Cientistas rebatem argumentos sobre custos de publicação e dificuldades de infraestrutura; entre pontos para tornar a ciência mais aberta estão mudanças na política de avaliação e estímulo ao compartilhamento de dados
Brasil
Duas novas espécies de Neoplecostomus foram descritas nas cabeceiras do rio Sapucaí, afluente do rio Grande, que faz parte da bacia do alto Paraná. Ambas as novas espécies são endêmicas da Serra da Mantiqueira, Sudeste do Brasil. Com a descoberta, a bacia do alto Paraná abriga 12 das 20 espécies conhecidas de Neoplecostomus. O relato está descrito em artigo publicado na sexta-feira (6) na revista ‘Neotropical Ichthyology’ de autoria de alunos de doutorado da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Amostragens em riachos de cabeceira têm sido promissoras na descoberta de espécies não descritas de loricarídeos (peixes de água doce) de pequeno porte. “Os cascudinhos do gênero Neoplecostomus costumam ter uma distribuição geográfica bastante restrita. Então, quando encontramos esses exemplares em uma região desconhecida para o gênero pensamos mesmo que poderia representar uma espécie nova. Porém, quando analisamos exemplares de diferentes porções da bacia do rio Grande, percebemos que, na verdade, se tratavam de duas novas espécies, mesmo em áreas relativamente próximas”, comemora o biólogo Pedro Uzeda, doutorando em Ecologia Aplicada na UFLA.
As novas espécies podem ser diferenciadas das demais conhecidas por terem duas características curiosas. Os ‘cascudos’ recebem esse nome por terem o corpo revestido por placas ósseas em vez de escamas. Porém, essas duas novas espécies apresentam uma redução de algumas dessas placas, fazendo com que as laterais do corpo fiquem quase lisas. “Outra característica curiosa é que elas possuem dimorfismo sexual dentário: enquanto os machos têm cerca de 30 a 40 dentes grandes e grossos na mandíbula, as fêmeas têm cerca de 80 dentes, porém bem menores, mais finos e mais delicados. Essas são as principais características que diferenciam as duas novas espécies, mas outros detalhes, como padrão de coloração e medidas corporais, também são úteis para diferenciá-las”, explica Uzeda.
As duas novas espécies de peixes Neoplecostomus são como primos próximos, mas com diferenças marcantes. O Neoplecostomus altimontanus é mais discreto, com manchas escuras bem definidas espalhadas pelo corpo e uma nadadeira adiposa maior, que ajuda a se destacar em riachos de montanha sombreados. Já o Neoplecostomus sapucai é mais colorido, exibindo barras claras no corpo e uma nadadeira adiposa menor ou até ausente, adaptando-se bem a riachos ensolarados e menos densamente vegetados. Essas distinções não são apenas visuais: refletem a forma como cada espécie se ajustou ao ambiente único onde vive, na altitude da Serra da Mantiqueira.
Os peixes se alimentam principalmente de algas e matérias orgânicas acumuladas em pedras e outras superfícies do leito do rio. Esse hábito ajuda a controlar o crescimento excessivo de algas, evitando um desequilíbrio que poderia prejudicar a qualidade da água e a vida de outros animais aquáticos.
Pelo fato de essas espécies viverem em altitudes maiores do que as conhecidas para o gênero até então, normalmente entre 1.000 m a 1.500 m, elas costumam ser mais sensíveis a mudanças ambientais, sendo muito importante o seu monitoramento, tendo em vista o cenário de mudanças climáticas. “O mais importante agora é realizar monitoramentos regulares e levantamentos de biodiversidade nas regiões de ocorrência dessas espécies para entender como as mudanças ambientais, causadas por ações humanas, podem estar afetando essas espécies e os seus ambientes de forma geral”, enfatiza Uzeda.
Esse trabalho foi fruto do financiamento provido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
(Fonte: Agência Bori)
Permitir que bebês se movimentem de forma livre pelo espaço da creche é essencial para promover experiências espaciais significativas durante a primeira infância, de acordo com um estudo publicado no último dia 29 na revista científica ‘Educação e Pesquisa’. O trabalho é parte da dissertação de mestrado do pedagogo Rafael Kelleter, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), que se baseou na abordagem Pikler, desenvolvida pela pediatra húngara Emmi Pikler em 1946. A abordagem busca criar um ambiente que incentiva a exploração, a descoberta e o desenvolvimento autônomo dos bebês.
Durante dez meses, Kelleter acompanhou oito bebês com idades entre 4 meses e 1 ano e 5 meses em uma creche particular de Porto Alegre que se vale da abordagem Pikler com as crianças. “Muitas creches restringem a circulação de bebês por precaução, mas, na perspectiva desta abordagem, há a promoção de espaços, tempos e materiais e o acompanhamento do adulto para que os bebês possam se movimentar e fazer escolhas”, afirma Rodrigo Saballa de Carvalho, orientador de Kelleter e pesquisador da UFRGS. Os bebês eram cuidados por duas professoras, uma estagiária e duas auxiliares.
A liberdade dada às crianças pequenas lhes permitiu melhor desenvolvimento motor e maior interação entre si, na percepção dos pesquisadores. Na abordagem, os bebês são reconhecidos como sujeitos ativos e competentes desde o nascimento e, por isso, o papel dos adultos é observar, facilitar e prover um ambiente seguro e estimulante. Quanto aos espaços, na creche havia brinquedos, móveis e elementos naturais, como folhas, galhos, pedras e terra.
Além da abordagem Pikler, existem outras metodologias usadas em creches ao redor do mundo para estimular o desenvolvimento dos bebês. Em Portugal, por exemplo, há a Pedagogia-em-Participação, que promove a participação ativa das crianças no processo educativo. Dos Estados Unidos, vem a abordagem High Scope, que foca em atividades planejadas e aprendizagem ativa. Da Itália, destaca-se a abordagem Reggio Emilia, que valoriza a expressão das crianças através de várias linguagens, como arte e música. Ainda em Portugal, o Movimento da Escola Moderna utiliza um modelo pedagógico que incentiva a colaboração e a autonomia. Da Inglaterra, o trabalho de Elinor Goldschmied enfatiza o brincar heurístico, que é uma forma de as crianças explorarem o mundo ao seu redor através de objetos do cotidiano. No Brasil, apesar de não haver metodologias específicas tão difundidas, o conceito de brincar heurístico tem ganhado destaque nas creches.
O grande desafio para a adesão de abordagens pedagógicas, no entanto, é a formação de professores que atuam em instituições que atendem à primeira infância. É preciso que os adultos se atentem à promoção de espaços seguros e ricos em estímulos para as crianças, além de aprender a perceber as necessidades e se comunicar com os bebês. “No geral, os bebês têm as suas necessidades de atenção pessoal atendidas; todavia, em muitos casos não são reconhecidos como sujeitos de direitos, mas, na perspectiva que estudamos, eles são sujeitos sociais, já nascem pessoas, não são bebês que um dia serão pessoas”, reflete o pesquisador.
Carvalho e seu grupo de pesquisa defendem, no entanto, que existe a possibilidade de desenvolver a abordagem Pikler em instituições públicas, mesmo com suas limitações. “Existem restrições porque há um número muito maior de bebês e um número menor de professores, os espaços são mais restritos, mas a abordagem pode inspirar as práticas nas instituições públicas a partir dos seus princípios, que podem ser recontextualizados em cada realidade”, afirma Carvalho.
(Fonte: Agência Bori)
As viagens de verão são o momento perfeito para descobrir o Pantanal Mato-grossense, uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta, reconhecida como Patrimônio Natural Mundial e Reserva da Biosfera pela Unesco. Localizado no coração do Brasil, o Pantanal fascina visitantes com sua vasta fauna e flora, além de proporcionar uma experiência única de imersão na natureza. Um dos destaques da região é a Pousada Piuval, situada na Fazenda Ipiranga, ao longo da Estrada Transpantaneira, Km 10, na Zona Rural de Poconé (MT).
Ícone de turismo sustentável, a hospedagem combina conforto e preservação ambiental. Além das onças e da rica biodiversidade, os visitantes podem vivenciar uma imersão cultural por meio da culinária típica pantaneira. Pratos à base de peixe, como o pirão e o tradicional caldo de piranha, conquistam os paladares de quem visita a região. Caminhadas, cavalgadas e safáris diurnos e noturnos completam a experiência, permitindo observar a vida selvagem de perto.
No período das chuvas, o Pantanal revela um charme singular. As planícies alagadas transformam a paisagem em um verdadeiro paraíso de espelhos d’água, que refletem a luz do dia e criam cenários impressionantes. Barcos e canoas tornam-se os meios ideais para explorar as áreas inundadas, enquanto passeios a cavalo e safáris em veículos 4×4 ganham uma dose extra de aventura ao cruzar trilhas secas e submersas. Do alto de mirantes ou durante os passeios, o pôr do sol nessa estação é uma obra-prima natural, com tons vibrantes que contrastam com as águas espelhadas. Além disso, espécies como jacarés, aves como as garças e plantas aquáticas podem ser vistas com mais facilidade, oferecendo um espetáculo único para fotos e vídeos.
Parceira do Jaguar Identification Project, a pousada abriga um biólogo que monitora e estuda as onças-pintadas, investigando seu comportamento e a interação com a cadeia alimentar local. “Esse trabalho não apenas contribui para a conservação da espécie, mas também potencializa o mercado de trabalho local e o turismo, atraindo pessoas do mundo todo para observar as onças em seu ambiente natural. Graças a essas iniciativas, as chances de avistá-las aumentaram significativamente, tornando a experiência ainda mais especial”, explica Eduardo Eubank, diretor da Piuval.
O Pantanal Mato-grossense, com sua paisagem em constante transformação, oferece aos visitantes a chance de se conectar com a natureza de forma inesquecível, inspirando todos a valorizar e preservar essa preciosidade brasileira. “Embora o Pantanal receba muitos turistas estrangeiros, os brasileiros têm a oportunidade de redescobrir essa maravilha natural, que é um verdadeiro tesouro nacional”, esclarece Eduardo Eubank.
Informações de pacotes
Local: Pousada Piuval (Pantanal Mato-grossense) – Telefone +55 (65) 4042 0460 – pesquise o site
Período: 2 noites e 3 dias em apartamento duplo e triplos – o pacote com pensão completa varia entre R$2.190,00 a R$3.850,0, dependendo do apartamento escolhido.
O que está incluso: em dias normais, pensão completa – não inclui translado ou parte aérea.
Reservar para o réveillon – incluso na virada – 31/12/2024: Animação [Música ao vivo] Buffet Americano [com frios, petiscos, frutas, quiches, tortas e caldos] 1 espumante [na virada] e show pirotécnico.
Como chegar: Voos saindo das principais capitais chegam ao aeroporto de Cuiabá, podendo pegar um translado que segue pela MT-060 até Poconé (104 km). A Pousada Piuval fica na Estrada Transpantaneira, Km 10 – Zona Rural de Poconé (MT).
Sobre a Pousada Piuval
Fundada em 1989, a Pousada Piuval, situada a 110 km de Cuiabá e 10 km de Poconé (MT), é um exemplo de turismo sustentável no Pantanal. Vencedora do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade 2017/2018 nas categorias Meio de Hospedagem e Top Sustentabilidade, a pousada destaca-se por práticas inovadoras, como coleta seletiva de lixo, reuso de água da chuva para jardinagem e reaproveitamento de águas cinzas em sistemas sanitários. Placas solares abastecem os chuveiros elétricos, enquanto 20 dos 30 apartamentos foram construídos com madeira de reflorestamento, seguindo princípios de arquitetura sustentável.
Reconhecida pela norma 15401 da ABNT, em parceria com o MTur, a Piuval emprega moradores da comunidade local, que participam ativamente das ações de preservação. A pousada também promove iniciativas socioculturais, como o Projeto Guia Mirim, que forma jovens guias de turismo em Poconé. “O envolvimento da comunidade é essencial para a sustentabilidade do negócio”, ressalta Eduardo Eubank.
Com raízes familiares, a pousada surgiu da Fazenda Ipiranga, que recebeu os primeiros hóspedes estrangeiros em 1989. A gestão foi profissionalizada em 2004 por Eduardo, caçula da família Campos, separando as operações da pousada da fazenda. Atualmente, com mais de 30 funcionários, a Piuval é reconhecida como Empresa de Pequeno Porte (EPP) e venceu o Prêmio MPE Brasil 2016 nas categorias Responsabilidade Social e Turismo.
(Com Euracy Campos/Campos da Comunicação)
Promovido pela Santa Marcelina Cultura e patrocinado pelo escritório Machado Meyer Advogados por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, o Prêmio Ernani de Almeida Machado oferece R$220 mil em recursos para viabilizar o aperfeiçoamento dos estudos em música no exterior e a aquisição de novos instrumentos. Chegando em 2024 à sua 13ª edição, essa é a premiação mais expressiva do Brasil para estudantes de Orquestras Jovens, sendo voltada aos bolsistas da Orquestra Jovem do Estado, grupo artístico ligado à Escola de Música do Estado de São Paulo – Emesp Tom Jobim, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, gerida pela Santa Marcelina Cultura.
A solenidade de outorga neste ano será realizada no dia 15 de dezembro, às 15h, na Sala São Paulo, em cerimônia que marca também a comemoração oficial dos 35 anos da Emesp Tom Jobim. Na sequência, ocorre o concerto de encerramento da temporada da Orquestra Jovem do Estado, sob regência de seu diretor musical e maestro Cláudio Cruz.
O grupo irá apresentar a Sinfonia nº 9 de Ludwig van Beethoven com participação do Coral Jovem do Estado, Coral Juvenil do Guri, Coro Contemporâneo de Campinas, Coro Acadêmico da Osesp e Coro Intermediário da Emesp Tom Jobim, assim como de Rosana Lamosa (soprano), Juliana Taino (mezzo-soprano), Matheus Pompeu (tenor) e Sávio Sperandio (baixo).
13º Prêmio Ernani de Almeida Machado
Estabelecido em 2012 a partir de uma parceria entre a Santa Marcelina Cultura e o escritório Machado Meyer Advogados, o Prêmio Ernani de Almeida Machado tem duas etapas. Inicialmente, os candidatos são avaliados por meio de um vídeo. Na fase final, participam de uma audição presencial e são avaliados por uma banca. A honraria contempla quatro bolsistas na categoria Instrumentos, com bonificação de R$22 mil para cada vencedor, e um jovem talento na categoria principal, com R$100 mil – quantia convertida numa bolsa de estudos em uma instituição de excelência no exterior. “O Prêmio Ernani de Almeida Machado é um grande incentivo para as bolsistas e os bolsistas da Orquestra Jovem do Estado. O prêmio oferece um apoio que vai além do financeiro. A parceria com o Machado Meyer é essencial para continuarmos investindo no talento desses jovens, proporcionando-lhes não só experiências na música, mas também uma formação que fortaleça suas carreiras”, afirma Paulo Zuben, diretor artístico-pedagógico da Santa Marcelina Cultura.
Desde 2020, há também a categoria Maria Vischnia, voltada exclusivamente às jovens instrumentistas da Orquestra Jovem do Estado em uma ação afirmativa única no Brasil que visa promover a equidade de gênero e o desenvolvimento musical das alunas. Com o valor de R$32 mil, a categoria Maria Vischnia não exclui a possibilidade de as instrumentistas concorrerem à premiação principal.
Ao longo dos últimos anos, mais de 60 bolsistas da Orquestra Jovem do Estado já foram agraciados com o Prêmio Ernani de Almeida Machado. Em razão da iniciativa, vários estudantes puderam ingressar nos melhores centros de formação musical do planeta, como o Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris, o Conservatório de Amsterdã, o Mozarteum de Salzburgo e o Conservatório de Colônia, entre outros.
Transmissão ao vivo
Para democratizar o acesso ao público, o concerto realizado na Sala São Paulo será também transmitido ao vivo gratuitamente pelo canal de YouTube da EMESP Tom Jobim, em www.youtube.com/tjemesp.
A temporada da Orquestra Jovem do Estado conta com patrocínio do Bank of America, Desenvolve SP, Machado Meyer Advogados, Deutsche Bank, Crédit Agricole, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, além do apoio da e Cultura Inglesa. É uma realização da Santa Marcelina Cultura, Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas de São Paulo, Governo do Estado de São Paulo, Ministério da Cultura e Governo Federal.
Serviço:
13º Prêmio Ernani de Almeida Machado
Orquestra Jovem do Estado
Coral Jovem do Estado
Coral Juvenil do Guri
Coro Contemporâneo de Campinas
Coro Acadêmico da Osesp
Coro Intermediário da Emesp
Cláudio Cruz, regência
Tiago Pinheiro, regência
Marília Vargas, preparação vocal
Giuliana Frozoni, regência
Angelo Fernandes, regência
Marcos Thadeu, regência
Daniel Volpin, regência
Wesley Rocha, preparação vocal
Rosana Lamosa, soprano
Juliana Taino, mezzo-soprano
Matheus Pompeu, tenor
Sávio Sperandio, baixo
LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770–1827)
Sinfonia nº 9 em Ré menor, Op. 125 – 65′
I. Allegro ma non troppo, un poco maestoso
II. Scherzo. Molto vivace – Presto
III. Adagio molto e cantabile
IV. Finale
Concerto: 15 de dezembro, domingo, 15h
Local: Sala São Paulo (Praça Júlio Prestes, 16, Campos Elíseos, São Paulo/SP).
(Com Julian Schumacher/Santa Marcelina Cultura)
Em ‘Os Caminhos do Mar’, o renomado arquiteto e urbanista Benedito Lima de Toledo, professor titular da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) e membro da Academia Paulista de Letras, conduz o leitor a uma fascinante expedição arqueológica revelando parte da história escondida pela exuberante floresta da Serra do Mar. Publicado pela Editora KPMO, em coedição com a Cultura Acadêmica (selo editorial da Editora Unesp), e com prefácio de Mauro Munhoz, arquiteto e cofundador da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), o livro apresenta registros que partem dos primeiros anos da chegada dos colonizadores portugueses no Brasil até os dias atuais, destacando os caminhos que foram fundamentais para o desenvolvimento econômico do estado de São Paulo.
Entre os percursos descritos com riquezas de detalhes, o autor relata suas incursões pela floresta utilizando facões e bússolas, entre outras ferramentas, além de soro antiofídico (prevenção contra a picada de serpentes). Tudo necessário para que Benedito e sua equipe explorassem os vestígios que desvelaram o Caminho do Padre José de Anchieta, a primeira ligação entre o litoral paulista e a Capitania de São Vicente, hoje cidade de São Paulo. Perdido ao longo dos séculos, o traçado foi parcialmente reconstituído na década de 1970 graças aos esforços do arquiteto, no intuito de preservar a memória por meio desse importante resgate histórico.
O livro também registra o inédito trabalho de pesquisa que Benedito desenvolveu ao longo de sua trajetória ao resgatar os vestígios da Calçada do Lorena, construída em 1790 pelo Real Corpo de Engenheiros. Esse caminho, que conectava o planalto de São Paulo ao porto de Cubatão, era reconhecido como a melhor e mais importante estrada de sua época. Utilizando uma técnica inovadora de pavimentação em lajes de pedra, a passagem revolucionou o transporte de cargas, facilitando a circulação de tropas de cavalos e mulas. Mais que uma via de comércio, a estrada foi palco de importantes momentos históricos, como o trajeto de D. Pedro I rumo a São Paulo, em que no trecho do Ipiranga promulgou a declaração da Independência do Brasil, em 1822.
A pesquisa do professor vai além dos caminhos descritos no livro – foi a partir de seu rico acervo que outras investigações historiográficas foram realizadas. A obra compila mapas, desenhos, pinturas e fotografias históricas que documentam também as estradas que sucederam a Calçada do Lorena, como a Estrada da Maioridade e posteriormente a Estrada do Caminho do Mar. No capítulo Caderno de Desenhos há registros dos levantamentos realizados pelo autor e sua equipe de campo dos projetos do arquiteto Victor Dubugras, responsável pela criação dos monumentos históricos construídos em comemoração ao Centenário da Independência, inaugurados em 1922. Embora tenham passado por revitalizações recentes, a memória original dessas obras foi preservada em detalhes graças ao olhar criterioso e os registros fotográficos de Benedito Lima de Toledo.
Além do vasto acervo documental, Os Caminhos do Mar traz o ensaio fotográfico inédito de Maíra Acayba, além das ilustrações em aquarelas da arquiteta e artista Meire de Oliveira, ambos complementam a narrativa visual da publicação. O posfácio do arquiteto, Alexandre Luís Rocha, ressalta as realizações rodoviárias que sucederam o Caminho do Mar, bem como o pioneirismo tecnológico e a audácia das iniciativas dos modernos parâmetros de planejamento de engenharia rodoviária presentes em São Paulo.
Em edição trilíngue (português, inglês e espanhol), o livro nos convida a refletir como a preservação da história expressa nas artes, na arquitetura e no urbanismo está conectada à compreensão de sua trajetória e evolução. Benedito Lima de Toledo não apenas resgatou trajetos esquecidos, mas revelou como eles moldaram o fascinante encontro entre passado e presente que definiram São Paulo.
Ficha Técnica:
Edição: KPMO Cultura e Arte, Cultura Acadêmica Editora
Autor: Benedito Lima de Toledo
Coordenação geral: Suzana Alessio de Toledo
Prefácio: Mauro Munhoz
Direção de arte: Marcello de Oliveira
Ensaio fotográfico: Maíra Acayaba
Ano: 2024 2024
Tradução: Gabriel Silva, Maria Angélica Porto
Número de páginas: 208
Medidas: 22×25 cm
ISBN: 978-65-86913-22-4 (KPMO Cultura e Arte) e 978-65-5954-520-9 (Cultura Acadêmica)
Sobre o autor | Apaixonado por arquitetura, livros e pela cidade de São Paulo, dedicou sua vida a pesquisar e transmitir conhecimentos por meio de aulas, palestras e diversas publicações. Entre suas obras destacam-se: São Paulo: três cidades em um século, Álbum iconográfico da Avenida Paulista, Anhangabaú, Prestes Maia e as origens do urbanismo moderno em São Paulo (vencedor do Prêmio Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, 1996), Esplendor do barroco luso-brasileiro (Prêmio Jabuti, 2013), entre muitas outras publicações.
(Com Fernanda Baruffaldi/Enxame de Comunicação)