Cientistas rebatem argumentos sobre custos de publicação e dificuldades de infraestrutura; entre pontos para tornar a ciência mais aberta estão mudanças na política de avaliação e estímulo ao compartilhamento de dados
Brasil
Um novo subtipo do vírus HIV, o vírus da Aids, está circulando em, ao menos, três das cinco regiões brasileiras. É o que revela estudo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com instituição sul-africana, publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, nesta sexta (16). Os pesquisadores identificaram a nova variante em amostras de sangue de portadores do vírus do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia.
A variante é resultado da mistura genética de dois tipos de HIV amplamente difundidos no Brasil, chamados de B e C, que podem ter se combinado no organismo de um paciente portador e gerado padrões diferentes dos já conhecidos. Durante a investigação, os cientistas analisaram uma amostra genética coletada em 2019 de um portador do HIV em tratamento em Salvador, na Bahia, e identificaram fragmentos dos dois tipos diferentes do vírus.
As sequências genéticas encontradas foram, então, comparadas com informações registradas em bancos de dados científicos, o que revelou a existência de outras três ocorrências de padrões semelhantes espalhadas pelo Brasil. Com esses resultados, a equipe realizou um estudo de parentesco que indicou uma conexão entre as quatro amostras e possibilitou a classificação da nova variedade do vírus HIV, a recombinante CRF146_BC.
Segundo Joana Paixão Monteiro-Cunha, autora da pesquisa, o mais provável é que essa nova variedade tenha surgido em um paciente infectado, ao mesmo tempo, com os tipos B e C do vírus. “Quando duas variantes diferentes infectam a mesma célula, podem se formar híbridos durante o processo de replicação do vírus e, destes, surgem os recombinantes”, explica a pesquisadora. Ela também esclarece que é possível que um único portador tenha iniciado a transmissão do novo tipo no Brasil, que já foi detectado em três estados. “Nosso estudo mostrou que as variantes encontradas nas diferentes regiões geográficas são descendentes de um mesmo ancestral. Assim, é possível especular que ela já está amplamente disseminada no país”, alerta.
Separadamente, os subtipos B e C do HIV são responsáveis por cerca de 81% das infecções no Brasil, sendo a variante B a mais difundida em todas as regiões do país. Mesmo com essa prevalência, a autora destaca que a maior parte do material genético da nova variante é herdada do tipo C. “Nós avaliamos muitas outras formas recombinantes que envolvem os dois subtipos e observamos que, na maioria delas, também predominam sequências genômicas do subtipo C”. De acordo com a pesquisadora, isso pode indicar uma pressão seletiva para a manutenção da variante C, possivelmente devido a vantagens adaptativas ou replicativas presentes nesse tipo.
Embora novos estudos sejam necessários para verificar diferenças entre a nova variante e os tipos C e B nas taxas de transmissão e progressão da infecção para a Aids, Monteiro-Cunha explica que não há evidências de que o tratamento contra o vírus precise ser modificado. “Parece que os subtipos de HIV-1 não apresentam grandes diferenças na resposta à terapia antirretroviral”, comenta.
As formas recombinantes de HIV são responsáveis por cerca de 23% das infecções ao redor do globo. Desde 1980, mais de 150 misturas entre as variantes B e C já foram descobertas no mundo. Nesse cenário, a pesquisadora salienta que é essencial manter os esforços para investigar esses vírus. Sua equipe deve continuar investigando e monitorando o surgimento de novas formas do HIV para auxiliar na vigilância da disseminação desse vírus — o que impacta, também, no controle da doença causada por ele.
(Fonte: Agência Bori)
A Barra da Tijuca é um dos bairros com a atmosfera mais vibrante e agitada da Zona Oeste do Rio, repleto de bares, restaurantes, shoppings, cinema e teatros. Com uma localização privilegiada, também está próximo a diversas atrações turísticas da cidade, como a Pedra da Gávea, o Jardim Botânico e o Parque Lage, que podem ser acessados facilmente com o uso de transporte público.
Mas, em meio a toda essa efervescência, é possível explorar a natureza, desfrutar de belas vistas e se desconectar um pouco do agito da cidade? A resposta é sim e a Guest Relations do hotel Laghetto Stilo Barra Rio de Janeiro, Kivya Valladão, dá dicas de passeios relaxantes que permitem curtir ao máximo essa agradável região a apenas alguns minutos do hotel. Confira:
Curtir a Praia da Barra da Tijuca
Com pouco mais de 14 km de extensão, esta é a maior praia da cidade maravilhosa. Suas águas esverdeadas e limpas vão da avenida Sernambetiba até o Recreio e são ideais para praticar surf, windsurf, bodyboarding e pesca de beira. Na orla, há muitos bares, restaurantes e quiosques que podem ser aproveitados inclusive durante a noite, graças à iluminação noturna e ciclovia.
Passeio na Lagoa de Marapendi
A Reserva Biológica de Marapendi é uma das principais atrações ecoturísticas do Rio de Janeiro e, dentre as opções para explorar o contato com a natureza na capital carioca, os passeios de barco na Lagoa de Marapendi são calmos e encantam os olhos de quem contempla a vista exuberante das àguas, aves e vegetação nativa da região.
Passeio no Parque Natural Municipal Bosque da Barra
Conhecido como o Bosque da Barra, possui cerca de 50 hectares repletos de alamedas arborizadas que são excelentes para a prática de esportes ao ar livre, corridas, caminhadas e a realização de piqueniques e atividades recreativas. Outro ponto alto do passeio é poder observar a variedade da fauna, como aves, borboletas, capivaras e os jacarés-de-papo-amarelo, que podem ser vistos nos lagos do bosque. Horário de funcionamento: terça a domingo, de 6h às 17h – inclusive nos feriados.
Visita à Ilha da Gigóia
A Ilha da Gigóia é um santuário natural com cerca de 7 mil moradores que conta com um comércio local e uma série de atrações, como passeios de barco, lancha e jet ski pelas lagoas da Barra da Tijuca. Conta ainda com uma boa variedade de bares, restaurantes e eventos repletos de música ao vivo que animam o final de tarde/noite.
Entre as ótimas opções de hospedagem na Barra está o Laghetto Stilo Barra. Dotado de unidades aconchegantes, possui um restaurante próprio, piscina, fitness center 24h, Internet Wi-fi, estacionamento privativo e um amplo espaço multifuncional para realizações de eventos corporativos e sociais. Além disso, o hotel está na rota dos pontos turísticos mais renomados da capital paulista. Outro destaque vai para o rooftop do hotel e sua vista para a praia da Barra da Tijuca (à frente), a famosa Pedra da Gávea (à esquerda) e a Lagoa de Marapendi (à direita). O fácil acesso à Avenida.
Serviço:
Endereço: Av. Lucio Costa, 5650 – Barra da Tijuca – Rio de Janeiro (RJ)
Telefones: (21) 3509-9000 ou (21) 2509-9000
(Fonte: Com Fábio Barros/Hochmüller Multimídia)
A exposição coletiva ‘Ar: Acervo Rotativo’ abriu em 15 de agosto de 2024 (quinta-feira) na galeria do Sesi Campinas Amoreiras, no interior de São Paulo. Com organização e curadoria de Laerte Ramos, a mostra reúne 400 artistas visuais com obras medindo até 5 x 5 cm e tem visitação gratuita até 24 de novembro de 2024.
Posteriormente, a mostra termina na unidade do São José do Rio Preto (30/11/2024 – 9/3/2025), tendo começado sua itinerância pelo Foyer do Teatro Sesi Itapetininga, em maio. O projeto foi premiado pelo edital ProAC Nº 13/2023 – Artes Visuais/Circulação de Exposição, sendo apresentado no MARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi (22/3 a 4/5/2024), no MACS – Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (11/2023 a 1/2024), no interior de São Paulo. Previamente, foi mostrado no Lux Espaço de Arte (16/9 – 14/10/2023), no Edifício Vera, no centro, e na Oficina Cultural Oswald de Andrade (28/10 – 19/11/2021), no Bom Retiro, ambas em São Paulo, com realização do Adelina Instituto.
O projeto segue somando artistas por onde passa e, em sua plataforma no Instagram [@acervorotativo], apresenta com transparência seu acervo público-independente em construção e a possibilidade de conexão aos artistas via depoimentos em vídeo na plataforma do IGTV e seus perfis em redes sociais para contatos e pesquisas. O acervo tem obras de artistas do Brasil, assim como do Japão, Nova Zelândia, Bélgica, Uruguai e Argentina, possibilitando em breve parcerias com instituições culturais também no exterior.
“Reforçamos o compromisso que a instituição possui de fomentar o cenário cultural e artístico por meio do acesso do público a obras, ao processo criativo de artistas nacionais e internacionais, à reflexão e à experimentação. Para o Sesi-SP, são de extrema importância a formação de novos públicos em artes, a difusão e o acesso à cultura de forma gratuita. É por isso que desenvolvemos e realizamos projetos das mais diversas áreas e convidamos o público a entrar de cabeça no universo do conhecimento e da arte”, diz a gerente de Cultura do Sesi-SP, Débora Viana.
Sobre Ar: Acervo Rotativo
A missão do projeto é a formação de um acervo público-independente com obras de artistas visuais contemporâneos brasileiros e estrangeiros. Os artistas são instigados a sintetizar sua poética de trabalho nas dimensões 5x5cm ou até 5x5x5cm. Todas as obras em exibição física ou na plataforma on-line são doadas pelos próprios artistas ao ‘Ar: Acervo rotativo’ e serão expostas em museus, centros de cultura e instituições culturais.
O pequeno formato pode ou não ser interpretado como um desafio dentro da poética e pesquisa do artista, mas trará consigo a preciosidade do gesto e sua essência. O ‘Ar – Acervo rotativo’ visa criar este acervo por meio da participação dos artistas para atuar como um agente em diversas regiões, possibilitando um recorte significativo da produção nacional e internacional.
Sobre o curador
Laerte Ramos (Brasil/São Paulo, SP, 1978) destaca-se no panorama da arte contemporânea brasileira especialmente pela produção em gravura e instalações em cerâmica. Trabalha com diversas linguagens, como xilogravura, serigrafia, pintura, escultura, tapeçaria e objetos, utilizando técnicas e materiais que o desafiam como artista-pesquisador. Graduado em artes plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado-FAAP em Bacharel (2001) e Licenciatura (2002), as pesquisas por ele empreendidas têm como principal eixo condutor os meios reprodutivos da imagem, as seriações em diferentes suportes e a relação com as cidades em que são produzidas ou expostas. Seus trabalhos excedem o caráter de meras peças unitárias e cruzam diferentes linguagens para modificar a compreensão destas e do espaço em que se inserem.
Desde a segunda metade da década de 1990, Laerte Ramos tem participado de importantes mostras coletivas e, nos últimos 26 anos, realizou diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Participou de programas de residência artística (França, Suíça, Holanda, Portugal, Estados Unidos e China) e foi contemplado com prêmios, dentre os quais podem ser destacados o prêmio suíço Lelocleprints (2004), o Prêmio Marcantônio Vilaça – Pró Cultura/MinC (edições de 2012 e 2013) e o Prêmio Mostras de Artistas no Exterior da Fundação Bienal de São Paulo/Phoenix Institute of Contemporary Arts (2011). Representou o Brasil na Expo Milano/2015 com uma grande instalação de cerâmica que ocupou o Octógono da Pinacoteca de São Paulo no ano anterior. Tem o recorde de 54 exposições individuais, 8 participações em residências artísticas e 32 prêmios como artista. Já como curador, Laerte possui 13 exposições e três prêmios, destacando o Prêmio Marcantônio Vilaça em 2020 com a mostra ‘Compreensão do Ar’ ou (E = M2). Atua desde 2017 também como curador e é diretor do ‘Ar: Acervo Rotativo’ – uma coleção independente de arte contemporânea em pequenas dimensões. A frente da produtora Studium Generale possibilita diversas frentes de troca de saberes com residência em seu atelier e projetos de exposições entre outras parcerias culturais. Vive e trabalha em São Paulo. https://www.laerteramos.com.br/
Serviço:
Exposição Ar: Acervo Rotativo
Organização e curadoria: Laerte Ramos
Visitação: 16/8 – 24/11/2024
Horários para visitação: quarta a sábado, das 10h às 20h
Sesi – Campinas Amoreiras
Av. das Amoreiras, 450 – Parque Itália, Campinas, São Paulo (SP)
Tel: (19) 3772-4100
Quanto: grátis
Classificação: livre
Website: https://campinasamoreiras.sesisp.org.br/
Redes sociais:
Acervo Rotativo @acervorotativo
Laerte Ramos @laertertamos
Sesi Campinas Amoreiras @sesisp.campinasamoreiras.
(Fonte: Com Erico Marmiroli/Marmiroli Comunicação)
Ao evocar a intimidade e o afeto, assim como os estados de sofrimento e pertencimento, a obra audiovisual ‘Lazarus’ (2023) homenageia e reimagina histórias e experiências da comunidade queer na Sala de vídeo: Kang Seung Lee. O trabalho, em cartaz no MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand a partir de 23 de agosto, também está em exibição no núcleo contemporâneo da 60ª Bienal de Veneza.
Inspirado na obra ‘Lásaro’ (1993), de José Leonilson – instalação feita com duas camisas costuradas juntas, considerada o último trabalho do artista brasileiro – e no balé original ‘Unknown Territory’ (1986), do coreógrafo singapurense Goh Choo San (1948–87), o vídeo apresenta um dueto de movimentos mínimos e intencionais. Ao replicar a obra de Leonilson em Sambe, tecido de cânhamo tradicionalmente usado na Coreia para mortalhas funerárias, os bailarinos interagem coreografando uma homenagem às vidas e memórias perdidas durante a epidemia do HIV/Aids, inclusive às de ambos os artistas, que faleceram de doenças decorrentes do vírus.
“Eu sempre entendi que o meu trabalho artístico é influenciado por pessoas que vieram antes de nós, especialmente em relação às histórias queer de diferentes nações. Frequentemente pesquiso e reposiciono essas narrativas e arquivos, conectando geografias e experiências distintas, e acredito que há uma possibilidade de criar novos conhecimentos neste processo”, reflete Kang Seung Lee.
Com curadoria de Amanda Carneiro, curadora, MASP, a mostra apresenta ainda mais uma obra de Kang Seung Lee. Untitled (Lazaro, Jose Leonilson, 1993) (2023) é composta por diferentes materiais – grafite, pérolas, pergaminho, agulha para piercing e linha antiga de ouro 24K – junto a um desenho da vestimenta escultural criada por Leonilson. A obra ‘Lásaro’, do artista brasileiro, poderá ser vista na mesma ocasião de visita ao trabalho de Lee, na mostra Leonilson: agora e as oportunidades, no primeiro andar do MASP. “Lee associa fragmentos de uma espécie de história material do mundo com histórias subjetivas, sobretudo de homens homossexuais que faleceram por conta da crise da aids, exaltando suas histórias. Seu trabalho remete a uma ideia de fragilidade ao mesmo tempo que evidencia a força narrativa desses encontros”, pontua Amanda.
Untitled (Lazaro, Jose Leonilson, 1993) foi incorporada ao acervo do MASP como parte dos esforços que o museu tem realizado para internacionalizar sua coleção de arte contemporânea.
Em 2024, a programação da Sala de vídeo integra o ciclo de Histórias da diversidade LGBTQIA+ no MASP, que já apresentou as mostras de Masi Mamani/Bartolina Xixa, Tourmaline e Ventura Profana, e exibirá a produção audiovisual de Manauara Clandestina.
Sobre Kang Seung Lee
Ao explorar imagens, textos públicos e privados, artefatos e objetos de arquivos, coleções de arte, bibliotecas e arquivos queer, o artista multidisciplinar Kang Seung Lee dedica seu trabalho especialmente ao legado de pessoas LGBTQIA+, ressaltando vozes e contranarrativas frequentemente negligenciadas.
Kang Seung Lee (Seul, Coreia do Sul, 1978) vive em Los Angeles e seus trabalhos foram incluídos em exposições internacionais, como a 60ª Bienal de Veneza (2024); Made in LA, no Hammer Museum (2023); New Museum Triennial (2021); e Gwangju Biennale (2021). Ele também participou da documenta fifteen (2022). O artista realizou exposições individuais e projetos em instituições como Museu Nacional de Arte Moderna e Contemporânea, em Seul (2023); Vincent Price Art Museum, em Los Angeles (2023); 18th Street Arts Center, em Santa Monica, CA (2020); Artpace, em San Antonio (2017) e Pitzer College Art Galleries, em Claremont (2015). Sua obra integra a coleção do Getty Research Institute, Hammer Museum, National Museum of Modern and Contemporary Art, Solomon R. Guggenheim Museum e do MASP.
Serviço:
Sala de Vídeo: Kang Seung Lee
Curadoria Amanda Carneiro, curadora, MASP
2º subsolo
Visitação: 23/8/2024 a 27/10/2024
MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1578 – Bela Vista – São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: terças grátis e primeira quinta-feira do mês grátis; terças, das 10h às 20h (entrada até as 19h); quarta a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h); fechado às segundas.
Agendamento on-line obrigatório pelo link masp.org.br/ingressos
Ingressos: R$70 (entrada); R$35 (meia-entrada).
Site oficial | Facebook | Instagram.
(Fonte: MASP – Assessoria de Imprensa)
Dono de um humor ácido e um traço inconfundível, o cartunista Angeli transita com desenvoltura entre a contundente charge política e a corrosiva crítica de costumes. Personagens como Rê Bordosa, Bob Cuspe, Wood & Stock e os Skrotinhos, estrelas de uma galeria em que sempre cabia mais uma criação genial, foram companheiros iconoclastas e politicamente incorretos de gerações que viveram nos anos 1970, 80 e 90. Agora, uma parte desta importante produção chega ao Instituto Moreira Salles para compor a Coleção Angeli. Com a aquisição, o IMS passa a ter direito de divulgar a obra de Angeli. Já os direitos autorais permanecem com o cartunista.
A Coleção Angeli será formada por 2.100 itens. São 700 charges, 700 tirinhas e 700 ilustrações originais, acompanhados, cada conjunto, por seus esboços – extremamente meticuloso, Angeli sempre buscou o apuro em cada desenho, muitas vezes jogando fora projetos já prontos para reiniciá-los do zero. Poder acompanhar o processo de criação a partir dos traços iniciais é algo valioso para pesquisadores e admiradores da sua obra. Além desses originais e estudos, o IMS também vai receber um grande número de outros trabalhos digitalizados.
Essa produção virá para o IMS em etapas. O primeiro grupo, as charges, acaba de ser incorporado ao acervo. No fim deste ano, o IMS recebe as tirinhas e, em meados de 2025, as HQs e as ilustrações. A seleção foi feita pelos profissionais do IMS tendo como interlocutora a mulher do cartunista, a arquiteta e designer gráfica Carolina Guaycuru. Angeli esteve inicialmente à frente do processo, mas há cerca de quatro anos recebeu o diagnóstico de uma doença neurodegenerativa. Em abril de 2022, anunciou sua aposentadoria, encerrando aos 65 anos uma carreira longeva e ultra produtiva; só na Folha de S.Paulo, sua casa por quase cinco décadas, estima-se que tenha publicado mais de 20 mil charges e tirinhas – a tira Chiclete com Banana fez tanto sucesso que ganhou vida própria numa HQ de mesmo nome, elevando Angeli a uma celebridade pop.
“O acordo com o IMS vai permitir que a obra dele seja bem acomodada e preservada para as futuras gerações”, diz Carolina. “Angeli acompanhou muito a mudança comportamental no país, começou a produzir durante a ditadura, continuou depois da redemocratização. Suas charges e tirinhas refletem toda essa transformação, tanto política como de comportamento e cultural. E, apesar de ter sido sempre muito organizado com o seu acervo, uma família não tem como cuidar disso tudo e ainda tornar acessível para o público”, observa ela.
Filhos do casamento anterior do cartunista, com a jornalista e radialista Maria de Aguiar, o produtor musical e sonoplasta Pedro Angeli e a publicitária Sofia Angeli consideram empolgante a chegada da Coleção Angeli ao IMS. “É muito curioso porque nosso pai é um punk, um underground, uma pessoa que nunca estaria num lugar como o IMS, uma instituição que preserva arte”, diz Sofia, falando também em nome do irmão. “Mas a um tempo atrás começou a entender a importância disto, da preservação, principalmente. É uma obra muito importante, única, que fala da história política e social do Brasil. Ficamos felizes em saber que uma parte dela vai estar bem guardada, bem cuidada e, principalmente, que vai estar exposta para que gerações que não o conhecem possam conhecer, saber quem é Angeli e quem o Angeli retratou ao longo dos anos na sua obra.”
A virada de Angeli rumo a uma preservação profissional aconteceu com a ida para o IMS do acervo de Millôr Fernandes, que ele tem como grande referência e inspiração, e, principalmente, durante a montagem, em 2018, da exposição Millôr: obra gráfica, no IMS Paulista. Cocuradora da exposição e coordenadora de Iconografia do IMS, Julia Kovensky conta que ele acompanhou de perto a montagem e, ali, teria começado a pensar no futuro de sua produção: “O Angeli guardou cuidadosamente a maior parte do que produziu, de uma forma metódica e organizada. Isso pode parecer contraditório para seus fãs, mas, vendo o acervo que formou, é evidente a preocupação com sua conservação. Mais tarde, ele transmitiu o desejo, e a preocupação, de que sua obra ficasse conservada e acessível ao público, que integrasse um museu.”
À medida em que as obras forem chegando ao IMS, passarão por etapas de conservação, serão catalogadas e digitalizadas, para então começarem a ser disponibilizadas para pesquisas e divulgadas pelo IMS, de modo que o público tenha amplo acesso a elas – e ao que retratam.
“Angeli é um cronista dos últimos 45 anos do Brasil, um cronista como poucos existem”, diz o jornalista André Barcinski, que está preparando um material biográfico sobre o cartunista para ser lançado em livro organizado por Carolina e pelo editor André Conti, amigo da família. “Ele tem um lado político, mas é muito envolvente ouvi-lo falar da cultura dos anos 1970 e 80 que viveu tão bem, principalmente a cultura alternativa paulistana. Ele criou uma galeria de personagens muito fascinantes, ver como os desenvolveu é o que mais me atrai.”
“Estamos lidando com um dos maiores artistas do século XX, e não só do Brasil. O Angeli só não penetrou mais em outras regiões do mundo porque tem a barreira do português, se fosse americano ele seria o Robert Crumb”, diz o cartunista Adão Iturrusgarai, o ‘quarto amigo’ do grupo Los Tres Amigos. Formado por Angeli, Laerte e Glauco inicialmente de forma despretensiosa, acabou virando tirinha de sucesso na revista Chiclete com Banana.
A cartunista Laerte, uma das mais importantes parceiras de Angeli, chama a atenção para a riqueza visual de sua produção. “Os trabalhos dele, desde os primeiros, são de uma elaboração plástica bastante grande. Os traços, as cores que começou a usar, isso é muito visível para mim”. Ela também observa a importância que Angeli teve na vida de toda uma geração. “O trabalho do Angeli é fortemente influenciador de comportamentos, ideias, atitudes e ações. É muito comum as pessoas dizerem o quanto as histórias do Angeli fizeram parte da sua formação em épocas como a adolescência e a juventude. Isso tudo é de uma importância absurda. É muito legal saber que o IMS vai poder ser o pivô dessa movimentação de recolocar esse material todo em circulação.”
A chegada de Angeli ao Instituto Moreira Salles constitui uma peça importante para o panorama histórico que o IMS vem constituindo em seu acervo de Iconografia sobre o universo das artes gráficas e da imprensa ilustrada do século XX no Brasil – o IMS já guarda os acervos de J. Carlos, Millôr, Hilde Weber, Claudius e Cássio Loredano. “E, se formos mais atrás, temos um álbum do pintor Manuel de Araújo Porto-Alegre, considerado o primeiro a publicar caricaturas na imprensa brasileira”, observa Julia Kovensky.
“Um dos nossos objetivos, dentro da ideia de iconografia, é trabalhar com esses grandes criadores de um imaginário, de uma cultura visual. O Angeli, junto com outros de sua geração, mas principalmente ele, traduziu graficamente a cidade de São Paulo. Além de acompanhar a política, os costumes e o desenvolvimento da cultura do século XX, ele criou uma obra visualmente tão forte que se mistura com a própria ideia que as pessoas têm da cidade. É um dos mais marcantes artistas gráficos do país”, diz ela.
Sobre Angeli
Arnaldo Angeli Filho nasceu em 31 de agosto de 1956 na Casa Verde, bairro na Zona Norte de São Paulo, numa família de imigrantes italianos. O pai era funileiro, e a mãe, costureira. Depois de repetir três vezes a quinta série e ser expulso do colégio, aproximou-se do rock e da cultura underground. Aos 14 anos, emplacou um desenho na extinta revista Senhor, publicação que foi um marco no jornalismo cultural brasileiro.
Em 1973, fez sua primeira colaboração para o jornal Folha de S.Paulo. A chargista Hilde Weber, alemã radicada no Brasil e que trabalhava em O Estado de S. Paulo, recomendou-o ao ex-marido, o jornalista Claudio Abramo, então editor da Folha. Dois anos depois, seria contratado para uma prolífera parceria de quase cinco décadas. No jornal, construiu uma carreira brilhante, publicando simultaneamente charges políticas e a tira Chiclete com Banana, onde surgiram personagens icônicos, como Rê Bordosa e Bob Cuspe. Chiclete com Banana se tornaria revista independente em 1985, chegando a atingir tiragem de 110 mil exemplares. Nela foi lançado o projeto Los Tres Amigos, realizado em parceria com Laerte e Glauco, também cartunistas.
Desenhista compulsivo, os dois fechamentos diários em jornal nunca foram um problema para ele. “A prancheta é a minha casa”, afirma num dos vídeos produzidos para a Ocupação Angeli, realizada em 2012 no Itaú Cultural, em São Paulo. “Eu não consigo dormir. Eu não consigo ficar muito tempo longe dela. E isso é meio doente mesmo. Eu até almoço e janto em cima da prancheta. Eu preciso da minha prancheta. Eu não consigo tirar férias porque não posso levar minha prancheta.”
A obra de Angeli foi celebrada em diversas plataformas. Além da Ocupação Itaú, em 2012, em 2023 foi homenageado na Cartoon Xira, em Portugal, com a exposição individual 50 anos de humor. Três coletâneas de tirinhas foram lançadas pela editora Companhia das Letras: Toda Rê Bordosa (2012), Todo Bob Cuspe (2015) e Todo Wood & Stock (2020). No audiovisual, o cineasta Cesar Cabral dirigiu o curta Dossiê Rê Bordosa (2008), a série Angeli The Killer, com duas temporadas, e o longa-metragem Bob Cuspe – Nós não gostamos de gente (2021) – este, premiado em 2022 como melhor animação em longa-metragem no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. O próprio Angeli é retratado no curta documental Angeli 24 horas (2010), de Beth Formaggini. No teatro, o grupo paulistano Parlapatões estreou em 2013 o espetáculo Parlapatões revistam Angeli, texto de Hugo Possolo e Angeli baseado na obra do cartunista, com trilha sonora de Branco Mello.
Em abril de 2022, aos 65 anos, Angeli anunciou sua aposentadoria, provocada pelo avanço de uma doença neurodegenerativa.
(Fonte: Com Mariana Tessitore e Robson Figueiredo da Silva/IMS)