Uma pesquisa da Universidade Federal da Bahia (UFBA) constatou a disparidade entre as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS) para quatro indicadores que avaliam a alimentação complementar de crianças menores de dois anos. Os resultados do estudo estão publicados na revista científica “Epidemiologia e Serviços de Saúde” nesta sexta (15) e podem contribuir para que agentes de saúde ajustem suas orientações sobre uma alimentação infantil adequada para a população.
A introdução de alimentos complementares, que são oferecidos para a criança além do leite materno após os seis meses de idade, é o indicador com menor nível de concordância dos órgãos de saúde. A recomendação da OMS tem mais de 94% de adesão da população estudada e avalia a introdução alimentar considerando principalmente a consistência dos alimentos oferecidos, se são sólidos, semissólidos ou pastosos. Já a definição do Ministério da Saúde para o mesmo indicador considera se as crianças consomem por dia duas frutas e uma comida de panela. Essa tem apenas 25% de prevalência entre a população do estudo.
A pesquisa acompanhou o perfil alimentar de 286 crianças menores de dois anos de Vitória da Conquista, na Bahia, durante dois anos, realizando entrevistas e visitas domiciliares desde os primeiros 30 dias de vida de cada criança e retornos aos seis, doze e 24 meses. Além da introdução de alimentos complementares, o estudo verificou o comportamento dos entrevistados em relação a outros três indicadores, comparando como a OMS e o Ministério da Saúde preconizam cada um deles. Três deles apresentaram discordâncias entre si. Isto significa que um mesmo indicador pode ter diferentes prevalências na população de acordo com as orientações da OMS e do Ministério da Saúde.
“Se eu tenho um indicador com baixa prevalência, como diversidade mínima da dieta, por exemplo, significa que o serviço de saúde precisa trabalhar medidas com a população para melhorar esse indicador, como orientações sobre quais refeições o lactente deve fazer ao longo do dia e quais alimentos devem compor essas refeições. Contudo, se esse indicador apresenta uma prevalência elevada, demonstra que as intervenções realizadas no serviço de saúde foram eficazes para melhoria desse indicador. Essa informação é de extrema relevância para que as atividades educativas e visitas domiciliares sejam conduzidas de acordo com a realidade local”, explica Daniela Rocha, professora associada da UFBA em Vitória da Conquista e uma das autoras do artigo.
Segundo a pesquisadora, as disparidades entre as orientações para avaliação dos marcadores de consumo alimentar entre a OMS e o Ministério da Saúde podem impactar diretamente nos serviços de saúde, pois os resultados delas irão definir as prioridades nas intervenções realizada com a população. “Apesar dos indicadores do Ministério da Saúde serem mais antigos, os critérios utilizados para sua definição são mais minuciosos para avaliação da alimentação complementar quando comparados às definições da OMS, tornando seus resultados mais fidedignos do cenário estudado”, analisa o artigo. O trabalho observa que as orientações da OMS são formuladas de forma a abranger a maior variedade possível de países.
Os resultados apresentados na pesquisa se alinham a outros estudos realizados pelo grupo da UFBA em relação à importância das orientações feitas pelos serviços de saúde. Esse acompanhamento é considerado um fator decisivo para a maior adesão aos indicadores estudados. “Os achados reforçam a importância das orientações sobre aleitamento materno exclusivo até os seis meses e sobre alimentação complementar pelos profissionais de saúde, incentivando a adoção de hábitos saudáveis na infância”, finaliza Rocha.
(Fonte: Agência Bori)