A relação entre a prática de atividade física e o indicativo de depressão em adultos brasileiros varia de acordo com o domínio em que essa atividade é realizada. Enquanto a atividade física realizada no tempo livre está associada a uma menor prevalência de sintomas de depressão, em outros domínios, especialmente no doméstico, a relação é inversa. Realizar atividade física durante os afazeres domésticos pode aumentar a chance de riscos de sintomas depressivos. Os resultados são de um estudo conduzido pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, e instituições parceiras, publicado na sexta (8) na revista científica Cadernos de Saúde Pública.
O estudo utilizou dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 de mais de 88 mil adultos brasileiros para analisar como a prática de atividade física em diferentes contextos se relaciona com indicadores de depressão. Foram avaliadas atividades realizadas no tempo livre, por escolha do indivíduo, e atividades realizadas durante o cotidiano de deslocamento, afazeres domésticos e trabalho. A definição de atividade física foi ampla, englobando não apenas exercícios formais, mas também outras formas de movimento, como tarefas domésticas e deslocamento de um local para outro.
Os resultados da pesquisa relativizam a ideia do senso comum de que todo movimento conta e destacam a importância de considerar o contexto em que a atividade física é realizada. “Nossa pesquisa reforça estudos anteriores que indicam a importância de priorizar a promoção da atividade física durante o tempo livre. Este é o período em que as práticas são geralmente realizadas por escolha dos indivíduos, em contraste com os outros domínios, onde muitas vezes são realizadas por obrigação”, explica o pesquisador Mathias Roberto Loch, da UEL e autor do artigo.
O estudo também aborda uma diferença entre sexo e prevalência de depressão. A prática de atividade física relacionada ao deslocamento foi associada a uma maior prevalência de sintomas indicativos de depressão entre os homens, mas não entre as mulheres. Por outro lado, observou-se o oposto em relação à atividade física no ambiente de trabalho: as mulheres ativas nesse contexto apresentaram uma maior prevalência de sintomas indicativos de depressão em comparação aos homens.
Segundo Loch, os profissionais de saúde precisam entender a prática de atividade física para além do gasto energético. “Os resultados do estudo reforçam que é preciso focar mais em outros elementos, inclusive contextuais e simbólicos, da prática de atividade física”, afirma o pesquisador. Para ele, é essencial destacar o tempo livre como um domínio crucial para a prática de atividades físicas devido à sua associação com satisfação e escolha pessoal. Profissionais da saúde podem usar essa informação para direcionar estratégias mais eficazes de promoção da atividade física.
A depressão afeta 350 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a PNS 2019, um em cada dez indivíduos relataram diagnóstico médico de depressão. As informações do estudo podem ser usadas na formulação de políticas públicas de promoção de um estilo de vida mais ativo que melhore a saúde mental da população.
(Pesquisa indexada no Scielo – Fonte: Agência Bori)