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Parque Cristalino em risco: especialistas comentam os potenciais problemas com a extinção do parque

Mato Grosso, por Kleber Patricio

Foto: Prefeitura de Novo Mundo.

Desde o ano passado, a extinção do Parque Cristalino II, situado no extremo norte de Mato Grosso, na região Sul da Amazônia, está sendo abordada nos órgãos públicos. Juízes estaduais aceitaram o pedido de uma empresa privada que alega possuir terrenos na área. Durante a última semana, o governador Mauro Mendes (União) informou que não há investimento para a preservação do local. Ainda cabe recurso do Governo do estado.

A Advocacia-Geral da União (AGU) entrou com um pedido de anulação do processo de extinção do Parque Estadual do Cristalino II e informou que o fim do parque pode comprometer o investimento de quase meio bilhão de reais em recursos voltados para o cuidado de Unidades de Conservação. O local compõe o Programa do governo Federal de Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA) e só na região há R$18 milhões já aplicados para esse fim.

O Parque Estadual Cristalino é considerado o mais rico em biodiversidade da Amazônia. Na região ocorrem 520 espécies de aves, 36 endêmicas do sul da Amazônia e 11 classificadas na categoria de ameaçadas ou quase ameaçadas.  É formado por duas áreas contíguas, chamadas de Cristalino I, com 66.900 mil hectares, e Cristalino II, com 118 mil hectares. As áreas foram criadas em 2000 e 2001, respectivamente, e protegem uma grande diversidade de espécies da Amazônia brasileira. O local foi identificado pela BirdLife International e Save Brasil como Important Bird Area (IBA), traduzível como Zona Importante de Aves – área importante para a conservação das aves e da biodiversidade, que significa que é de relevância internacional para a conservação das aves.

Elaborado pela rede global Birdlife Internacional, o estudo The positive impact of conservation action (O impacto positivo da ação de conservação), recentemente publicado na Revista Science, um dos periódicos científicos mais conceituados no mundo, traz destaque sobre as áreas protegidas que ajudam na conservação da floresta, o que vai ao contrário da proposta do Governo do Mato Grosso. Além disso, outro ponto importante da conservação é que existem espécies novas para a ciência, que podem não ser descritas com a extinção do espaço.

A Procuradoria Geral de Mato Grosso avalia o recurso sob pressão, com cobranças sendo realizadas em sessão de convocação dos representantes da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e Procuradoria Geral do Estado (PGE), no último dia 20, na Assembleia Legislativa. A situação foi ironizada pelo governador Mauro Mendes, com falas de desprezo sobre atuação de instituições internacionais e indenização às pessoas, ao afirmar que o estado não tem condições financeiras.

Para a pauta, o biólogo Pedro Develey, diretor executivo da SAVE Brasil e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) está disponível para explicar e comentar sobre a importância do parque e qual consequência terá se houver extinção por completo da região.

Sobre a Save Brasil | A Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil – SAVE Brasil é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos voltada à conservação das aves brasileiras. A SAVE Brasil representa a aliança da BirdLife International no país e compartilha suas prioridades, políticas e programas de conservação para implementar os objetivos globais da aliança no âmbito nacional.

(Fonte: Mention)

‘Spin Machine’: individual de Pascal Dombis reflete sobre arte e tecnologia na DAN Galeria Contemporânea

São Paulo, por Kleber Patricio

Pascal Dombis – Post-Digital Surface (Remix)(X3), 2023. Foto: Acervo do artista.

A partir do dia 25 de maio, a DAN Galeria Contemporânea recebe a individual ‘Spin Machine’, do renomado artista francês Pascal Dombis. Com curadoria de Franck James Marlot, a mostra reúne um conjunto de 37 obras, incluindo uma instalação inédita que deu nome à exposição, inspirada na icônica ‘Dream Machine’ (1959), de Brion Gysin.

Conhecido por suas formas visuais imprevisíveis e dinâmicas, Dombis desafia convenções sociais e temporais propondo uma nova visão interativa que incita reflexões sobre o futuro e a memória por meio de colagens digitais provocativas e algoritmos, combinando efeitos óticos e cinéticos em suas produções, ao mesmo tempo em que proporciona uma experiência hipnótica por meio do movimento giratório de caixotes que refletem tramas lenticulares.

“A exposição ‘Spin Machine’ é uma proposta de experiências de Pascal Dombis por meio das quais ele capta os sinais de uma falência futura analisando a proliferação desmedida de sequências transpostas para suas colagens digitais, a fim de conferir, por meio de uma densidade estrutural abissal, um eco à sua própria destruição”, explica Franck James Marlot, curador da mostra.

Desde a década de 1990, Pascal Dombis vem capturando a essência das transformações pós-digitais. Sua trajetória artística, que iniciou com a descoberta das possibilidades da informática durante seus estudos em Boston, o levou a explorar algoritmos como ferramentas criativas. Após integrar o grupo de artistas fractalistas, Dombis concentrou-se em experimentar além desse tema, utilizando repetições abundantes para criar formas geométricas e tipográficas por meio de obras digitais multifacetadas.

As obras de Dombis, especialmente as séries ‘Post Digital Mirror’ e ‘Post Digital Surface’, destacam-se pela sua capacidade de criar reflexos digitais vívidos. Sua técnica lenticular, adotada a partir dos anos 2000, oferece uma experiência sensorial única, desafiando o espectador a explorar diferentes pontos de vista.

A instalação interativa ‘THE END OF ART IS NOT THE END’, uma das mais notáveis de Pascal, encerra a mostra convidando os espectadores a refletir sobre o futuro da arte e da sociedade. Composta por mais de 20.000 imagens retiradas de pesquisas no Google sobre ‘O fim da arte’, a obra cria uma narrativa contínua que adere à parede como uma pele, revelando o invisível através do movimento do espectador. Dombis, como um verdadeiro lançador de alerta, questiona as mudanças estruturais da sociedade, oferecendo uma obra atravessada pela noção do tempo em todas as suas dimensões, debatendo temas como linguagem, saturação de informação e a crescente influência da sociedade digital.

Sobre o artista

Pascal Dombis formou-se em engenharia pela Universidade de Insa, em Lyon, França, antes de optar por seguir uma carreira artística. Sua decisão o levou à Tufts University, onde completou uma série de aulas de arte computação em 1987.

Pascal Dombis é famoso por criar formas visuais imprevisíveis e dinâmicas que exploram as complexidades dos paradoxos visuais por meio do uso de processos tecnológicos ‘excessivos’. Ao longo de sua carreira, Dombis vem utilizando computadores e algoritmos para gerar repetições elaboradas de processos simples, que reproduzem, de forma computacional, sinais geométricos ou tipográficos. Essas estruturas de desestruturação e ambientes irracionais perturbam, engajam e inspiram o espectador, apresentando paradoxos fascinantes entre o controle mecânico e a aleatoriedade caótica que os produz.

Em 1988, Pascal Dombis realizou sua primeira exposição no exterior, nos Estados Unidos. Desde então, o artista está ganhando cada vez mais reconhecimento mundial. Suas exposições individuais ao redor do mundo incluem Claudio Bottello Contemporary, na Itália, RAYGUN Art Projects, na Austrália e Musée em Herbe, na França. A seguir algumas exposições coletivas que participou: ‘Kunstpalast Museum, Dinamarca, Velchev Art Museum na Bulgária, The Page Gallery na Coréia do Sul e na Universidade da Geórgia nos EUA. Notavelmente, Dombis foi contratado para criar obras públicas monumentais para a cidade de Perth, Austrália e no Ministério da Cultura na França. O artista atualmente vive e trabalha em Paris.

Sobre a galeria

A Dan Contemporânea surgiu como um departamento de Arte Contemporânea da Dan Galeria. Em 1985, Flávio Cohn, filho do casal fundador, juntou-se à Dan criando o Departamento de Arte Contemporânea, que ele dirige desde então. Assim, foi aberto espaço para muitos artistas contemporâneos, tanto brasileiros, como internacionais, fortemente representativos de suas respectivas escolas. Posteriormente, Ulisses Cohn também se associa à galeria completando o quadro de direção dela.

Nos últimos vinte anos, a galeria exibiu Macaparana, Sérgio Fingermann, Amélia Toledo, Ascânio MMM, Laura Miranda e artistas internacionais: Sol Lewitt, Antoni Tapies, Jesus Soto, César Paternosto, José Manuel Ballester, Adolfo Estrada, Juan Asensio, Knopp Ferro e Ian Davenport.  Mestres de concreto internacionais também fizeram parte da história da Dan, tais como Max Bill, Joseph Albers e os britânicos Norman Dilworth, Anthony Hill, Kenneth Martin e Mary Martin.

A Dan Galeria incluiu mais recentemente, em sua seleção, importantes artistas concretos: Francisco Sobrino e François Morellet. O fotógrafo brasileiro Cristiano Mascaro; os artistas José Spaniol, Teodoro Dias, Denise Milan e Gabriel Villas Boas (Brasil); os internacionais, Bob Nugent (EUA), Pascal Dombis (França), Tony Cragg (G. Bretanha), Lab [AU] (Bélgica) e Jong Oh (Coréia), se juntaram ao departamento de Arte Contemporânea da galeria. A Dan Galeria sempre teve por propósito destacar artistas e movimentos brasileiros desde o início da década de 1920 até hoje. Ao mesmo tempo, mantém uma relação próxima com artistas internacionais, uma vez que os movimentos artísticos historicamente se entrelaçam e dialogam entre si sem fronteiras.

Serviço:

Exposição Spin Machine

Período Expositivo:  25 de maio a 27 de julho

Local: DAN Galeria Contemporânea – Rua Amauri 73, Jardim Europa, São Paulo, SP

Horário: das 10h às 19h, de segunda a sexta; das 10h às 13h, aos sábados

Entrada gratuita

Classificação indicativa: livre

Acesso para pessoas com mobilidade reduzida

E-mail: info@dangaleria.com.br.

(Fonte: A4&Holofote Comunicação)

Junho é marcado por apresentações musicais gratuitas para os visitantes do Parque Ibirapuera

São Paulo, por Kleber Patricio

Imagem: Divulgação/Urbia Parques.

Permeando diversos estilos musicais, como samba jazz, bossa nova, pop e MPB, o programa Música no Parque, promovido pela Urbia, vem conquistando um público fiel que é atraído por cada espetáculo apresentado no palco da Arena da Marquise do Parque Ibirapuera. O projeto, que teve início em 2022, é um dos frutos da Escola de Música do Parque Ibirapuera (EMPI) e faz parte do curso de Formação em Música, trazendo apresentações gratuitas semanalmente, sempre com grupos formados por artistas que sejam estudantes, professores ou ex-alunos da instituição.

Durante a trajetória da iniciativa, que completará 115 apresentações até o final de junho, a consistência e alta qualidade dos shows foram capazes de gerar sentimento de orgulho, por parte de quem acompanha o crescimento e aprendizado dos alunos, e de admiração, dos que se deparam e são tocados pelas apresentações musicais durante os passeios de fim de semana pelo parque. Apenas em 2023, foram promovidas 22 apresentações para mais de 4 mil pessoas.

Incorporado a agenda multicultural do Ibirapuera, que é composta por eventos e atividades para todos os públicos e gostos variados, a Urbia anuncia a programação gratuita de todo o mês de junho do programa Música no Parque. Confira abaixo:

Marsares Trio

Data: 8 de junho

Horário: 11h30

Descrição: homenagem ao lendário compositor e cantor Djavan, com músicas que fazem parte do samba jazz e da bossa nova.

Artistas: Gabrielle Soares, pianista; João Oliveira, baterista; Tuco Cerutti, baixista.

Convidados: Paulo Prando, percussionista; Olivia Monaco, cantora; Erick Shil, violonista.

Guetto Brass

Data: 15 de junho

Horário: 11h30

Descrição: apresentação com música pop das décadas de 80, 90 e 2000. O repertório abrange uma seleção de clássicos que vão desde “Billie Jean”, até “Anunciação” e “Morena Tropicana”.

Artistas: Valquíria Braz, trompista; Caetano Farias, saxofonista; Gabrielle Almeida e Tawane Brandão, trombonistas; Kaique Passáros e Palloma Limas, trompetistas; Luizito Lopes, baterista; Vitor Neves, percussionista.

Grupo Vocal da Escola de Música do Parque Ibirapuera

Data: 22 de junho

Horário: 11h30

Descrição: espetáculo com os clássicos da canção popular brasileira e uma imersão em compositores fundantes da sonoridade popular, como Djavan, Tom Jobim e Milton Nascimento.

Artistas: Ana Cecília Santos Maciel e Júlia Constantino Gonçalves, cantoras contralto; Artemis Vítor Lima Fonseca e Karolina Barbosa Mesquita, cantores mezzosoprano; Giulia Ribeiro, Melina Bastos, Milla Maia Magalhães e Maria Fernanda, cantoras soprano; Klaus Aldrovanti, cantor tenor; Daniel Reginato, regente.

(Fonte: Urbia Parques)

Carlos Malta lança álbum ‘Pimentinha Sessions’ nas plataformas digitais

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

Fotos: André Garzuze.

No dia 7 de junho, Carlos Malta lançará o álbum ‘Pimentinha Sessions’, uma obra que promete mostrar a essência da música instrumental brasileira aliada ao universo da música de Elis Regina. Com a coprodução fonográfica de Carlos Malta Produções Artísticas e Mills Records, o álbum traz uma abordagem única ao apresentar clássicos imortalizados na voz da ‘Pimentinha’. O trabalho traz as faixas que fizeram parte do último disco da cantora: ‘Vivendo e Aprendendo a Jogar’ (Guilherme Arantes), ‘O Trem Azul’ (Lô Borges e Ronaldo Bastos), ‘Alô, Alô, Marciano’ (Rita Lee e Roberto de Carvalho) e ‘Se eu quiser falar com Deus’ (Gilberto Gil) – uma jornada de música instrumental repleta de referências e inovação.

O projeto em homenagem à Elis Regina começou com o relançamento de ‘Pimenta’, em janeiro deste ano (o álbum foi originalmente lançado em 2000) – https://mills-records.lnk.to/Pimenta.  Dando continuidade para ‘Pimentinha Sessions’, Carlos Malta reuniu um time de jovens músicos para dar vida ao novo formato das músicas escolhidas: Antonio Fischer-Band (piano), Giordano Gasperin (contrabaixo), Haroldo Eiras (guitarra) Matu Miranda (vocalizes), Antonio Sechin (saxofone) e Fofo Black (bateria).

Para celebrar estes dois álbuns, Carlos Malta fará apresentação especial de lançamento com o show ‘Pimenta Pimentinha’ no Espaço Ecovilla Rihappy – Teatro Tom Jobim no dia 9 de julho.

Release ‘Pimentinha Sessions’ por Hugo Suckman

Artista inquieta, para dizer o mínimo, Elis Regina sempre buscou renovar-se. Lá por 1980, pressentindo mudanças de rumo numa música – a popular brasileira – na qual suas escolhas e caminhos determinavam as coisas havia pelo menos uns 15 anos, ela resolveu gravar compositores tanto mais novos que ela como de outras origens estéticas. Gravou, por exemplo, o ‘roqueiro’ Roberto de Carvalho, ‘Alô, alô marciano’; o pop Guilherme Arantes de ‘Aprendendo a jogar’ e o progressivo mineiro Lô Borges ‘O trem azul’.

Em comum aos três, além da pouca idade, uma extraordinária inventividade melódica e harmônica e informações musicais diferentes e posteriores da formação de Elis, aquela origem incrível calcada no samba, bolero, bossa, a canção popular e jazz. Os três partiam disso tudo, para além. Elis aparentemente queria seguir nesses novos rumos (como, aliás, fizera tantas vezes antes).

Não por acaso, o flautista e saxofonista Carlos Malta escolheu esses três temas – e mais um, ‘Se eu quiser falar com Deus’, do compositor da geração de Elis que talvez tenha melhor feito também essa transição, Gilberto Gil – para estas ‘Pimentinha Sessions’, na verdade, quatro temas que continuam agora em 2024 o álbum ‘Pimenta – Tributo a Elis Regina’, lançado em 2000 e que no início do ano chegou às plataformas digitais. Se o repertório do álbum abordava o repertório digamos ‘clássico’ de Elis e da MPB – de ‘Garota de Ipanema’, um Tom e Vinicius de 1962, a ‘O bêbado e a equilibrista’, um Bosco e Blanc de 1979 – sua continuação segue a trajetória de Elis, o curto, intenso e renovador período de 80 a 82, ano da morte precoce da cantora, aos 36 anos.

E se havia dúvidas quanto à intenção ‘renovadora’ de Carlos Malta nas ‘Pimentinhas sessions’, no álbum original ele trabalhou com músicos de sua geração e agora, sem exceção, escolheu a dedo uma banda de músicos bem mais novos que ele: gente como o pianista Antonio Fischer-Band, de 26 anos, Giordano Gasperin no baixo, 33, o guitarrista Haroldo Eiras, 27, o cantor Matu Miranda, de 29, nos vocalizes, além de Antonio Sechin, de 27 anos, no saxofone e Fofo Black, 38 anos, na bateria, todos de gerações mais novas e estilos provocadores em seus instrumentos (como os compositores escolhidos por Elis).

O resultado faz jus à ousadia. ‘O trem azul’, também fazendo jus ao título, é uma viagem de 11 minutos em torno da música de Lô Borges, com o tema apresentado pela flauta de Malta, depois pelo piano de Antonio Fischer e, em seguida, aberto a inesgotáveis improvisos guiados pelas incríveis variações rítmicas propostas pela cozinha de Gasperin e Fofo Black.

Trata-se, talvez, da versão mais compatível com o espírito da composição de Lô – aberta, brasileira, meio psicodélica – e do Clube da Esquina em geral e da intenção de Elis em gravá-la naquele momento. O auge dessa versão inovadora se dá quando por sobre a ‘cama’ da flauta baixo de Malta em uníssono com o sax soprano de Antonio Sechin, Haroldo Eiras e Matu Miranda trançam guitarra elétrica e voz no improviso. Som novo total.

No quesito fazer jus, nada supera, no entanto, ‘Alô, alô, Marciano’, que talvez pela letra humorística de Rita Lee sempre é apresentada como uma canção ligeira. Aqui, nas ‘Pimentinhas sessions’ guiado pelo sax soprano de Carlos Malta o tema é apresentado quase como um bebop, o fraseado dos instrumentos de sopro sempre curtos, inventivos, sobre uma variação rítmica sempre nervosa, sincopada, com espaço também para interessantes improvisos vocais de Matu Miranda. Depois dessa sessão, o tema de Roberto de Carvalho entra definitivamente para o panteão de standards brasileiros.

‘Aprendendo a jogar’ também faz jus à sua incrível estrutura harmônica e é a que mais se aproxima, pelo menos na apresentação do tema, com a forma que Elis a apresentou em 1980. E, apesar dos intensos improvisos de sax, guitarra, voz e assim por diante, o que chama atenção nessa faixa é o conjunto tocando junto, desdobrando-se sobre o tema principal alegre, extrovertido de Arantes, uma bela peça de jazz capaz de incendiar qualquer festival (sobretudo se em palco aberto, num fim de tarde, aquele clima de felicidade total encontrando-se com uma trilha compatível).

Mestre Gil, que pode ser visto como tal em meio ao repertório e à banda de garotos, tem sua canção-solilóquio clássica tratada como um blues, uma balada a ser saboreada nota a nota (e suas variações propostas pelos músicos). Malta apresenta o tema no clarinete baixo com respeito e sotaque jazzístico. E aí inicia-se a pura diversão para quem toca e ouve com atenção, as variações sobre a melodia de Gil dando nova dimensão à conversa com Deus proposta na letra original.

Afinal, redescobrir músicas feitas há tanto tempo no repertório de uma cantora que já se foi também há tempos e apresentá-las assim tão novas e cheias de ideias também é uma forma de se dialogar com a eternidade, não?

Mais sobre o músico em https://carlosmalta.com.br/biografia/

Lançamento ‘Pimentinha Sessions’

Dia 7 de junho

Pré-save: https://mills-records.lnk.to/PimentinhaAR

Mills Records: (https://millsrecords.com.br/)

Carlos Malta (https://carlosmalta.com.br).

(Fonte: Alexandre Aquino Assessoria de Imprensa)

De Natal (RN), coreografia ‘Bípede sem Pelo’ estreia em São Paulo no Sesc Avenida Paulista

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Jorge Farias.

‘Bípede sem Pelo’ celebra dez anos do projeto do artista e pesquisador da dança contemporânea potiguar Alexandre Américo. A montagem, com direção de Pedro Vítor, nasceu a partir das inquietações do artista sobre a natureza da morte e o desejo de repensar a concepção do ser humano como ser cultural. Nesta busca, o espetáculo se lança nas manifestações encontradas nos sambas de nossas terras para buscar nossa capacidade de estarmos conectados ao piso do planeta. A estreia em São Paulo acontece no Sesc Avenida Paulista no dia 7 de junho e segue em cartaz até 30 do mesmo mês, de sexta à domingo. Confira a programação completa abaixo.

Américo deu início à montagem em 2021, fabulando um ser que se compreende parte dos mistérios das coisas que são o mundo, na tentativa de não separar natureza e cultura, passado e futuro, céu e terra, dança e técnica, carne e espírito, arte e política, vida e morte. “Fazem parte do escopo de referências deste trabalho as imagens dos orixás Omolu e Iansã com suas palhas-da-costa e seus ventos, o culto aos Egun-eguns na Bahia, a dança dos orixás, estátuas de bronze encontradas no Egito Antigo, o Manto do Bispo do Rosário, a figura do Cronos devorando o filho, bem como do Atlas suspendendo a Terra, fotografias de pessoas em transe feitas por Pierre Verger e sonoridades advindas do Oriente”, adianta Alexandre Américo sobre a base da cena desta montagem.

Em ‘Bípede sem Pelo’, a direção do artista multimídia Pedro Vítor contribui ético-político-esteticamente por pensar a dança desde sua experiência no cinema e na política a partir de uma percepção sensível e singular devido à sua condição neurodivergente do Transtorno do Espectro Autista. Artista PCD-TE, trouxe, além da conformação dos conceitos e a rota do trabalho, um olhar do audiovisual que faz parte de sua formação e, nesse sentido, contribuiu com essa dança que é produção de imagem e que tem muita semelhança com a produção do cinema. Também traz as experiências pessoais de sua própria vida para contribuir com essa perspectiva de direção dramatúrgica.

Foto: Maria Antônia Queiroz.

O espetáculo torce a ideia do animal humano, o bípede sem pelo, revelando um evento estético que nos põe em continuidade com as coisas mundanas, em giros, saltos, cruzamentos e amarrações, devolvendo-nos um saber próprio das manifestações culturais da terra. “O que se apresenta é um compartilhamento profundo e sensível das práticas de danças tradicionais brasileiras, as quais eu experiencio desde criança. O mundano, aqui, se refere às coisas materiais e tudo o que é concreto. Estou interessado naquilo que foi profanado; ou seja, em tudo o que desceu do púlpito lustroso e repousou sobre a terra. É dançar para o chão, para baixo, referenciando o corpo das manifestações populares do nordeste do Brasil, em especial, de Natal (RN)”, pontua Américo.

Em sua gênese, ‘Bípede sem Pelo’ faz parte da pesquisa de movimento na qual o artista mergulhou a partir de 2012 por conviver com epilepsia mioclônica juvenil, uma síndrome epiléptica generalizada caracterizada por abalos involuntários nos membros, especialmente nos braços e nas mãos, além do TDAH. Desde então, Alexandre se debruçou em pesquisar um modo de se mover a partir desses movimentos involuntários típicos de sua condição. “Não consigo realizar frases de movimentos preestabelecidas. Tudo o que faço precisa ter um alto grau de liberdade de escolha. Cada dia da peça é uma apresentação única”, revela o artista.

Assim, sua pesquisa de movimento surge a partir de uma possível impossibilidade à dança. Para persistir na dança, precisou se entender como improvisador e a gestar seus trabalhos a partir de sua singularidade. “Danço improvisando assuntos corporais que variam entre os espasmos mais intensos vindos do TDAH a linhas mais pontuais e suavizadas. Danço alargando meu sentimento de liberdade para que eu não convulsione. Assim, este modo de se mover passa a percorrer toda a minha trajetória ao longo desses 10 anos”, revela.

Foto: Maria Antônia Queiroz.

Para o coreógrafo, é preciso admitir que a invenção do Homem ou Animal Humano individual e apartado da natureza é a receita para a catástrofe do planeta. Vale pensar que não são todas as culturas que o ser se percebe de maneira individualista. “O Homem é uma invenção moderna e por isso pretendo torcer essa noção, reinventá-la. Inventar um outro bípede sem pelo”, finaliza Alexandre Américo.

Alexandre Américo

Artista e pesquisador da Dança com Licenciatura em Dança e Mestrado pelo PPGARC, ambas pela UFRN, foi aluno especial de Doutorado em Estudos da Mídia (UFRN) e diretor artístico da Cia GiraDança de 2018 a 2023 (Natal/RN). No momento, dirige a Corpo Mudança (Fortaleza-CE) e é atuante na área da investigação em Arte Contemporânea, com enfoque em estruturas performativas, improvisação, Cripstemologia (teoria aleijada) e seus desdobramentos dramatúrgicos. Com um perfil que transita com facilidade entre a academia e o palco, Alexandre acredita que teoria e prática caminham de mãos dadas, uma servindo à outra.

“Toda a minha formação no universo da dança cênica se deu, simultaneamente, dentro e fora dos espaços acadêmicos e por isso me empenho em borrar as fronteiras entre o que é e o que não é academia. Penso que fazer dança é fazer conhecimento e por isso me interesso em tecer um diálogo constante entre autores dentro de minhas criações. Para esta peça, em especial, tenho como suporte teórico o texto ‘Bípedes Sem Pelo: o caso das emoções’, do Prof. Dr. Marcos Bragato, para me ajudar a pensar o que é esse humano dentro da ciência em relação à dança. E com o Michel Maffesoli e seu livro ‘Ecosofia: uma ecologia para nosso tempo’, que me auxilia no entendimento desse humano contemporâneo que busca se relacionar de maneira a não se separar da natureza e seus processos”, reflete Américo.

Foto: Maria Antônia Queiroz.

O coreógrafo deseja também que este trabalho alcance os segmentos LGBTQIAPN+, PCD, negro, pessoas marginalizadas e periféricas e quer fazer compreender que a vida sem um senso de comunidade não vale a luta. “Devemos nos voltar profundamente à nossa relação com a terra, com a ancestralidade viva que nos rege. Entender que, ao refletir sobre a morte, podemos descobrir outros modos de encarar a vida para além daqueles impostos pela máquina capitalista que tanto devora nosso axé, nosso pulso de vida. Faço uma dança para alargar a liberdade de nossas ínfimas e poderosas existências. Para reelaborarmos, coletivamente, quem somos a partir de uma noção de corresponsabilidade com o decurso do mundo”, finaliza.

Sinopse

“O Bípede perdeu os pelos, o cérebro, a razão. Ele gira e na gira faz do mundo a carne de seu corpo”.

Esta peça torce a ideia do animal humano, o Bípede Sem Pelo, e revela, assim, feito um corpo-que-dança-em-transe-que-dança-corpo, um evento estético que nos põe em continuidade com as coisas mundanas, em giros, saltos cruzamentos e amarrações, devolvendo-nos um saber próprio das manifestações culturais da terra.

FICHA TÉCNICA

Dança e Coreografia: Alexandre Américo

Direção: Pedro Vitor

Interlocução Cênica: Laura Figueiredo

Interlocução Coreográfica: Elisabete Finger

Cenografia: Ana Vieira e Jô Bomfim

Luz: Camila Tiago

Montagem de luz: David Costa

Operação de Luz: Nicholas Matheus e Pedro Vitor

Fotografia divulgação: Carol Pires, Cayo Vieira, JAN e Maria Antônia Queiroz

Design Gráfico: Yan Soares e Maria Antônia Queiroz

Produção: Listo Produções – Celso Filho e Corpo Rastreado – Lucas Cardoso

Comunicação: Paulo Nascimento

Assessoria de Imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Daniele Valério e Flávia Fontes.

Serviço:

Bípede sem Pelo, com Alexandre Américo (RN)

De 7 a 30 de junho de 2024 | sextas e sábados, às 20h; domingos e feriados, às 18h

Duração: 60 minutos

Local: Sesc Avenida Paulista/ Estúdio (4º andar)

Classificação indicativa: 16 anos

Ingressos: R$40 (inteira), R$20 (Meia) e R$12 (Credencial plena)

Vendas a partir de 28 de maio, às 14h, online e nas bilheterias das unidades do Sesc SP, a partir das 14h do dia 29 de maio.

SESC AVENIDA PAULISTA

Avenida Paulista, 119, Bela Vista, São Paulo/ SP

Fone: (11) 3170-0800

Transporte Público: Estação Brigadeiro do Metrô – 350m

Horário de funcionamento da unidade: terça a sexta, das 10h às 21h30;. sábados, das 10h às 19h30; domingos e feriados, das 10h às 18h30.

(Fonte: Canal Aberto Assessoria de Imprensa)