A qualidade acústica de ambientes externos e internos está diretamente ligada ao bem-estar e à saúde da população. Assim, vem crescendo a preocupação com a poluição sonora, ao mesmo tempo em que processos de licenciamentos ambientais tornam-se mais exigentes com empreendimentos onde há ruído excessivo. É nesse contexto que se insere a ABNT NBR 10151:2019 – Acústica – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora em áreas habitadas – Aplicação de uso geral, publicada no dia 31 de maio de 2019 pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), mas ainda desconhecida pela maioria das pessoas. Ou seja, estão com os dias cada vez mais contados os conflitos entre vizinhos – ou mesmo dentro de casa – e noites mal dormidas, além de incômodos como aquele ruído da casa de máquinas do elevador em prédios e muitos outros.
Em suas 24 páginas, a norma estabelece os procedimentos técnicos a serem adotados na execução de medição de níveis de pressão sonora em ambientes internos e externos de edificações. A revisão da norma, cuja edição anterior foi publicada em 2000 – recebendo uma Versão Corrigida em 2003 –, ficou a cargo da Comissão de Estudo de Desempenho Acústico de Edificações, que atua no âmbito do Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-002).
“Muitas vezes as pessoas acumulam estresse por uma conjunção de pequenos (ou nem tanto) motivos – ruídos, internos ou externos, a que, bem ou mal, elas vão se acostumando – barulhos como o do trânsito, da casa de máquinas do elevador do prédio, dos sapatos dos vizinhos no andar de cima etc.”, afirma David Rampazzo, da Isoltop Soluções Acústicas, responsável por obras de isolamento acústico em empresas como Petrobras, CBN Campinas, Banco de Olhos de Sorocaba e CPTM, entre outras. “Ao longo do tempo, isso acaba influindo diretamente na qualidade de vida e, consequentemente, nos níveis de estresse”, continua ele.
A solução desse tipo de problema se inicia com as medições acústicas, que registram e quantificam os índices de ruídos. Uma vez de posse do laudo acústico, é hora de definir quais tipos de solução acústica são indicados.
Sistemas de Isolamento Estrutural – Ruído de Impacto | Para reduzir o ruído de impacto – como impacto em pisos, móveis arrastados e motores, entre outros – a atenuação se dá por mantas resilientes, geralmente utilizada entre lajes, tais como cortiça Portugal, borracha Portugal, manta de polietileno, lã de vidro e lã de pet reciclado. Conforme a necessidade de isolamento, são especificadas a densidade e espessura do material a ser utilizado.
Isolamento de Ruído aéreo | O isolamento de ruído aéreo é a técnica utilizada para evitar a passagem o som de um ambiente para outro por meio do uso de diversos materiais que consigam amortecer e dissipar a energia sonora (chapas metálicas, vidros, madeira maciça, parede de tijolo maciço, mantas de borracha, cortiça, tapetes, drywall etc.). Esse tipo de isolamento tem o objetivo de impedir a passagem/saída dos sons entre ambientes distintos ou entre edificações e o ambiente.
Isolamento de Vibração | Reduz ruídos e vibrações prediais, industriais, ar condicionado, chillers, geradores, motores elétricos e combustão etc.
Tratamento Acústico |O tratamento acústico é feito para deixar os ambientes com mais definição acústica, para que todas as regiões de frequências graves, médias e agudas sejam escutadas com clareza, dando assim o tempo ideal de reverberação.
Impactos da poluição sonora na saúde | Segundo a Associação Brasileira para a Qualidade Acústica, cerca de 10% da população mundial está exposta a níveis de ruído que podem causar diversos problemas. Além dos danos à audição, o ruído causa perturbação e desconforto, prejuízo cognitivo, distúrbios do sono e doenças cardiovasculares.
Um relatório da Organização Mundial de Saúde publicado em 2018 afirmou que o barulho é um dos principais riscos ambientais à saúde física e mental na Europa e traz uma série de recomendações para que governos do continente reduzam a exposição da população ao barulho. “Mais que um incômodo, o excesso de ruído é um risco para a saúde. Ele contribui, por exemplo, para doenças cardiovasculares”, disse na ocasião a diretora do escritório regional para a Europa da OMS, Zsuzsanna Jakab.
A recomendação para o trânsito, por exemplo, é de, no máximo, 53 decibéis, limite que cai para 45 à noite – para fins de comparação, o ruído emitido por uma música calma ouvida no rádio é de 50 decibéis. Já em clubes noturnos, shows e reprodutores de música, a exposição combinada não deve exceder 70 decibéis, em média, por ano – ruído semelhante ao de um secador de cabelos.
Alessandra Giannella Samelli, professora do Curso de Fonoaudiologia do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP, adverte que os distúrbios do sono podem prejudicar a performance e o estado de alerta das pessoas durante o dia, assim como a qualidade de vida e a saúde em geral. “Sabe-se que as pessoas percebem, avaliam e reagem aos sons (ruído) mesmo quando estão dormindo. Por este motivo, o organismo pode reagir ao ruído com aumento da produção de hormônios, elevação do ritmo cardíaco, contração dos vasos sanguíneos, entre outras reações”, explica. Se a exposição ao ruído ocorrer por longo tempo, estas reações podem se tornar persistentes e afetar o organismo e a saúde como um todo (Organização Mundial da Saúde, 2011; Basner et al, 2013).
“O ser humano é resiliente a acaba, na maioria das situações, se habituando a situações de poluição sonora ou, mesmo, recorrendo a paliativos para tentar evitar seus efeitos. Mas é preciso estar atento ao fato de que, muito além do simples incômodo, a exposição contínua a ruídos intensos pode acarretar problemas de saúde – inclusive a surdez”, conclui o especialista David Rampazzo.