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Arte & Cultura

São Paulo

Instituto Moreira Salles cataloga e disponibiliza para o público a obra iconográfica do artista e inventor Hercule Florence (1804–1879)

por Kleber Patrício

Parte da coleção adquirida pelo IMS em 2023, os 526 desenhos, aquarelas e pinturas retratam povos indígenas, fauna e flora do Brasil; disponíveis para acesso no site, obras foram produzidas durante a Expedição Langsdorff, que percorreu o interior do país na primeira metade do século XIX, e em Campinas, onde Florence viveu até sua morte

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Arte & Cultura

São Paulo

Dia da Consciência Negra leva orquestra de afrobeats, brincadeiras africanas e ainda Calunguinha, o Cantador de Histórias ao Sesc Bom Retiro

por Kleber Patrício

Na quarta, dia 20 de novembro, mês em que se reafirma o legado cultural, intelectual e social das pessoas negras, o Sesc Bom Retiro traz uma programação especial com atividades físicas, oficinas, contação de histórias e shows. O Sesc valoriza e celebra as culturas e identidades negras durante o ano todo, seja por meio da […]

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Theatro Municipal do Rio de Janeiro apresenta ópera ‘Rusalka’, de Antonín Dvořák

Rio de Janeiro, por Kleber Patricio

Ludmilla Bauerfeldt e Giovanni Tristacci na Ópera Rusalka no TMRJ. Fotos: Daniel Ebendinger.

Pela primeira vez no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a ópera Rusalka, de Antonín Dvořák, com Coro e Orquestra Sinfônica da casa, estreou no dia 14 de novembro (quinta), com récitas também nos dias 22/11(sexta), às 19h e 24/11(domingo), às 17h. A montagem é uma coprodução com o Auditório de Tenerife, na Espanha, país onde esteve em cartaz em março deste ano e agora chega ao Municipal. A concepção e direção cênica são de André Heller-Lopes e a direção musical e regência ficam a cargo de Luiz Fernando Malheiro.

Com o Patrocínio Oficial Petrobras, Rusalka contará com um elenco convidado de peso, como Ludmila Bauerfeldt e Paolla Soneghetti, Giovanni Tristacci, Eliane Coelho e Tati Helene, Licio Bruno e Murilo Neves, Denise de Freitas e Fernanda Schleder, alternando-se nos principais papéis. Os ingressos podem ser adquiridos pelo site www.theatromunicipal.rj.gov.br ou na bilheteria do Theatro.

Denise de Freitas (Jezibaba) e Ludmilla Bauerfeldt (Rusalka).

“Trazer a ópera Rusalka ao palco do Municipal nos enche de alegria. A montagem conta com coprodução com o Auditório de Tenerife e patrocínio oficial da Petrobras, o que nos garante espetáculos ainda mais grandiosos e memoráveis. Esperamos que nosso público lote a casa, como é de costume, e saia encantado com a apresentação do Coro e Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal. Não percam”, ressalta a presidente da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Clara Paulino.

Rusalka chega com elencos repletos de estrelas da lírica nacional, além de debuts em nossa temporada oficial. Conta ainda com alguns dos melhores artistas da casa. O Coro e a OSTM estão sob a regência do maestro Luiz Fernando Malheiro, que retorna ao nosso palco após o grande sucesso de La Traviata. Realmente, é imperdível essa linda produção”, destaca o diretor artístico da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Eric Herrero.

“Encenar Rusalka em pleno 2024 é como tentar encontrar uma ‘abertura’, uma passagem mística que reconecta nosso mundo duro e muitas vezes cruel com uma certa esperança mágica das lendas. Um clássico com um desvio inesperado, um sabor especial”, afirma o diretor cênico André Heller-Lopes.

Primeiro ato

Licio Bruno (Vodnik) e as ninfas.

No meio do bosque, de noite, três ninfas brincam e dançam na borda do lago com o Senhor das Águas. A ninfa Rusalka, que sofre por amor de um jovem que vem sempre ali para nadar, pede a ele conforto para sua melancolia. O Senhor tenta, de qualquer forma, dissuadi-la desse amor impossível, mas Rusalka está decidida a assumir feições humanas a qualquer custo. Tendo visto a inutilidade de qualquer objeção, o Senhor lhe indica a choupana da bruxa, a única em condições de ajudá-la. Antes de fazer a transformação em mulher, Rusalka pede à lua que a sua decisão não afaste o afeto do Senhor seu pai. A bruxa Jezibaba aceita fazer a transformação, mas lhe adverte que não será indolor: quando ela for um ser humano, ficará completamente muda. E não é só: se ela tivesse que regressar do mundo dos homens, Rusalka seria amaldiçoada e condenada a matar o seu amado. Rusalka está disposta a tudo e a bruxa lhe dá a poção mágica. Ao amanhecer, precedido por uma canção de um caçador, acontece o desejado encontro. O jovem nadador, que é o Príncipe, chega e se apaixona à primeira vista pela bela silenciosa e a conduz consigo ao castelo para desposá-la.

Segundo ato

Eliane Coelho (Princesa Estrangeira) e Giovanni Tristacci (Príncipe).

Enquanto no castelo se prepara o casamento de Rusalka e o Príncipe, o Guarda-caça e o Ajudante de cozinha comentam os últimos acontecimentos. A estranha noiva preocupa os habitantes e já se diz que o príncipe se interessou pela bela Princesa que acabou de chegar com os hóspedes. Interesse que faz sentido, pois a beleza enigmática de Rusalka já empalideceu quando confrontada com a humaníssima paixão da princesa, que demonstra estar decidida a arrancá-lo da rival muda. Ao olhar paterno do Senhor das Águas não foge a infeliz situação de Rusalka, que procura nele, ainda, conforto da amarga desilusão que aparece como sendo inevitável. Enquanto os dois jovens vão ao jardim confessar seus sentimentos, ocasionando uma indignada reação do Senhor, que ameaça o príncipe pela sua traição, a orgulhosa e despeitada Princesa abandona o Príncipe desmaiado, frente ao seu obscuro destino.

Terceiro ato

Ao cair da noite, a pálida Rusalka volta ao lago do bosque, desesperada, para pedir nova ajuda a Jezibaba. O sangue do Príncipe poderia resgatar a maldição, mas Rusalka prefere aceitar a solidão e recusa a faca que a bruxa lhe oferece. Não apenas Rusalka desaparece entre as ondas, chegam o Guarda-caça e o Ajudante. Também eles querem ajuda da bruxa para tirar o feitiço que atingiu seu o patrão doente de amor, mas fogem aterrorizados frente ao Senhor, que, amaldiçoando o gênero humano, jura vingança. As ninfas voltam a brincar com o Senhor, mas ele está preocupado com Rusalka, que foi expulsa da água pelas irmãs. O Príncipe volta ao lago onde encontrou a bela ninfa, cuja alma, agora perdida para sempre, o acusa, docemente, pela sua traição. O Príncipe implora seu perdão e pede que ela lhe dê a paz, que não encontrou mais depois que ela o mandou embora. Ela o avisa que seu beijo, agora, é mortal, mas o Príncipe não pede mais do que morrer entre os seus braços para, assim, não se separar mais dela. Ela o beija, ele morre e Rusalka volta para as profundezas das águas. O amargo comentário do Senhor das Águas a este trágico epílogo está contido na sua pergunta, sem resposta: qual o sentido do sacrifício doloroso da sua filha? (Por Bruno Furlanetto)

Sobre Luiz Fernando Malheiro

Foto: Divulgação.

É um dos principais nomes da ópera no Brasil com mais de 60 títulos regidos. É diretor artístico e regente titular da Orquestra Amazonas Filarmônica e do Festival Amazonas de Ópera. Foi diretor artístico do Teatro São Pedro de São Paulo e diretor de Ópera no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Regeu as principais orquestras brasileiras e também no Festival de Ópera de La Coruña, Sinfônica de Miami, Sinfônica de Bari, Filarmônica Marchigiana, Ópera Nacional de Sófia, Sinfônica de Porto Rico e Teatro de Bellas Artes do México, entre outros. É o único brasileiro a ter regido integralmente O Anel do Nibelungo de Wagner.

Sobre André Heller-Lopes

Ganhador por três vezes consecutivas o Prêmio Carlos Gomes, André Heller-Lopes é dono de uma trajetória impar no Brasil. Professor da UFRJ, é PhD pelo Kings College London e especializou-se na Royal Opera House de Londres, na Ópera de São Francisco e o Metropolitan Opera. Dirigiu e produziu importantes trabalhos no Brasil e no exterior: Salome, Nabucco, Die Walküre, O Diário do Desaparecido, Savitri, Don Pasquale e Idomeneo (Theatro Municipal do Rio de Janeiro e CCBB-RJ); Die Walküre, Götterdämmerung, La Fille du Régiment, Falstaff, Samson et Dalila, Der Rosenkavalier, Adriana Lecouvreur e Andrea Chénier (Theatro Municipal de São Paulo, Teatro São Pedro e Osesp), Hanselund Gretel, Trouble in Tathiti, A Bela Adormecida e Nabucco (Lisboa); Tosca e Eugene Onegin (Salzburgo); Manon Lescaut, Rigoletto, Jenůfa e Don Pasquale (Buenos Aires); Tristan und Isolde e Médee (Manaus); Macbeth e Ariadne auf Naxos (Montevideo); Rigoletto e Lucia di Lammermoor (Belo Horizonte), A Midsummer’s Night Dream — indicado ao Opera Awards em 2014; La Finta Giardineira, Don Giovanni, Così fan tutte e Le Nozze di Figaro, na Polônia; Aïda de Verdi, na Alemanha; Faust, no Chile; La Zorrita Astuta, na Colômbia, A Viúva Alegre (Estônia), Anna Bolena (Manaus), A Raposinha Astuta (São Paulo) e La Traviata (Rio de Janeiro). Em 2024 estreou na Espanha com Rusalka, que será apresentada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Dentre seus projetos futuros destacam-se a estreia latino-americana de Friedenstag, de Strauss, e o retorno a Espanha para encenar Romeo e Juliette, de Gounod.

Solistas:

Ludmila Bauerfeldt (dias 14, 16 e 24) e Paolla Soneghetti (dias 13 e 22) – Rusalka

Giovanni Tristacci – Príncipe

Eliane Coelho ((dias 14, 16 e 24) e Tati Helene (dias 13 e 22) – Princesa Estrangeira

Denise de Freitas (14, 16, 22 e 24) /Fernanda Schleder (dia 13) – Jezibaba

Licio Bruno (14, 16 e 24) e Murilo Neves (dias 13 e 22) – Vodnik

Carolina Morel, Mariana Gomes e Lara Cavalcanti – Três Ninfas

Geilson Santos – Vaňku

Hebert Campos – Jářku

Ficha Técnica:

Coro e Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Cenografia: Renato Theobaldo

Iluminação: Gonzalo Córdoba

Figurinos: Marcelo Marques

Concepção e Direção Cênica: André Heller- Lopes

Direção Musical e Regência: Luiz Fernando Malheiro

Direção Artística TMRJ: Eric Herrero.

Serviço:

Rusalka, de Antonín Dvořák

Coro e Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Datas:  22/11 – 19h, 24/11 – 17h

Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Endereço: Praça Floriano, s/n° – Centro

Duração: 2h30 + intervalo

Classificação: 12 anos

Ingressos:

Frisas e Camarotes – R$90,00 (ingresso individual)

Plateia e Balcão Nobre – R$80,00

Balcão Superior e Lateral – R$50,00

Galeria Central e Lateral – R$20,00

Ingressos pelo site www.theatromunicipal.rj.gov.br ou na bilheteria do Theatro

Haverá uma palestra gratuita no Salão Assyrio uma hora antes do início de cada espetáculo

Patrocinador Oficial: Petrobras. Apoio: Livraria da Travessa, Rádio MEC, Rádio Paradiso Rio, Fever, Consulado Geral da República Tcheca em São Paulo, Consulado Honorário da República Tcheca no Rio de Janeiro, Compatriotas e Amigos da Tchéquia no Rio de Janeiro.

Realização Institucional: Associação dos Amigos do Teatro Municipal, Fundação Teatro Municipal, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Lei de Incentivo à Cultura

Realização: Ministério da Cultura e Governo Federal, União e Reconstrução.

(Com Claudia Tisato/Assessoria de imprensa TMRJ)

Renato Teixeira e Fagner celebram parceria em 2º álbum pela Kuarup

São Paulo, por Kleber Patricio

Raimundo Fagner e Renato Teixeira. Foto:
Leo Rodrigues.

Quando ‘Destinos’ espontaneamente surgiu no horizonte, só trazia a intenção de continuar uma conversa musical entre dois parceiros que haviam acabado de finalizar ‘Naturezas’, álbum de 2021 lançado pela gravadora Kuarup, e nem perceberam o ponto final da conclusão. Apenas continuaram a compor naturalmente, sempre apoiados pelo maestro Maurício Novaes, que havia embarcado na viagem dos parceiros desenhando arranjos inspiradíssimos e organizando tudo para que não se perdesse o rumo das coisas. O horizonte estava lá com sua proposta irreversível: mais um álbum com composições da dupla Renato Teixeira e Raimundo Fagner, que saiu em versão CD e nas plataformas digitais no dia 8 de novembro pela Kuarup. Dessa vez resolveram dividir as interpretações com os amigos: vieram Zeca Baleiro, Roberta Campos, Chico Teixeira, Evandro Mesquita, Isabel Teixeira e Roberta Spindel.

E aos poucos, com muita paciência e tempo, as coisas foram se ajeitando. Não existe na parceria nenhuma intenção além da de criar músicas que falem por si, que transmitam uma ideia lógica e perceptível, sonora, agradáveis de se ouvir, a vocação melódica de Fagner e o raciocínio poético do Teixeira, interpretados por vozes indiscutíveis e capazes de dizer as coisas com clareza e emoção. No trajeto do trabalho perdemos o Elifas Andreato, que estava sempre junto desde o começo para compor o material visual do projeto e que havia se deixado levar por essa parceria até certo ponto improvável, mas perfeitamente compreensível por se tratar de dois amigos que vinham desde os princípios dos anos setenta se programando por uma coisa assim. O designer gráfico Elifas já havia desenhado essa relação no primeiro trabalho. Com sua partida, nada mais lógico que convocássemos seu filho e parceiro, Bento Andreato, para desenhar o novo material do álbum ‘Destinos’. Uma linda e emocionada escolha.

A mixagem e masterização mais uma vez correu por conta do Ricardo Franja Carvalheira, que com o apoio do maestro Novaes, deu o formato final aos fonogramas. Não foi nada muito complicado. A Kuarup apoiou e sua equipe deu a retaguarda para que o projeto se realizasse. Estamos vivendo um momento de grandes explosões musicais que destroem células e reorganizam sonoridades. O espaço musical generosamente ampliou seu raio de ação e o comportamento sonoro da humanidade ganhou novas dinâmicas. Em ‘Destinos’, Renato e Fagner mostram que apesar das novas tendências, trabalhos como os deles permanecem vivos e aptos a novas aventuras onde a competência que os consagraram continua a criar lindas canções, construídas com talento e emoção, brasileiras, comoventes, dignas de representarem a cultura musical de um país onde cantar faz parte da vida.

Faixa a faixa

Romaria: os sotaques brasileiros fazem parte da composição, que conta a saga de um romeiro rumo a Aparecida do Norte para saudar Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. O sotaque Fagner é uma chancela que deixa a canção mais significativa, mais efetiva na sua missão de representar a fé do povo brasileiro. Se sente na visceral interpretação do nosso grande cantor, o poder da fé, seja ela qual for, irradiando a energia que nos move e nos toca. ‘Romaria’ vai ficando cada vez mais pronta a cada intervenção como essa de Raimundo Fagner que a redimensiona e a deixa ainda mais brasileira, mais nossa.

Blues 73: com Evando Mesquita e Renato Teixeira elogiando um ano muito emblemático e significativo na história recente. O ano de 73 tem quase o mesmo poder de 68, pois foi também um ano transformador, uma porta que se abriu para confirmar a chegada definitiva de todas as modernidades que se sucederam. O ano de 1973 foi uma confirmação, uma encruzilhada no tempo onde uma parte de nós seguiu o caminho da ousadia, da transformação, e a outra acomodou-se e aceitou as condições impostas pelas tradições conservadoras. A leveza da canção e a interpretação de dois personagens que conheceram e saborearam esse momento sutil, onde muitas coisas aconteceram nas praias e nas artes do Brasil, tem um sabor definitivo. A paz se fez no Vietnã, o celular foi inventado e o mundo foi em frente como sempre. Quem viveu, deixe-se envolver, quem não esteve lá, deixe-se levar e solte a imaginação para sentir as aragens de uma época mais simples e menos complexa da nossa história moderna. Cabeça fresca. Curta e aproveite. Manera, Fru-Fru, Manera.

Arde Mas Cura: tem a participação da cantora carioca Roberta Spindel, que Fagner descobriu numa de suas andanças pelas tribos de músicos no Rio de Janeiro. Renato tem uma relação afetiva com a filosofia Noelina, que caracteriza as músicas que avaliam comportamentos voltados para o bem viver, para a compreensão do nosso dia-a-dia com suas idas e vindas. ‘Quem chega mais cedo vai ter que esperar’ é a referência filosófica de uma canção que nos situa dentro do tempo que, com certeza, as vezes arde, mas cura. Uma canção quase caribenha que propõe uma reflexão sobre a arte de viver. Roberta solta a voz com a energia necessária e, com o contra ponto do jeito mais comportado que o Renato tem de cantar, criam um dos momentos mais dinâmicos desse disco Destinos que os parceiros, Fagner e Renato, criaram para o mercado da boa música brasileira, aquela que não quebra, não rasga e não enferruja.

Dominguinhos: o grande músico pernambucano Dominguinhos teve uma ligação artística bastante intensa com Renato Teixeira e Fagner. Para Renato, Dominguinhos contou sua história, que começa com ele menino, aos dez anos, tocando na feira de Garanhuns, em Pernambuco, quando surge em sua frente o grande Luiz Gonzaga, patrono de todos os sanfoneiros, que se encanta com a musicalidade do pequeno Dominguinhos. Numa premonição impressionante, seu Luiz pede ao menino que o procure no Rio de Janeiro assim que fizer 18 anos. Iria lhe dar uma sanfona nova e o orientaria no rumo das canções. Estava assim escrito o destino de um dos maiores músicos e compositores que esse país já conheceu. Renato e Fagner, que teve com Dominguinhos momentos inesquecíveis, estavam com certeza apenas esperando que o Deus das inspirações enviasse uma mensagem clara para contarem a história desse amigo e mestre. A mensagem veio numa melodia inspiradíssima do magnífico melodista de Mucuripe e Renato intuiu que havia chegado a hora da história de Dominguinhos ser contada através dessa canção que, além de emocionante, trazia dentro dela as palavras certas que contam o primeiro encontro do pequeno sanfoneiro com o sanfoneiro maior e o destino que o tempo deu para esse momento mágico acontecido um dia em Garanhuns. Fagner canta Dominguinhos com o tempero exato e a emoção vibrando a cada nota. Um dos momentos mais bonitos do projeto Destinos, quando a história recente da música brasileira vem à tona para contar, principalmente para as novas gerações, o porquê da nossa música ter toda essa grandeza, artistas que vão se encontrando pelo caminho, transferindo um para o outro a missão de elevar cada vez mais o estilo musical de um país onde Chiquinho do Acordeom, Oswaldinho, Sivuca e Cezinha, entre tantos outros magníficos instrumentistas, puxaram e puxam o fole da eternidade como fez Dominguinhos, como fez Luiz Gonzaga, todos Reis do Baião. Toca pra nós, Dominguinhos.

Magia e Precisão: Fagner surpreende com a melodia de ‘Magia e Precisão’, onde fica evidente sua musicalidade acima da média. Estamos diante de um melodista que está no topo da música brasileira ao lado dos grandes mestres melodistas que ao longo dos tempos nos revelaram nomes como os dos mestres Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Ary Barroso, Carlos Lyra e Tom Jobim, só para citar alguns. A delicadeza e expressão de ‘Magia e Precisão’ encontraram nos versos de Renato as palavras certas para uma canção que exalta o feminino com poesia e delicadeza. Fagner e Renato escolheram Isabel Teixeira para cantar com eles e arrematar o conteúdo poético quando, depois das ponderações a respeito da magia e da precisão na programação da vida, revelam a conclusão da jovem romântica que aguarda o grande amor e sabe bem como identificá-lo na hora certa. A intervenção precisa e incisiva de Isabel, filha de Renato Teixeira, revela uma artista que além de grande atriz traz no seu DNA a cantora que faz jus a história de muitas outras mulheres da família que cantavam sempre e muito por amor à arte e por prazer, sempre com Magia e Precisão.

O Prazer de Lembrar é Bom: essa música nos remete aos melhores momentos de nossas vidas, quando estávamos nos preparando para encarar o futuro do tempo. Sutil e delicada, a canção nos atinge com seu imenso poder poético e mexe com nossas lembranças mais significativas quando o tudo que tínhamos na vida era o vento soprando em nosso rosto em uma alegoria de imagens generosas e felizes. A participação de Zeca Baleiro com sua voz cortante e incisiva cria uma ambiência que reforça o texto e insere a mensagem nos tempos atuais onde a dinâmica da vida tira as crianças da rua e dos costumes mais simples que fizeram parte da vida num passado recente e sem dúvida bem mais confortável. A sonoridade das vozes de Zeca e Renato e o lindo arranjo do maestro Maurício Novaes fazem dessa canção um dos melhores momentos do álbum Destinos. Uma canção para se ouvir em silêncio e se deixar levar pelas memórias da vida.

Quando For Amor: quando amor chega é sempre assim. Materializa-se no ar como uma visagem que invade o coração e aquece a vida, clara e objetivamente, não importando o tempo que, segundo Vinicius, será eterno enquanto durar. Se contrapondo à mensagem da descoberta cantada e contada pela magnífica cantora Roberta Campos, temos a voz de Fagner colocando o outro lado da descoberta do amor, quando não devemos esquecer que o destino tem suas regras e que precisamos cuidar dos nossos sentimentos com inteligência e realismo porque a vida segue com suas verdades implacáveis. É preciso cuidar do amor porque ele vai deixando rastros como a flor que nasce nos lugares improváveis e acaba criando poderes que podem embaçar a beleza do mais belo sentimento que existe sobre a terra. Espinho sem a flor depois do vendaval. Melancólica e comovente fica a certeza de que quando for amor a gente vê.

Amor Amar: canção para começar o dia. Uma maneira de encarar a vida com seus altos e baixos, porque a felicidade é uma luz que sai do chão. Não há o que fazer contra o que virá no próximo minuto, na próxima hora, no próximo ano. Tudo depende também do acaso e a gente tem que estar atento ao plano de vida de cada um para diminuir o risco de existir, para trazê-lo para o que nosso controle seja capaz de dominar. O dueto Renato e Fagner cria um ambiente de eterna expectativa e o enredo da canção flui sereno e forte para que as pessoas possam entrar no raciocínio quase fatalista do que está sendo dito. Deixa o destino tocar porque tudo vem e vai, porque o segredo é o saber se dar para poder ser feliz. Uma canção companheira que nos ajuda a prestar atenção no que virá porque logo em seguida tudo já terá sido, com certeza.

Linda Flor da Madrugada: Capiba foi um compositor pernambucano criador de frevos imortais e um personagem marcante na nossa história musical pelo talento e simpatia que o caracterizavam. Fagner colocou ‘Linda Flor da Madrugada’ no seu primeiro álbum e como não tinha o acesso que temos hoje para identificar a origem de músicas muito antigas, deixou indefinida a autoria. A música então ressurge naquela primeira gravação de Fagner diferente da original, que era um frevo de carnaval. O interessante é percebermos que ela havia sofrido uma releitura que só preservava alguns detalhes da primeira versão, mas continuava alegre e comunicativa como sempre. E o mais importante, continuava totalmente Capiba. No álbum Destinos, ela surgiu para ser interpretada por Renato, Fagner e Almir Sater, que devido ao seu compromisso com a novela Renascer, onde foi o personagem libanês Rachid, não conseguiu participar por absoluta falta de tempo. Então Fagner e Renato fizeram o serviço e Capiba entra na história por uma alegre coincidência. E isso é um detalhe tão imprevisível e surpreendente, que decidimos colocar Capiba como patrono de Destinos numa homenagem póstuma que representa o vínculo dos dois parceiros com a essência da música brasileira, força motriz da maior manifestação popular do nosso povo. E viva Capiba!

Travesseiro e Cafuné: todos nós em algum momento da vida sentimos esse tipo de ansiedade relacionado a uma situação afetiva, uma pessoa que está distante, mas a data marcada para o esperado reencontro já está marcada. Um tipo de situação que faz a gente perder o sono tamanha a expectativa que antecede esse momento. Que me leve um pé de vento porque a distância que foi chegando e te levou de mim, está prestes a ser vencida e eu vou me atirar nos seus braços numa situação de absoluto conforto amoroso. ‘Travesseiro e Cafuné’, uma canção divertida que mexe com um sentimento comum a todo ser humano. Aqui os parceiros brincam com situações de idas e vindas, do tempo indo, a saudade chegando e a distância afastando você de mim numa correlação poética entre a aflição e ansiedade de quem está indo, louco pra chegar. Fagner e Renato convidaram o cantor Chico Teixeira, filho de Renato, para compor esse trio aflitivo indo ao encontro de quem também está esperando esse momento. Que me leve um pé de vento até onde você está, porque a distância que veio vindo e te levou de mim, está prestes a ser vencida. Que cada um coloque o seu momento, viaje na memória e sinta como é bom um travesseiro macio e um cafuné da pessoa amada.

Texto sobre maestro Maurício Novaes:

Gentil como o maestro Arruda Paes, veloz como Chiquinho de Moraes e ousado como Rogério Duprat, esse é o nosso maestro Maurício Novaes, sem o qual não teríamos conseguido criar essa obra que, por razões como essa, chama-se Destinos. Maurício pegou para si a missão de transformar nossos delírios e inconstâncias em algo sólido, objetivo e efetivo. Faz parte desse trabalho definindo-o com o trabalho de um trio de artistas onde melodias, poesias e arranjos compõem o todo musical, o ambiente sonoro de expressão musical comprometida com a música popular brasileira. Ele é o Espírito Santo dessa empreitada. Nossa eterna gratidão ao talentosíssimo maestro Maurício Novaes por ter nos permitido realizar essa obra que a partir de agora faz parte da nossa história. Obrigado maestro. (Texto escrito e assinado por Renato Teixeira e Fagner)

Smartlink do CD: https://www.transfernow.net/dl/20241112kmtedp5m/cAAWtYIG.

(Com Daniela Ribeiro/Tempero Cultural)

MACC recebe exposição da artista plástica Erika Malzoni

Campinas, por Kleber Patricio

Materiais são transformados em objetos escultóricos e instalações provocativas. Fotos: Firmino Piton.

O Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC) recebe a exposição ‘A vida como ela não é’ da artista plástica Erika Malzoni. A abertura será dia 19 de novembro, terça-feira, das 18h às 20h. A mostra ficará aberta à visitação gratuita até 25 de janeiro de 2025.

A exposição conta com a curadoria de Luiz Armando Bagolin e reúne um conjunto de obras de Erika Malzoni, que trabalha com objetos e resíduos industriais geralmente descartáveis, transformando-os em objetos escultóricos e instalações provocativas ao olhar e demais sentidos.

Mostra no MACC ficará aberta ao público até 25 de janeiro próximo.

Em especial, nesta exposição, a artista foca a questão dos objetos cotidianos e outros materiais que rondam ou fazem parte do ambiente doméstico, quase sempre imposto socialmente como um campo de atuação exclusivo das mulheres. “O que poderia ser visto como carência torna-se, no entanto, um potencial criativo sem precedentes capaz de ressignificar esses objetos e também quem convive e se relaciona com eles.”

Serviço:

Exposição A vida como ela não é, de Erika Malzoni

Datas e horários:

Abertura: 19/11, das 18h às 20h | Visitação: 21/11/2024 a 25/1/2025

Horários: de terça a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados, das 11h às 15h

Local: Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC)

Endereço: Avenida Benjamin Constant, 1633, Centro, ao lado do Paço Municipal

Entrada gratuita.

(Com Maria Finetto/Prefeitura de Campinas)

Fernanda Montenegro e Itaú recebem certificado do Guinness World Records por Maior Audiência para Leitura de Livro na Língua Portuguesa

São Paulo, por Kleber Patricio

Entrega do certificado do Guinness World Records para Fernanda Montenegro aconteceu durante o 23º Prêmio Walther Moreira Salles e foi realizada pelo CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy. Fotos: Divulgação/Itaú.

A atriz Fernanda Montenegro e o Itaú Unibanco receberam oficialmente o certificado do Guinness World Records pela conquista de Maior Audiência para Leitura de Livro na Língua Portuguesa. O recorde foi alcançado pelo espetáculo realizado em agosto de 2024 no Auditório Ibirapuera, que reuniu 10.581 pessoas para a leitura do livro A Cerimônia do Adeus, de Simone de Beauvoir, interpretado pela atriz e cocriado em parceria com o Itaú. Com uma única sessão, o evento se consolidou como o de maior público presente para esse tipo de atividade.

“Divido em agradecimento, este prêmio, com todo o público que esteve presente neste grande encontro entre arte e educação. Meu abraço especial ao Itaú, que tornou esta leitura possível”, disse Fernanda Montenegro sobre o recorde.

“Nosso compromisso é expandir o acesso à cultura e fomentar a formação de público. Este certificado reflete o esforço coletivo em torno de um evento cultural que celebra não apenas a trajetória de Fernanda Montenegro, mas também a relevância da leitura. A entrega desta obra foi nossa forma de agradecer ao público pelos 100 anos de confiança no Itaú Unibanco, com uma das figuras centrais do nosso movimento Feito de Futuro, que tem sido protagonista constante em diversas campanhas ao longo dos anos. Fernanda sempre foi e continua sendo uma grande fonte de inspiração. Com 80 anos de carreira e 95 anos de idade, ela é uma artista que transcende o tempo e permanece profundamente relevante”, afirma Eduardo Tracanella, diretor de Marketing do Itaú Unibanco.

O espetáculo, gratuito, teve ingressos esgotados em poucos minutos, refletindo a alta demanda e o interesse do público em vivenciar a obra por meio da interpretação única de Fernanda Montenegro. O Itaú contribuiu para que a leitura pudesse ser vista por mais pessoas e a partir daí criou com a atriz como seria a experiência do teatro adaptada ao parque, de forma ainda mais acessível.

A apresentação aconteceu no anfiteatro, com projeções de som e imagem em alta definição voltadas para o famoso gramado na parte traseira do local, um dos principais cartões postais da cidade. Ao final da leitura, o palco se abriu para o gramado criando um momento de agradecimento da atriz ao público presente.

(Fonte: Weber Shandwick)

Relatório do Acnur revela que as mudanças climáticas são uma ameaça crescente para pessoas já em fuga devido a conflitos

Baku, Azerbaijão, por Kleber Patricio

Sudão do Sul: anos de inundações deixam milhares de pessoas permanentemente deslocadas em Bentiu. Foto: Andrew McConnell/Acnur.

Pessoas forçadas a fugir de conflitos, violência, perseguição e violação de direitos enfrentam cada vez mais a crise climática global, alerta um novo relatório da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), expondo-as a uma combinação letal de ameaças sem o financiamento e apoio adequados para se adaptar. O relatório, lançado no dia 12 pelo Acnur em colaboração com 13 organizações, instituições de pesquisa e organizações lideradas por pessoas refugiadas, usa dados recentes para mostrar como as questões climáticas interagem com conflitos empurrando as pessoas em situação de maior vulnerabilidade para situações ainda mais graves. Dos mais de 120 milhões de deslocados forçados no mundo, três quartos vivem em países fortemente impactados pelas mudanças climáticas. Metade está em locais afetados por conflitos e riscos climáticos, como Etiópia, Haiti, Mianmar, Somália, Sudão e Síria.

Segundo o relatório Sem escapatória: na linha de frente das mudanças climáticas, conflito e deslocamento forçado, espera-se que, até 2040, o número de países enfrentando extremos climáticos aumente de três para 65, muitos dos quais acolhem pessoas deslocadas. Da mesma forma, projeta-se que a maioria dos campos e abrigos de refugiados enfrentará o dobro de dias de calor extremo até 2050. “Para as pessoas em situação de maior vulnerabilidade do mundo, as mudanças climáticas são uma realidade dura que afeta profundamente suas vidas”, disse o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi. “A crise climática está impulsionando o deslocamento em regiões que já abrigam muitas pessoas deslocadas, agravando sua situação e deixando-as sem um local seguro”.

Por exemplo, o conflito devastador no Sudão forçou milhões de pessoas a fugir, incluindo 700 mil que cruzaram para o Chade, país exposto às mudanças climáticas e que acolhe refugiados há décadas. Ao mesmo tempo, muitos que permaneceram no Sudão enfrentam novo deslocamento devido a enchentes severas. Da mesma forma, 72% dos refugiados de Mianmar buscaram segurança em Bangladesh, onde riscos naturais, como ciclones e inundações, são classificados como extremos. “Em nossa região, onde tantas pessoas foram deslocadas por muitos anos, vemos os efeitos das mudanças climáticas diante de nossos olhos”, disse Grace Dorong, ativista climática e antiga refugiada no Sudão do Sul. “Espero que as vozes neste relatório ajudem os tomadores de decisão a entender que, se não forem abordados, o deslocamento forçado e os efeitos multiplicadores das mudanças climáticas piorarão. Mas, se nos ouvirem, podemos fazer parte da solução também.”

O relatório também destaca que o financiamento climático não chega a refugiados, comunidades de acolhida e outros em países frágeis e devastados por conflitos, prejudicando sua capacidade de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Atualmente, estados extremamente frágeis recebem apenas cerca de US$2 per capita em financiamento anual de adaptação, comparado a US$161 em estados não frágeis. Quando o investimento chega a estados frágeis, mais de 90% é direcionado para as capitais, enquanto outras áreas raramente se beneficiam.

As descobertas são divulgadas durante a COP29, em Baku/Azerbaijão, onde o Acnur requer o aumento do financiamento climático para os mais necessitados. A agência também insta os estados a protegerem os deslocados forçados que enfrentam desastres climáticos e a incluí-los nas decisões sobre financiamento e políticas públicas. “A emergência climática representa uma profunda injustiça”, afirmou Grandi. “Pessoas deslocadas e as comunidades que as acolhem, as menos responsáveis pelas emissões de carbono, pagam o preço mais alto. Bilhões em financiamento climático nunca chegam até eles e a assistência humanitária não consegue cobrir a lacuna crescente. Soluções existem, mas precisamos de ação urgente.”

O relatório Sem escapatória: na linha de frente das mudanças climáticas, conflitos e deslocamento forçado foi lançado oficialmente na Conferência da ONU sobre Mudança Climática de 2024 (COP29), em Baku, em 12 de novembro de 2024, às 14h30, com a presença do Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, e da ativista refugiada Grace Dorong.

Este primeiro relatório climático do Acnur explora as interseções entre mudanças climáticas e deslocamento, lacunas no financiamento climático atual, proteção jurídica para os afetados e a necessidade de investir em projetos de resiliência em contextos frágeis e afetados por conflitos. A produção contou com a colaboração de 13 organizações especializadas, instituições de pesquisa e organizações lideradas por refugiados.

O Acnur também possui uma equipe sênior na COP29 para assegurar que as necessidades urgentes de proteção, financiamento e apoio aos deslocados sejam abordadas nas discussões e decisões ao longo da cúpula.

(Fonte: Acnur – Agência da ONU para Refugiados)