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Reinauguração do Ateliê Gaia marca centenário da Colônia Juliano Moreira

Jacarepaguá, por Kleber Patricio

Arlindo Oliveira. Fotos: divulgação.

Em 2024, a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, estaria completando 100 anos de fundação. Para marcar a data, o Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira (IMAS JM) preparou uma série de atividades que visam pensar o processo de transformação dessa instituição e sua relação com a cidade do Rio de Janeiro. No dia 6/1 foi reinaugurado na sede do IMAS JM, onde também está o Museu Bispo do Rosário, o Ateliê Gaia, criado na década de 1990 como um ateliê ocupacional terapêutico e que hoje é dedicado à arte, à formação continuada e ao cuidado e é composto por artistas que são ou foram usuários dos serviços de saúde mental.

Novas gestoras do instituto, as psicólogas Luciana Cerqueira e Rosangela Nery destacam que as atividades não são de celebração dos 100 anos da colônia, mas, sim, de ressignificação de uma história violenta que está atrelada ao manicômio. Elas revelam que haverá ações para marcar o centenário durante todos os meses de 2024. E aproveitam para comemorar a reabertura do Ateliê Gaia em uma gestão comandada por duas mulheres. “Eu, Luciana Cerqueira, sou uma mulher negra. Rosangela Nery é uma mulher descendente dos povos originários. Importante que isto seja dito neste momento em que olhamos para o passado para reescrever o futuro”, comenta a diretora, acrescentando que se trata da ressignificação de um território que promoveu “tantas violências e segregação”.

O Ateliê Gaia é um programa realizado pelo Museu Bispo do Rosário e conta com os artistas Arlindo Oliveira, Clovis Aparecido dos Santos, Felipe Ranieri, Ivanildo Sales, Jane Almendra, Leonardo Lobão, Luiz Carlos Marques, Gilmar Ferreira, Patrícia Ruth, Pedro Mota, Rogéria Barbosa, Victor Alexandre Rodrigues e Sebastião Swayzzer. A Coordenação Artística e Educativa está a cargo de Diana Kolker. Juliana Trajano cuida da Assistência de Coordenação e a nova curadora do Museu Bispo do Rosário, Carolina Rodrigues, está responsável pela curadoria do ateliê.

A escolha dessa ação como ponto de partida do calendário demarca as diretrizes preconizadas pelo instituto: promoção da saúde através da arte, da educação e da geração de trabalho e renda, tendo o Museu Bispo do Rosário como seu principal condutor. “A reinauguração também está associada a um novo ciclo do Ateliê Gaia, que procura fomentar a oportunidade dos artistas vivos se projetarem ainda mais, para além do museu, e verem sua arte valorizada ainda em vida”, declara o novo diretor do Museu Bispo do Rosário, Alexandre Trino.

Uma das mais antigas artistas a integrar o grupo ao ateliê, Patrícia Ruth realizou diversas exposições, sendo a primeira delas no Museu Nacional de Belas Artes. “O Gaia para mim é tudo. Comecei em 1993. Ele me deixou transformada e realizou muitas coisas minhas. Ser como eu sou. O jeito como eu sou. A minha reputação”, relata a septuagenária. “O projeto artístico e educativo junto ao Gaia tem como objetivo oferecer um espaço favorável à criação, à construção de um sentido de grupalidade, estimulando a autonomia e a participação coletiva na construção do projeto”, explica a coordenadora Diana Kolker.

O novo Ateliê Gaia, projetado pela arquiteta Gisele de Paula, conta com amplo espaço de criação e com uma galeria expositiva que poderá ser acessada pelo público mediante agendamento. A reinauguração foi acompanhada por uma animada programação – uma marca das ações do Museu Bispo do Rosário. O evento teve apresentação do bloco Império Colonial, performance do artista Arlindo Oliveira e uma exposição da produção dos artistas do Gaia. “Na mostra, é possível observar aquilo que constitui o ateliê enquanto coletividade, mas também a individualidade que se expressa no desenvolvimento das obras”, conta a curadora Carolina Rodrigues.

Nelson Teles, Juliana Trajano e Roger Almeida.

O conceito da exposição faz eco nas palavras de Luiz Carlos Marques, artista integrante do Gaia: “O ateliê é o lugar em que quero desenvolver arte. Quero trabalhar junto com o coletivo e desenvolver cada vez mais o meu trabalho pessoal. Quero que ele seja exposto em muitos lugares e seja visto pelo mundo”.

Sobre a Colônia Juliano Moreira

Localizada na Zona Oeste, região periférica do Rio de Janeiro, a Colônia Juliano Moreira, também conhecida como Fim de Linha ou Cidade dos Loucos, foi inaugurada em 1924 com o nome de Colônia de Psicopatas Homens de Jacarepaguá. Durante todo esse tempo, tornou-se um lugar de exclusão, de isolamento e de gravíssimas violações, onde os maiores horrores foram cometidos contra um número grande de pessoas. Parte significativa desses horrores se dá a partir da década de 1940, quando o tratamento passa a envolver psicofármacos, eletrochoques e injeção de insulina, além da instalação de um pavilhão cirúrgico destinado à realização de lobotomia.

Foi nesse contexto de isolamento que surgiu um dos mais importantes personagens dessa história centenária: Arthur Bispo do Rosário. Sua obra é reconhecida internacionalmente como uma das mais importantes produções artísticas da contemporaneidade. Atualmente, este acervo, tombado pelo Iphan, está aos cuidados do museu que leva o seu nome. A instituição conta com uma mostra permanente – “Arte Ponto Vital” –, cuja curadoria foi realizada pelos artistas do Ateliê Gaia junto com a equipe. Anualmente, o museu também realiza uma exposição temporária, apresentando um novo olhar sobre a obra de Bispo, dialogando com a produção de artistas contemporâneos.

(Fonte: Trevo Comunicação)