As férias escolares são sempre um momento especial e divertido, principalmente para os adolescentes, mas deve ser de alerta para pais, responsáveis e cuidadores. Quanto mais tempo em casa, mais horas eles ficam conectados, pois as telas se tornam atrativas e, muitas vezes, usadas por necessidade. Ao mesmo tempo em que um jogo on-line pode ser apenas para distração, há perigos invisíveis no ambiente virtual. Uma pesquisa realizada pelo ChildFund Brasil entrevistou mais de oito mil adolescentes e revelou que um terço dos entrevistados já sofreu algum tipo de violência sexual on-line.
Intitulada Mapeamento dos Fatores de Vulnerabilidade de Adolescentes Brasileiros na Internet, o estudo possui foco na violência sexual virtual e trouxe alguns dados que servem para alertar os pais, principalmente, em períodos de maior exposição ao ambiente virtual. Nestes momentos, é importante que os jovens acessem a internet com a supervisão do responsável, pois uma simples interação em um jogo on-line pode ser a porta de entrada para casos graves de violência sexual.
“A pesquisa revelou que 20% dos entrevistados já interagiram com uma pessoa desconhecida ou suspeita, e isso é extremamente grave. Apenas o fato de ter acontecido a interação, já demonstra que o adolescente esteve vulnerável, seja por não ter mecanismos que o protegessem ou até mesmo por não saber lidar com a situação. Outro dado que chama a atenção é que 30% dos adolescentes afirmam que já sofreram violência on-line. É importante que pais, responsáveis e cuidadores estejam atentos a essas situações que podem parecer inofensivas”, destaca Mauricio Cunha, diretor de país do ChildFund Brasil, organização que há 58 anos atua na promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente.
Responsáveis têm papel importante no combate aos crimes
Para combater os casos de crimes on-line, os responsáveis desempenham um importante papel, pois são eles que podem perceber mudanças de comportamento no adolescente, como humor, sinais de sofrimento emocional, isolamento ou evasão das atividades cotidianas.
O diálogo entre pais e filhos é a melhor maneira de evitar esses casos, pois criar um ambiente de confiança e comunicação aberta é uma chave para prevenir problemas mais graves. “Ao identificar uma ameaça e ao ter a linha aberta, o adolescente tende a acionar o adulto de confiança o mais rápido possível e informar o que está acontecendo”, complementa Mauricio.
Mas afinal, como evitar os casos de violência?
Caso o adolescente esteja exposto a algum tipo de violência, os responsáveis devem propiciar um ambiente virtual seguro, oferecendo, por exemplo, mecanismos de segurança. Ferramentas como filtros de conteúdo, configurações de privacidade em redes sociais e programas de monitoramento parental são recursos que podem auxiliar. Muitas plataformas também estão adotando medidas mais rigorosas para proteger os usuários mais jovens. Confira outras medidas que podem ser tomadas:
Aborde o tema: é importante que alguns movimentos sejam explicados, como a abordagem de estranhos, o contato frequente via mensagem ou a solicitação de fotos ou outros dados pessoais. Para adolescentes, é importante explicar a diferença entre a violência e a interação saudável.
Não compartilhe dados: oriente adolescentes a jamais compartilharem informações sobre si mesmos em chats de jogos online, como nome, endereço, número de telefone ou escola onde estuda.
Jogue o jogo com cuidado: converse com o adolescente para criar um e-mail específico ao acessar jogos e usar um apelido, em vez de usar o nome real, para que não seja identificado.
Fique atento aos sinais: adolescentes que estão passando por abuso ou exploração sexual on-line tendem a ter comportamentos diferentes, como baixa autoestima, vergonha, medo ou culpa, entre outros sentimentos. Em alguns casos, o criminoso que está do outro lado da tela pode estar chantageando e contribuindo para essas mudanças. Tenha conversas compreensivas e expresse que entende o que ele está passando, mas sem julgamentos.
Estabeleça limites: defina horários específicos para o uso da internet e de dispositivos eletrônicos e explique sobre os tipos de conteúdo que devem ser evitados. Nos momentos sem celular, privilegie momentos em família, leitura e atividades e esportes ao ar livre. Evite convidá-los para assistir filmes ou realizar atividades que envolvam telas.
Busque ajuda profissional: mesmo seguindo todas as dicas, pode ser difícil manter os adolescentes longe da internet. Para isso, busque a ajuda de psicólogos, terapeutas ou educadores especializados em educação digital. Workshops, palestras, livros e lives sobre o tema também podem ajudar.
Atividades ao ar livre são essenciais para o desenvolvimento
Manter os adolescentes longe das telas pode parecer uma tarefa difícil, mas não é impossível e as férias escolares são o momento ideal. Atividades como esportes ou o simples ato de ler um livro, conversar com amigos ou jogos de tabuleiro são essenciais para o desenvolvimento físico e emocional. Esses momentos de desconexão são fundamentais para o fortalecimento de vínculos familiares, sociais e cognitivos.
A parentalidade lúdica também é reforçada nesses momentos de conexão. É ela que garante laços que serão para a vida toda, pois permitem que a criança, principalmente na primeira infância, tenha alguém para confiar, compartilhar seus medos, sonhos e inseguranças. Na fase da adolescência, os impactos positivos desses atos são sentidos de forma mais intensa, pois é quando os laços externos – amigos e outros grupos – são formados e fortalecidos.
A internet não é algo totalmente negativo, podendo também trazer coisas boas e benefícios cognitivos. Há maneiras de promover o uso consciente para que o adolescente aprenda a equilibrar suas atividades e aproveite o melhor do virtual. Com orientação adequada, as telas podem ser ferramentas de aprendizado e desenvolvimento, como os jogos digitais, que podem ser educativos e colaborativos, estimulando habilidades como trabalho em equipe e resolução de problemas.
O ChildFund Brasil disponibiliza um curso gratuito que orienta crianças e adolescentes sobre como prevenir violência e abuso sexual na internet. “Assim como as crianças, adolescentes também estão em situação de vulnerabilidade na internet, independentemente da sua renda familiar, pois não têm a capacidade de saber quem está interagindo com eles no ambiente virtual, e os mecanismos de proteção não avançaram muito para criar um ambiente on-line seguro. Nosso trabalho é alertar que crianças e adolescentes necessitam de acessar a internet com a supervisão de pais, mães e cuidadores”, conclui Águeda Barreto, coordenadora de advocacy do ChildFund Brasil.
Sobre o ChildFund Brasil
O ChildFund Brasil é uma organização que atua no desenvolvimento integral e na promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente, para que tenham seus direitos respeitados e alcancem o seu potencial. A fundação no Brasil foi em 1966 e sua sede nacional se localiza em Belo Horizonte (MG). A organização faz parte de uma rede internacional associada ao ChildFund International – presente em 23 países e que gera impacto positivo na vida de 14,8 milhões de crianças e suas famílias – e está entre as 25 melhores organizações do Brasil, segundo o ranking emitido pela The Dot Good. Foi eleita a melhor ONG de assistência social do Brasil em 2022 e a melhor para Crianças e Adolescentes do país por três anos (2018, 2019 e 2021) pelo Prêmio Melhores ONGs.
(Com Jéssica Amaral/DePropósito Comunicação de Causas)