadora da ONG e figura reconhecida da causa, na qual atua há mais de 20 anos. O app está disponível para download gratuito e pode ser usado por qualquer pessoa que acredite estar diante de alguém vulnerável e que pode estar sendo procurado pela família. O projeto é fruto de doação do programa Microsoft AI for Humanitarian Action, que visa a promover o uso de inteligência artifical em prol de ações humanitárias em todo o mundo.

Ao baixar o aplicativo, que está disponível nas plataformas Android e iOS, o usuário terá acesso à política de uso, que informa a finalidade da aplicação e como a pessoa deve utilizá-lo. O objetivo é apenas utilizá-lo em caso de suspeita de estar diante de uma pessoa desaparecida e com o consentimento dela para fazer a consulta. O app pode ser usado de duas formas: informando características físicas da pessoa (cor de pele, olhos, cabelo, altura) em um campo dedicado a isso ou tirando uma foto, que será comparada ao banco de imagens da Mães da Sé cadastrado em uma plataforma armazenada em nuvem Microsoft Azure. Por meio de um algoritmo de reconhecimento facial, o app apresentará imagens de pessoas desaparecidas com fisionomias semelhantes à da pessoa fotografada, para que o usuário verifique se a pessoa que ele encontrou pode ser uma delas. A imagem enviada pelo usuário do app não é armazenada, sendo apenas processada para comparação com as demais fotos e depois descartada.

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2018 foram registrados 82.094 casos de pessoas desaparecidas no Brasil. Considerando os números por Estado: São Paulo (24.366), Rio Grande do Sul (9.090), Minas Gerais (8.594), Paraná (6.952) e Rio de Janeiro (4.619). Em termos relativos, considerando a taxa de desaparecimento por 100 mil habitantes, os maiores índices são do Distrito Federal (84,5), Rio Grande do Sul (80,2), Rondônia (75,2), Roraima (70,4) e Paraná (61,3). Ainda segundo o levantamento, de 2007 a 2018, as estatísticas somam 858.871 casos. Considerando esse período, a média é de 71,5 mil registros de pessoas desaparecidas por ano.

Para Ivanise, a luta começou no dia 23 de dezembro de 1995, com o desaparecimento de sua filha. A mãe encontrou em sua dor uma força inexplicável para batalhar não só por ela, como por todas as mães e famílias que têm seus entes queridos em situação de desaparecimento. Em 1996, surgiu, então, a Mães da Sé. Segundo ela, o nome não foi escolhido devido ao fato de todas as mães se reunirem na Praça da Sé em São Paulo; na intenção de exibir cartazes e buscar seus filhos, as pessoas passaram a divulgá-las dessa forma. Em todos esses anos de trabalho, a ONG cadastrou mais de 10 mil pessoas em situação de desaparecimento e ajudou a encontrar 5.016 delas. “O trabalho com a Mães da Sé é o que me motiva a seguir todos os dias e meu objetivo é ampliar nossa atuação e contar com a ajuda de cada vez mais pessoas. O aplicativo vai nos ajudar a ampliar nossa luta e ser mais um elemento para nos apoiar no processo de busca por pessoas desaparecidas”, diz.

Desde o começo do trabalho da Mães da Sé, as fotos foram elementos cruciais para as buscas. As imagens eram divulgadas por meio de parcerias com empresas privadas, que as estampavam em produtos como caixas de leite, ou acordos com organizações de trânsito, que publicavam as denúncias em tickets de pedágios. No caso do app, as fotos continuam sendo protagonistas das buscas e, agora, com o uso da tecnologia, podem ser vistas por mais pessoas. “Poder apoiar um trabalho tão importante quanto o da Mães da Sé é gratificante e motivo de orgulho para nós. Acreditamos que a tecnologia pode e deve ser usada para nos ajudar nos desafios enfrentados pela sociedade e esse é um exemplo de como podemos explorar esse potencial. A iniciativa faz parte do AI for Good, que no decorrer de cinco anos investirá US$ 115 milhões em projetos voltados ao meio ambiente, ações humanitárias, patrimônio cultural, acessibilidade e saúde”, ressalta Tânia Cosentino, presidente da Microsoft no Brasil. “A Mult-Connect tem uma longa trajetória de parceria com a Mães da Sé e foi um prazer imenso poder desenvolver o aplicativo Family Faces para colaborar com o trabalho da Associação. Esperamos que ele possa ser um facilitador na busca das pessoas desaparecidas, além de incentivar mais pessoas a colaborarem com a causa e com o trabalho exemplar da Ivanise”, destaca Luiz Vianna, CEO da Mult-Connect.

Enviando um alerta à Mães da Sé

Quando o usuário acreditar que a pessoa que ele submeteu à busca no aplicativo possa ser uma das pessoas desaparecidas, ele criará um alerta que será enviado à organização. No momento do envio do alerta, será solicitada uma forma de contato para que a organização possa se comunicar com ele.

Ao receber o alerta, que é enviado junto com a geolocalização de onde o usuário o disparou, Ivanise faz um processo de checagem e, se houver probabilidade de a denúncia ser correta, entra em contato com a família para compartilhar os detalhes, caso a pessoa esteja em São Paulo. Para desaparecidos de outros estados, a fundadora da ONG aciona a Polícia Civil do local para proceder à investigação. Em casos de crianças e adolescentes, o procedimento é conduzido pelo Conselho Tutelar da região da denúncia, mesmo em São Paulo.

Privacidade e proteção moldaram desenvolvimento do app

A ferramenta foi criada pela Mult-Connect, que realiza seu trabalho voluntário com a Mães da Sé desde 1996 e há 20 anos é parceira da Microsoft. Por ser construído na plataforma de nuvem Microsoft Azure, o aplicativo segue as diretrizes de privacidade e proteção de dados da companhia, alinhado inclusive aos requisitos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil. Além disso, ele foi submetido ao comitê de IA e Ética em Engenharia e Pesquisa (Aether) da Microsoft, que tem como objetivo identificar, estudar e recomendar políticas, procedimentos e práticas recomendadas no desenvolvimento de inteligência artificial.

No processo de reconhecimento facial, nenhum dado é armazenado. As únicas informações efetivamente armazenadas são aquelas relacionadas ao alerta que o próprio usuário decidiu enviar. O banco de dados da Mães da Sé foi digitalizado para a plataforma em nuvem Microsoft Azure, garantindo backup e segurança das informações, e continuará a ser alimentado a partir de novas denúncias.

Encontre o app na Play Store para dispositivos Android e na Apple Store para sistema iOS.

Sobre a Mães da Sé

Fundada em 31 de março de 1996, a Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas (ABCD) nasceu da iniciativa de duas mães de crianças desaparecidas, Ivanise Esperidião da Silva e Vera Lúcia Gonçalves. A ABCD, que surgiu para atender a uma demanda restrita a crianças desaparecidas em São Paulo, ampliou seu foco de atuação ao longo de sua existência. Atualmente, atende à demanda de familiares e amigos de pessoas desaparecidas em todo o país, independentemente da faixa etária.

Em 24 anos de existência, a ABCD já cadastrou mais de 10 mil casos de pessoas desaparecidas em todo o Brasil. Desse montante, 5.016 casos foram solucionados.

Livros: lançamentos ensinam escovar os dentes, memorização e autoestima de forma divertida

Brasil, por Kleber Patricio

Fotos: divulgação.

Ensinar o filho a escovar os dentes ou desenvolver memória e autoestima pode ser um desafio. Baseada no pilar de apoio ao desenvolvimento infantil, a Dentro da História, plataforma que atua com personalização de livros infantis, lança dois livros de autoria própria que abordam as situações de forma lúdica e divertida, colaborando para que o aprendizado seja natural. Confira os títulos:

Jaquelino, O Jacaré Amigo

O autor Ronnie Corazza, parceiro da Dentro da História, estimula, de forma prazerosa, o olhar da criança para a hora de escovar os dentes na história do Jaquelino, o Jacaré Amigo. A narrativa incentiva os cuidados de maneira didática, estimulando o autocuidado e conquista da independência das crianças nas atividades rotineiras.

Jaquelino é um jacaré simpático que mora em seu lago no zoológico da cidade. De lá, ele consegue ver as janelas dos apartamentos de muitas crianças, que sempre vão visitá-lo e vice-versa. Todos os dias, elas observam como o jacaré escova bem os dentes e, por isso, seguem seu exemplo passo a passo. A motivação é mais latente quando, em uma visita, Jaquelino come doces e fica com muita dor no dente e, com isso, aprende que sempre deve cuidar melhor deles, escovando sempre depois das refeições.

Todo Mundo Pode Voar

A narrativa da escritora Maria Amália Camargo vem para despertar a criança ao desejo de saber mais. Em Todo Mundo pode Voar, depois de perceber o desejo do pinguim de geladeira, do relógio e de outros itens da cozinha de conseguirem voar, o protagonista da história – que é o avatar da criança –, embarca em uma grande aventura pelo mundo para encontrar exemplo de animais com asas que também não sabem voar.

A narrativa trabalha com o desenvolvimento de crianças de 0 a 2 anos, e de 3 a 5. O leitor é incentivado no avanço da linguagem, memorização e capacidade de contar histórias, uma vez que existem estímulos de repetição do texto, que é um conto acumulativo, gerando comunicação oral e escrita. Na história, o protagonista apresenta aos amigos vários animais que têm asas, mas não voam, localizados em muitos locais diferentes do planeta. Os últimos são os pinguins, que não reclamam por essa situação, e gostam de si como são. Isso gera a mesma visão para os amigos. Essa narrativa promove a valorização das diferenças, reflexão sobre as habilidades e talentos de cada um, e desenvolve autoestima na criança.

Uma história exclusiva para o pequeno

Assim como os outros títulos da Dentro da História, as crianças podem vivenciar uma verdadeira imersão na história ao lado de seus personagens favoritos. Para isso, as famílias deverão criar um avatar personalizado de acordo com suas características físicas, como altura, tom de pele, cabelo, olhos, roupinhas e sapatos. Basta acessar a plataforma (www.dentrodahistoria.com.br), selecionar o título e iniciar a personalização. A novidade está disponível no site por R$69,90 + frete.

Sobre a Dentro da História

Dentro da História é uma edtech brasileira que atua com personalização de livros infantis. Por meio de uma plataforma online que permite a criação de um avatar com características físicas das crianças, como tom de pele, cor de cabelo e olhos, estilo de roupa, óculos e calçado, possibilita que os pequenos participem de histórias ao lado de seus personagens preferidos.

Com apenas três anos no mercado, a startup já vendeu mais de 400 mil livros personalizados, entre sucessos como Turma da Mônica, Batman, O Pequeno Príncipe, Galinha Pintadinha, Princesas Disney e muitos outros. O catálogo de livros da Dentro da História auxilia no desenvolvimento das crianças e potencializa em até três vezes a retenção do conteúdo e o aprendizado.

Galeria Kogan Amaro apresenta mostra inédita de Daniel Lannes

São Paulo, por Kleber Patricio

‘Sugar Zeus’, 2020, Daniel Lannes. Fotos: divulgação.

A ideia de escapar da realidade, dilatar o prazer e criar livremente, sem regras impostas pela sociedade, movem as novas criações do artista Daniel Lannes. O resultado disto será apresentado na exposição inédita Pernoite, em cartaz a partir de 31 de outubro na Galeria Kogan Amaro.

O período de isolamento social imposto pela pandemia desencadeou no artista a necessidade de trabalhar com novos suportes e materiais. Lannes, que sempre se inspirou em fotografias para criar suas obras, usou carvão sobre papel para dar vida ao conjunto de 11 pinturas e cerca de 20 desenhos que compõem a exposição. “Na pandemia, permaneci dois meses e meio no ateliê sem pintar. Foi uma espécie de bloqueio e ensaio mental para tomar coragem em testar algo novo. Então decidi retomar ao desenho e comecei a trabalhar com o que estava na minha cabeça, tudo o que levaria para o pernoite, sem o limite da edição e o escudo da fotografia”, pontua o artista. O uso de carvão sobre papel foi fundamental para Daniel expressar suas memórias íntimas de infância, seus desejos, pesadelos e fantasmas, uma vez que lhe trouxe a possibilidade de traçar ideias de maneira ágil antes de transpor para uma tela.

O público pode visitar a exposição com horário agendado pelo telefone (11) 3045-0755/0944 ou e-mail atendimento@galeriakoganamaro.com. Seguindo o protocolo de segurança ambiental e sanitária da pandemia do Covid-19, a Galeria funciona em horário especial, das 11h às 15h, com número limitado de visitantes e uso obrigatório de máscara, além da disponibilização de álcool em gel e orientação de distanciamento mínimo de 1,5 metro entre clientes e colaboradores.

Sobre o artista

‘Calcutá’, 2020, Daniel Lannes.

Daniel Lannes é mestre em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012) e Bacharel em Comunicação Social pela PUC-Rio (2006). Dentre suas exposições individuais destaca-se A Luz do Fogo (2017), na Magic Beans Gallery, em Berlim, Alemanha. Entre as coletivas, estão Höhenrausch, Eigen + Art gallery, Berlin, Alemanha e Ao Amor do Público I – Doações da ArtRio (2012-2015), ambas em 2016, e Renaissance, na Maison Folie Wazemmes, na França, em 2015. Lannes foi um dos vencedores da 6ª edição do Prêmio Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas (2017-2018) e foi selecionado em 2015 para representar a cidade do Rio de Janeiro no Festival de Arte Lille3000, em Lille, França. O artista também foi indicado à 10ª edição do Programa de prêmios e Comissões da Cisneros-Fontanals Art Foundation (CIFO) 2013 e contemplado com o prêmio Funarte Arte Contemporânea (2012).

Sobre a Galeria Kogan Amaro

Localizada nas cidades mais populosas do Brasil e da Suíça, as unidades da galeria Kogan Amaro no bairro dos Jardins, em São Paulo e no centro cultural Löwenbräu-Kunst, de Zurique, têm como norte a diversidade de curadoria e público: com portfólio composto por artistas de carreira sólida, consagrados internacionalmente e também emergentes que já se posicionam no mercado de arte como promessas do amanhã. Sob gestão da pianista clássica Ksenia Kogan Amaro e do empresário, mecenas e artista visual Marcos Amaro, a galeria joga luz à arte contemporânea com esmero ímpar e integra as principais feiras de arte do mundo.

Serviço:

Pernoites por Daniel Lanne

Local: Galeria Kogan Amaro

Abertura: 31 de outubro, sábado, das 11h às 15h

Período expositivo: 31 de outubro até 29 de novembro

Endereço: Alameda Franca, 1054, Jardim Paulista, São Paulo/SP

Horário: das 11h às 15h, com agendamento prévio

Informações: (11) 3045-0755/0944

Instagram.com/GaleriaKoganAmaro

Facebook.com/galeriakoganamaro/

http://www.galeriakoganamaro.com.

Apesar de declarações do YouTube sobre combate à desinformação, vídeos anti-vacinas continuam circulando

Brasil, por Kleber Patricio

Foto: Kon Karampelas/Unsplash.

Apesar das declarações de comprometimento do YouTube em relação ao combate a desinformações perigosas, desinformações sobre vacinas continuam sendo disseminadas em vídeos em português, gerando lucro para produtores de conteúdo e para a própria plataforma. Oito dos vinte canais que disseminam essas informações falsas têm o selo de conta verificada pelo Youtube e pertencem a companhias ou a promotores de serviços de saúde alternativa. É o que aponta um estudo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, que será publicado nesta segunda (26) na revista Frontiers in Communication.

Usando ferramentas de coletas de dados no Youtube, os pesquisadores localizaram 158 vídeos sobre vacinas com mais de 10.000 visualizações, interações e conexão com algum outro vídeo da rede. As coletas deste material foram realizadas em fevereiro e em março de 2020, ou seja, num período anterior às discussões em torno da vacina de Covid-19.

Um total de 52 vídeos foi classificado como contendo informações erradas ou desinformação sobre vacinas. “As principais desinformações encontradas coincidem com as mais populares entre as comunidades de oposição a vacinas”, comenta Dayane Machado, uma das autoras do estudo. Afirmações de que as vacinas contêm ingredientes perigosos (presente em mais 53% da amostra), de defesa da liberdade de escolha (em 48%), de promoção de serviços de saúde alternativa (em 42%) e de que as vacinas causam doenças foram algumas das desinformações presentes nos vídeos.

Os pesquisadores também localizaram anúncios de 39 marcas em 13 vídeos analisados. “Entre elas, estão marcas globais como Mobil, Kia, Fiat, Philips, Spotify, Eucerin (Beiersdorf) e Buscopan (Boehringes Ingelheim) e até anúncios dos governos da Índia e do Japão”, aponta Dayane. Os vídeos analisados têm estratégias de lucro variadas, segundo comenta a pesquisadora, indo além da estratégia de monetização de conteúdo proposta pelo Youtube.

Boa parte das políticas de moderação da plataforma Youtube são direcionadas a conteúdos de língua inglesa – resultado da repercussão de estudos científicos sobre o tema e da pressão social direcionada às empresas anunciantes. “O estudo alerta para o fato de existir uma falta de atenção sobre a moderação de conteúdo e o cumprimento de políticas de uso das plataformas em relação a outros idiomas que não sejam o inglês”, aponta Dayane. Para ela, o estudo pode contribuir para alterar políticas de uso das plataformas digitais e para mudanças na expansão da infraestrutura de moderação de conteúdos em outros países.

A pesquisadora também espera que o estudo fortaleça a discussão sobre o mercado de terapias alternativas de saúde no Brasil. “A associação entre a desinformação sobre vacinas e a promoção de produtos e terapias de saúde alternativa não é uma novidade para esse campo de estudo”, acrescenta.

(Fonte: Agência Bori)

Savanização das florestas tropicais impactará mais de 200 espécies de animais

Brasil, por Kleber Patricio

Foto: Nathalia Segato/Unsplash.

As florestas tropicais da América do Sul estão se transformando em cerrado (savana brasileira), o que impactará na sobrevivência de mamíferos “especialistas” em ambientes florestais. É o que observam pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade de Miami em estudo da revista Global Change Biology. O trabalho mostra que uma parte da fauna do cerrado, que geralmente tolera ambientes mais abertos e secos, poderá invadir regiões de floresta degradada e “savanizada” em decorrência das mudanças climáticas e de ações humanas, como desmatamento e queimadas.

Ao analisar 349 espécies de mamíferos com base em modelos computacionais que possibilitam previsões sobre como a distribuição das espécies pode mudar ao longo do tempo, os autores projetam que, até o final do século 21, as espécies relacionadas à savana aumentarão em 11% a 30% e se espalharão pelas florestas amazônicas e atlânticas. Paralelamente, as espécies que dependem de ambientes florestais para se movimentar, alimentar e reproduzir – caso de primatas e algumas espécies de cervos e roedores –, ficarão confinadas em regiões menores com remanescentes de floresta, processo que aumentará a competição por alimento. “Os animais vindos do cerrado vão competir com a fauna da floresta pelos já escassos recursos que vemos lá. Com isso, eles podem trazer consigo as sementes das plantas do cerrado, que eles consomem preferencialmente. Os mais afetados serão os primatas neotropicais, algumas espécies de cervos, a paca e várias espécies de roedores”, afirma o biólogo e um dos autores do estudo, Mathias Mistretta Pires, do Laboratório de Estrutura e Dinâmica da Diversidade do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Unicamp.

De acordo com o especialista, embora, segundo as análises do estudo, determinadas espécies do cerrado – como o lobo-guará e o tamanduá-bandeira – possam aumentar sua distribuição territorial em decorrência do fato de que as condições ambientais serão mais adequadas a essas espécies do que às espécies florestais, isso não significa que os mamíferos do cerrado estejam livres de ameaça. “O cerrado também é um bioma muito impactado por ações humanas”, alerta.

Como proteger o equilíbrio da fauna

Mais importante do que pensar em reverter o processo de savanização, é preciso atuar sobre suas causas principais com ações individuais e políticas de mitigação das mudanças climáticas, como o uso de técnicas agrícolas que não incluam o fogo e o combate ao desmatamento. A observação é da bióloga e autora principal do estudo, Lilian Patrícia Sales, que também atua no Instituto de Biologia da Unicamp.

O cerrado tem sido convertido em plantações e pastagens que são inadequadas como habitat para a maior parte da fauna. Enquanto isso, os ecossistemas florestais estão sendo degradados e se transformando em ambientes mais secos devido às mudanças no clima, que não são nem floresta, nem savanas de fato. Essas florestas degradadas se tornam inabitáveis para as espécies florestais, mas podem se tornar refúgios para as espécies de savana. Com isso, reforçam os autores, até o fim do século pode haver modificações em grande escala na distribuição territorial da biodiversidade do continente sul-americano.

No estudo, também foi avaliado o efeito do desmatamento sobre a capacidade das espécies de se locomover de uma região a outra. “Para espécies florestais, uma plantação de cana ou soja, por exemplo, pode ser uma barreira intransponível. Isso impede que essa espécie colonize ambientes que seriam adequados a ela. Portanto, as atividades humanas não só transformam o ambiente, como limitam a capacidade de deslocamento dos animais”, observa Lílian Sales.

Outro ponto importante para mitigar os efeitos da savanização, ressalta a bióloga, é a manutenção de corredores florestais que permitam a dispersão de espécies de floresta entre as manchas remanescentes. Sem isso, conclui, muitos locais que poderiam ser utilizados como habitat se tornam inacessíveis para essas espécies, o que limita sua distribuição aos refúgios, áreas que mantêm características climáticas e de vegetação.

(Fonte: Agência Bori)