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Autismo em mulheres: conheça as dificuldades do diagnóstico

São Paulo, por Kleber Patricio

Fotos: Divulgação.

Pouco tem se falado do autismo em mulheres e suas complexidades. Então, vamos hoje tentar desmitificar esse fato? Quem vai nos ajudar é a Dra. Gesika Amorim, neuropsiquiatra, expert no assunto. O autismo é um transtorno onde se tem características próprias e níveis de suporte. Nos níveis 2 e 3 de suporte as diferenças, as características do espectro, são mais marcantes tanto em homens como em mulheres. Existe a dificuldade na comunicação, o prejuízo na socialização, além da preferência por rituais e rotinas rígidas. A grande dificuldade do diagnóstico e a maior diferença, entre homens e mulheres, se dá no nível 1, que é o autismo com menor necessidade de suporte, antigamente chamado de Síndrome de Asperger.

“A diferença de diagnóstico entre homens e mulheres é que, nas mulheres, a dificuldade do diagnóstico é mais aparente. Geralmente as meninas são mais falantes, pode se encontrar pacientes mulheres que não têm dificuldade na construção da linguagem, mas pode se observar uma dificuldade na compreensão do que é dito; ou seja, na compreensão do discurso. Essas pacientes não conseguem compreender piadas de duplo sentido, metáforas. Elas não conseguem compreender e se inserir bem nos jogos sociais. Isso é muito visto principalmente na adolescência; inclusive essas meninas, quando sofrem bullying na escola, nem sabem que estão sofrendo bullying porque não conseguem entender a piada, não conseguem entender o motivo ou porque elas não são bem aceitas”, diz a Dra. Gesika Amorim, Mestre em Educação Médica, pediatra pós graduada em Neurologia e Psiquiatria com especialização em tratamento integral do autismo, saúde mental e neurodesenvolvimento, entre outros.

O autismo de nível 1 é o que apresenta maior dificuldade de realizar o diagnóstico, principalmente em mulheres. As mulheres por si só, têm uma necessidade de agradar e de se sentirem acolhidas e isso é inerente no sexo feminino. “Eu costumo dizer que uma das características principais, o que chama mais atenção nessas mulheres dentro do espectro autista, é a capacidade de vestir várias máscaras para se sentir acolhida nos diferentes grupos sociais, nas diferentes tribos. Conversando com minhas adolescentes, descobri que se você tiver na escola tribos que falem, por exemplo, sobre música sertaneja, elas vão se esforçar ao máximo para serem aceitas naquele grupo. E se essa adolescente sai desse grupo e entra em um outro em que os indivíduos gostam de rock, ela vai mudar de personagem para ser aceita no novo grupo. Ela passa por diferentes grupos tentando ser aceita nessas diferentes características”, explica a médica.

E essa necessidade de ser aceita passa por uma maior probabilidade de envolvimentos abusivos. Essas mulheres têm dificuldade de serem assertivas nos relacionamentos e de dizer não. Elas costumam se envolver em relacionamentos ruins, que acabam trazendo prejuízo. E essa necessidade de aceitação acaba levando essas mulheres a um esgotamento emocional e psíquico.

“É comum que essas mulheres passem pela vida inteira com muitos diagnósticos de transtornos psiquiátricos, quando na realidade o que se tem é uma mulher dentro do espectro autista, mas que não foi diagnosticada e não consegue se inserir socialmente, não consegue se entender e nem se aceitar como ela é, porque no fundo ela não sabe quem ela é. E ela é considerada depressiva, histérica, bipolar, Borderline, quando na realidade ela é autista, mas está tentando vestir essas diferentes fantasias para tentar se encontrar. Mas na verdade, ela não tem uma doença, mas uma condição que a faz tentar agir dentro de uma normalidade que não é a dela”, ressalta a especialista.

A demora do diagnóstico é porque, como já foi falado, na maioria das vezes essas mulheres, na infância, passam pelo TDAH, pelo TOD, pelo transtorno de ansiedade, pelo transtorno bipolar e depressão, entre outros transtornos. E, assim, passam por diferentes diagnósticos, tomam inúmeros medicamentos e não conseguem se tratar. Para um diagnóstico assertivo, a pessoa precisa passar por um profissional especializado e com experiência em autismo.

Dra. Gesika faz um alerta: “Hoje se fala muito em autismo; porém, existem muitos pseudoespecialistas. É preciso buscar um profissional qualificado, passar por uma avaliação neuropsicológica com um neuropsicólogo com referência; de preferência, com um psiquiatra. Autismo em adultos é um transtorno comportamental. Neurologistas pouco experientes em TEA podem não conseguir dar conta desse diagnóstico. Então procure um psiquiatra experiente, com referência; ele vai indicar uma neuropsicóloga e ela vai reiniciar uma testagem longa para esse diagnóstico ser bem fundamentado.”

Dra. Gesika Amorim.

“Sobre o tratamento, após a avaliação neuropsicológica, se identificam os diagnósticos e as comorbidades para daí entender o que é passível de tratamento. O que é tratado no TEA são as comorbidades; não existe medicamento para o TEA. Então são tratadas a ansiedade e a depressão, entre outros transtornos. Essas mulheres realmente têm comorbidades comportamentais e psiquiátricas que precisam ser tratadas. O mais importante é você acreditar nessa paciente. Eu trabalho e convivo com autismo há vinte anos e o que eu tenho visto hoje são mulheres e pacientes que muitos profissionais não acreditam nesse diagnóstico. O mais importante é fazer um diagnóstico com profissional sério e competente. É necessário procurar profissionais, psiquiatras e neurologistas, sérios e competentes para poder fazer e dar sequência nessa abordagem”, finaliza a médica.

Dra. Gesika Amorim é Mestre em Educação Médica, com Residência Médica em Pediatria, Pós Graduada em Neurologia e Psiquiatria, com formação em Homeopatia Detox (Holanda), Especialista em Tratamento Integral do Autismo. Possui extensão em Psicofarmacologia e Neurologia Clínica em Harvard. Especialista em Neurodesenvolvimento e Saúde Mental e Homeopata, Pós Graduada em Medicina Ortomolecular (Medicina Integrativa) e Membro da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil.

Site: https://dragesikaamorim.com.br | Instagram: @dragesikaautismo.

(Fonte: Com Mateus Ma’ch’adö/ADIM – Assessoria de Imprensa Médica)