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Obras de autoras em língua inglesa ganham novo impulso no Brasil

Ribeirão Preto, por Kleber Patricio

Edição de Freshwater chega ao Brasil em um formato pocket de luxo. Fotos: Divulgação.

A literatura produzida por mulheres em língua inglesa encontra um novo espaço no Brasil com o lançamento do selo Inglesa, uma iniciativa da Degustadora Editora. Criado para trazer ao público brasileiro obras pouco conhecidas ou inéditas no país, o selo tem curadoria da escritora, tradutora e ensaísta mineira radicada na Inglaterra Nara Vidal, que, além da seleção, também é responsável pela tradução de alguns dos títulos.

A primeira obra publicada pelo selo é ‘Freshwater’, a única peça teatral escrita por Virginia Woolf. O texto, um exercício modernista e irônico, ambientado na baía de Freshwater, onde ficava a casa de sua tia-avó, Julia Margaret Cameron, traz uma crítica a elite intelectual britânica da época. A obra lançada pela Inglesa apresenta duas versões da peça, datadas de 1923 e 1935, permitindo ao leitor acompanhar a evolução da escrita de Woolf.

“Traduzir esse texto foi uma experiência fascinante. Freshwater é repleto de humor e sagacidade, com muitas piadas internas e referências que mostram uma Virginia Woolf surpreendentemente leve e divertida”, destaca Nara, vencedora do prêmio de melhor romance literário pela APCA, em 2024, com o livro Puro.

A edição de Freshwater chega ao mercado em um formato pocket de luxo em 124 páginas, com capa dura e guarda personalizada, além de tradução, notas e prefácio assinados por Nara Vidal. A identidade visual do livro também é assinada pela curadora, enquanto o trabalho gráfico é de Alexandre Guidorizzi. A capa utiliza um detalhe da pintura The Red Book, do artista irlandês John Lavery.

A criação do selo Inglesa reflete o desejo da Degustadora Editora de expandir o acesso à literatura de autoras que, apesar de sua relevância, ainda não possuem circulação ampla no Brasil. Sob a direção de Melissa Velludo, a editora também busca promover o trabalho de tradutores e escritores brasileiros por meio da produção de textos de apoio, aumentando as oportunidades na área editorial.

Próximos lançamentos

Nara Vidal, curadora do selo Inglesa.

Após a publicação de Freshwater, o selo Inglesa tem intenção de publicar outras importantes obras. Entre os próximos lançamentos estão um livro de contos pouco conhecidos da escritora norte-americana Edith Wharton e uma edição especial dos Cadernos Completos de Katherine Mansfield, que reúne diários, anotações e reflexões da escritora. A proposta é apresentar o material sem os cortes que foram impostos na publicação original por seu marido, John Murray, resgatando o verdadeiro conteúdo da autora.

O selo também trará uma importante obra da feminista inglesa Mary Wollstonecraft, além de uma obra de Bryher, nome artístico da novelista e ensaísta britânica Annie Winifred Ellerman, conhecida por seu relacionamento com a poeta Hilda Doolittle.

“Minha experiência como livreira me permite enxergar o mercado tanto do ponto de vista das editoras quanto das livrarias. Queremos que os livros da Inglesa estejam disponíveis em todo o Brasil, com edições que valorizem o trabalho das autoras e das tradutoras”, afirma a editora Melissa Velludo, que em 2024 foi eleita a melhor livreira do Brasil pelo prêmio Publishnews/Catavento.

O livro Freshwater está à venda pelo site da Degustadora Editora, no link https://www.degustadoraeditora.com.br/freshwater/p.

(Com Angelo Davanço/Press Manager Mail)

Exposição ‘Amazônia, terra em transe’ – a fotografia de Victor Moriyama como denúncia e arte engajada na Pinacoteca Benedicto Calixto

Santos, por Kleber Patricio

Fotos: Victor Moriyama.

A Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto apresenta a exposição ‘Amazônia, terra em transe’, fotografias de Victor Moriyama, que abre a agenda expositiva Arte na Pinacoteca  3ª edição – 2025. A mostra acontece em um ano simbólico para o debate ambiental, no qual o Brasil sedia a COP 30 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém do Pará.

Com curadoria de Antonio Carlos Cavalcanti Filho e Carlos Zibel, a exposição reúne um poderoso conjunto de imagens que revelam, com profundidade e sensibilidade, a devastação da Amazônia e os impactos socioculturais dessa destruição. Mais do que um registro documental, as fotografias de Moriyama funcionam como um manifesto visual, explorando a relação entre progresso e degradação e dando visibilidade à luta das populações indígenas e ribeirinhas pela preservação de suas terras e culturas.

“A fotografia tem o poder de criar uma conexão emocional com o espectador. Meu objetivo é que as pessoas sintam o peso da destruição da Amazônia, mas também reconheçam a força e a resistência dos povos que vivem nela”, afirma Victor Moriyama.

Desde a chegada dos colonizadores, a Amazônia tem sido retratada como um paraíso de recursos inesgotáveis. A exposição desconstrói essa visão romântica da floresta, apresentando imagens que evidenciam as consequências do desmatamento, das queimadas e da exploração ilegal de terras. Moriyama denuncia não apenas a destruição ambiental, mas também os impactos sociais dessa crise, incluindo o deslocamento forçado de comunidades e a perda de modos de vida tradicionais.

A mostra convida o público a um olhar crítico sobre as relações de poder e os discursos históricos que sustentam a exploração da Amazônia. Inspirada no conceito de arte engajada, a exposição questiona a herança colonialista e eurocêntrica na representação da floresta e propõe um espaço de reflexão sobre a importância do protagonismo dos povos indígenas na luta pela preservação ambiental.

“Não se trata apenas de registrar imagens. É sobre dar visibilidade a histórias que muitas vezes são ignoradas, sobre criar pontes entre realidades distantes e provocar mudanças”, diz Moriyama.

Exploração imersiva: Os ambientes da exposição

A exposição se desdobra em uma jornada sensorial e reflexiva, conduzindo os visitantes por diferentes facetas da Amazônia – da sua riqueza natural e espiritual até os impactos da degradação ambiental. Cada sala é um convite à imersão nesse universo complexo, onde beleza e destruição coexistem.

No primeiro ambiente, um mosaico vibrante dá as boas-vindas refletindo a simultaneidade da vida na floresta. Aqui, a grandiosidade da biodiversidade se entrelaça com a espiritualidade dos povos tradicionais, enquanto camadas narrativas revelam tanto a exuberância da natureza quanto os primeiros sinais de sua fragilidade diante das ações humanas. Essa composição plural traduz a Amazônia em sua complexidade, mostrando que tudo acontece ao mesmo tempo: a preservação, a ameaça e a resistência.

No segundo, aprofunda o olhar sobre a degradação ambiental. A floresta começa a perder seu equilíbrio natural, e os impactos da intervenção humana se tornam mais evidentes. O espaço convida à reflexão sobre os danos causados pela exploração desenfreada, apresentando imagens e elementos que evidenciam os desafios enfrentados pelo bioma amazônico.

Já no terceiro é um tributo à natureza e aos povos tradicionais. Aqui, a experiência se transforma em uma homenagem à biodiversidade e ao sagrado da floresta tropical. O ambiente celebra a riqueza do bioma, destacando a conexão ancestral entre as comunidades indígenas e a terra, além da profundidade espiritual presente no ecossistema. É uma imersão na essência da Amazônia, onde os visitantes podem sentir sua grandiosidade e importância.

Por fim, o último ambiente traz uma atmosfera mais densa e impactante. O espaço escuro e carregado de imagens dramáticas transporta o público para a realidade da devastação. Queimadas, desmatamento e destruição tomam conta da narrativa visual, acompanhadas por um vídeo que aprofunda a reflexão sobre as consequências da ação humana. Esse encerramento reforça a urgência da preservação e a necessidade de um compromisso coletivo com o futuro da floresta.

Ao percorrer estes ambientes, a exposição propõe um mergulho na Amazônia em todas as suas camadas – sua exuberância, sua cultura, sua vulnerabilidade e sua luta pela sobrevivência. É uma experiência que desperta sentidos e consciência, ampliando o entendimento sobre um dos patrimônios naturais mais importantes do planeta.

“O que está acontecendo na Amazônia afeta o mundo inteiro. É uma questão global, e minha missão é amplificar essas vozes e essas paisagens que estão desaparecendo diante dos nossos olhos”, destaca o fotógrafo.

A exposição Amazônia, terra em transe faz parte da 3ª edição do projeto Arte na Pinacoteca, uma realização do Ministério da Cultura, patrocinado pela Ecovias, Rumo, Instituto Rumo, Brasil Terminal Portuário (BTP), MSC, MedLog e G. Pierotti, por meio da lei de incentivo à cultura, promovido pela Fundação Benedicto Calixto, promovido pela Fundação Benedicto Calixto. A direção executiva do projeto é de Leila Gazzaneo e a produção executiva é de Fábio Luiz Salgado.

Sobre o artista:

Victor Moriyama, paulistano, é formado em Comunicação Social com ênfase em Rádio e TV e iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo. Especializou-se em fotojornalismo investigativo, documentando questões socioambientais na América Latina, especialmente na Amazônia.

Atualmente, trabalha regularmente para o The New York Times e colabora com veículos como National Geographic, Le Monde, Libération e El País. Em 2022, foi reconhecido com o George Polk Award e foi finalista do Prêmio Pulitzer, ambos pelo trabalho desenvolvido com a equipe do New York Times.

Suas exposições internacionais incluem Perpignan, França (2020), Culturescapes – Solo Exhibition, Suíça (2021), Open Society Foundation, Colômbia (2022) e Barcelona, Espanha (2024), entre outras.

Serviço:

Amazônia, terra em transe

Pinacoteca Benedicto Calixto

Avenida  Bartholomeu de Gusmão 15  – Santos – SP

Período: 14 de março a 20 de abril de 2025

Funciona de terça a domingo, das 9h às 18h com entrada gratuita.

Saiba mais:  https://pinacotecadesantos.org.br/

Acompanhe a programação no Instagram: @pinacotecabenedictocalixto

Mais informações pelo WhatsApp da Pinacoteca: (13) 99734-6364

A mostra acontece em um ano simbólico para o debate ambiental, no qual o Brasil sedia a COP 30 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém do Pará.

(Com Vanessa Gianellini)

Liniker apresenta turnê de CAJU em Campinas, na Multi Arena

Campinas, por Kleber Patricio

Fotos: Larissa Kreili.

Liniker lançou CAJU como uma ‘fotografia’ do seu novo momento de carreira. Esse registro extrapolou qualquer limitação temporal e se eternizou com a repercussão do disco, que já passou a marca de 240 milhões de plays nas plataformas de áudio. O tamanho da demanda segue crescendo com o anúncio de uma turnê por diversas cidades do Brasil. Agora, a artista chega a Campinas no dia 10 de maio para a primeira apresentação de seu novo repertório na Multi Arena. Este show da CAJU Tour é realizado pela Breu Entertainment e Multi. A venda de ingressos terá início nesta terça-feira, 18 de março, às 12h, no site da Meaple (acesse aqui).

Com direção musical de Fejuca e direção artística de Liniker, Celso Bernini/Stage e Renan de Andrade, a turnê de CAJU é dividida em quatro atos, são eles: O Sol Interno, com canções como ‘Tudo’ e ‘Veludo Marrom’; O Alter Ego com ‘Mayonga’, ‘Papo De Edredom’ e mais; O Retrogosto, em que Liniker revisita sucessos dos álbuns Indigo Borboleta Anil (2021), Goela Abaixo (2019) e Remonta (2016) e finaliza em tom de ‘Celebração’, listando músicas como ‘Popstar’ e ‘Febre’.

A tour já passou por São Paulo nos dias 8, 13 e 19 de novembro de 2024. A terceira data, inclusive, contou com transmissão ao vivo pelo Multishow e Globoplay. Na sequência, Liniker apresentou CAJU no Rio de Janeiro, Curitiba, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte. Neste ano, a artista ainda passará por Aracaju, no dia 21 de março; João Pessoa, no dia 22 de março; Salvador, nos dias 29, 30 e 31 de março; Brasília, nos dias 5 e 6 de abril; Manaus, no dia 21 de agosto, e São Luís, no dia 23 de agosto. A cantora ainda tem apresentações marcadas na Europa: nos meses de maio e junho, ela cantará em Portugal, Suíça, Holanda, Bélgica, Irlanda, França e Inglaterra. Todas as datas podem ser conferidas abaixo.

Serviço:

Liniker – CAJU Tour @Campinas

Data: 10 de maio de 2025 (sábado)

Horários: 17h (abertura dos portões) | 20h (início previsto do show)

Local: Multi Arena – Estacionamento C Iguatemi Campinas – Avenida Iguatemi, 777 – Vila Brandina – Campinas/SP

Valores:

Pista: A partir de R$60,00 (meia-entrada) | A partir de R$ 80,00 (solidária) | A partir de R$ 120,00 (inteira)

Área VIP: A partir de R$ 100,00 (meia-entrada) | A partir de R$ 120,00 (solidária) | A partir de R$ 200,00 (inteira)

Camarote: A partir de R$ 200,00 (inteira)

Ingressos: https://meaple.com.br/multiarena/liniker

Veja todas as datas já divulgadas da turnê de CAJU em 2025:

21 de março – Aracaju/SE – Salles Multieventos

22 de março – João Pessoa/PB – Domus Hall

29, 30 e 31 de março – Salvador/BA – Concha Acústica do Teatro Castro Alves (ingressos esgotados nas duas primeiras datas)

5 e 6 de abril – Brasília/DF – Arena Lounge BRB (ingressos esgotados na primeira data)

12 de abril – Rio de Janeiro/RJ – Queremos! Festival

26 de abril – Vinhedo/SP – Festival Hopi Pride

1º de maio – Florianópolis/SC – ARVO Festival

10 de maio – Campinas/SP – Multi Arena

17 de maio  – Curitiba/PR – Festival Coolritiba

24 de maio – Belo Horizonte/MG – Festival Sarará

31 de maio – Cascais/Portugal – Coala Festival

1º de junho – Genebra/Suíça – Alhambra

4 de junho –  Amsterdã/Holanda – Paradiso

6 de junho – Bruxelas/Bélgica – La Madeleine

9 de junho – Dublin/Irlanda – The National Stadium

11 de junho – Paris/França – La Cigale

13 de junho – Porto/Portugal – Primavera Sound

14 de junho – Londres/Inglaterra – Electric Brixton

21 de junho – Altinópolis/SP – Festival da Lua Cheia

12 de julho – Cuiabá/MT – Festival Baguncinha

26 de julho – Vitória/ES – Festival TendaLab

21 de agosto – Manaus/AM – Studio 5

23 de agosto – São Luís/MA – Arena Dux

5 de setembro – São Paulo/SP – Coala Festival

18 de outubro – Natal/RN – Festival Mada

Novembro de 2025 – Petrópolis/RJ – Rock The Mountain

Ouça CAJU aqui .

(Com Carol Pascoal/Trovoa Comunicação)

Pinacoteca de São Paulo retrata experiências noturnas na arte brasileira

São Paulo, por Kleber Patricio

Di Cavalcanti, detalhe Fantoches da meia noite (1921). Imagens: Divulgação/Pinacoteca.

A Pinacoteca de São Paulo inaugura sua programação de 2025 com a mostra coletiva ‘Tecendo a manhã: vida moderna e experiência noturna na arte do Brasil’ nas sete salas do edifício Pinacoteca Luz. A exposição investiga perspectivas de artistas de diferentes origens sobre a experiência da noite, com seus mistérios, personagens e ritos. Com curadoria de Renato Menezes e Thierry Freitas, a coletiva se divide em sete núcleos, percorrendo o assunto por meio de diferentes abordagens, desde um viés social, com reflexões sobre os impactos da modernização nas cidades no século XX, até uma narrativa mais fantástica e imaginativa, na qual surgem enigmas oníricos, paisagens noturnas e os assombros que povoam o imaginário coletivo, com monstros e lobisomens. Obras como ‘Noite na fazenda’ (1969), de Madalena Santos Reinbolt, e ‘Obscura Luz’ (1982), de Cildo Meireles, compõem a mostra.

Na exposição, a experiência da noite se apresenta como um problema artístico para refletir sobre vivências individuais que aparecem, por exemplo, nas representações de sonhos e pesadelos, e coletivas, que dizem respeito a formação histórica e social do país – sobretudo a partir do surgimento da energia elétrica, que mudou a fisionomia das cidades e suas dinâmicas no início do século XX. Atividades de lazer, surgimento de novas profissões, vivências na cidade – que variam de acordo com a origem social do sujeito – figuram em obras emblemáticas, muitas delas expostas pela primeira vez.

“A exposição privilegia a produção de artistas ditos populares e a coloca em relação direta com trabalhos de artistas canônicos do nosso modernismo, muitas vezes criando situações de tensão entre essas diferentes vivências da noite. Ao longo da exposição, percebemos que a noite, um fenômeno natural que afeta a todas as pessoas, reflete problemas artísticos relativos à luminosidade e à representação dos sonhos e visões, mas também problemas sociais relacionados ao trabalho, à coletividade e ao uso do espaço público. Fato é que a noite reforça uma das perguntas mais eloquentes quando olhamos para a arte moderna: quem olha quem? Nós não respondemos a essa pergunta, mas, ao contrário, procuramos transformá-la em motor para as reflexões que estimulamos ao longo de todo o percurso expositivo”, comentam os curadores.

Sobre a exposição

Em 1854 a cidade de São Paulo passou a receber um sistema de iluminação pública com luz a gás. A partir de 1883, o surgimento da energia elétrica aparece como fator determinante na reconfiguração do espaço público. Em Tecendo a manhã, o acender das luzes, na cidade e no campo, marca o início da exposição. Obras como Fachada do Teatro Municipal (sem data), de Valério Vieira (década de 1910) e São Paulo (1966), de Agostinho Batista de Freitas, comentam o espaço compartilhado e a vida coletiva em São Paulo, cidade símbolo da modernidade. Outras representações também podem ser vistas na perspectiva de Gregório Gruber, em Vale do Anhangabaú à noite (1981) e na fotografia de Benedito Junqueira Duarte Praça João Mendes Júnior (1950).

Madalena dos Santos Reinbolt, detalhe de Noite na fazenda (1969).

A segunda sala se volta para o coletivo, apresentando obras que tematizam a sociabilidade noturna. Nos primeiros meses do ano, por exemplo, a Festa de Iemanjá e o Carnaval organizam festas populares em forma de cortejo, movido pelo canto de batuques e afoxés. A cultura do samba, assim como dos bailes, construída fundamentalmente por pessoas negras que experimentavam uma vida cerceada pelas perseguições políticas no pós-abolição, permitiu o florescimento de agremiações inteiramente dedicadas à festa e à celebração da liberdade do corpo marginalizado. Neste núcleo, casamentos, festas religiosas, bailes e parques de diversões podem ser vistos em trabalhos como Festa de Iemanjá (sem data), de Babalu, Parquinho (1990), de Ranchinho, e o Concurso de dança no DCE (1985), dos Retratistas do Morro.

Na sala seguinte, a exposição apresenta personagens associados à noite. A prostituição e o ambiente dos bordéis foram temas frequentes na obra de Di Cavalcanti, Oswaldo Goeldi e Lasar Segall, que se interessavam em observar uma vida marginal, precária e ilegal que não poderia acontecer à luz do dia. Desses artistas, estão expostas respectivamente obras como Fantoches da meia-noite (1921), O ladrão (1955) e Mulheres do mangue com espelhos (1926), que convidam o público a refletir sobre gênero e classe a partir da visão de homens brancos da elite cultural do país sobre mulheres e pessoas negras, pobres e em estado de decadência no contexto pós-abolição.

A quarta sala destaca uma figura mítica evocada pela lua cheia: o Lobisomem. Um conjunto de obras de Ana das Carrancas, além de peças de madeira de Mestre Guarany e Artur Pereira, remetem ao personagem. As obras dividem o espaço expositivo com representações de formas lunares, em especial a obra monumental de Tomie Ohtake, Lua (políptico) (1984). Na sequência, paisagens noturnas que flertam com a abstração e a metafísica contrastam trabalhos como Fachada roxa e verde (início da década de 1960) de Volpi, com obras de artistas populares como Cafezal #1, de Adir Mendes de Souza e Derrubada erótica (2013), de Nilson Pimenta, para pensar sobre o espaço do sonho e os enigmas oníricos.

Indissociável do tema da noite, a experiência do sonhar é contemplada na sexta sala, que se dedica ao imaginário do pesadelo e das assombrações. Em trabalhos como a escultura Exu-Caveira (1982-1983), é possível contemplar a reação de Chico Tabibuia às visões noturnas: convertido à uma religião que demonizava as entidades afro-brasileiras que ele cultuava anteriormente, o artista passou a esculpir na madeira esses espíritos que, segundo ele, insistiam em persegui-lo. Outros artistas como Mestre Galdino, Ulisses Pereira Chaves e Maria Martins também podem ser vistos pelo público. A alvorada marca o encerramento da exposição, trazendo ao último núcleo a transição da noite para o dia, com trabalhos de Djanira, Tereza Costa Rêgo e Heitor dos Prazeres.

Sobre a Pinacoteca de São Paulo | A Pinacoteca de São Paulo é um museu de artes visuais com ênfase na produção brasileira do século XIX até́ a contemporaneidade e em diálogo com as culturas do mundo. Museu de arte mais antigo da cidade, fundado em 1905 pelo Governo do Estado de São Paulo, vem realizando mostras de sua renomada coleção de arte brasileira e exposições temporárias de artistas nacionais e internacionais em seus três edifícios, a Pina Luz, a Pina Estação e a Pina Contemporânea. A Pinacoteca também elabora e apresenta projetos públicos multidisciplinares, além de abrigar um programa educativo abrangente e inclusivo. B3, a bolsa do Brasil, é Mantenedora da Pinacoteca de São Paulo. 

Serviço:

Pinacoteca de São Paulo

De quarta a segunda, das 10h às 18h (entrada até 17h)

Gratuitos aos sábados – R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada), ingresso único com acesso aos três edifícios – válido somente para o dia marcado no ingresso

Quintas-feiras com horário estendido na Pina Luz, das 10h às 20h (gratuito a partir das 18h)

2º Domingo do mês – gratuidade Mantenedora B3.

(Com Mariana Martins/Pinacoteca de São Paulo)

Yamandu Costa e António Zambujo fazem apresentação única em São Paulo no dia 25

São Paulo, por Kleber Patricio

Yamandu Costa e António Zambujo: novo álbum e turnê por 11 cidades brasileiras em março. Fotos: Kenton Thatcher.

Eles se reencontraram no palco e no estúdio, estreitando os laços que unem Brasil e Portugal na música. Depois do bem-sucedido ‘Prenda Minha’, álbum lançado em 2024, o violonista gaúcho Yamandu Costa e o cantor português António Zambujo iniciam turnê por 11 cidades brasileiras em março, celebrando uma amizade que vem desde 2008. No próximo dia 25, fazem apresentação única em São Paulo, no Tokio Marine Hall. O repertório inclui desde canções de Chico Buarque, Tom Jobim e Lupicínio Rodrigues até pérolas do cancioneiro latino-americano, além de composições autorais. Voz e violão em perfeita sintonia a serviço da arte.
O setlist é um passeio pelas raízes musicais da dupla. Juntos no palco, eles interpretam clássicos da bossa nova, música tradicional portuguesa, choro, chamamé e guarânia, bem como bolero mexicano e “um monte de coisas diferentes que a gente gosta de ouvir”, segundo Yamandu. Um dos destaques é ‘Nervos de Aço’ (Lupicínio), cujos versos caem como uma luva no timbre marcante de Zambujo e no compasso de Yamandu ao violão de sete cordas. ‘Prenda Minha’, composição original do violonista em parceria com Paulo César Pinheiro, é linda de ouvir: “Bela como a onça parda / Quando espreita a guarda / Quieta pra nos tocaiar / Pele quase cor de mate / Lábio de escarlate / Pronta pra beijar”, diz a letra.

A dupla também dá nova roupagem a temas consagrados do cancioneiro nacional, como ‘Valsinha’, de Chico Buarque e Vinícius de Moraes, ‘Gente Humilde’ (Chico, Vinícius e Garoto), ‘Falando de Amor (Tom Jobim) e ‘Tristeza do Jeca’, de Angelino de Oliveira. Já os ritmos latino-americanos marcam presença com ‘Profecía’, do cubano Adolfo Guzmán, ‘Recuerdos de Ypacaraí’ (Demetrio Ortiz e Zulema de Mirkin) e ‘Cosechero’, do argentino Rámon Ayala. A mistura de ritmos e sonoridades diversos é puro deleite para o público. “A gente não segue fórmulas. Nossa parceria tem algo de intuitivo. O meu violão se propõe a abraçar a voz do Zambujo. O som das cordas é um fio condutor da letra. Formamos um duo de câmara”, brinca Yamandu.
O show traz ainda novidades para os fãs brasileiros. Yamandu e Zambujo gravaram este ano um segundo álbum, ‘Sur’, todo com músicas em espanhol (exceto por ‘Resposta ao Tempo’). O título remete às origens e à identidade cultural de ambos, que nasceram ao sul de seus respectivos países. Dessa nova safra, três canções estão presentes no show: a própria ‘Resposta ao Tempo’, de Aldir Blanc e Cristóvão Bastos, a valsa ‘Nube Gris’, de Eduardo Márquez Talledo, e ‘Volver a mi raiz’, de Lúcio Yanel.

“As nossas raízes vêm do Sul, daí o nome do álbum. Eu nasci no Alentejo; o Yamandu, no Rio Grande do Sul. São regiões de traços culturais muito marcantes que fazem parte da nossa educação musical. Fazemos música do nosso tempo, mas temos um pé fincado nas tradições. Isso acabou nos unindo. Essa turnê com Yamandu é um grande reaprendizado. Estamos descobrindo juntos caminhos que ainda não tínhamos explorado. É um privilégio cantar ao lado de um músico que tanto admiro”, diz Zambujo.

Zambujo e Yamandu consagram uma parceria iniciada em 2008.

O disco foi gravado em apenas três dias no estúdio de Yamandu, em Lisboa. O trabalho reforça uma parceria que começou em 2008, quando Zambujo se apresentou pela primeira vez no Brasil. A amizade entre os dois foi quase instantânea. Naquele ano, Zambujo veio ao país para sua primeira apresentação, um show no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, para o qual convidou Yamandu através de um amigo em comum. “Eu aceitei e combinamos um ensaio. Ali já teve uma sintonia, um entrosamento muito forte. Não conseguimos ensaiar para o show, mas viramos amigos de infância”, recorda o violonista. Zambujo, por sua vez, já era um dos maiores intérpretes contemporâneos da música portuguesa – e um dos seus embaixadores no mundo.

Os dois chegaram a excursionar pelo Brasil em 2014, com apresentações em meia dúzia de cidades. Mas ambos tinham o desejo de ir mais longe e estreitar os laços musicais. A parceria foi reforçada há quatro anos, quando Yamandu fixou residência em Portugal – incentivado pelo próprio Zambujo.

A nova temporada de shows começou no Auditório Nacional de Madri, em janeiro. Até o fim do ano, a agenda de ambos está lotada. “Trabalhamos de maneira muito simples. Não temos paciência para regravar a mesma canção diversas vezes. Queremos tirar o suco do momento, do jeito que a canção fala. Temos uma sintonia fina no estúdio e no palco. Eu sempre fui mais solista. Acredito que a voz é um instrumento. E o que me encanta na parceria com o Zambujo é que procuramos um lugar que está acima da canção. Às vezes nem é preciso tocar muitas notas. Eu deixo a palavra falar mais alto”, diz Yamandu.

Vídeos: Nervos de Aço | Gente Humilde.

Serviço:

António Zambujo & Yamandu Costa

Data: 25 de março

Horário: 22h

Local: Tokio Marine Hall

Endereço: R. Bragança Paulista, 1.281 – Várzea de Baixo / São Paulo

Capacidade: 4 mil lugares

Ingressos: de R$ 120 a R$ 250

Vendas online: clique aqui

Duração do show: 80 minutos

Classificação etária: 16 anos.

(Com Gabriel Oliven/Lupa Comunicação)