Cientistas rebatem argumentos sobre custos de publicação e dificuldades de infraestrutura; entre pontos para tornar a ciência mais aberta estão mudanças na política de avaliação e estímulo ao compartilhamento de dados
Brasil
A Companhia de Teatro Kokelinha, por meio Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas e ProAc (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo), com apoio da Secretaria de Cultura de Indaiatuba, no interior de São Paulo, , realiza oficina “Contos Africanos para Crianças” e peça teatral “A princesa Dara e o Sapo que Fala” nos dias 11 e 12 de agosto. Para participar da oficina os interessados devem se inscrever por este link.
A oficina de contação de história “Contos Africanos para Crianças”, destinada a professores, arte educadores, artistas e profissionais que trabalham ou desejam trabalhar com o público infantil, acontece no dia 11 de agosto às 19h30 no Centro Cultural Piano. Com duração de 50 minutos, os participantes terão acesso a ferramentas de ensino para a inserção da cultura africana em histórias, jogos e brincadeiras.
Já no sábado às 16h, será apresentado o teatro infantil “A princesa Dara e o Sapo que Fala”, no Ciaei. A peça traz uma nova roupagem sobre uma princesa e um sapo falante, desta vez ambientada em um reino africano liderado e construído por mulheres. Com foco no protagonismo feminino, negro e africano, o teatro procura incentivar o público infantil a buscar mais representatividades de realeza, além de abordar temas que envolvem ecologia, história, cultura popular, autoconhecimento e o poder de se reinventar. Ao longo do espetáculo são executadas músicas autorais, além de uma cantiga de roda brasileira, também adaptada para a peça. A entrada é gratuita tanto para a oficina como para o teatro. Os ingressos para a peça devem ser retirados 1h antes do espetáculo.
Sinopse do espetáculo
Líder e rainha do reino africano de Kadondo, a bondosa Nandi Ka está preparando a festa de 15 anos de sua filha, a princesa Dara. Ao contrário da sua mãe, Dara não se interessa pelo seu reino, nem pela história de seu povo, e acredita ser a pessoa mais ilustre do mundo. A princesa só não esperava que um sapo, mais artista que anfíbio, pudesse roubar a atenção de todos bem no dia do seu aniversário. Ela ainda não sabe, mas por trás desse sapo que fala, canta e até conta piadas, existem segredos envolvendo a história de um reino vizinho e um poderoso feiticeiro.
Ao longo da festa, em meio a muitas descobertas, a princesa Dara e o Sapo Que Fala vão embarcar juntos em uma jornada de crescimento e amadurecimento. O espetáculo deixa ainda lições que envolvem o poder de se reinventar, do resgate as raízes familiares e do artista que está escondido dentro de cada um.
Sobre a Cia Kokelinha | A Companhia de Teatro Kokelinha nasceu em Campinas, em 2019, com o propósito de realizar espetáculos infantis, que promovessem o debate e a reflexão de questões sociais e culturais de uma forma leve e lúdica. Em meio à pandemia, a Kokelinha encontrou outras formas de fazer sua arte chegar ao público. Foi por meio das mídias sociais que o grupo de artistas e arte educadores se destacou, produzindo materiais educativos em vídeo, como contações de histórias, teatro web e clipes musicais infantis. No Youtube, os vídeos do grupo somam de mais de 60 mil visualizações, com comentários positivos vindos de todas as regiões do Brasil.
Serviço:
Oficina “Contos Africanos para Crianças”
Local: Centro Cultural Piano (Av. Eng. Fábio Roberto Barnabé, 5924 – Jardim Morada do Sol, Indaiatuba/SP)
Data: 11/8
Horário: 19h30
Entrada gratuita
Inscrições: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScVTBEui1qvEwjQzgtvmZNHmo_UC6FwvlsZtevvNm3AqoyDQ/viewform
Espetáculo “A Princesa Dara e o Sapo Que Fala”
Data: 12/8
Horário: 16h
Entrada gratuita
Local: Teatro Ciaei (Av. Eng. Fábio Roberto Barnabé, 3665 – Jardim Regina, Indaiatuba/SP)
Ingressos: Devem ser retirados 1h antes do espetáculo no Ciaei.
Vídeo teaser do espetáculo: https://www.youtube.com/watch?v=1zQ9QphPV9c.
(Fonte: Prefeitura de Indaiatuba)
O artista visual, cineasta e ambientalista João Machado apresenta o projeto “Geoprópolis”, a partir do dia 12 de agosto de 2023 (sábado), das 14h às 22h, no espaço Bananal Arte e Cultura Contemporânea, na Barra Funda, em São Paulo. Com curadoria de Arasy Benítez e Khadyg Fares, a mostra itinerante agrupa uma série de trabalhos, como um mapa em lambe-lambe na parede da área externa do espaço expositivo onde serão marcados os enxames localizados durante as caminhadas; uma videoinstalação feita de antigas caixas de abelhas contendo pequenas telas de vídeo com imagens de derivas anteriores; uma série de obras gráficas retratando bandeiras homenageando diferentes abelhas nativas e os territórios onde elas vivem e, também, uma escultura de centenas de bolas (feitas da mistura de terra, argila e sementes de flores benéficas para as abelhas nativas), que serão usadas ao longo da exposição, dispersas pela cidade durante as derivas (caminhadas coletivas artísticas).
As obras gráficas se estenderão a uma outra obra feita desta vez em parceria com artistas têxteis do coletivo Ateliê Vivo, também da Barra Funda, que colaboraram na execução de bandeiras pintadas sobre seda também homenageando as abelhas e seus territórios. “A ideia é eventualmente conseguirmos mapear todas as regiões da cidade e promover uma troca com diferentes espaços expositivos e a comunidade do entorno. Em cada espaço promovemos derivas (caminhadas coletivas artísticas) onde mapeamos e identificamos abelhas nativas no entorno, organizamos encontros e debates sobre assuntos ligados à arte, território e ambientalismo junto com a exposição das minha obras”, afirma João, que apresentou o projeto no espaço independente Villa Mandaçaia Projetos em maio de 2023, em Pinheiros, e agora no Bananal Arte e Cultura Contemporânea, na Barra Funda, e, na sequência, segue para outros espaços.
Diálogo com a cidade e a natureza
O projeto foi desenhado para ser também uma troca, um diálogo com a cidade, ao contrário de uma exposição unilateral. Na Barra Funda, por exemplo, o espaço do Bananal fica ao lado do Largo da Banana, que é um lugar historicamente importante para São Paulo, mas desconhecido do público. É considerado o berço do samba paulistano e, diante disso, o projeto convidou um grupo de samba local chamado Cordão da Terra para ministrar uma oficina sobre a história do samba paulista e, por fim, haverá um cortejo de samba pelo bairro aberto ao público e com as bandeiras homenageando as abelhas no dia do encerramento da mostra.
Mapeamento urbano | Haverá também uma programação gratuita de ações, como “Geoprópolis – Mapeamento de abelhas nativas em São Paulo”, que acontece nos três finais de semana durante a mostra: no dia 12 de agosto de 2023, às 14h, com saída do Memorial da América Latina; no dia 19 de agosto de 2023, às 14h, com saída do Parque da Água Branca e, por fim, no dia 26 de agosto de 2023, às 14h, com saída no entorno do Bananal Arte e Cultura Contemporânea. Todas as atividades são gratuitas e voltadas para adultos, jovens e crianças, sendo pessoas de todas as idades e gêneros. Vagas por encontro: 15 (quinze).
Sobre o projeto | Geoprópolis começou há dois anos, quando João e Arasy vieram morar em São Paulo, depois de uma longa temporada morando no sul de Minas, onde João pode conhecer e aprofundar uma pesquisa artística em volta das abelhas nativas. Quando chegaram a São Paulo, perceberam que existem muitas abelhas nativas resistindo também no ambiente urbano. O Brasil possui mais de 300 espécies de abelhas nativas e elas estavam aqui antes da chegada da abelha Europeia (Apis mellifera), trazida pelos colonizadores. Todas essas abelhas possuem nomes indígenas e são amplamente conhecidas pelos povos nativos que criam essas abelhas há milênios e fazem parte da cultura nativa. O desmatamento e redução das áreas florestais de um modo geral foram reduzindo gradualmente seu habitat e hoje algumas dessas abelhas estão em risco de extinção.
Sobre o artista visual | João Machado é artista visual, cineasta e ambientalista nascido no Rio de Janeiro em 1977. Bacharel em Cinema pela Art Center College em Los Angeles, Califórnia. Criador da Villa Mandaçaia, que atua como espaço de arte independente com foco na Videoarte, situado em São Paulo, João possui uma carreira de 20 anos como diretor de cinema de filmes autorais, documentários e obras de videoarte. Seu trabalho em artes visuais participou de inúmeras exposições em galerias e espaços culturais pelo mundo. Em 2014 foi selecionado pelo edital da Caixa Cultural para uma exposição individual chamada “Atlas”, apresentada nas unidades da Caixa Cultural em Salvador, Curitiba e Rio de Janeiro. De 2015 em diante, sua pesquisa artística se direciona para o ativismo na preservação das abelhas sem ferrão nativas do Brasil. No ambiente urbano, João vem conduzindo um mapeamento de abelhas que resistem e fazem sua morada num ambiente tão inóspito a elas. O convívio com as abelhas nativas é também o lugar de uma pesquisa estética, desenvolvendo trabalhos em vídeos e escultóricos produzidos a partir de elementos extraídos da sua criação de abelhas como a cera, a própolis e o mel.
Sobre as curadoras
Arasy Benítez é curadora, bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2018), cursou a especialização em Arte: Crítica e Curadoria na PUC-SP (2022). Cocriadora e curadora no espaço independente Villa Mandaçaia Projetos desde 2022, onde assinou a curadoria da mostra de Videodança “É preciso Ultrapassar” junto com Ana Carla Soler e fez a assistência de curadoria na exposição da artista peruana Genietta Varsi em 2023 com curadoria de Lisa Blackmore. Atualmente acompanha como curadora junto com a Khadyg Fares o trabalho itinerante do artista João Machado.
Khadyg Fares é curadora, pesquisadora e educadora com foco nos estudos anticoloniais e nas teorias da imagem. É mestranda e bacharela em História da Arte pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Foi curadora das exposições “A barganha”, Coleção Moraes Barbosa (2022), “Vivemos pra isso”, Ateliê 397 e Galpão da Galeria Vermelho (2022), “Videolatinas”, Villa Mandaçaia – SP (2022) e Lux Espaço de Arte-SP (2021-2022), “Plantão” (2021) e da “Amarração” – Mostra de Performance e Vídeo do Prêmio Vozes Agudas (2021), ambas no Ateliê 397-SP. Organizou e curou “Tramas do Comum” (2021), programa público online da 10ª Mostra 3M de Arte – “Lugar Comum: travessias e coletividades na cidade”; realizada em 2020, exposição que atuou como assistente de curatorial e editorial. Integrou o núcleo de curadoria da Pinacoteca de São Paulo entre 2018 e 2020 e o núcleo de pesquisa do Arquivo Histórico Wanda Svevo da Fundação Bienal de São Paulo entre 2016 e 2017. É coordenadora do Colóquio de Cinema e Arte na América Latina – COCAAL. Integrante do Coletivo Vozes Agudas e do Grupo de Estudos MAAR-Unifesp (Mídias, Afetos, Artes e Resistências).
Sobre o espaço | Bananal Arte e Cultura Contemporânea é uma iniciativa de artistas, produtores culturais, arquitetos, cozinheiros e educadores que se juntaram ao redor da ideia de abrir um espaço cultural na Barra Funda, bairro na região central de São Paulo. O projeto se estrutura ao redor da ideia de fortalecer redes e ações culturais que visem o desenvolvimento, a experimentação e a prototipagem de novos projetos em arte, cultura, empreendedorismo e sustentabilidade, envolvendo agentes que se encontram à margem do circuito institucional e do mercado.
Serviço:
Mostra “Geoprópolis”, de João Machado
Curadoria: Arasy Benítez e Khadyg Fares
O quê: mapa em lambe-lambe, videoinstalação, obras gráficas retratando bandeiras e escultura de centenas de bolas (feitas da mistura de terra, argila e sementes de flores benéficas para as abelhas nativas)
Abertura: 12 de agosto de 2023 (sábado), 14h–22h
Visitação: 13 a 26 de agosto de 2023 (terça a sexta, 15h-19h, sábado e domingo, 15h–22h)
Atividade “Geoprópolis – Mapeamento de abelhas nativas em São Paulo”
12 de agosto de 2023 (sábado), às 14h, saída do Memorial da América Latina
19 de agosto de 2023 (sábado), às 14h, saída do Parque da Água Branca
26 de agosto de 2023 (sábado), às 14h, saída no entorno do Bananal Arte e Cultura Contemporânea, no itinerário do saudoso Largo da Banana.
Vagas por encontro: 15 (quinze)
Quanto: gratuito e voltado para adultos, jovens e crianças; pessoas de todas as idades e gêneros
Conversa| Geoprópolis: Terra em Defesa da Cidade convida a liderança
Karaí Tatande
Convidado: Karaí Tatande (Pajé da Aldeia Rio Silveiras)
Mediação: Ruy Luduvice
18 de agosto de 2023 (sexta-feira), às 19h30, no Bananal Arte e Cultura Contemporânea vagas por encontro: 25 (vinte e cinco)
Quanto: gratuito e voltado para adultos e jovens (de todos os gêneros)
“Oficina de bombas de sementes” – Geoprópolis + Banana Nanica
19 de agosto de 2023 (sábado), às 15h, no Bananal Arte e Cultura Contemporânea vagas por encontro: 25 (vinte e cinco)
Quanto: gratuito e voltado para crianças de todas as idades e seus adultos de referência para crianças menores de 4 anos
“Samba de Bumbo Paulista: Uma memória Afro-atlântica”, com João Mário Teixeira Braga Machado
26 de agosto de 2023 (sábado), às 14h, no Bananal Arte e Cultura Contemporânea vagas por encontro: 25 (vinte e cinco)
Quanto: gratuito e voltado para adultos e jovens (de todos os gêneros)
Encerramento Geoprópolis: “Dança das Operárias
Com o Balé Popular Cordão da Terra
26 de agosto de 2023 (sábado), às 17h, no Bananal Arte e Cultura Contemporânea vagas por encontro: sem limite
Quanto: gratuito e voltado para adultos, jovens e crianças (de todos os gêneros)
Dúvidas e contato: (21) 98601-3127 / arasybenitez@gmail.com
Onde: Bananal Arte e Cultura Contemporânea – Rua Lavradio, 237 – Barra Funda, São Paulo, SP
Quanto: gratuito e livre
Site: https://www.sympla.com.br/produtor/mandacaiaprojetos
Redes sociais:
João Machado: @joaomachadoarte
Khadyg Fares: @khadygfares
Arasy Benítez: @_arasybe
Bananal Arte e Cultura Contemporânea: @bananal.arte
Ficha técnica da exposição
Artista: João Machado
Curadoria: Arasy Benítez e Khadyg Fares
Educativo: Gabriela Conceição Silva
Assessoria de Imprensa: Marmiroli Comunicação
Artistas e Convidados: Ateliê Vivo, Karaí Tatande, João Mário Machado e Balé Popular Cordão da Terra
Agradecimentos: Eliane Carvalho e Ruy Ludovice.
(Fonte: Marmiroli Comunicação)
Mesmo desconhecidas pelo grande público, o estado de São Paulo – o mais populoso do país – tem 38 terras indígenas, de acordo com a Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP), entidade que atua junto com indígenas e quilombolas para garantir seus direitos territoriais, culturais e políticos. E, apesar da noção de que esta população vive somente em áreas rurais ou afastadas dos grandes centros, o fato é que a capital paulista é o 4º município com maior população indígena absoluta no Brasil, contando com quase 13 mil pessoas.
Em uma destas terras, mais precisamente na Zona Leste da cidade, está localizada a aldeia Hãinve Ti Vai Keié, acontecem encontros e rituais do povo Dofurêm Guaianá. Com uma população estimada em cerca de 500 pessoas, os indígenas lutam pelo reconhecimento oficial das autoridades Estaduais e Federais mesmo sendo originários de regiões que chamamos de São Miguel Paulista hoje em dia.
“Eu costumo dizer que, quando se fala de São Paulo, o que a grande maioria chama de cidade, nós, do povo Dofurêm Guaianá, originário deste território, chamamos de casa. Por séculos os governos paulista e paulistano tentaram por diversos meios exterminar o nosso povo, inclusive com a destruição das últimas aldeias localizadas na zona leste de São Paulo”, conta Andrey Guaianá Zignnatto, artista, ativista de projetos sociais e indígena mestiço da família Guaianá e Guarani M’bya. Andrey é um dos artistas envolvidos em um projeto inovador chamado de “Retomada Territorial” que transformará a terra dos Dofurêm Guaianá em uma aldeia sustentável.
Desenvolvido pela Alphaz Concept, incorporadora brasileira que realiza projetos de arquitetura com responsabilidade ecológica, o objetivo é demarcar a área como um verdadeiro lar dos indígenas, misturando conceitos arquitetônicos contemporâneos com a cultura ancestral do povo originário. Além dos círculos de rituais, a floresta preservada, casa fortificada e até uma loja de artesanato, as edificações terão soluções sustentáveis, como usina fotovoltaica, biodigestores e armazenamento de água da chuva.
Importância de um novo lar
Andrey Guaianá Zignnatto explica que são vários os desafios de se preservar uma cultura indígena no meio de uma metrópole como São Paulo. Ele lembra que nestes espaços urbanos os indígenas sofrem com fatores como a gentrificação (processo que expulsa moradores de uma área por causa do aumento dos preços) e especulação imobiliária.
Ele ainda cita a desinformação, os diversos preconceitos e o fetichismo – quando só se é considerado indígena quem mora na Amazônia – como outras dificuldades vividas pelas populações originárias. “As bases de estrutura social de uma comunidade indígena são muito diferentes das bases de uma sociedade urbana, o que aponta para a urgente necessidade de as instituições locais flexibilizarem os seus sistemas para também atenderem as demandas dos indígenas que aqui vivem. Em resumo, nós precisamos de espaço, seja ele físico/territorial, seja ele institucional”, pede Andrey.
Ele explica que para um indígena, a aldeia é um lar, o que significa muito mais do que um local de descanso, lazer e contato com a família – como nós, moradores urbanos, estamos acostumados. Na verdade, no século XXI estes ambientes também servem para reunir os anciãos, anciãs e os mais jovens para mostrar que eles não precisam ter mais vergonha de se apresentar como um Guaianá. Neste sentido, Andrey destaca que o projeto Retomada Territorial dará ao seu povo Dofurêm Guaianá não apenas um lar, mas também “restaurará a nossa identidade como nação, a nossa memória ancestral e mostrar para os outros que nós ainda estamos vivos e que não conseguiram nos extinguir”.
Resgatando a história e a identidade
O projeto de transformar a aldeia Hãinve Ti Vai Keié teve inspirações como a “Opera Village”, uma aldeia sustentável em Laongo, região próxima de Ouagadougou, capital de Burkina Faso, país da África Ocidental. O projeto foi criado pelo arquiteto alemão Christoph Schligensief e foi materializado por Francis Keré, o primeiro africano a vencer o Prêmio Pritzer, a maior honraria internacional da arquitetura.
Com 20 hectares, o espaço abriga uma grande central educacional e artística em formato de espiral e contém oficinas, centros médicos, quartos de hospedes, escolas, sala de espetáculo e mais – tudo construído com materiais sustentáveis.
O projeto da aldeia sustentável Hãinve Ti Vai Keié é assinado por Thaisa Kleinubing, arquiteta especialista em sustentabilidade, eficiência energética e Green Building pela Universidade de Aalborg, na Dinamarca. Ela explica que a ideia é fazer uma implantação das edificações aproveitando os espaços livres existentes, fazendo uma mínima intervenção no solo e vegetação e usando as clareiras existentes para construção. “A área verde que já existe de vegetação será mantida e depois recomposta com o manejo e cuidado dos indígenas”, pontua a arquiteta.
A entrada da nova aldeia Hãinve ti vai keié será em uma rua lateral e a ideia é ter um diálogo de acesso com uma escola pública infantil bem ao lado do espaço. Mesmo sendo independentes, o projeto prevê que eventualmente os alunos poderão utilizar o espaço da floresta e o auditório que será construído.
Destacando que as obras irão valorizar a sobrevivência, a cultura e a identidade dos indígenas, o local terá as seguintes edificações tradicionais:
– Casa Fortificada: é um exemplo de arquitetura desenvolvida em função da pressão, ataques e ameaças que vieram com os bandeirantes e com a invasão. A casa fortificada será reconstruída com a tecnologia da época, então com terra, estrutura de bambu e coberta de palha para marcar como registro e memória de resistência;
– Casa na árvore: é uma forma de se proteger e controlar a aproximação dos invasores e vai ser reconstruída pelos próprios indígenas;
– Casa de inverno: faz parte da cultura e era a casa para dar calor, isolamento térmico e proteção contra os ventos frios. Ela é semienterrada com uma cobertura de palha.
“As três edificações serão típicas e as histórias serão recriadas com o material original”, afirma Thaisa Kleinubing.
A nova Aldeia Sustentável Hãinve Ti Vai Keié
A terra do povo Dofurêm Guaianá também ganhará construções mais puxadas por inspirações contemporâneas. A arquiteta Thaisa Kleinubing cita que será montada uma recepção, loja, centro cultural, área de apoio e uma área externa de eventos e rituais.
Junto destes espaços estará um hall de tecnologias sustentáveis que foram desenvolvidas e serão instaladas pela Alphaz Concept e Alphaz Tijolos Ecológicos. As soluções serão:
– Tijolos ecológicos: são produzidos a partir de restos de outras construções e reduzem em 90% o consumo de água, dispensam a queima de carvão e diminuem a utilização de argamassa no canteiro de obras;
– Sistemas de biodigestor: destinado à produção de biogás, principalmente o metano, por meio do tratamento de esgoto sem a utilização de produtos químicos. Durante o processo, a matéria orgânica contida no esgoto é digerida pelas bactérias, que atuam na falta de oxigênio, produzindo o biogás, que pode ser transformado em energia;
– Sistema fotovoltaico: funciona por meio de placas que captam a claridade; basta que haja luminosidade natural, transformando-a em energia elétrica;
– Reuso de água da chuva: é um sistema com cisternas que captam a água de precipitação e possibilitam seu reuso para atividades que não necessitam de água potável, como descarga, irrigação de jardim, lavagem e outros, e
– Argamassa: é um produto da Alphaz Technologies que foi desenvolvido para facilitar o assentamento dos blocos. Ele não precisa de água, não gera desperdício, dispensa o uso de betoneira e assenta 2,5 mil tijolos por dia, tudo em uma bisnaga para vedação.
Thaisa Kleinubing faz questão de ressaltar que todo o projeto foi desenvolvido sem remuneração e que ele completa um ciclo pessoal dela, já que seu TCC na faculdade envolveu justamente o trabalho de reforma de um centro cultural para povos indígenas que vivem em Santa Catarina (estado de origem dela). “Os espaços com tecnologias sustentáveis poderão servir também para fazer uma educação ambiental não só dos indígenas, mas da própria comunidade ao redor. Além disso, a aldeia será um local de retomada do território que servirá para lembrar a história não só da invasão e chacina promovida pelos invasores, mas da resistência”, argumenta.
Andrey Guaianá Zignnatto diz que tudo foi planejado e produzido com um diálogo aberto entre as empresas apoiadoras (Alphaz Concept, Top Eventos e pesquisadores membros do núcleo cultural dos indígenas Dofurêm Guaianá). “Cada espaço projetado oferece um lugar para o fortalecimento do convívio social entre os membros de nossa comunidade, a prática dos rituais, a produção de nossa arte e outros elementos da nossa cultura, a conexão do nosso povo com o meio ambiente e a preservação de espécies nativas da fauna e da flora. Também servirá como um meio de conectar a população da cidade e do estado de São Paulo com a nossa cultura, or meio de uma ampla programação com diversos tipos de atividades”, pontua Andrey.
Luigi Scianni Romano, sócio fundador da Alphaz Concept, comenta que esse é um dos projetos mais especiais já desenvolvidos pela Alphaz e acrescenta que os povos originários também terão uma roça para plantar alimentos como mandioca e milho. “Todo o planejamento já foi feito e nós esperamos que este não seja apenas um marco para este povo indígena de São Paulo, mas que seja um início de uma retomada também de outras populações originárias que estão espalhadas em todos os cantos do país, inclusive na área urbana”, finaliza Luigi.
Sobre a Alphaz Concept
A Alphaz Concept é uma incorporadora brasileira que executa projetos assinados de arquitetura com responsabilidade ecológica. A empresa segue as mais modernas tendências de construções ecologicamente viáveis, práticas de custo otimizado e acima de tudo um produto de alto valor agregado que gera rentabilidade para os proprietários.
Os empreendimentos da Alphaz Concept são equipados com soluções sustentáveis como painéis solares fotovoltaicos, sistemas biodigestores para tratamento de esgoto, captadores de água da chuva, compostagem orgânica e lixeiras para coleta seletiva.
A Alphaz Concept também possui o diferencial de atuar com parceiros técnicos de renome, como o arquiteto Sérgio Fischer. E embaixadores engajados com a causa ambiental, como o influenciador Leandro D’Lucca e as atrizes Deborah Secco e Cleo.
Atualmente, a Alphaz Concept desenvolve projetos nas regiões Sul do estado de Minas Gerais, Vale do Paraíba, Bahia, Pipa (RN), Litoral Norte de São Paulo (Ubatuba e Ilha Bela), Punta del Este, no Uruguai, e Costa Rica.
(Fonte: Comunicação Conectada)
Alexandre Murucci exibe “A Floresta Azul”, no Centro Cultural dos Correios SP sob curadoria de Victor Gorgulho, onde reúne uma série de novos trabalhos que abordam questões fundamentais relacionadas ao patrimônio natural do Brasil, a importância dos povos originários, as ameaças enfrentadas pela Floresta Amazônica e o panorama sociopolítico que afeta o futuro do planeta. Por meio de uma abordagem conceitual, o público será convidado a refletir sobre a vida que flui na floresta conferindo-lhe a tonalidade azul.
O questionamento central da exposição é expresso pelo próprio artista: “De que cor é uma floresta?” O título oferece uma resposta implícita a essa indagação, insinuando que a floresta é azul em virtude da vitalidade que exala para o ambiente. Murucci adentra o âmago da discussão sobre a Floresta Amazônica utilizando diversos meios artísticos para examinar as complexidades da região e sua relação com a realidade geopolítica contemporânea.
Por meio de diferentes mídias e suportes, o artista aborda uma das questões mais urgentes da atualidade brasileira e do mundo contemporâneo: a preservação da Amazônia. Seja por meio de uma abordagem crítica e incisiva sobre o passado de descaso e projetos fracassados que marcaram a história da maior floresta tropical do mundo ou através de um olhar poético que oferece uma visão panorâmica do passado e do presente da região e do Brasil, convida o público a embarcar em um percurso labiríntico que abrange os aspectos sociais, políticos e culturais desse território que se destaca pelo descaso e, ao mesmo tempo, pelo fascínio que desperta em todos os seres que compartilham este planeta, a nossa Terra. “A Floresta Azul” representa a vida que flui no ar em forma líquida e vital, conferindo à floresta uma tonalidade azul, em contraste com as cores convencionais associadas a esse ecossistema.
Com um enfoque conceitual marcante, Alexandre Murucci exibe trabalhos em diversos suportes, incluindo uma instalação que dará nome à exposição, intitulada “labirintos espaciais”. Essa imensa e delicada composição é construída a partir de bastidores de madeira e telas de seda sintética, criando uma paisagem flutuante inserida em uma figura concretista.
“Ora lançando mão de um olhar crítico e mordaz diante do passado historicamente conhecido de descaso e sucessivos projetos fadados ao fracasso na maior floresta tropical do mundo, ora nos apresentando um panorama do ontem-hoje da Amazônia e do Brasil por meio de um singular olhar poético, o artista convida o espectador a um percurso labiríntico — literal e metafórico — por entre os meandros da história social, política e cultural de um território a um só tempo fruto do descaso e do fascínio infindo dos olhos (e dos pulmões) de todos os seres que habitam este planeta que ainda chamamos de…Terra”, discorre Victor Gorgulho.
“De que cor é uma floresta? Verde como deveria? Amarela e seca? Vermelha como quando arde em chamas? Negra, após suas mortes? Para o artista ela é azul, pela vida que transpira pelo ar. Vida em forma líquida e vital” – Alexandre Murucci.
O artista
Alexandre Murucci (Rio de Janeiro, RJ, 1961) vive e trabalha no Rio de Janeiro. Artista plástico com formação pela Escola de Visuais do Parque Lage (EAV). Sua trajetória de mais de 30 anos inclui trabalhos com suportes múltiplos, com ênfase em escultura, fotografia, instalação, vídeo e arte digital (NFT). Suas obras, de cunho conceitual, abordam principalmente temas relacionados a identidades, inserções periféricas e polaridades dos fluxos de poder, sempre com um viés político-histórico e referências metalinguísticas no âmbito da arte. Obteve reconhecimento ao longo de sua carreira participando de mais de 80 exposições em seu trajeto profissional. Em 2009, foi agraciado com o prêmio Bolsa Iberê Camargo e, no mesmo ano, recebeu o convite para participar da mostra coletiva “Las Américas Latinas – Fatigas Del Querer” em Milão, com curadoria de Philippe Daverio. Em 2011, recebeu o 2º prêmio da Fundação Thyssen-Bornemisza, de Viena, no projeto “The Morning Line” – TBA21.
Entre suas exposições individuais de destaque, estão “Cadeau”, na Galeria Mariantonia – USP, em 2022; “Arquipélago”, na Galeria de Arte Maria de Lourdes Mendes de Almeida, em 2019; “O Fio de Ariadne”, no Centro Cultural Correios, ambas no Rio de Janeiro, em 2021; “Las Américas Latinas” em Milão, Itália, em 2014, e a exposição “Nicho Contemporâneo”, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 2010. Além disso, suas obras já foram exibidas em diversos países, como EUA, Eslovênia, Cuba e Alemanha. Em 2011, representou o Brasil na Bienal da Áustria e, em 2019, na 13ª Bienal do Cairo. Em 2017, foi selecionado por meio de um open-call mundial para o Pavilhão de Grenada na 57ª Bienal de Veneza, com comissariado de Susan Mains e curadoria de Omar Donia. Também se destacou como um dos primeiros artistas a exibir suas obras em formato NFT durante a ArtRio, feira presencial de arte, por meio da galeria Metaverse Agengy, uma participação inédita internacionalmente.
Curadoria
O curador Victor Gorgulho (Rio de Janeiro, RJ, 1991) vive e trabalha no Rio de Janeiro. Curador, jornalista e pesquisador, é graduado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ e atualmente, mestrando em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio, com um profundo envolvimento no campo das artes visuais. Atuando como curador-chefe do Instituto Inclusartiz, já esteve à frente de importantes exposições no cenário artístico contemporâneo. Entre suas curadorias notáveis, estão “Vivemos na melhor cidade da América do Sul”, em colaboração com Bernardo José de Souza, realizada em Átomos, Rio de Janeiro, em 2016, e na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, em 2017; “terceiro mundo pede a bênção e vai dormir”, realizada na Despina, Rio de Janeiro, em 2017; “‘Eu sempre sonhei com um incêndio no museu’ – Laura Lima & Luiz Roque” no Teatro de Marionetes Carlos Werneck, no Rio de Janeiro, em 2018 e “Perdona que no te crea”, na Fortes D’Aloia & Gabriel, Rio de Janeiro, em 2019. Gorgulho também co-curou a exposição “Escrito no Corpo” em parceria com Keyna Eleison, exibida na Carpintaria, no Rio de Janeiro, até fevereiro de 2021. Desde 2019, atua como curador do MIRA, programa de videoarte da ArtRio. Integra o corpo curatorial da Despina, centro de pesquisa e residência artística no Rio de Janeiro sob a direção de Consuelo Bassanesi. Com vasta experiência jornalística, Gorgulho foi editor assistente de cultura do Jornal do Brasil (2014–2017) e é colaborador de veículos como o El País Brasil. Coorganizou, juntamente com a crítica e curadora Luisa Duarte, o livro “No tremor do mundo – Ensaios e entrevistas à luz da pandemia” (Editora Cobogó, 2020).
Centro Cultural dos Correios São Paulo | O prédio onde está instalado ocupa um grande terreno no Vale do Anhangabaú, coração do centro antigo da cidade. Com 15 mil m² de área construída, sua construção se iniciou em 1919 e a inauguração ocorreu três anos depois. Tornou-se um ponto marcante na paisagem urbana da capital Paulista e fez com que a Praça Pedro Lessa ficasse mais conhecida como “Praça do Correio” do que pelo seu nome original. Inaugurado em 2013, o Centro Cultural dos Correios SP conta com uma área de 1.280m², com duas salas para exposições e o saguão central. Fomenta atividades culturais nos campos das artes visuais, humanidades e música. A agenda é diversificada, durante todo o ano, com o intuito de atingir e atender aos diferentes gostos. O público tem a oportunidade de prestigiar, gratuitamente, artistas em início de carreira como também os renomados, que procuram inserir seus trabalhos em um local que une credibilidade e reconhecimento da sociedade.
Exposição “A Floresta Azul”
Artista: Alexandre Murucci
Curadoria: Victor Gorgulho
Período: de 8 de agosto a 16 de setembro de 2023
Local: Centro Cultural Correios – São Paulo
Endereço: Praça Pedro Lessa – Centro Histórico de São Paulo, São Paulo – SP (Metro mais próximo – São Bento)
Horários: de segunda-feira a sábado, das 10 às 17hs.
Entrada franca
Livre para todos os públicos
Acessibilidade: o espaço está em conformidade com todas as regras vigentes e possui escadas rolantes e elevador.
Produção – A Artéria Produções Ltda.
(Fonte: Balady Comunicação)
Com apenas 28 mil habitantes e 864 km² de área territorial, a cidade de Casa Branca tem peso relevante na balança do agronegócio nacional. O município é o maior produtor brasileiro de laranja e o principal paulista no cultivo de batatinha (IBGE, 2021). Mas a sua marca mais relevante, mesmo, tem a ver com as relações umbilicais com a jabuticaba, “frutas em botão” na linguagem tupi.
Os laços de identidade entre Casa Branca e o fruto da jabuticabeira ganharam um novo capítulo a partir da Lei 15.093, de 22 de julho 2013. Por deliberação da Alesp – a partir de iniciativa do deputado Rodrigo Moraes (PL), filiado ao PSC na época –, a cidadezinha gigante do agronegócio brasileiro foi elevada à condição de Capital Estadual da Jabuticaba em São Paulo.
Nacionalmente, com base no último Censo Agropecuário do IBGE, o Estado de São Paulo perde apenas para Goiás em volume de produção da fruta. Casa Branca, sozinha, responde por metade do bom desempenho paulista. A safra estadual da jabuticaba em 2022, informa a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), foi da ordem de 3.247 toneladas. Os pomares casa-branquenses concentraram 49,52% dessa colheita. Na esfera municipal, a relação identitária da jabuticabeira com Casa Branca fez com que a planta se tornasse em 2019 a árvore-símbolo do município com lei aprovada pelos vereadores. E um detalhe: um galho de jabuticabeira em floração compõe o brasão casa-branquense.
Cultura jabuticabeira em Casa Branca
Na esteira do título aprovado pelos deputados paulistas, o município de Casa Branca turbinou a economia fortalecendo ou incentivando atividades comerciais associadas à jabuticaba.
Segundo a gerente municipal de Turismo, Victoria Draganoff Fay, o turismo rural tem sido um dos segmentos econômicos mais favorecidos desde a homenagem oficial da Alesp.
Para explorar a jabuticaba turisticamente, relata Fay, a gestão municipal e a iniciativa privada adotam estratégias conjuntas, como visitação a pomares e degustação da fruta no pé. A gestora também ressaltou eventos culturais, como o Festival Gastronômico da Jabuticaba, cuja 7ª edição vai ocorrer de 6 a 17 de setembro deste ano – relatos dão conta da existência da festa desde 1920.
Na avaliação do agrônomo José Carlos Nogueira, o título de Capital Estadual da Jabuticaba aflorou memórias afetivas dos moradores da cidade. É comum encontrar a planta nos quintais de vários casarões antigos espalhados pela área urbana casa-branquense. “Casa Branca já era a terra da jabuticaba há mais de 100 anos por ser o centro de origem dessa fruta. A oficialização contribuiu muito. O próprio casa-branquense começou a rever os seus conceitos de começar a valorizar aquilo que já tinha e não dava valor”.
Nogueira administra a Fazenda Quinta das Duas Barras, considerada o ninho da jabuticaba em Casa Branca pelo pioneirismo na produção e exploração comercial de mudas da frutífera.
E a produtora agrícola Priscilla Fagan, da Fazenda Boa Vista – onde fica o maior pomar de jabuticaba de Casa Branca –, salientou que a denominação oficial dada pela Alesp serviu para “trazer referência e incentivo a novos negócios derivados da fruta e ao turismo”, gerando emprego e renda para cidade.
Famílias visionárias
Além da mãozinha da própria natureza, dado que a árvore é nativa do Brasil, duas famílias em Casa Branca tiveram participação decisiva para que a terra da jabuticaba expandisse o cultivo da fruta. “Não houve alguém que tenha plantado a primeira jabuticabeira em Casa Branca. Aqui já tinha a planta por toda a região, quase todas as residências da cidade tinham [a árvore] no quintal”, adiantou José Carlos Nogueira, da Quinta das Duas Barras. “Há 60 anos, meu pai [Diaulas Nogueira] começou a formar mudas e a comercializar jabuticabeiras. O plantel chegou a ter mais de 60 mil plantas pequenas para venda”, ressaltou.
Nogueira estima que o município tenha na atualidade mais de 40 mil jabuticabeiras, incluindo plantas jovens e as árvores em produção. Após a expansão agrícola da jabuticabeira, o agrônomo enxerga outro filão comercial para a árvore-símbolo de Casa Branca. “Hoje, um grande mercado da jabuticabeira é o paisagismo. O cliente quer uma planta que já esteja produzindo. Vendemos para residências, condomínios e grandes centros urbanos”, comenta José Carlos Nogueira. São vendidas, em média, 100 jabuticabeiras. Os preços variam de R$1 mil a R$10 mil.
Já a Família Fagan destaca-se pela comercialização da fruta. De acordo com Priscilla Fagan, o cultivo de jabuticaba é rentável, porém exige investimentos a longo prazo. “O cultivo é feito com irrigação por aspersão em cada pé – fomos os pioneiros em importar [essa técnica] de Israel – e a análise de terra para ver a necessidade de nutrientes de cada pomar”, explicou Priscilla.
Mesmo com todo o investimento financeiro e tecnológico, ressalta a empresária, a produção da fruta é quando a árvore quer. “Podemos só estimular e monitorar. A produção varia por ano porque o clima influencia muito. São feitas até duas colheitas em cada pomar, no ano”.
Como o crescimento da jabuticabeira e as florações são lentas – a depender da variedade, a primeira safra pode demorar 8 anos para acontecer – a estratégia adotada para compensar a espera é o plantio alternado com outras culturas agrícolas, como laranja, milho, limão e café.
“O plantio em consórcio ajudou. Até uns 25 anos, o pé da jabuticaba é pequeno. Laranja com um ano já começa a produzir. É necessário diversificar, porque [do contrário] as contas não fecham”, pontuou a empresária, informando que 70% de toda área é só jabuticaba.
Ela destacou que a frutinha nativa da Mata Atlântica turbina o mercado de trabalho, especialmente durante a safra anual em setembro. “Na época da colheita, mais de mil pessoas são empregadas”, informou.
Novos passos
Uma conquista que deverá endossar ainda mais a cultura jabuticabeira de Casa Branca será o selo de Indicação Geográfica (IG) junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O trabalho acadêmico para obtenção do registro é desenvolvido por pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). Com o selo IG, Casa Branca passará a ser reconhecida nacionalmente por características naturais exclusivas que diferenciam a jabuticaba casa-branquense da fruta produzida em outras regiões brasileiras.
E na Alesp, um projeto de lei do deputado estadual Altair Moraes (Republicanos) que classifica Casa Branca como Município de Interesse Turístico (MIT) também deverá favorecer a cultura jabuticabeira. A classificação assegura a destinação de recursos orçamentários para as cidades beneficiadas.
Entre os atrativos turísticos para justificar a classificação, foram citados o Festival da Jabuticaba e o fato de o município possuir um dos maiores pomares brasileiros da fruta. No momento, o PL 537/2020 aguarda parecer da Comissão de Turismo da Alesp.
Benefícios da fruta
Pelo Brasil, estudos com a jabuticaba têm se debruçado sobre o valor nutricional da fruta cuja parte mais nutritiva costuma ser a casca. Rica em vitaminas, minerais, fibras e compostos ativos (como polifenóis, niacina, ferro e antocianinas), a jabuticaba pode ser consumida in natura ou na forma processada em doces, bolos, sorvetes, compotas, geleias, licores e fermentados alcoólicos.
Trabalhos acadêmicos com o produto da jabuticabeira ressaltam os potenciais medicinais dos elementos químicos presentes na frutinha tipicamente brasileira. A Universidade Federal de Viçosa (UFV), por exemplo, aponta uma bebida de jabuticaba que pode ajudar na recuperação física de atletas e atuar contra o depósito de gordura no fígado.
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) observou que as fibras presentes na casca da fruta aumentam a produção de glutationa, substância produzida no fígado que auxilia na proteção antioxidante.
Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) foi avaliado o potencial da jabuticaba na prevenção da obesidade.
A Federal de Goiás (UFG) verificou que compostos encontrados na casca provocam um considerável relaxamento das artérias, esse efeito contribui para baixar a pressão.
Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) detectaram atributos anti-inflamatórios da jabuticaba que podem contribuir, inclusive, no combate ao Alzheimer.
Outra frente de pesquisa da Unicamp avalia o uso do extrato da casca de jabuticaba no atraso da progressão do câncer de próstata.
(Fonte: Alesp)