Experiência da Casa da Criança Paralítica de Campinas, que recebeu investimento da FEAC, foi fundamental para a elaboração de um ebook gratuito que pode ajudar outras instituições


Campinas
Ao centro, a poltrona Sobreiro, do Estúdio Campana; nas laterais, a cadeira Portuguesa, de Claudia Moreira Salles. Fotos: Divulgação.
A exposição ‘Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas’ não se limita a uma mostra de design. A iniciativa amplia o olhar sobre a produção autoral brasileira e democratiza o acesso à cultura do design e da arquitetura, evidenciando o mobiliário como expressão de identidade, funcionalidade e experimentação estética. Idealizada pelos designers e empreendedores Pedro Luna e Gabriel De La Cruz, a mostra integra a programação como um dos eventos âncora do DW! Semana de Design de São Paulo 2025 e acontece de 10 a 23 de março. Com curadoria da arquiteta Carolina Gurgel e consultoria da pesquisadora e crítica de design Adélia Borges, Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas apresenta um recorte expressivo do design nacional, reunindo cerca de 50 cadeiras que transitam entre tradição e inovação. A seleção curatorial destaca a produção contemporânea dos últimos 20 anos (2005-2025), reafirmando a importância da cadeira como um dos objetos mais icônicos do design e da cultura material da humanidade.
A edição de 2025 amplia ainda mais a diversidade da produção brasileira, reunindo peças de 11 estados diferentes e apresentando 29 designers que não participaram da edição anterior. A mostra reforça seu compromisso em revelar novas perspectivas e abordagens no design, destacando a constante renovação e experimentação no setor. Entre os designers premiados e de reconhecimento internacional, estão Humberto Campana, do Estúdio Campana, referência global com peças nos acervos do MoMA e Centre Pompidou; Paulo Mendes da Rocha, ícone da arquitetura e do design brasileiro, reconhecido mundialmente pelo seu pensamento inovador e pela contribuição para a identidade do mobiliário nacional; Hugo França, pioneiro na reutilização de madeira, com obras em coleções e exposições internacionais; Cláudia Moreira Salles, nome consolidado no design brasileiro, com uma trajetória marcada pela precisão técnica e pela valorização dos materiais e Juliana Vasconcellos, destaque no design contemporâneo, cuja presença global reforça a força criativa do Brasil no cenário internacional.
Entre os estúdios consolidados no Brasil e com presença crescente no exterior, fazem parte da exposição o Metro Objetos, representado por Gustavo Cedroni e Martin Corullon; além de Pedro Luna e Gabriel De La Cruz, cujos trabalhos exploram novas narrativas e diálogos entre forma, ergonomia e identidade cultural.
O evento também evidencia uma nova geração de talentos, criadores que vêm expandindo as possibilidades do design nacional por meio da experimentação material e da exploração de novos conceitos para o mobiliário contemporâneo. Vinícius Schmidit investiga o uso do bambu, enquanto Luiz Solano inova com a aplicação do acrílico em suas criações. Assimply propõe um olhar sustentável ao integrar resíduos na concepção de suas peças. Novidário apresenta um projeto inovador utilizando placas feitas a partir de tampas de garrafa, explorando novas possibilidades para o reuso de materiais. Luisa Attab, Leo Ferreiro, André Grippi e Desyree Niedo também integram esse grupo de jovens designers que exploram novas abordagens, com soluções que equilibram técnica, materialidade e função. Além disso, alguns desses nomes são residentes da Galeria Metrópole, reforçando a sinergia entre criação e território.
Da esquerda para a direita, cadeiras dos designers Gustavo Bittencourt, Arthur Casas, Metro Objetos, Ilse Lang, Gabriel de La Cruz e Juliana Vasconcellos.
A cadeira como expressão do design e da cultura brasileira
Poucos objetos carregam tanto significado quanto uma cadeira. Esse elemento essencial desafia os designers tanto na estética quanto na ergonomia, exigindo um equilíbrio entre forma, função e inovação. Ao longo dos séculos, as cadeiras têm refletido o espírito de cada época e sociedade, incorporando avanços tecnológicos, transformações culturais e novas concepções estéticas. Muito além de sua função utilitária, elas simbolizam estilo de vida, pertencimento e relações sociais, acompanhando a evolução das formas e dos materiais.
No design moderno, peças icônicas como a Thonet No. 14 (1859), a Barcelona de Mies van der Rohe (1929) e a Eames Lounge Chair (1956) consolidaram-se como referências atemporais, traduzindo funcionalidade, conforto e inovação. Como observam Charlotte & Peter Fiell, autores do livro 1000 Chairs, “a cadeira é o artefato da era moderna mais desenhado, estudado e apreciado, tornando-se um elo entre estética, ideologia e sociedade”.
No Brasil, a produção modernista trouxe contribuições marcantes, consolidando uma linguagem autêntica e representativa do mobiliário nacional. A Poltrona Mole (1957), de Sergio Rodrigues, redefiniu a estética do mobiliário nacional com sua estrutura robusta e conforto extremo. Já a Cadeira Três Pés (1948), de Joaquim Tenreiro, inovou ao unir leveza e elegância ao design artesanal. Outro exemplo emblemático é a Cadeira Paulistano (1957), de Paulo Mendes da Rocha, reconhecida internacionalmente por sua simplicidade estrutural e sofisticação.
No contexto contemporâneo, a cadeira assume um caráter singular na evolução do design brasileiro, combinando criatividade, experimentação e herança artesanal. O diálogo entre tradição e inovação se manifesta na diversidade de propostas, desde o resgate de técnicas artesanais até o uso de novas tecnologias e materiais.
A curadoria valoriza a escolha de materiais e processos produtivos, que vão das técnicas artesanais às abordagens industriais. Entre a ergonomia e a experimentação, a cadeira se transforma, refletindo hábitos e modos de convívio que atravessam o tempo e as culturas.
Da esquerda para a direita, cadeiras dos designers André Carvalho, Estúdio Prosa, Carlos Motta, Hugo França, Studio Volanti, André Grippi e Jacqueline Terpins.
Texto curatorial | Carolina Gurgel
“Desde sua criação, a cadeira é resultado de uma somatória de escolhas: materialidade, técnica construtiva, simbolismo, mobilidade e ergonomia. Idealmente, uma cadeira deve ser resistente, mas ao mesmo tempo leve e móvel. Sua ergonomia deve ser precisa, oferecendo um sentar confortável e correto. A complexidade de desenhar uma cadeira é um desafio instigante a muitos designers. O processo é uma equação em que muitas vezes para o autor não cabe a somatória de todas essas variáveis, optando por priorizar algumas delas. A transgressão dessa fórmula ideal da cadeira, somada ao acesso a diferentes tecnologias e materiais, resulta no cenário atual amplamente diverso.
Buscamos trazer um recorte da produção nacional contemporânea neste ‘Um Lugar’, no qual apresentamos as múltiplas possibilidades da cadeira, explorando formas, métodos de fabricação, materiais, origens, usos e escalas. Com a iniciativa de Gabriel De La Cruz e Pedro Luna e sob a orientação de Adélia Borges, reunimos cadeiras produzidas em 12 estados brasileiros, confeccionadas em madeira, cortiça, bambu, acrílico, couro, plástico reciclado, pedra, metal, tecido e concreto.
Aliada à grande variedade de materiais, é notável uma maior liberdade na exploração da forma e do uso – braços simplesmente como adornos ou a extrapolação das dimensões do encosto da cadeira para além do convencional. Vale também citar o produto compreendido como processo e não apenas como resultado, muitas vezes tornando-se peça única ou de baixa tiragem.
Outro ponto curioso da cadeira é o seu uso prolongado se desdobrar em desenhos específicos para funções predeterminadas. Na exposição, temos exemplares de escritório e uma peça própria para oficinas de marceneiros. Vale citar também usos mais corriqueiros como salva-vidas, cabeleireiro, engraxate ou avião.
A expografia traz uma mesa central no formato de um grande rio circundado por cadeiras. Nas laterais, mesas que sobem nas paredes aludem a cachoeiras. As cores demarcam os quatro núcleos expositivos: escritório, área externa, área interna e infantil. Mais uma vez, é com orgulho da riqueza e diversidade do design nacional contemporâneo que convido vocês a visitarem esse Um Lugar de possibilidades e desdobramentos.”
Da esquerda para a direita, cadeiras dos designers Bia Rezende, Baba Vacaro, Vinicius Siega, Pedro Luna, Osvaldo Tenório e ,OVO.
Elenco expositivo
A exposição Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas apresenta um panorama significativo do design brasileiro, reunindo grandes nomes do setor, cuja influência se expande no contexto internacional.
O elenco é formado por Alexandre Kasper, Ana Neute, André Carvalho, André Grippi, Arthur Casas, Assimply (Victor Xavier e Søren Hallberg), Baba Vacaro, Bia Rezende, Carlos Motta, Casa da Abelha (Mariana Bueno), Cláudia Moreira Salles, Dengô (Aline Almeida e Carlos Batista), Desyre Niedo, Dimitrih Correa, Humberto Campana (Estúdio Campana), Estúdio Prosa (Julia Rovigo e Gabriel Pesca), Felipe Protti (Prototype), Fernando Jaeger, Fernando Prado, Gabriel De La Cruz, Giácomo Tomazzi, Gustavo Bittencourt, Gustavo Cedroni e Martin Corullon (Metro Objetos), Guto Índio da Costa, Hugo França, Humberto da Mata, Ilse Lang, Jader Almeida, Jacqueline Terpins, Juliana Llussá, Juliana Vasconcellos, Junior Brandão, Leo Ferreiro, Leandro Garcia, Luiz Solano, Luisa Attab, Morito Ebine, Novidário (Luciana Sobral e José Machado), Noemi Saga, Osvaldo Tenório, OVO (Luciana Martins e Gerson de Oliveira), Paulo Alves + FGMF, Paulo Mendes da Rocha, Pedro Luna, Rafael Espindola, Pierre Colnet e Hadrien Lelong em colaboração de Guilherme Wentz, Porfírio Valladares, Ricardo Graham Ferreira, Rodrigo Ambrósio, Studio Volanti (Lucas Rosin e Roberto Leme), Tiago Curione, Vinícius Schmidt (Estúdio Simbiose) e Vinícius Siega.
Da esquerda para a direita, cadeiras dos designers ,OVO, Guilherme Wentz + Cremme, Novidário, Luisa Attab e Dengô.
Transformação urbana através do design e empreendedorismo
Pedro Luna e Gabriel De La Cruz, idealizadores da exposição, atuam na Galeria Metrópole, onde mantêm seus próprios estúdios de design. À frente de seus ateliês, ambos desempenham um papel essencial na revitalização da galeria, incentivando a ocupação de lojas vazias por novos talentos e promovendo o design autoral como um eixo transformador do espaço. Nesse movimento crescente, auxiliam na vinda de amigos designers para a galeria, ampliando sua vocação como um polo de criação.
Além das exposições, os organizadores promovem encontros, palestras e atividades educativas que aproximam grandes nomes do design do público interessado. Com objetivo é conectar referências do design brasileiro à uma jovem cena emergente no centro de São Paulo, esses eventos incentivam discussões sobre criação e produção promovendo um ambiente inspirador.
Como parte das iniciativas culturais promovidas pela dupla, quatro grandes nomes do design brasileiro que participaram da exposição Um Lugar: Bancos Brasileiros Contemporâneos, realizada em 2024, foram convidados para uma série de talks dentro da programação cultural da 4ª edição do Design na Metrópole. Entre os momentos de grande repercussão, destacou-se a exibição do documentário WE THE OTHERS: 40 anos de colaboração no design – a obra e vida dos Irmãos Campana, seguida de uma conversa com Humberto Campana.
A programação realizada pela dupla também contou com outros encontros e debates sobre diferentes perspectivas do design. No talk Forma e…, Claudia Moreira Salles, prestigiada designer brasileira explorou a interseção entre técnicas artesanais e o design contemporâneo. Em O Objeto no Espaço, Gerson de Oliveira, cofundador do estúdio ,OVO ao lado de Luciana Martins, discutiu a criação de mobiliários e objetos que combinam funcionalidade e poesia. Já em Brasil, Brasis – Um Olhar para o Sul, a renomada curadora, historiadora e crítica de design Adélia Borges apresentou um panorama do design desenvolvido por imigrantes alemães e italianos na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX.
O compromisso de Pedro Luna e Gabriel De La com a excelência se reflete em cada detalhe. A identidade visual da exposição foi concebida de forma artística e minuciosa, com ilustrações personalizadas para cada designer expositor. Na edição anterior, dedicada aos bancos, os organizadores surpreenderam o público com iniciativas inovadoras, como a produção de 70 maquetes táteis para pessoas com deficiência visual, um gesto que reafirma a premissa de que o design deve ser acessível a todos.
Como disse a antropóloga Margaret Mead, “Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos comprometidos pode mudar o mundo. De fato, foi sempre assim que aconteceu”, Pedro e Gabriel traduzem essa visão em ação, demonstrando que pequenas iniciativas podem impulsionar transformações culturais e urbanas significativas.
Sobre os idealizadores | Gabriel De La Cruz e Pedro Luna
Arquiteto e designer, Gabriel De La Cruz Mota é formado em Arquitetura e Urbanismo pela UFMT, com pós-graduação pela Escola da Cidade (2014) e especialização em Design de Mobiliário pela Panamericana Escola de Arte e Design (2016). À frente do Studio De La Cruz desde 2015, desenvolve mobiliário, luminárias e objetos que aliam simplicidade e identidade autoral. Em 2021, inaugurou seu ateliê e showroom na Galeria Metrópole, no centro de São Paulo, promovendo a valorização do design ao lado de outros criadores. Seu trabalho vem sendo amplamente reconhecido, com premiações como o Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira (três vezes, nas categorias Mobiliário e Iluminação), o Prêmio do IAB (três vezes, incluindo duas na categoria Design e uma em Projeto Expográfico), além do IF Design Award 2024 e do Prêmio Brasileiro de Design, este último laureado por três projetos distintos nas categorias Design de Exposição, Design de Produto – Iluminação e Design de Mobiliário.
Arquiteto, designer e marceneiro, Pedro Luna é natural de São José dos Campos, interior de São Paulo, e formado em Arquitetura e Urbanismo pela Unesp. Seu trabalho equilibra técnica e sensibilidade, reinterpretando objetos cotidianos em móveis que exaltam valores estéticos e resgatam memórias afetivas. À frente do Estúdio Pedro Luna, inaugurado em 2022, integra uma nova cena do design no centro histórico de São Paulo, com showroom na Galeria Metrópole, espaço que vem se consolidando como um polo de criação e inovação. Apesar de sua recente trajetória, o estúdio já conquistou prêmios importantes, como o Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, o Prêmio Salão Design e o iF Design Award. Suas criações foram exibidas em mostras de prestígio, incluindo MADE, CASACOR e SP-Arte (São Paulo), Art Basel (Miami) e Fuorisalone (Milão).
‘Um lugar’ – Um encontro entre gerações
A exposição Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas se posiciona como um importante evento na Semana de Design de São Paulo. Reunindo peças que refletem tanto a tradição artesanal quanto as novas possibilidades industriais, a exposição lança um olhar ampliado sobre a cadeira como objeto simbólico e funcional, atravessando gerações e traduzindo o espírito de sua época. O diálogo entre passado, presente e futuro se manifesta nos materiais escolhidos, nas técnicas aplicadas e nas narrativas que cada peça carrega – da madeira entalhada à experimentação com novos materiais sustentáveis.
Com uma trajetória consolidada e crescente reconhecimento fora do país, o design brasileiro se distingue pela fusão entre identidade cultural, inovação e excelência na produção de mobiliário. Com cerca de 50 cadeiras expostas, a mostra evidencia a riqueza do mobiliário nacional e sua capacidade de refletir múltiplos contextos socioculturais.
Um Lugar se estabelece como um espaço de resistência e inovação no design nacional, idealizado para acontecer anualmente, unindo diferentes gerações e perspectivas para ampliar a expressão do design brasileiro. Ao ocupar espaços históricos e fomentar a troca de conhecimento entre diferentes gerações de designers, a mostra transcende o conceito tradicional para se afirmar como um catalisador de novas formas de pensar, produzir e viver o design no Brasil.
A Galeria Metrópole: um ícone do design no centro de São Paulo
A Galeria Metrópole é um edifício histórico do centro de São Paulo, reconhecido como referência no design nacional. Inaugurada em 1964, a galeria foi projetada pelos arquitetos Salvador Candia e Giancarlo Gasperini, dois dos grandes nomes da arquitetura modernista brasileira. Localizada na Avenida São Luiz, uma das ruas mais importantes e valorizadas nas décadas de 1950 e 1960, a Metrópole se destacou como um marco do modernismo paulistano, reunindo espaços comerciais inovadores. O projeto arquitetônico se diferencia pelo paisagismo interno e pela forte arborização externa, criando um ambiente de convivência que contrasta com o dinamismo urbano do centro. Hoje, a Galeria Metrópole se consolida como um espaço multifuncional e um dos principais polos criativos e culturais de São Paulo, atraindo designers, artistas e visitantes interessados na efervescência do design nacional.
Serviço:
Exposição Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas
Local: 3º andar da Galeria Metrópole – Avenida São Luís, 187, Centro, São Paulo, SP
Data: 10 a 23 de março de 2025 | Horário: das 10h às 20h
Entrada gratuita
Patrocínio: Sherwin-Williams
Apoio: DW! Semana de Design de São Paulo.
(Com Cris Landi)
Agostinho Batista de Freitas, Imigrantes, 1986, Óleo sobre tela, 70 x 100 cm, Coleção Galeria Estação. Fotos: João Liberato.
O Instituto Tomie Ohtake tem o prazer de anunciar Instituto Tomie Ohtake visita Coleção Vilma Eid – Em cada canto, exposição que se dedica a examinar o acervo da colecionadora e galerista Vilma Eid, que nos últimos quarenta anos forjou uma coleção singular reunindo trabalhos de mais de 100 artistas entre os ditos populares, modernos e contemporâneos. Com mais de 300 obras divididas em duas salas, a mostra tem curadoria de Ana Roman e Catalina Bergues e ficará em cartaz entre 14 de março e 25 de maio de 2025, paralelamente à exposição Patricia Leite – Olho d’água. Em cada canto é uma realização da Casa Fiat de Cultura e Instituto Tomie Ohtake via Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura e conta com o patrocínio da Stellantis, sob a chancela Apresenta; do Itaú Unibanco, sob a chancela Platina; do BMA Advogados, sob chancela Bronze e Galeria Estação, sob chancela Apoio. Entre 17 de junho e 17 de agosto a exposição segue em itinerância para a Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte.
A mostra integra o programa de exposições Instituto Tomie Ohtake visita, que busca criar conexões com colecionadores e agentes do circuito da arte, proporcionando acesso a coleções que, em parte, são pouco exibidas ao grande público. Apresentadas sob diferentes leituras curatoriais, essas mostras se aproveitam de combinações improváveis de artistas e trabalhos para contemplar novas perspectivas de uma história da arte já consolidada.
No contexto da exposição, será lançada em parceria com a Editora Martins Fontes a coletânea Arte Popular – Modos de Usar, organizada por Amanda Reis Tavares Pereira — pesquisadora e curadora que tem consolidado investigações que ampliam e atualizam os debates sobre o tema. O livro recompila, discute e revisita a historiografia e as questões ligadas à arte popular, com textos de Lélia Coelho Frota, Fernanda Pitta, Ana Avelar e Ayrson Heráclito, entre outros, oferecendo uma leitura atualizada tanto de textos históricos quanto contemporâneos, ampliando e atualizando o debate.
Alcides Pereira dos Santos, Avião de Vigilância Marítima, 1997, Acrilica sobre tela, 86 x 148 cm, Coleção Galeria Estação.
Vilma Eid desempenha um papel fundamental na valorização da arte popular brasileira. Como fundadora da Galeria Estação, inaugurada há 20 anos ao lado de seu filho Roberto Eid Philipp, a galerista se dedica incansavelmente à promoção, reconhecimento e inclusão dos artistas populares no cenário artístico nacional e internacional, evitando rótulos que possam limitar ou estigmatizar tais artistas e suas produções. Ao dizer que “Arte é arte. Não importa a classificação”, Eid afirma seu entendimento sobre os múltiplos caminhos da criação artística. Em sua casa, a galerista dispõe as obras de tal forma a criar conexões inesperadas. Trabalhos de artistas modernos e contemporâneos como Geraldo de Barros, Mira Schendel, Paulo Pasta ou Tunga convivem com os ditos populares, como José Antonio da Silva, Izabel Mendes da Cunha, Itamar Julião ou Véio.
Além de estimular o encontro destes trabalhos no ambiente expositivo, a mostra contribui com o debate sobre categorias de definição no sistema da arte. Como defendem as curadoras, “em vez de fixar uma definição do que é ‘popular’ ou ‘erudito’, a mostra Em cada canto sugere novas possibilidades de diálogos. Ao apresentar pela primeira vez o conjunto de obras reunidas por Vilma Eid nos últimos 40 anos, a exposição põe em evidência como as peças se transformam quando vistas lado a lado, estimulando o público a perceber a arte brasileira como campo aberto a intersecções e reinterpretações”.
As duas salas que compõem a mostra trazem conexões entre artistas e obras encontradas na casa da colecionadora e outras propostas pela curadoria. Estão lá representadas questões recorrentes na história da arte: a relação entre tradição e inovação; temporalidade e espaço; cor e forma ou figuração e abstração. Em alguns casos, através de categorias ligadas à arte popular, como o imaginário rural, a valorização de saberes regionais ou os trabalhos com barro e madeira. Em outros, com processos costumeiramente relacionados ao modernismo e à arte contemporânea, incluindo aí os temas conceituais, a abstração ou o aproveitamento de materiais do dia a dia. Como afirmam Roman e Bergues, “apresentar, pela primeira vez, o conjunto heterogêneo de obras que habitava o ambiente doméstico de Vilma — onde surgiam conexões inusitadas entre estilos, épocas e técnicas — representa um desafio curatorial para manter a atmosfera de proximidade, sem abrir mão da clareza expositiva”, concluem.
Programa Público | A esta exposição soma-se um programa público de encontros, oficinas e vivências, com programação atualizada pelo site e redes sociais do Instituto ao longo do período expositivo.
Programa Instituto Tomie Ohtake visita
Mirian Inêz da Silva Cerqueira, Sem título, s.d., Óleo sobre madeira, 55 x 110 cm, Coleção Vilma Eid.
O programa Instituto Tomie Ohtake visita tem se destacado como uma iniciativa inovadora, ao estabelecer parcerias com colecionadores e agentes do circuito da arte para promover imersões em acervos de acesso restrito ao grande público. A primeira edição, realizada em 2022, apresentou a exposição Centelhas em movimento, um recorte da coleção do empresário Igor Queiroz Barroso, com curadoria de Tiago Gualberto e Paulo Miyada. Já em 2023, a segunda edição mergulhou na trajetória do marchand Paulo Kuczynski, resultando na mostra A coleção imaginária de Paulo Kuczynski, sob curadoria de Jacopo Crivelli Visconti. Ambas as exposições evidenciaram a riqueza e a diversidade da produção artística nacional, explorando narrativas plurais dos séculos 20 e 21. O Instituto Tomie Ohtake segue firme em seu compromisso de estimular novas formas de aproximação entre o público e a arte, reafirmando sua vocação como espaço de descobertas e diálogos sobre o patrimônio artístico e cultural.
Programa amigos | O Programa de Amigos do Instituto Tomie Ohtake quer aproximar o público de um dos espaços de arte mais emblemáticos da cidade de São Paulo. Além de apoiar, o Amigo Tomie fará parte de uma comunidade conectada à arte, contará com benefícios especiais e experiências únicas. São três categorias de apoio, contribuindo com novas exposições, programas educativos, orçamento anual e manutenção do Instituto.
Serviço:
Instituto Tomie Ohtake visita Coleção Vilma Eid – Em cada canto
Abertura: 13 de março, às 19h
Em cartaz de 14 de março a 25 de maio de 2025
De terça a domingo, das 11h às 19h – entrada franca
Instituto Tomie Ohtake
Av. Faria Lima 201 (Entrada pela Rua Coropé, 88) – Pinheiros SP
Metrô mais próximo – Estação Faria Lima/Linha 4 – amarela
Fone: (11) 2245-1900
Site: institutotomieohtake.org.br
Facebook: facebook.com/inst.tomie.ohtake
Instagram: @institutotomieohtake
Youtube: www.youtube.com/@tomieohtake.
(Com Martim Pelisson/Instituto Tomie Ohtake)
A Luciana Caravello Galeria de Arte Contemporânea apresenta a exposição A Dança da Percepção, primeira individual do artista Jean Araújo (Vitória da Conquista, 1975) no espaço. Com curadoria de Roberto Bertani, a mostra acontece de 22 de março a 3 de maio, reunindo 22 obras inéditas que marcam uma constante evolução da pesquisa pictórica do artista, apresentando as recentes experiências com a cor e suas interações com a luz e o espaço. Diferentemente da pintura tradicional, sinônimo de permanência e eternidade, as obras desta exposição produzem um acontecimento cromático que evolui continuamente junto com o espectador e com a mudança da luz, em aberta contradição com a natureza e os cânones do espaço pictórico tradicional.
O trabalho e a pesquisa de Jean Araújo constroem um diálogo com os principais nomes da arte óptica e cinética, como Carlos Cruz-Diez, Jesús Rafael Soto e Júlio Le Parc. Tal como os mestres, a obra de Araújo explora o movimento de maneira peculiar: em vez de elementos físicos em deslocamento, é a própria experiência visual do espectador que ‘se move’ conforme ele interage com as cores. A experiência proposta convida o público a se tornar parte ativa da obra, uma vez que a percepção do espectador se torna elemento essencial na vivência estética.
Segundo Roberto Bertani, o rigor técnico e a materialidade, aliadas a uma apurada organização tonal, são os pilares que definem a experiência do espectador diante da obra de Araújo. O equilíbrio entre cores em contraste intensifica a sensação de profundidade e ritmo, conduzindo o olhar para diferentes camadas da composição. O resultado é uma experiência estética apurada, que convida o espectador a mergulhar nas nuances cromáticas e no dinamismo das formas propostas.
Como afirma o curador, “Jean Araujo nos convida a mergulhar em um universo vibrante e pulsante, onde a cor, a luz e o movimento se entrelaçam, criando um diálogo sensível entre a obra e o observador. Ao final, o que permanece é um jogo de sedução estética — uma coreografia visual que instiga o olhar a dançar em meio à magia cromática que o artista tão habilmente concebeu. Nesta exposição, o artista não apenas apresenta suas obras, mas propõe uma nova forma de ver e sentir, um convite para que cada um de nós se torne parte dessa dança visual, enriquecendo nossa experiência com a arte contemporânea”, completa Bertani.
Sobre Jean Araújo
Graduado em Artes Visuais pela UCAM (RJ). Frequentou os cursos da EAV – Parque Lage de 2013 a 2016, Casa França 2016 a 2017. Participou de várias exposições, como Miragens (Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, RJ); Imersões na Casa França Brasil (RJ); Além da Imagem na Sem Título Arte em Fortaleza(CE); III Bienal do Sertão, Vitória da Conquista – (BA) ; 17º Salão de arte Jataí – (GO) 8º Arte Londrina (PR) 46º Salão de Arte Novissímos – Galeria IBEU (RJ) ; 24º Salão de Arte de Praia Grande (SP); Programa de Exposições do Museu de Arte de Ribeirão Preto (SP); In Progress, Salão de Artes Visuais de Vinhedo (SP); Nada mais me importa no (Espaço Furnas Cultural, RJ). Obras em acervos: Museu da Cidade – Paia Grande, Museo Histórico de Jataí – GO.
Sobre Roberto Bertani
Doutor em Ciências Sociais pela PUC – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Mestre em Artes Visuais pela UNESP – Universidade Estadual Paulista, Especialista em Comunicação pela ECA/USP – Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, Bacharel em Desenho Industrial pelo Centro Universitário Armando Álvares Penteado. Foi Coordenador Titular do Subcolegiado de Artes e Humanidades da Comissão Técnica de Acompanhamento da Avaliação – CTAA, do Ministério da Educação – MEC
É diretor do Centro de Estudos Brasileiros da América Latina no Memorial da América Latina e diretor geral do MUBA – Museu Belas Artes de São Paulo, foi diretor executivo do ICCO – Instituto de Cultura Contemporânea, superintendente geral e curador artístico da Fundação José e Paulina Nemirovsky na Pinacoteca do Estado de São Paulo, diretor executivo do IAC – Instituto de Arte Contemporânea.
Atualmente é o chairholder da Cátedra Unesco Latin America’s integration process at the Latin American Memorial, coordenador do curso de Pós-Graduação e do Bacharelado em Artes Visuais no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Professor Titular da graduação e pós-graduação do Centro Universitário Armando Álvares Penteado.
Serviço:
Exposição A Dança da Percepção, de Jean Araújo
Curadoria: Roberto Bertani
Período: 22 de março a 3 de maio de 2025
Horário de visitação: Segunda a sexta, das 10h às 18h; sábados, das 11h às 16h
Entrada: Gratuita
Luciana Caravello Galeria de Arte Contemporânea – São Paulo
Rua Mourato Coelho, 790 – Vila Madalena – São Paulo, SP – Brasil.
(Com Martim Pelisson Moraes/Pool de Comunicação)
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro abre a temporada de 2025 comemorando os 200 anos de nascimento de Johann Strauss II com a Série Celebrações – ‘Uma Noite Vienense’, nos dias 13/3 (estreia) e 14/3, às 19h. Com o Patrocínio Oficial Petrobras, o Concerto vai contar com a Orquestra Sinfônica do Municipal, além da solista Michele Menezes (soprano), sob regência do maestro titular da OSTM, Felipe Prazeres. Antes do início do espetáculo, na escadaria interna do Municipal, os grupos Os Pequenos Mozart e Amadeus, vestidos a caráter, vão receber o público. Em março ainda, nos dias 28 e 29, haverá um concerto didático com o maestro Felipe Prazeres, à frente da OSTM, que contará a história da evolução das orquestras com uma linguagem bem acessível ao público.
Com texto de Eric Herrero, as apresentações terão obras de Bach, Mozart, Tchaikovsky, Rossini, Beethoven e Vivaldi e dos brasileiros Heitor Villa-Lobos e Lorenzo Fernandes. Como solistas, Carolina Morel (soprano), Loren Vandal (soprano), Fernando Lorenzo (barítono), Daniel Albuquerque (violinista) e Sofia Ceccato (flauta). Participações especiais de Liana Vasconcelos (bailarina), Bruno Fernandes e Ludoviko Vianna (atores) como Goiabada e Marshmallow e Murilo Emerenciano (piano). A direção cênica será de Mateus Dutra.
“Estamos muito honrados em abrir a temporada de 2025 com Uma Noite Vienense, em homenagem a Johann Strauss II. Este ano seguimos contando com o patrocínio oficial da Petrobras, que garante títulos importantes à Casa, trazendo nossa Orquestra Sinfônica para uma apresentação especial ao público tão fiel. Estamos animados para mais uma temporada no Municipal!”, destaca Clara Paulino, presidente da Fundação Teatro Municipal. “Com muita alegria, iniciamos mais uma Temporada Artística Oficial do nosso Theatro Municipal do Rio de Janeiro e, nada mais alegre e para cima, que as Valsas de Johann Strauss II, compositor que neste 2025 será celebrado em todo o mundo por seus 200 anos de nascimento!”, completa Eric Herrero, diretor Artístico da Fundação Teatro Municipal.
“Poucos compositores conseguiram captar a essência da dança com tanta veracidade como Johann Strauss II. O Theatro Municipal do Rio de Janeiro terá a oportunidade de celebrar seus 200 anos de nascimento vivenciando toda a elegância e vivacidade de sua música na abertura da temporada de 2025.”, ressalta Felipe Prazeres, maestro Titular da OSTM.
Sobre o maestro Felipe Prazeres
Um dos mais conceituados músicos de sua geração, Felipe Prazeres é maestro titular da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e maestro residente da Orquestra Petrobras Sinfônica. Na Petrobras Sinfônica, foi maestro assistente de Isaac Karabtchevsky entre 2014 e 2018. É um dos fundadores da Academia Juvenil, projeto socioeducativo que oferece formação gratuita para jovens entre 15 e 20 anos oriundos de escolas de música e orquestras comunitárias. No Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde é titular desde 2022, participou como regente e diretor musical das óperas O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, Carmen, de Bizet, e O Elixir do Amor, de Donizetti e Le Ville, de Puccini, além de ter atuado como regente nas três últimas
Aberturas de Temporada – em 2023 regeu a Sinfônica do Theatro Municipal e OSB juntas em um concerto dedicado a Berlioz e Wagner. É diretor artístico e fundador da orquestra Johann Sebastian Rio, uma das mais importantes orquestras de câmara do país. Neste grupo de câmara, dirige concertos com repertório de todas as épocas, mas com especial atenção à música barroca e à música brasileira. Com a Johann Sebastian Rio gravou em 2023 o álbum Sambach com o premiado violinista alemão Linus Roth e se apresentou em agosto de 2024 no renomado Rheingau Musik Festival, na Alemanha. E maio de 2025 fará uma turnê pela Europa passando pela Alemanha, Suíça e Polônia.
Ficha Técnica
Concerto 1 – Série Celebrações
Uma Noite Vienense de Johann Strauss II
200 anos de nascimento
Solista: Michele Menezes (soprano)
Músicas:
Abertura da Opereta O Morcego
Valsa Vida de Artista
Valsa do Imperador
Polca Ancestral
Intervalo – 15 minutos
Vozes da Primavera
Czardas da Opereta O Morcego
O Danúbio Azul
Concerto 2 – Concerto Didático
Músicas:
Antonio Vivaldi Primavera – 1º movimento
Johann Sebastian Bach Badinerie – suíte n° 2
Wolfgang Amadeus Mozart Sinfonia 25 – 1º movimento
Wolfgang Amadeus Mozart – Pequena Serenata Noturna – 1º movimento
GioachinoRossini – Duetto Buffo di Due Gatti
Ludwig van Beethoven 5ª Sinfonia – 1º movimento
Gioachino Rossini – Ária de Figaro
Piotr Ilitch Tchaikovsky Lago Ato 1 nº 9 e final ato 2
Heitor Villa-Lobos Trenzinho do Caipira
Oscar Lorenzo Fernandes Batuque
Solistas: Carolina Morel (soprano), Loren Vandal (soprano), Fernando Lorenzo (barítono), Daniel Albuquerque (violinista) e Sofia Ceccato (flauta)
Participações especiais: Liana Vasconcelos (bailarina), Bruno Fernandes e Ludoviko Vianna (atores) e Murilo Emerenciano (piano)
Texto: Eric Herrero
Direção Cênica: Mateus Dutra
Regência dos dois concertos: Felipe Prazeres
Direção Artística TMRJ: Eric Herrero.
Serviço:
Abertura Temporada 2025 – Série Celebrações
Uma Noite Vienense
Música de Johann Strauss II – 200 anos de nascimento
Com Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Datas: 13/3 (estreia) e 14/3 – 19h
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Endereço: Praça Floriano, s/n° – Centro
Duração: 1h + 15 minutos de intervalo
Classificação: 10 anos
Concerto Didático
Com Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Datas: 28/3 às 11h; 29/3 às 17h
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Endereço: Praça Floriano, s/n° – Centro
Duração: 1h15
Classificação: Livre
Ingressos
Frisas e Camarotes – R$60,00 (ingresso individual)
Plateia e Balcão Nobre – R$40,00
Balcão Superior e Lateral – R$30,00
Galeria Central e Latera l – R$15,00
Ingressos através do site www.theatromunicipal.rj.gov.br ou na bilheteria do Theatro
Haverá uma palestra gratuita no Salão Assyrio uma hora antes do início de cada espetáculo
Patrocinador Oficial Petrobras
Apoio: Livraria da Travessa, Rádio MEC, Rádio Paradiso Rio, Fever, Embaixada da Áustria
Realização Institucional: Associação dos Amigos do Teatro Municipal, Fundação Teatro Municipal, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e Governo do Estado do Rio de Janeiro
Lei de Incentivo à Cultura
Realização: Ministério da Cultura e Governo Federal, União e Reconstrução.
(Com Cláudia Tisato/Assessoria de imprensa TMRJ)
O Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, é uma data de celebração e reflexão sobre o papel da mulher na sociedade, especialmente daquelas que desafiam barreiras e constroem novos caminhos. No coração da Amazônia, Cátia Santos, coordenadora de comunicação digital do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), é um exemplo dessa resistência. Aos 29 anos, a jovem recentemente conquistou uma grande vitória: sua aprovação no Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT), da Universidade de Brasília (UnB), uma das pós-graduações mais disputadas do país. No entanto, sua trajetória até essa conquista foi repleta de desafios.
Nascida na Reserva Extrativista (RESEX) Chico Mendes, no Acre — a segunda maior do Brasil —, Cátia sempre soube que suas raízes moldavam sua identidade. Desde cedo, escutava histórias sobre a luta dos seringueiros e o legado de Chico Mendes pela proteção da Floresta Amazônica. Isso não apenas a inspirou, mas também fortaleceu sua convicção de continuar essa luta. “Tenho inspirações que me motivam todo dia a lutar e resistir. Primeiro, o lugar onde nasci. Segundo, a minha identidade: tenho orgulho de ser extrativista. […]. Crescer na RESEX Chico Mendes, onde a luta pelos direitos dos povos tradicionais é reconhecida internacionalmente, me fez perceber que eu fazia parte de algo muito maior. Eu sabia que precisava dar continuidade a esse legado”, afirma Cátia.
Seu compromisso com a causa seguiu por vários anos. Em 2022, foi homenageada com o Prêmio Chico Mendes de Resistência, na categoria ‘Destaque Jovem Extrativista’, com premiação na Semana Chico Mendes, realizada no Acre, por sua contribuição nas redes sociais. Além disso, no ano passado, Cátia foi uma das palestrantes da mesa que abordou o tema ‘Etnojornalismo e o Papel dos Eco Comunicadores na Mídia Contemporânea’, realizada pela CENARIUM no 19º Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Porém, desde a infância, ela também enfrentou dificuldades no acesso à educação. Graduada em Gestão Ambiental, precisou deixar seu território para concluir os ensinos Fundamental e Médio, uma necessidade comum para jovens extrativistas e diferente para quem vive em regiões metropolitanas. A oferta insuficiente de vagas e colégios, infraestrutura precária, internet limitada, calendário apertado e conteúdo programático não adaptado para as populações tradicionais são componentes de uma educação desigual para as RESEXs amazônicas.
Cátia reitera que o acesso a uma educação digna e de qualidade é uma demanda fundamental para as populações extrativistas. “Sair do território significa enfrentar a dificuldade de estar longe da família e do nosso modo de vida tradicional. A luta por uma educação de qualidade é essencial para garantir dignidade e igualdade para nossa população. Ainda hoje, muitos jovens extrativistas são obrigados a deixar seus territórios para acessar um direito básico. Nós queremos educação de qualidade dentro das Reservas Extrativistas do Brasil”, reforça.
Um novo tempo
No final de 2023, a UnB lançou um edital para a nova turma do MESPT, com um rigoroso processo seletivo que incluiu avaliação de memorial biográfico, pré-projeto de pesquisa, prova oral e teste de competência em leitura de Língua Estrangeira (Espanhol). Com dedicação, Cátia conquistou o primeiro lugar no grupo de Povos e Comunidades Tradicionais e aguarda ansiosamente o início das aulas, previsto para abril.
O interesse pelo mestrado vai além da formação acadêmica. Para ela, o conhecimento é uma ferramenta essencial para fortalecer o movimento extrativista e ampliar a participação da juventude na luta por direitos. “Ao longo da minha trajetória, percebi que a luta pelos direitos dos povos extrativistas exige não apenas resistência, mas também uma base sólida de conhecimento. Acredito que o mestrado pode me proporcionar esse conhecimento, que é essencial para atuar de maneira mais eficaz, tanto na defesa dos nossos direitos quanto na busca por soluções mais justas para a nossa realidade”, comenta.
A inspiração para seguir esse caminho também veio de Edel Moraes, secretária nacional de Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), que já foi uma das diretoras do CNS e tem uma história parecida com a de Cátia. Doutoranda no Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS/UnB), Edel incentivou Cátia a ingressar na formação para continuar fortalecendo o movimento extrativista. “Acredito que minha aprovação pode, sim, inspirar outras pessoas da minha comunidade e do movimento extrativista. Crescer em um território onde as dificuldades são constantes, especialmente no acesso à educação e à formação acadêmica, muitas vezes gera a sensação de que certos caminhos estão fora do nosso alcance. Cursar mestrado, em uma das universidades mais importantes do Brasil, parecia algo longe da minha realidade”, explica.
“Não chego aqui sozinha. Agradeço a todos que me apoiaram e me incentivaram a nunca desistir dos meus sonhos. A nossa resistência e as nossas lutas não podem ser limitadas. O conhecimento é uma ferramenta importante para fortalecer nossa voz, nossa luta, nossos corpos, nossos territórios e nossas reivindicações. Mostrar que é possível alcançar objetivos, mesmo vindo de realidades difíceis, poder abrir portas para ocuparmos espaços que, historicamente, não foram pensados para nós”, finaliza Cátia.
(Com Emanuelle Araújo Melo de Campos/UP Comunicação)