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Aldeia será transformada em projeto sustentável para marcar retomada territorial

São Paulo, por Kleber Patricio

Foto: Thaisa Kleinubing/Alphaz Concept.

Mesmo desconhecidas pelo grande público, o estado de São Paulo – o mais populoso do país – tem 38 terras indígenas, de acordo com a Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP), entidade que atua junto com indígenas e quilombolas para garantir seus direitos territoriais, culturais e políticos. E, apesar da noção de que esta população vive somente em áreas rurais ou afastadas dos grandes centros, o fato é que a capital paulista é o 4º município com maior população indígena absoluta no Brasil, contando com quase 13 mil pessoas.

Em uma destas terras, mais precisamente na Zona Leste da cidade, está localizada a aldeia Hãinve Ti Vai Keié, acontecem encontros e rituais do povo Dofurêm Guaianá. Com uma população estimada em cerca de 500 pessoas, os indígenas lutam pelo reconhecimento oficial das autoridades Estaduais e Federais mesmo sendo originários de regiões que chamamos de São Miguel Paulista hoje em dia.

“Eu costumo dizer que, quando se fala de São Paulo, o que a grande maioria chama de cidade, nós, do povo Dofurêm Guaianá, originário deste território, chamamos de casa. Por séculos os governos paulista e paulistano tentaram por diversos meios exterminar o nosso povo, inclusive com a destruição das últimas aldeias localizadas na zona leste de São Paulo”, conta Andrey Guaianá Zignnatto, artista, ativista de projetos sociais e indígena mestiço da família Guaianá e Guarani M’bya. Andrey é um dos artistas envolvidos em um projeto inovador chamado de “Retomada Territorial” que transformará a terra dos Dofurêm Guaianá em uma aldeia sustentável.

Desenvolvido pela Alphaz Concept, incorporadora brasileira que realiza projetos de arquitetura com responsabilidade ecológica, o objetivo é demarcar a área como um verdadeiro lar dos indígenas, misturando conceitos arquitetônicos contemporâneos com a cultura ancestral do povo originário. Além dos círculos de rituais, a floresta preservada, casa fortificada e até uma loja de artesanato, as edificações terão soluções sustentáveis, como usina fotovoltaica, biodigestores e armazenamento de água da chuva.

Importância de um novo lar

Andrey Guaianá Zignnatto explica que são vários os desafios de se preservar uma cultura indígena no meio de uma metrópole como São Paulo. Ele lembra que nestes espaços urbanos os indígenas sofrem com fatores como a gentrificação (processo que expulsa moradores de uma área por causa do aumento dos preços) e especulação imobiliária.

Ele ainda cita a desinformação, os diversos preconceitos e o fetichismo – quando só se é considerado indígena quem mora na Amazônia – como outras dificuldades vividas pelas populações originárias. “As bases de estrutura social de uma comunidade indígena são muito diferentes das bases de uma sociedade urbana, o que aponta para a urgente necessidade de as instituições locais flexibilizarem os seus sistemas para também atenderem as demandas dos indígenas que aqui vivem. Em resumo, nós precisamos de espaço, seja ele físico/territorial, seja ele institucional”, pede Andrey.

Ele explica que para um indígena, a aldeia é um lar, o que significa muito mais do que um local de descanso, lazer e contato com a família – como nós, moradores urbanos, estamos acostumados. Na verdade, no século XXI estes ambientes também servem para reunir os anciãos, anciãs e os mais jovens para mostrar que eles não precisam ter mais vergonha de se apresentar como um Guaianá. Neste sentido, Andrey destaca que o projeto Retomada Territorial dará ao seu povo Dofurêm Guaianá não apenas um lar, mas também “restaurará a nossa identidade como nação, a nossa memória ancestral e mostrar para os outros que nós ainda estamos vivos e que não conseguiram nos extinguir”.

Resgatando a história e a identidade

O projeto de transformar a aldeia Hãinve Ti Vai Keié teve inspirações como a “Opera Village”, uma aldeia sustentável em Laongo, região próxima de Ouagadougou, capital de Burkina Faso, país da África Ocidental. O projeto foi criado pelo arquiteto alemão Christoph Schligensief e foi materializado por Francis Keré, o primeiro africano a vencer o Prêmio Pritzer, a maior honraria internacional da arquitetura.

Com 20 hectares, o espaço abriga uma grande central educacional e artística em formato de espiral e contém oficinas, centros médicos, quartos de hospedes, escolas, sala de espetáculo e mais – tudo construído com materiais sustentáveis.

O projeto da aldeia sustentável Hãinve Ti Vai Keié é assinado por Thaisa Kleinubing, arquiteta especialista em sustentabilidade, eficiência energética e Green Building pela Universidade de Aalborg, na Dinamarca. Ela explica que a ideia é fazer uma implantação das edificações aproveitando os espaços livres existentes, fazendo uma mínima intervenção no solo e vegetação e usando as clareiras existentes para construção. “A área verde que já existe de vegetação será mantida e depois recomposta com o manejo e cuidado dos indígenas”, pontua a arquiteta.

A entrada da nova aldeia Hãinve ti vai keié será em uma rua lateral e a ideia é ter um diálogo de acesso com uma escola pública infantil bem ao lado do espaço. Mesmo sendo independentes, o projeto prevê que eventualmente os alunos poderão utilizar o espaço da floresta e o auditório que será construído.

Destacando que as obras irão valorizar a sobrevivência, a cultura e a identidade dos indígenas, o local terá as seguintes edificações tradicionais:

– Casa Fortificada: é um exemplo de arquitetura desenvolvida em função da pressão, ataques e ameaças que vieram com os bandeirantes e com a invasão. A casa fortificada será reconstruída com a tecnologia da época, então com terra, estrutura de bambu e coberta de palha para marcar como registro e memória de resistência;

– Casa na árvore: é uma forma de se proteger e controlar a aproximação dos invasores e vai ser reconstruída pelos próprios indígenas;

– Casa de inverno: faz parte da cultura e era a casa para dar calor, isolamento térmico e proteção contra os ventos frios. Ela é semienterrada com uma cobertura de palha.

“As três edificações serão típicas e as histórias serão recriadas com o material original”, afirma Thaisa Kleinubing.

A nova Aldeia Sustentável Hãinve Ti Vai Keié

A terra do povo Dofurêm Guaianá também ganhará construções mais puxadas por inspirações contemporâneas. A arquiteta Thaisa Kleinubing cita que será montada uma recepção, loja, centro cultural, área de apoio e uma área externa de eventos e rituais.

Junto destes espaços estará um hall de tecnologias sustentáveis que foram desenvolvidas e serão instaladas pela Alphaz Concept e Alphaz Tijolos Ecológicos. As soluções serão:

– Tijolos ecológicos: são produzidos a partir de restos de outras construções e reduzem em 90% o consumo de água, dispensam a queima de carvão e diminuem a utilização de argamassa no canteiro de obras;

– Sistemas de biodigestor: destinado à produção de biogás, principalmente o metano, por meio do tratamento de esgoto sem a utilização de produtos químicos. Durante o processo, a matéria orgânica contida no esgoto é digerida pelas bactérias, que atuam na falta de oxigênio, produzindo o biogás, que pode ser transformado em energia;

– Sistema fotovoltaico: funciona por meio de placas que captam a claridade; basta que haja luminosidade natural, transformando-a em energia elétrica;

– Reuso de água da chuva: é um sistema com cisternas que captam a água de precipitação e possibilitam seu reuso para atividades que não necessitam de água potável, como descarga, irrigação de jardim, lavagem e outros, e

– Argamassa: é um produto da Alphaz Technologies que foi desenvolvido para facilitar o assentamento dos blocos. Ele não precisa de água, não gera desperdício, dispensa o uso de betoneira e assenta 2,5 mil tijolos por dia, tudo em uma bisnaga para vedação.

Thaisa Kleinubing faz questão de ressaltar que todo o projeto foi desenvolvido sem remuneração e que ele completa um ciclo pessoal dela, já que seu TCC na faculdade envolveu justamente o trabalho de reforma de um centro cultural para povos indígenas que vivem em Santa Catarina (estado de origem dela). “Os espaços com tecnologias sustentáveis poderão servir também para fazer uma educação ambiental não só dos indígenas, mas da própria comunidade ao redor. Além disso, a aldeia será um local de retomada do território que servirá para lembrar a história não só da invasão e chacina promovida pelos invasores, mas da resistência”, argumenta.

Andrey Guaianá Zignnatto diz que tudo foi planejado e produzido com um diálogo aberto entre as empresas apoiadoras (Alphaz Concept, Top Eventos e pesquisadores membros do núcleo cultural dos indígenas Dofurêm Guaianá). “Cada espaço projetado oferece um lugar para o fortalecimento do convívio social entre os membros de nossa comunidade, a prática dos rituais, a produção de nossa arte e outros elementos da nossa cultura, a conexão do nosso povo com o meio ambiente e a preservação de espécies nativas da fauna e da flora. Também servirá como um meio de conectar a população da cidade e do estado de São Paulo com a nossa cultura, or meio de uma ampla programação com diversos tipos de atividades”, pontua Andrey.

Luigi Scianni Romano, sócio fundador da Alphaz Concept, comenta que esse é um dos projetos mais especiais já desenvolvidos pela Alphaz e acrescenta que os povos originários também terão uma roça para plantar alimentos como mandioca e milho. “Todo o planejamento já foi feito e nós esperamos que este não seja apenas um marco para este povo indígena de São Paulo, mas que seja um início de uma retomada também de outras populações originárias que estão espalhadas em todos os cantos do país, inclusive na área urbana”, finaliza Luigi.

Sobre a Alphaz Concept

A Alphaz Concept é uma incorporadora brasileira que executa projetos assinados de arquitetura com responsabilidade ecológica. A empresa segue as mais modernas tendências de construções ecologicamente viáveis, práticas de custo otimizado e acima de tudo um produto de alto valor agregado que gera rentabilidade para os proprietários.

Os empreendimentos da Alphaz Concept são equipados com soluções sustentáveis como painéis solares fotovoltaicos, sistemas biodigestores para tratamento de esgoto, captadores de água da chuva, compostagem orgânica e lixeiras para coleta seletiva.

A Alphaz Concept também possui o diferencial de atuar com parceiros técnicos de renome, como o arquiteto Sérgio Fischer. E embaixadores engajados com a causa ambiental, como o influenciador Leandro D’Lucca e as atrizes Deborah Secco e Cleo.

Atualmente, a Alphaz Concept desenvolve projetos nas regiões Sul do estado de Minas Gerais, Vale do Paraíba, Bahia, Pipa (RN), Litoral Norte de São Paulo (Ubatuba e Ilha Bela), Punta del Este, no Uruguai, e Costa Rica.

(Fonte: Comunicação Conectada)