O jornalismo é um instrumento para abertura de discussões e conscientização a respeito das mudanças climáticas, mas a cobertura do tema pela grande mídia precisa se aproximar mais do público, diminuir os termos técnicos, ir além das pautas sobre Amazônia e denunciar as causas e responsáveis pelas crises ambientais. É o que apontam ativistas em pesquisa desenvolvida pelo Instituto Modefica, uma organização sem fins lucrativos, junto com pesquisadores do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os dados estão descritos em relatório divulgado na quarta-feira (14) no site do Instituto Modefica.
Para isso, inicialmente foram feitas pesquisas no Scielo e Google Scholar para identificar referências publicadas ao longo dos últimos cinco anos e questionários digitais foram distribuídos por meio das redes sociais do Modefica para selecionar jovens ativistas dentro da faixa etária de 18 a 35 anos que pudessem colaborar com o estudo. Foram realizados dois grupos focais em cada uma das cinco regiões do Brasil, totalizando 60 participantes, sendo 13 do Norte, 13 do Nordeste, 11 do Centro-Oeste, 11 do Sudeste e 12 do Sul.
Os encontros com ativistas duraram em média duas horas e ocorreram de forma remota, pela plataforma Zoom, entre os dias 22 de junho e 20 de julho de 2022. As discussões foram mediadas pelas pesquisadoras e divididas em duas partes: a primeira com perguntas gerais sobre engajamento e jornalismo climático. A segunda, com apresentação de duas reportagens, sendo uma produzida pela TV Cultura sobre o desmatamento na Amazônia e outra produzida pelo portal Brasil de Fato, que aborda possíveis soluções para a crise climática. No final, foi discutido coletivamente o papel do jornalismo no enfrentamento das mudanças climáticas. Esses dados foram transcritos e processados por meio de uma análise qualitativa de conteúdo.
Para Marina Colerato, esta pesquisa verifica a importância do jornalismo como uma ferramenta de conscientização essencial para a luta contra a crise climática, devido ao seu alcance e credibilidade perante ondas de desinformação. “Acreditamos que as mudanças necessárias para redução dos danos climáticos dependem de um amplo entendimento e engajamento cívico”, afirma Colerato. Os dados levantados por meio dos ativistas apontam também para a necessidade de apreciar os defensores da floresta e escutar outras fontes, além de cientistas, como aquelas diretamente afetadas pelas consequências das crises climáticas. Além desses, as discussões nos grupos focais também demonstraram um anseio pela indicação por parte dos veículos da grande mídia sobre os maiores responsáveis pelas catástrofes climáticas, sendo a agropecuária o setor mais criticado.
Ainda há poucos estudos, principalmente na área que compreende o “Sul Global” – países em desenvolvimento – que abordam a comunicação climática se debruçando sobre as percepções públicas a respeito das mensagens jornalísticas. “Este estudo é uma contribuição para identificarmos compreensões e demandas associadas às diferentes realidades do nosso país, necessárias para pensarmos em estratégias mais alinhadas com a cultura e o dia a dia de cada lugar”, discorre Colerato. Futuramente, as jornalistas vislumbram que o trabalho possa ser utilizado como base para aprofundar os entendimentos, com amostras mais representativas e outros públicos, e servir como indicativo para formas de cobrir a pauta climática mais próximas aos leitores.
(Fonte: Agência Bori)